Queridas notas do celular,
Os primeiros dias de viagem foram melhores do que eu imaginava. Visitei muitos lugares e tirei muitas fotos para guardar de recordação. A única coisa que me incomoda é o fato das minhas melhores amigas terem caído de amores por três babacas que provavelmente já devem estar a imaginar as duas peladas em uma sauna. Eu até tentei avisar Elena para se afastar de Damon, mas ela não me ouve!
Apesar de me preocupar com as minhas amigas, acho que elas ja estão bem grandinhas para saberem o que fazer com suas próprias vidas, então o jeito é deixar rolar. As meninas e os irmãos Salvatore saíram hoje, estão em um bar aqui perto. Eles até me convidaram para ir, mas preferi ficar em casa, e Enzo se ofereceu para me fazer companhia – que por sinal eu rejeitaria se tivesse escolha, mas ele praticamente me obrigou a ficar em seu apartamento e agora está fazendo um jantar para nós, mesmo eu alegando não ter fome.
Ele é persistente, admito. O tipo de cara que não desiste de uma menina nem por decreto e que provavelmente não vai largar de mim até eu ceder para ele. Azar o dele que eu não sou do tipo de garota que fica com qualquer um e, para piorar, estou comprometida. Jeremy e eu ainda não terminamos, e digo ainda, porque sei que o nosso namoro não vai resistir mais de um mês depois que eu for para a faculdade. Me dói pensar nele sozinho em Mystic Falls, sentando em um sofá com uma garrafa de cerveja na mão com apenas Matt para guia-lo.
Muitas pessoas duvidam de meu amor por Jer, pode parecer estranho, afinal ele é o irmão mais novo da minha melhor amiga e um tanto quanto problemático, mas eu realmente gosto dele. Jeremy me faz feliz, e eu me tornei uma base em sua vida no momento em que ele mais precisava. Sou seu porto seguro e gosto desse papel.
— Bennett! — Enzo cantarola e aparece com uma garrafa de vinho na sacada. — A comida está pronta!
Levanto do sofá e vou até a cozinha, onde Lorenzo estava preparando o jantar. Há uma mesa a dois na minha frente, e dois pratos com macarrão estão servidos. Ele abre a garrafa de vinho com o saca-rolhas e enche uma taça.
— Pensando em mim? — Enzo brinca.
— Pensando em como fui conhecer um ser tão insuportável — suspiro, e meus pensamentos viajam até a noite anterior.
***
Já passava das três da manhã quando finalmente saí da boate para tomar um ar. Eu me arrastava feito um zumbi pela grama verdejante, sentindo meus olhos pesarem. Estava exausta depois de horas dançando sem parar.
Deitei-me em uma sofá branco, porém um homem me puxou pelo braço com certa brutalidade. Eu já ia reclamar quando encontrei um par de olhos castanhos em chamas, que me observavam divertidamente.
— Você é Bonnie Bennett, certo? —O homem perguntou com a voz firme.
— Sou — puxei meu braço de volta e revirei os olhos. — Quem é você?
— Lorenzo, mas pode me chamar de Enzo — se apresentou. — Suas amigas estão na minha casa e me mandaram aqui para te buscar.
Essa era uma desculpa que eu nunca tinha ouvido. Muitos caras já tentaram me levar para casa dizendo coisas absurdas, fazendo falsas promessas, mas usar minhas amigas era uma novidade. Era uma ideia boa, que me fez ter certa admiração pelo cara, embora não tenha conseguido evitar uma risada.
— Conta outra! — Eu ri e dei um tapinha em seu braço. — Sinto muito, Enzo, não estou disponível.
— Quem te disse que eu quero você? — Ele me olhou com curiosidade e se aproximou. — Só estou fazendo o que me pediram.
— Se não é um pervertido, só pode ser um sequestrador! Não se aproxima, vou ligar para polícia! — Ironizei.
— Você está bêbada — Enzo revirou os olhos. — Não tem moral para nada.
— Foda-se — rebati, convicta. — Vou voltar para festa que eu ganho mais lá do que aqui ouvindo mentiras!
Enzo me puxou de novo para ele, e eu pisei em seu pé com força, fazendo-o gritar.
— Maldita!
— Bem feito!
Lorenzo grunhiu. Cruzei meus braços, como quem diz: quer mais, babaca? Entretanto, antes mesmo que pudesse fazer qualquer outra coisa, Enzo me puxou pelo braço e me pressionou contra a parede. Ficamos frente a frente, tão colados que poderia sentir sua barba roçando em meu queixo. Tão perto que qualquer distância entre nós parecia simplesmente errada, enquanto o contato parecia muito certo.
— Me solta! — Ordenei, tentando chutá-lo. Lorenzo apenas riu como se eu tivesse contado alguma piada. — Eu vou chamar a segurança.
— Não precisa — a voz dele soou abafada contra a minha pele. Sua respiração quente arrepiou o meu pescoço. — Eu te largo, Bonnie. Não sou nenhum assediador. Mas primeiro me peça para que eu vá embora com sinceridade.
A mão dele apertou de leve o meu joelho, subindo pelo restante das minhas pernas até alcançar o alto da minha coxa. Nossos corpos estavam em constante pressão, sua boca arquejava contra minha clavícula. Aquele homem sabia exatamente o que fazer para deixar uma mulher excitada. Diferentemente de meu Jeremy, que certas vezes era infantil e inexperiente demais para me satisfazer.
— Quer que eu te largue?
Meu centro se aqueceu no meio das minhas coxas, pulsando por atenção. Ainda sim, consegui balbuciar.
— Quero, por favor.
Enzo me libertou da parede e deu espaço para que eu fosse embora. Parecia um pouco decepcionado, mas não contestou minha decisão. Ao ver que ele continuava ali mesmo após a minha recusa de sexo, comecei a desconfiar de que algo realmente havia acontecido com minhas amigas. Era bem verdade que as duas não davam notícias há horas e pareciam ter desaparecido. Ao ser questionado sobre, Enzo me contou que Elena estava passando mal na casa dele e que Damon, um italiano que a achou vomitando e que a atropelara hoje cedo, precisava da minha ajuda. Só havia duas maneiras de Enzo saber sobre o atropelamento: ou era um stalker muito bom, ou estava falando a verdade. Optei pela segunda opção e concordei em acompanhá-lo até o carro.
Ao chegarmos, ele agarrou meu pulso para me enfiar dentro do veículo.
— Você é um grosso, sabia? — Reclamei, massageando o pulso.
— Só com que é irritante — o homem respondeu-me.
Alguns minutos depois, chegamos em um prédio no centro de Roma. Enzo abriu a porta da garagem com o controle e estacionou o carro no segundo subsolo. Ele abriu a porta para mim e já estava pegando no meu braço para guiar-me quando lancei um olhar mortal na direção dele dizendo que me guiava sozinha. Entramos no elevador em silêncio, trocando alguns olhares de relance um com o outro.
— Você não precisa me tratar mal para me afastar, Bennet — ele alegou com os braços cruzados atrás do corpo. Eu revirei os olhos.
— Estou aqui por Elena, nada a mais ou menos — deixei bem claro as minhas intenções naquela cada assim que a porta do elevador abriu, revelando um hall de porta única. — Agora com licença.
Enzo riu e abriu a porta do apartamento para mim. Era bem grande e decorado em tons escuros, o que dava um toque bem masculino. Havia um cômodo com sala de jantar e cozinha na minha frente e uma porta de vidro que dava para a sacada, que tinha churrasqueira e até uma jacuzzi. Havia uma escada em estilo moderno no meio da sala, a qual dava em um segundo andar, e uma porta no andar debaixo. Um homem moreno de olhos azuis saiu por ela e andou até nós.
— Bonnie Bennett! — Ele cumprimentou. Outro idiota no mínimo. — Caroline me disse para te procurar. Vem comigo, sua amiga precisa de ajuda.
Elena estava deitada em uma cama de casal. Seu rosto estava caído em meio aos travesseiros como se ela tivesse desmaiado ali mesmo. Damon me deu uma camiseta e saiu do quarto com Enzo para nos dar privacidade. Tirei as roupas de minha amiga peça por peça e vesti-a com a blusa, ajeitando os cabelos de Elena na cama antes de pegar uma toalha úmida e começar a limpar seu rosto. Ela nem se mexia, dormia em sono profundo, o que me deixou um pouco irritada. Por que ela tinha que beber tanto e acabar com a minha festa?! Praguejei para mim mesma e dei uma última olhada em minha amiga deitada na cama antes de sair do quarto, pensando que resolveria todos os problemas amanhã.
— Uísque? — Damon me ofereceu, e recusei com um gesto de cabeça.
— Onde está Caroline? — Me apoiei no braço da cadeira de Enzo para afastar o cansaço, sentindo uma tontura. Os dois riram.
— Com Stefan — Enzo contou, e revirei os olhos. Car tinha mesmo que arrumar uma transa justo agora. — Se eu fosse você, não esperava por ela.
Enzo se aproximou de mim e me guiou até um sofá, se sentando ao meu lado. Eu estava quase dormindo no ombro dele, mas não queria passar a noite na casa de três italianos praticamente desconhecidos. Elena apagada e Caroline com Stefan já era suficiente.
— Eu preciso ir para o hostel — suspirei. — Mas acho que não consigo levar Elena comigo.
— Você pode dormir aqui — Lorenzo sugeriu. — Minha cama tem espaço para nós dois.
— Cale a boca, não vou dormir na sua casa!
— Por que não? — O garoto me olhou com curiosidade e apertou de leve a minha mão. — Não vai ser tão ruim assim.
— Desiste, não vou te dar esse prazer — levantei cambaleando. — Mas cuide bem de Elena, porque se eu souber que aconteceu alguma coisa dê adeus aos seus dedos.
— Damon vai cuidar bem dela — ele riu, apontando para o italiano que bebia na sacada.
— Então, até mais! — Eu fiz menção de ir embora, mas Enzo segurou meu braço e me encurralou na parede, perto da porta. — De novo?
— Deixe eu te levar — ele pediu com a voz suave, me encarando.
— Não preciso da sua ajuda, obrigada — tentei me desvincular de seu aperto, mas ele não deixou. — Vai me deixar ir ou não?
— O que custa uma carona, Bennett?
— Enzo — chamei. — Não vou transar com você no carro. Até!
O moreno saiu da minha frente, e nos olhamos uma última vez antes de ele abrir a porta e me deixar sair. Enzo estava irritado e isso de alguma maneira me deixou feliz. Entrei no elevador e virei-me na direção dele antes das portas fecharem.
— Enzo — me despedi.
— Bonnie — ele sorriu e foi embora, exatamente quando as portas do elevador se fecharam e me isolaram.
***
— Você não precisa fingir que me odeia — foram as primeiras palavras que disse assim que se sentou. — Podemos ser amigos, Bonnie.
— Você não quer minha amizade —retruquei, convicta. — E eu também não quero a sua.
— Você é desagradável — Enzo suspirou.
— Só com quem me irrita — fiz uso de suas próprias palavras e dei um gole no vinho, rindo enquanto ele revirava os olhos.
Enzo me olhava com um misto de irritação e curiosidade. Bem diferente da maneira que Jeremy me olha, sempre cheio de paixão e carinho, feliz por me ter em sua vida. De repente, me senti triste por estar sem ele e por termos que nos separar em breve. Lorenzo continuou me olhando, agora meio confuso com a minha tristeza, e pegou as minhas mãos. O toque me surpreendeu positivamente. Ainda eram as mesmas mãos quentes da noite de ontem.
— Você está bem?
Estou melhor agora, pensei. Porém, respondi:
— Vou ficar melhor se você parar de me olhar — ironizei, e ele rompeu a conexão.
Comemos um pouco da comida em silêncio, apenas aproveitando a refeição. O macarrão estava realmente bom, nada de miojo barato, mas sim um fettuccine com molho branco e um pouco de ervas. O vinho era obviamente caro, provavelmente de uma safra antiga de alguma vinícola renomada. Posso conhecer Lorenzo e os Salvatore há apenas vinte e quatro horas, mas sou observadora o bastante para notar que são obviamente ricos. Desde o apartamento duplex em um prédio bem centralizado, até as roupas e os relógios de marca, tudo neles exala dinheiro. E talvez um pouco de beleza.
É esquisito pensar que este talvez seja o jantar a dois mais chique que já fiz em casa. Jeremy raramente me leva a restaurantes, e em casa quase sempre comemos fast-food ou miojo. Meu namorado tem o jeito de um completo meninão, enquanto Enzo me lembra um homem. Um homem romântico que gosta de preparar jantares chiques para sua amada.
— Pensando no feto que chama de namorado? — Enzo rompeu o silêncio em que estávamos, com o mesmo sorriso sarcástico de sempre nos lábios.
— Talvez — dei de ombros. — Mas não quero pensar nele agora. Não faz bem ficar remoendo as coisas.
— É exatamente o que eu penso — ele deu um sorriso caloroso para mim e levantou a taça de vinho na minha direção. Acompanhei o brinde em silêncio e suspirei. — Você merece mais do que ele.
Revirei os olhos.
— Você nem o conhece.
— Mas sei que ele não é bom o suficiente para você, senão não estaria aqui comigo, e sim grudada no celular — Lorenzo argumentou novamente. Suas palavras me atingiram como um soco no estômago. Isso não é verdade, me obriguei a pensar. — Você é uma mulher, Bonnie, merece um homem ao seu lado.
— Eu nem sei porque me importo com o que você diz. Provavelmente nunca deve ter tido algo que durou mais de um mês — alfinetei.
— Na verdade, eu já me apaixonei — ele contou, o que me deixou interessada. — O nome dela era Sarah, prima dos Salvatore.
— Deixa eu adivinhar — interrompi — Eles não deixaram vocês ficarem juntos?
Enzo balançou a cabeça. Seus olhos estavam distantes, presos em alguma lembrança passada. Talvez relembrando seus próprios erros como eu fiz anteriormente.
— Sarah não se importava com o que sua família pensava de nós, ela gostava de mim e para ela isso era mais do que suficiente. Mas eu era um idiota naquela época. A minha vida era muito confusa, eu praticamente não tinha onde cair morto e me apoiava nos outros. E ela merecia mais que isso, merecia alguém que pudesse satisfazê-la por completo — Enzo compartilhou. Ele deu de ombros antes de completar: — Por isso eu me afastei.
— É uma história linda — falei sarcasticamente.
— Cala a boca.
— Ainda gosta dela? — Quis saber, arqueando uma sobrancelha.
— Não — Enzo se virou para me olhar. — Já faz mais de dois anos. Além do mais, eu não me apego mais a ninguém.
Nem me incomodei em esconder o sorriso que nasceu dentro de mim.
— Todo mundo pensa isso, até que alguém vem e simplesmente muda tudo. Você vai se envolvendo sem perceber e, quando pisca, já está atolada até a cabeça com alguém — me levantei e coloquei os pratos na pia. Enzo parou para escutar o meu discurso e uma pontada de tristeza e nostalgia passou por seu rosto rapidamente. Rápido demais, mas eu percebi e lhe dei um meio sorriso de apoio. Pois entedia perfeitamente bem o que aquele olhar ferido em seu rosto queria dizer.
— Como você e o garoto? — Ele se aproximou e colocou uma mão de cada lado da bancada onde eu estava apoiada.
Neguei devagar com a cabeça, lembrando-me do nosso início conturbado.
— Comigo e Jeremy foi diferente. Os pais dele tinham morrido, a namorada também, e eu estava completamente sozinha. Então nos aproximamos, e isso o fez voltar a viver. Eu o fiz voltar a viver.
— Você não precisa levar ele nas costas, Bonnie.
— Eu sei — suspirei. — É complicado... você não entenderia.
Enzo levantou as mãos em rendição e foi para a sacada, me deixando sozinha na cozinha. Vesti as luvas de borracha que estavam jogadas na pia e comecei a lavar a louça do dia para tentar ocupar a cabeça. De repente, ouvi uma melodia, alguns acordes suaves que vinham de dentro do apartamento. Larguei uma taça na pia e virei a cabeça na direção do som, me surpreendendo ao ver Enzo sentado em um sofá com um violão debaixo do braço, tocando My Blood.
Era uma das minhas músicas prediletas.
— Alarms will ring for eternity — cantei, vendo meu celular apitar. Era uma mensagem nova do Jer. — The waves will break every chain on me. My bones will bleach, my flesh will flee. So help my lifeless frame to breathe.*
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