Anne
- Oi Taehyung
TH- Anne, você pode me encontrar naquela esquina? Preciso conversar com você
- Não Taehyung, eu não vou
TH- Por favor, Anne. É a última coisa que eu te peço. Por favor, venha e ouça o que eu tenho à te dizer.
- Eu não deveria ir, mas eu vou Taehyung. E eu espero que seja a última vez.
TH- Okay, estou te esperando aqui.
Última vez. É horrível pensar que seria última vez que eu veria o Taehyung. Eu não quero isso.
Me arrumei normalmente, mesmo que nada em mim estivesse normal. Se passaram três dias que o vi pela última vez, mas meu coração acelera como se fosse a primeira vez que eu me encontro com ele.
Ouvir a voz dele ao telefone foi bom, mas nada se compara à vê-lo sorrindo de pertinho.
Ele está lá, do outro lado da rua. Um pequeno sorriso apareceu em seu rosto, mas por algum motivo o sorriso se desfez e seu rosto demonstrou preocupação e desespero.
TH- ANNEEE
Olhei para os lados e vi a cena que eu mais temia. Dois carros, duas famílias, 4 mortes. Tudo bem na minha frente.
Meu coração acelerou mais do que em qualquer crise de ansiedade, minhas mãos começaram à suar e eu não senti as minhas pernas.
Gritos desesperados, o som de dois carros tentando diminuir a velocidade, os pneus cantando por um esforço inigualável e um baque.
Essa era a cena que eu mais temi ver. Aqueles eram o meus pais, essa era a cena que eu via toda vez que fechava os olhos.
Meu celular caiu de minha mão e mais nada. Lutarei contra essas imagens mais tarde.
Kim Taehyung
Ela desmaiou novamente, mas dessa vez tinha sangue junto à sua cabeça. Minhas mãos tremiam e eu não sabia se deveria tocá-la primeiro ou ligar pra emergência.
- ALGUÉM CHAMA A AMBULÂNCIA
Já começava à aglomerar pessoas envolta dos carros. Olhavam preocupados e curiosos.
??- Não pega nela moço. Pode ser pior
??- O que aconteceu com ela?
??- Ela foi arremessada do carro?
Burburinhos distantes ecoavam em meus ouvidos. Pessoas querendo saber o que aconteceu e por que a Anne estava caída e sangrando.
Não sei quanto tempo se passou até que eu ouvisse o som de sirenes e o pedido de licença de alguns enfermeiros.
??- Senhor, o que você é dela?
- Eu sou o namorado dela
??- O que aconteceu?
- Ela desmaiou e aí... Sangue
Eu estava chorando desde o momento que a vi caída no chão. Meu desespero tomou conta de mim.
Estavam colocando uma máscara de oxigênio nela e checando os batimentos cardíacos.
- O que vai acontecer com ela? Ela vai ficar bem?
??- Só saberemos quando fizermos exames.
Adiantou muita coisa perguntar. Estavam a colocando em uma maca e direcionando à ambulância, eu fui atrás desesperado.
??- Você não viu o que aconteceu? Ela não foi atingida por nada?
- Não. Ela só olhou tudo e desmaiou
??- Ela deve ter ficado assustada e a pressão caiu.
- Mas ela machucou a cabeça
??- Sim, ela machucou e é isso que nos preocupa. Não sabemos qual foi a intensidade da batida e nós temos que chegar o mais rápido possível para fazer a sutura e estancar o sangramento.
A ambulância se movia com muita rapidez. A sirene ligada era um grito de "sai da frente" para os outros carros.
Eu estava tomado por adrenalina, não estava cabendo em mim aquele desespero. Vê-la desacordada e ensanguentada era uma das piores cenas que eu vi em toda a vida.
Saber que eu não posso ajudá-la, não posso tocá-la, não posso vê-la sorrir e que posso perdê-la assim me dói muito.
Anne
Dor. É só isso que sinto. Minha cabeça dói em uma intensidade que eu nunca imaginaria ser possível. Ouço um pii incessante em minha mente e isso está me irritando.
Meu pescoço dói e está duro como nunca antes. Desconfortável demais.
Me lembro que eu ainda tenho um corpo e percebo que não o sentia. Olhos, é, eu tenho olhos. Abrí-los foi uma missão muito difícil.
O branco foi a única coisa que podia ver. Meus olhos doeram e eu lutei para mantê-los abertos. Pisquei diversas vezes e percebi um par de olhos sob mim.
??- Senhorita, não se mexa. Vou chamar o médico.
Médico? Estou no hospital novamente?
Só ali minhas lembranças me tomaram. Fui levada aos meus pesadelos. Carros, acidente, pais, morte, Taehyung.
- Onde está o Taehyung?
Disse de forma quase inaudível, o que não fez diferença alguma, já que não havia mais ninguém por perto.
??- Senhorita Anne, pode me ouvir?
- Sim
??- Ótimo, está falando também.
Ele abriu um olho de cada vez com uma luz direcionada à eles. Muito perto, por acaso.
??- Ótimo. Sente alguma dor?
- Sim, minha cabeça dói.
Direcionei minha mão à região dolorida e pude sentir uma atadura a envolvendo. Eu havia machucado minha cabeça?
- Como eu me machuquei?
??- Não se lembra do ocorrido?
- Eu me lembro de algumas coisas...
??- Você desmaiou após ver um acidente e acabou batendo a cabeça.
- Aquelas pessoas estão bem?
??- Infelizmente não. Por que? A senhorita os conhecia?
- Não, não conhecia.
Eu não os conhecia, mas a sensação de perda me tomou e pude sentir meus olhos arderem e serem tomados por lágrimas.
??- Senhorita?
Me olhava confuso e logo chamou uma enfermeira.
??- Uma dose de morfina
??- Sim, Doutor.
Em alguns minutos eu não sentia mais dor e o sono estava ameaçando me tomar. Eu queria continuar acordada e dizer que queria ver o Taehyung, mas na primeira tentativa era como se minha língua estivesse presa, na segunda parecia que eu gritava e ninguém me ouvia, ou simplesmente ouviam um sussurro, ou na pior das hipóteses, eu estava tendo alucinações e nem estava falando nada.
Me deixei ser tomada pelo sono. Era melhor dormir e permanecer presa à um outro plano, do que permanecer acordada e lutar contra memórias ruins.
Kim Taehyung
- Doutor, por que eu não posso ir lá?
Dr.- Ela está sedada, senhor.
- Por que não me chamaram antes de dar um remédio?
Dr.- Ela demonstrou estar com dor e tivemos que fazer isso.
- Pelo menos ela está melhor?
Dr.- Sim, está com os sentidos em ordem, está falando, ouvindo e se lembrando das coisas. Tudo não passou de um susto.
NJ- Olha aí Tae, não precisa mais ficar tão pilhado assim cara.
Dr.- Isso mesmo, ouça seu amigo.
NJ- Vamos Taehyung, você precisa de um banho, uma alimentação decente e de uma cama.
- Você sabe que eu não vou, então pra que insiste??
Dr.- Senhor Taehyung, não queira ficar internado também. Ficar 3 dias sem dormir e comendo mal pode prejudicar muita a sua saúde.
- Mas a Anne...
Dr.- Ela vai ficar bem. E vai dormir pelas próximas 12 horas. Dá pra você se organizar e voltar. Ela estará aqui te esperando.
Eles me convenceram. O que eu ficaria fazendo durante 12 horas em uma sala de espera?
Anne
De novo lutando para abrir os olhos. Esse branco me cega e faz minha cabeça dar pontadas.
??- Olá senhorita. Sente alguma dor?
- Não. Onde está o Taehyung?
??- Seu namorado?
- Hum... Não sei
??- Se for o mesmo que eu estou pensando, invista nele, ele é um bom partido.
- Por que está me dizendo isso?
??- Desde o dia que você veio ele não queria sair do hospital. Queria te ver a todo custo, não comia, não dormia, não ia ao banheiro e até ficou o primeiro dia sem tomar banho. Não são todos que fazem isso.
- Ele está aqui agora?
??- Sim, estava só esperando você acordar para vir te ver. Posso chamar ele?
- Chame, por favor.
Kim Taehyung
Ela está tão diferente. Mais magra, pálida, apática, mas continua fazendo meu coração acelerar. Ela está aqui.
- Anne...
Foi como um sussurro. Eu estava paralisado na porta. Não sabia se ela queria me ver. Mesmo que minha maior vontade fosse correr e abraçá-la, eu me controlei.
An- Tae... Não vai vir falar comigo?
Aquele sorriso. Mesmo em um rosto sem muita cor era o sorriso mais lindo que eu poderia ver em minha vida.
Seus lindos olhos cor de mel voltaram à vida, estavam mais que lindos. Cintilavam à luz do dia.
Dessa vez não me controlei e fui em sua direção. Com muito cuidado peguei em sua mão completamente tomada por agulhas.
- Aah Anne, não me assuste assim novamente.
An- Eu vou tentar...
- O que aconteceu com você Anne? Você simplesmente desmaiou... Eu fiquei tão preocupado.
Anne
O que aconteceu...
Isso me lembrou de tudo que eu havia esquecido quando o vi. O sentimento de perda e desespero me tomou novamente. Meus olhos se encheram e transbordaram em lágrimas.
TH- Eii, se acalme.
Aqueles braços. Eram eles que eu sempre quis e sempre vou querer. Apesar de todos os fios e agulhas em meu corpo, ainda era ele, ainda eram os braços dele, ainda podia sentí-lo me confortar.
TH- Não precisa tocar no assunto agora. Me fale quando se sentir bem.
Depois de um tempo tentando me controlar, pude juntar um pouco de forças para me pronunciar.
- Não Tae... Eu preciso dizer...
TH- Não precisa, Anne. Só fale quando estiver bem para isso.
- Eu não sei como começar... Acho que preciso voltar alguns anos para te fazer entender...
Simplesmente o ignorei e comecei a contar. Aquilo era necessário. Era o assunto que eu mais evitava, o assunto mais mal resolvido de toda a minha vida.
- 4 anos atrás eu estava em casa, como toda tarde. Era exatamente dia 8 de agosto, véspera do dia dos pais. Eu tinha 14 anos, estava em uma época em que eu odiava muita coisa, mas algo que eu amava mais que tudo era a minha família. Principalmente o meu pai
"Meus pais eram pessoas influentes, trabalhavam com moda, viviam viajando, descobrindo novos estilistas, novos modelos, apresentando novas coleções e tudo mais"
"Foi em uma dessas malditas viagens que tudo mudou. Meus pais saíram do aeroporto e como de costume seguiam para nossa casa de carro. Aquela estrada era perigosíssima, mas meus pais insistiam que morar distante era uma coisa boa à se fazer.
Naquela noite outra família estava destinada à passar pela mesma estrada e a quantidade de bebida ingerida pelo motorista não ajudou muito.
Havia uma curva muito perigosa e nessa curva os carros se chocaram. Meus pais morreram no mesmo instante. Eu estava em casa, ansiosa para encontrá-los depois de dias sem contato, queria sentir o abraço forte do meu pai, sentir o calor materno, mas as notícias foram as piores que eu poderia receber.
Eu não tinha família. Meus pais eram filhos únicos e seus pais já haviam falecido. Eu me recusei à ser colocada em um orfanato. E eu fui uma pedra no sapato daquela juíza. Ela analisou a situação: meus pais tinham um seguro muito bom guardado, eu era uma garota 'comportada' e sabia me virar.
A proposta foi que eu moraria em um pequeno apartamento sendo sustentada com o dinheiro desse seguro e todos os meses um agente iria me visitar e veria se eu poderia continuar ali, se estava tudo bem, e coisas do tipo.
Assim eu vivi a minha vida. Todos os dias meu coração acelerava, sempre no mesmo horário, sempre na mesma intensidade, a dor nunca diminuiu. Eu chorava incessantemente, sentia muita falta de ar, sentia que o mundo estava caindo sob mim e eu entrava em desespero.
A minha imaginação me levava à ver a cena dos meus pais morrendo. A cena do acidente era tão real, tão real que eu às vezes não sentia mais nada, ou seja, desmaiava por angústia.
Era como se eu visse toda a cena e não pudesse fazer nada. E eu realmente não podia. E aquele acidente foi a concretização de todos esses dias, todo esse pesadelo se tornou verdade. Bem ali, à poucos metros de mim.
Eu não via aquelas pessoas, eu estava vendo os meus pais morrendo bem na minha frente e eu não podia fazer nada..."
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