Narrador POV
Quando adentraram a casa todos ali perceberam o clima de tensão no ar. Chris e Taylor levaram Dinah pra cozinha, e Michael levou Lauren pro jardim dos fundos.
Era um espaço relativamente pequeno, que contava apenas com uma churrasqueira de pedra em um canto, uma pia e alguns bancos distribuídos pelo espaço. O gramado parecia tão mau cuidado quanto o gramado da frente.
Lauren se sentou em um dos bancos e seu pai se sentou ao seu lado. Ventava bastante aquela hora, a ponto de ser facilmente escutado o som do movimento das folhas.
Michael abria e fechava a boca com frequência, era nítido que ele tinha muito a dizer, mas não sabia como começar e Lauren percebeu, tomando a iniciativa. Ela começou falando sobre Taylor e explicando como sua irmã a encontrou. Falou sobre o atentado contra Camila e do momento em que sua irmã apareceu sentada em sua calçada.
- Parei de ler jornal depois que você foi embora, não fazia ideia que isso tinha acontecido. - Disse e Lauren o olhou sem entender. - Não queria acordar todo dia, ver uma notícia de alguma adolescente que morreu em algum lugar por ai e sempre sentir medo de que aquela fosse você. Não queria perder a esperança de te ver de novo.
Aquela frase, aquela simples frase, foi o suficiente pra fazer Lauren se lembrar de momentos bons de sua infância e adolescência, todos ao lado do pai. Ela poderia ter todo o rancor do mundo, mas não era ingrata e sabia reconhecer que apesar de ser omisso, Michael se esforçou para ser um bom pai na maior parte do tempo. Protetor, presente e carinhoso.
Antes que Lauren pudesse se pronunciar, ele voltou a falar. - Nunca contei isso para nenhum de vocês, mas Clara e eu tínhamos 16 anos quando nos conhecemos, éramos adolescentes normais, o jogador de futebol e a líder de torcida. - Começou dizendo, olhando para algum ponto fixo em sua frente. - Ela não era só bonita, ela era divertida, espirituosa, não parecia nem a sombra da mulher preconceituosa que ela viria a ser um dia. Seu único problema era seus pais, que eram pastores de igreja e não sabiam que ela era líder de torcida, tão pouco que namorava comigo. Ela era a "menina dos olhos", entende? Tirava boas notas e ia no culto aos domingos. Quando descobriram a fizeram largar a torcida, nos proibiram de nos ver e passaram a obriga-la a ir em todos os cultos. Participar do coral, escola bíblica. Se a igreja estivesse aberta, ela tinha que estar lá.
- Agora entendo o porquê você sempre os odiou e o porquê de eu nunca ter gostado deles, nem quando era criança. - Lauren comentou, fazendo o mais velho rir.
- Você sempre soube distinguir uma pessoa boa de uma pessoa ruim, você tinha tato. - Respondeu, batendo seu ombro levemente ao dela. - Bem, de qualquer forma continuamos nos vendo, estávamos apaixonados, afinal. Quando acabamos o ensino médio decidimos nos casar, os dias iam passando, os meses, anos e ela ia mudando cada vez mais. Mesmo quando saiu de casa não largou a igreja. Religião é lavagem cerebral, isso mexe com a sua cabeça, causa guerras e principalmente: religião separa as pessoas. Homossexuais eram e até hoje ainda são vistos como aberrações por causa das centenas e milhares de anos em que as igrejas perpetuaram esse pensamento na cabeça das pessoas, um pensamento que é passado de geração a geração, como um câncer. Eu não sou hipócrita, já fui muito preconceituoso, mas hoje eu entendo que todo esse preconceito foi uma construção passada pelas gerações da minha família e essa construção, claro, era fruto da religião. Aos poucos Clara virou uma completa fanática, ela enraizou em si todos os preconceitos que aprendeu na igreja e eu era tão cego, tão apaixonado, que só percebi quando já era tarde.
- Por que continuou com ela todos aqueles anos então?
- Essa é uma pergunta que eu me faço todas as manhãs nos últimos 5 anos. A verdade é que sua mãe e eu continuamos juntos porque as vezes ela dava sinais de que voltaria a ser a pessoa que era quando nos conhecemos, isso me manteve esperançoso. Eu pensava: "tudo bem essa mudança, é temporário, vai passar." Depois Clara engravidou e eu fiquei tão... Tão... Feliz. Você era só uma célula ainda e já era a melhor coisa que aconteceu comigo. Mas, Deus, mesmo quando você nem tinha nascido ela reclamava o tempo inteiro. Que você chutava demais a barriga. Depois que nasceu, a medida em que você crescia, ela reclamava que você chorava demais, falava demais, fazia bagunça demais. Eu não entendo como eu não percebi o que estava acontecendo ali, eu não entendo como consegui ficar tão cego por tanto tempo. Ela talvez não tenha te dado amor em nenhum momento da sua vida, como isso é possível? - Fez uma pausa, pensando como continuar.
Lauren sentia, novamente, uma genuína vontade de chorar. Claro que ela sabia que não havia sido amada, mas sentia como se fosse uma faca rasgando seu peito por ouvir isso de outra pessoa.
- Bom, depois Chris nasceu, Taylor nasceu, os anos foram passando e parecia que as coisas iam mudando, como se você e ela estivessem se acostumando uma com a outra. Eu trabalhava o dia inteiro então não sei como ela te tratava quando eu não estava por perto, mas quando eu estava as coisas pareciam normais, na maior parte do tempo.
- Sinceramente, desde que consigo me lembrar, ela sempre foi uma bruxa. - Lauren o interrompeu e ele riu genuinamente, concordando com a cabeça. - Parecia que tudo o que acontecia era culpa minha, que tudo era responsabilidade minha. Eu demorei pra perceber que aquele tratamento significava o mais puro e simples desprezo. Acho que só percebi quando, bem... Quando ela me viu beijando uma menina.
- Aquela cena me deixou bem surpreso por alguns dias. - Admitiu. - Mas depois eu percebi que, de alguma forma, eu sempre soube. Você era transparente como água, desde muito nova, nunca foi boa em esconder o que sentia e sempre mentiu muito mal. Você não conseguia esconder a cara de brava quando alguém fazia uma piada homofóbica e sempre tentava fugir do assunto quando alguém te perguntava sobre garotos, você ficava desconfortável, como se só de pensar em namorar um garoto te desse náuseas. - Foi a vez de Lauren de rir e ele a e acompanhou. - Eu devia ter feito mais, muito mais por você. Eu devia ter percebido o quão tóxico era aquele ambiente e que a culpa disso era de sua mãe. Eu devia ter sido um pai de verdade, mas, quando eu percebi que eu não era, já era tarde demais. Então me desculpe, Lauren. Me desculpe por ter te deixado passar tudo o que você passou, eu nunca me perdoaria se algo tivesse acontecido com você e passei todas as noites dos últimos 5 anos me penalizando por isso.
- Sabe, Camila é uma mulher incrível. Ela é inteligente, talentosa, divertida, carinhosa. Ela me me fez perceber que eu nunca vou conseguir seguir em frente se não tentar esquecer um passado que só me magoou, me fez perceber que as feridas não vão cicatrizar enquanto eu as estiver mantendo abertas com o meu rancor. Então sim, eu te perdoo, pai. - Pausou, deixando que lágrimas silenciosas corressem por seu rosto. - Eu quero ter o futuro que eu sempre quis ter, ser a pessoa que eu sempre quis ser e quero que vocês façam parte disso.
Depois daquilo ambos se levantaram e se abraçaram, chorando. Quando se sentaram novamente, tudo parecia mais leve.
- Você a ama, consigo ver nos seus olhos, estão brilhando. - Comentou, apertando as bochechas da mulher ao seu lado.
E como poderia não amar, se Camila havia salvado sua vida de tantas formas diferentes?
Friedrich Nietzsche dizia que "o amor é o estado no qual os homens têm mais probabilidades de ver as coisas tal como elas não são".
Ver beleza, qualidades e perfeição onde, muitas vezes, não existia.
Mas a cada minuto que passava Lauren percebia que era justamente o contrário: O amor é o sentimento que nos faz aceitar os erros, os defeitos, as imperfeições (e ama-los) exatamente como eles são. Não é fechar os olhos para tudo, não é sobre engolir tudo calado, é sobre respeitar e ver que ninguém é perfeito e que todas as imperfeições compõe um pequeno infinito de coisas que faz a pessoa que amamos ser, exatamente, quem ela é.
...
O resto do dia se passou em um tom de alívio. Lauren teve uma conversa longa com seu irmão mais novo e percebeu que ele pouco havia mudado: ainda continuava o mesmo garoto engraçado e infantil, mas tinha um coração enorme.
Também conversou com sua irmã, que fez questão de lhe mostrar seu quarto, seus livros, seus CDs de música. Pareciam tão próximas que pouco lembravam as irmãs de 5 anos atrás.
As conversas com seu pai foram mais longas, ela fez um resumo sobre o que havia acontecido em sua vida nos 5 anos que se passaram. Falou sobre como conheceu Dinah, sobre seu trabalho, seu apartamento, sobre seu acidente de carro, Camila e tudo mais que coube na conversa
Dinah, bem, basicamente fez amizade com todos. Sempre que precisava ela se mostrava uma amiga fiel, uma amiga pra vida toda.
Lauren olhava de longe, com um copo de café em mãos, enquanto as outras 4 pessoas presentes conversavam animadamente entre si. Aos poucos ela via todas as peças de sua vida se encaixando.
As 4 horas da tarde ela anunciou que iria embora, a viagem de volta era longa e ela não via a hora de ver Camila novamente.
Antes que fosse, seu pai lhe chamou.
- Eu ainda lembro de cada um dos seus planos. Você queria fazer faculdade, viajar, conhecer o mundo, aprender outras línguas, e eu sinto muito por não ter te ajudado com nada disso. - Pausou por um segundo, apenas para que tirasse um molho de chaves do bolso de sua bermuda e entregasse na mão da mulher dos olhos verdes. - São as chaves da casa, eu coloquei ela em seu nome a alguns anos atrás. Agora tudo o que tem lá é seu, dentro e fora, você pode vender e realizar todos os planos que sempre quis. - Lauren abriu e fechou a boca por alguns segundos, parecia não conseguir digerir aquela informação. - Não precisa dizer "sim" ou "não", a casa já está no seu nome, é sua, Lauren.
Lauren saiu de seu estado de transe e se aproximou para abraço-lo, ainda sem acreditar. Era difícil ir embora, mas ela ia com a promessa de que voltaria em breve.
...
Lauren POV
- Ele te deu uma casa? O máximo que eu ganhei dos meus pais depois de ir morar sozinha foi um par de meias. - Dinah disse, quando já estávamos dentro do carro, voltando pra Miami. - Vamos pra lá?
- Quê? Por quê?
- Bom, antes de vender você precisa ver como a casa está e se precisa, sei lá, consertar algo. - Deu de ombros e eu concordei com a cabeça. A casa era mais ou menos no caminho para Miami então passar por lá não faria nenhum mal. - Eu estou muito orgulhosa de você, sabe disso, não sabe?
- Claro que sei, você me ama. - Respondi, com um sorriso presunçoso no rosto. - Obrigada por ter vindo, eu não conseguiria sem você. E eles te amaram.
- É impossível não amar, convenhamos. - Respondeu, convencida, e eu ri. - Sabe, eu gosto da Camila, gosto de verdade. Sei que não tenho que aprovar seus relacionamentos, mas me sinto obrigada a puxar o saco daquela garota. Ela mudou você e mudou pra melhor, dá pra ver na sua aparência, no seu semblante. Amor e um sexo bem feito devem ser a solução definitiva pra um cabelo bem cuidado porque em todos esses anos eu nunca vi o seu cabelo tão hidratado. - Brincou, me fazendo rir ainda mais.
- Eu a amo de verdade e é extremamente prazeroso dizer isso em voz alta, estou ficando viciada. Ela é incrível, tão incrível que me assusta. Tenho medo de estragar tudo, de não ser o suficiente e até de não conseguir protege-la. Não sei o que eu faria se a perdesse e isso me apavora. - Parei em um sinal vermelho e agradeci por poder respirar por alguns segundos.
- Tente não jogar toda essa sua paranoia em cima dela, é deprimente. Você tem que se focar no que é importante agora: peça ela em namoro, torne oficial, saia com ela, faça coisas melosas de casal, maratona uma série, sei lá. Cai na real, Lauren, ela é milionária, poderia estar em qualquer lugar do mundo, com qualquer pessoa...
- Ok, você está tentando me incentivar ou concordando que eu sou um completo fracasso? - Interrompi, lhe fazendo cair em gargalhadas.
- Me deixe terminar, desgraçada. Ela poderia estar em qualquer lugar, com qualquer pessoa, mas é com você que ela está e não é só por causa dos seus olhos verdes. É porque você é incrível, Lauren, não importa o seu passado ou os erros que deixou pelo caminho. Faça um favor a si mesma: se livre de todo esse complexo de inferioridade.
Depois daquele sermão eu me calei e seguimos em um silêncio confortável até a casa em que eu havia morado a maior parte da vida.
Assim que chegamos era perceptível o abandono. O gramado estava alto, como se não fosse cortado a meses ou anos, e o quintal estava coberto das folhas que caíram das árvores durante o outono.
Adentramos o terreno lado a lado, era uma casa de dois andares com 4 quartos, que tinha suas paredes externas pintadas em verde escuro. Coloquei uma das chaves na porta e a abri, entrando e ligando o interruptor.
- Parece que sua mãe fez uma festa de faculdade aqui. - Dinah comentou, me fazendo rir. Mas era verdade.
A sala estava coberta por sobras de comida e garrafas de cerveja por todos os lados, havia roupas pelo chão e poeira acumulada em todos os móveis.
- Isso não parece nada com a minha mãe. Quando eu era criança até uma toalha molhada em cima da cama era motivo pra ficar de castigo. - Comentei, andando pelo espaço.
Tirando a bagunça, aparentemente nada havia mudado. Na sala haviam dois sofás, uma poltrona, uma mesa de centro, um tapete e uma estante embaixo de uma televisão de, provavelmente, 40 polegadas. Na cozinha todos os eletrodomésticos pareciam sujos demais, mas tudo aparentava estar funcionando. Havia latas de cerveja sobre o balcão e louça suja na pia.
Quando subimos pro segundo andar a bagunça já não parecia tão grande. Meu quarto parecia intacto, arrumado do jeito que eu havia deixado quando fui embora. Entrei no quarto dos meus irmãos e no dos meus pais apenas para ver se nada estava fora do normal.
Quando descemos novamente para sala Dinah parecia intrigada com uma porta trancada que havia em baixo da escada.
- O que tem ali?
- Uma escada para o porão, eu acho. Meu pai nunca nos deixava entrar lá dentro porque é onde ele guardava os vinhos caros e a prataria, heranças de família, essas coisas. - Dei de ombros e Dinah me olhou, travessa, tirando o molho de chaves da minha mão e indo em direção a fechadura. Havia apenas 4 chaves ali, e na segunda tentativa ela conseguiu abrir a porta.
Entrei na frente e procurei por um interruptor, logo o encontrando e acendendo a luz da escada e as luzes do porão. Descemos lado a lado e nos deparamos com, talvez, o lugar mais arrumado da casa.
Havia uma adega de madeira com diversas garrafas de vinho em um canto, prateleiras e mais prateleiras com caixas e coisas embaladas em jornal. Eu fui para um lado e Dinah para o outro. Rapidamente achamos a prataria intacta, além de algumas bugigangas que foram deixadas ali com o passar dos anos.
- Quanto você acha que consigo pela venda?
- Se você vender só a casa, uns 200 mil dólares. Se vender a casa, os móveis e toda essa prataria, entre 300 e 400 mil dólares. Dá pra tirar um dinheiro até dessas garrafas de vinho, mas prefiro bebe-las. - Brincou. - Daria até pra você largar o emprego, uma pilha grande de dinheiro.
Continuamos andando por ali até que encontramos outra porta, essa estava destrancada. Dinah abriu e eu peguei o celular para ligar a lanterna e achar um interruptor.
Era um cômodo pequeno, que contava com uma escrivaninha, um notebook, uma cadeira e algumas caixas de papelão em uma prateleira. Dinah se sentou na cadeira, curiosa, e ligou o notebook.
- Senha de 6 dígitos?
- Não faço a mínima ideia.
- Vai, qualquer coisa, é da sua mãe, afinal.
Parei pra pensar por alguns segundos. - Tente Taylor. - Sugeri e Dinah me olhou com as sobrancelhas arqueadas. - Ela sempre foi a filha favorita.
Dinah digitou e apareceu na tela os dizeres "senha incorreta"
- Tenta Michael.
- Michael tem 7 letras, gênio.
- Droga. - Sussurrei pra mim mesma, fechando os olhos e me concentrando ainda mais. - Tenta TayTay.
Dinah digitou e dessa vez a tela se abriu. - Boa, Jauregui.
Assim que ela digitou a senha se abriram diversos aplicativos que a última pessoa a utilizar o notebook havia deixado abertos, o primeiro deles era uma pasta com os dizeres "CC"
Fotos e mais fotos de Camila carregaram, algumas sozinha, algumas comigo, com seus avós, com suas amigas. Um dossiê completo.
- Sem. Chance. - Dinah pronunciou pausadamente, enquanto descia pela pasta de fotos. Havia fotos recentes ali, de um ou dois dias atrás.
Eu fiquei parada, estática, perplexa. Não sabia o que dizer e nem o que pensar.
Dinah saiu daquela pasta e entrou na parte de imagens do computador, lá havia várias pastas com siglas como aquela.
- DJ, VI, LV, LM, KM... - Dinah citava, rolando a pasta pra baixo.
- Dinah Jane, Verônica Iglesias, Lucy Vives, Lauren Michelle, Keana Marie. - Não precisava ser um gênio pra perceber o que aquilo significava. - Tem fotos recentes ai, precisamos ir embora antes que ela volte, vem. - Chamei Dinah, lhe puxando pelo braço para que se levantasse.
- Espera, espera. Isso é evidência, precisamos levar. - Fechou o notebook e o pegou em seus braços. Em seguida se direcionou para as caixas, levantando as sobrancelhas para o conteúdo que havia dentro. - Blocos de nota, cartões de memória de celular e de câmeras. Precisamos levar tudo, vem, pega essas caixas. - Completou e eu o fiz. Seguimos rapidamente para fora do porão e em seguida para o carro.
Entramos, ofegantes, e partimos para longe dali.
- Calma, Lauren, você está tremendo. - Dinah disse, colocando uma mão sobre o meu ombro. - Se continuar assim vai bater com o carro.
- Como você consegue ficar tão calma? Pelo amor de Deus.
- Eu estou extasiada pelo fato de que minha teoria estava certa, mas assim que essa sensação passar vou entrar em pânico junto com você, não se preocupe.
- Como eu vou olhar pra Camila e fingir que nada aconteceu?
- Conta a verdade de uma vez.
- Não posso, ela já está assustada demais. Entrando em pânico já basta você e eu.
- Deixa essas coisas na minha casa, vou olhar com cuidado e te conto o que eu encontrar. - Sugeriu e eu assenti positivamente com a cabeça. - Mas você não pode esconder dela pra sempre, lembra disso.
O resto do caminho até o prédio de Dinah se seguiu em silêncio e ao deixa-la na portaria, com o notebook e as caixas de papelão, eu rapidamente rumei para a casa dos avós de Camila.
...
Assim que entrei em seu quarto não me surpreendi ao ver a morena dormindo e era sempre bom vê-la daquele jeito, tão serena, depois de tudo o que aconteceu.
Ainda em pé continuei lhe olhando. A latina se encontrava deitada de bruços, seu edredom cobria apenas até sua cintura, deixando suas costas nuas a mostra. Não duvido que Camila apenas tenha dormido assim para me provocar quando eu chegasse.
Seu cabelo estava solto e contrastava perfeitamente com o tom pastel das fronhas dos travesseiros. Se eu morresse e a visse assim teria a certeza imediata que cheguei ao céu.
Me distanciei da cama apenas o suficiente para que eu alcançasse a mala que eu havia trazido, tirando de lá a câmera Nikon que Camila havia me dado logo que nos conhecemos.
Tirei fotos e mais fotos, de todos os ângulos e posições que imaginei, sem me importar se eram fotos demais. Camila parecia mais linda em cada uma delas.
Ela logo acordou, provavelmente pela luz do flash ou pelo som que a câmera fazia a cada foto que era tirada.
- Pode continuar, eu sempre quis ter um paparazzi. - Disse, se virando e me dando a visão completa de seus seios. Os pontos em seu abdômen estavam cobertos por um curativo, mas aquilo não era nem de longe o que chamava atenção no corpo da latina.
Aproximei a câmera novamente do rosto e posicionei corretamente, tirando outra bateria de fotos enquanto Camila fazia algumas poses sexy e outras engraçadas.
Me aproximei dela e me ajoelhei na cama, lhe dando um beijo leve e sem língua. Com a mão que não segurava a câmera puxei lentamente o edredom para baixo, deixando a mostra sua buceta e suas pernas.
- Então é isso que você quer ver? - Ela disse, ainda contra os meus lábios. Acenei positivamente e me afastei, posicionando a câmera outra vez. - Você é uma pervertida.
- Você gosta. - Deixei a câmera de lado, em cima de uma cômoda qualquer e me aproximei da cama novamente, me sentando ao seu lado. - Senti sua falta.
- Eu também senti a sua. Queria ter estado do seu lado hoje, imagino que não deve ter sido fácil. - Disse e eu concordei com a cabeça.
- Queria que viesse comigo, mas ao mesmo tempo não queria chorar na sua frente, você nunca mais iria me respeitar.
- E quem disse que respeito? - Levantou suas sobrancelhas. Camila se aproximou e colocou suas mãos na barra da minha camisa, a tirando do meu corpo e a jogando em algum canto do quarto. Seus dedos seguiram para os botões da minha calça, lhe abrindo e descendo o zíper.
Terminei de tira-la, ficando apenas de calcinha e sutiã, e me deitei. Camila tão logo também se deitou e se alinhou em meus braços, descansando sua cabeça em meu peito depois de jogar o edredom sobre nós. Fizemos aquilo como se fosse uma coreografia ensaiada e sincronizada, mas a latina pareceu não perceber.
- Como foi?
- Diferente. Quero dizer, eu esperava que fosse um completo fracasso, que o meu orgulho nunca me permitiria perdoar, mas não foi nada disso. Quando eu cheguei lá, quando os abracei, percebi que nenhuma mágoa é mais importante que aquilo. Eu me senti amada e acolhida como nunca me senti na vida, por nenhum deles. - Passei meu braço em torno dela, ainda por baixo do edredom, fazendo carinho em suas costas. - Eu me sinto mais leve agora e, ao mesmo tempo, preenchida.
- Sei que não precisou dizer isso, mas estou orgulhosa de você.
- Nada disso, precisa dizer sim. Vamos, diga mais uma vez. - Respondi, e senti Camila rir contra o meu peito.
- Você foi totalmente incrível e eu estou muito, muito, muito orgulhosa de você.
- Certo, agora pare de esfregar esse pé gelado na minha perna.
...

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