Cinco Anos Depois.
Lúcia Pevensie, Estados Unidos.
Quando atravessei a muralha d'água em Nárnia foi como se tivesse deixado uma parte do meu coração longe do corpo, em outro lugar, com outra pessoa.
Era assim que eu me se sentia sem ele por perto. Uma parte do meu coração ficara com Caspian, e só em lembrar que jamais o veria novamente provocava uma dor que jamais pensei em sentir.
Aquilo era muito injusto, mas afinal, oque é realmente justo nessa vida?
Poucas semanas depois que voltamos de Nárnia a guerra enfim havia acabado e logo era chegada a hora de voltar para perto de meus pais e irmãos.
Eu sentia saudade da convivência com eles mas agora aquilo perdera um pouco da importância.
Com o fim da guerra a condição da família mudou e logo meus pais decidiram se mudar de vez para os Estados Unidos.
Lá Susana formou-se em professora, mas acabou não seguindo a profissão. Pedro formou-se em Medicina e ambos já se casaram. Edmundo apesar de jovem decidiu seguir os passos do papai ao servir ao exército e já estava noivo.
Todos os filhos tomaram rumos que agregavam orgulho e renome para a família Pevensie, conforme os pensamentos de meu pai, e eu... bem, a me formar em advocacia, almejo ser uma mulher independente e não penso em me casar tão cedo.
Para o meu pai aquilo era um grande absurdo e parecia que não iria cansar de me comparar com Susana tão cedo, e nada que eu fizesse ou disesse o faria mudar de idéia sobre me arranjar um noivo e aquilo estava se tornando insustentável a cada momento para mim.
Era desgastante ter que comparecer a inúmeros chás e jantares beneficentes para sorrir e demonstrar ser a filha feliz, quando na verdade eu queria apenas me trancar no quarto e relembrar os momento mágicos que passei ao lado de meu amor.
No fundo eu alimentava esperanças e pedia a Aslam que me concedesse uma forma que revê-lo. Eu ainda amava o Caspian mais que tudo.
Neste momento eu sorria tentando parecer agradável como fui instruída por mamãe, já perdi minhas contas de quantas famílias já fui apresentada, mas eu precisava de um pouco de paz.
- Mamãe, não estou me sentindo bem... - Falei. - Vou tomar um ar. Já volto.
Disse me desvencilhando o mais rápido que pude dali.
Cruzei o espaço no qual eu me encontrava agora é logo atingi a parte de fora, lá havia um jardim bem conservado e alguns banquinhos, sentei num deles me sentindo frustrada. Aquela não era a vida que eu queria para a mim, mas eu não tinha escolha.
- Apreciando a paisagem? - Disse uma voz masculina ao meu lado e eu me sobressaltei. - Você está bem?
- Oh, Andrew... - Disse ao perceber quem era. - Estou um pouco cansada.
Ficamos num silêncio incômodo por um momento enquanto ele me encarava com curiosidade, Andrew era um oficial da marinha também e filho do amigo de meu pai.
- Sabe, senhorita Pevensie... sempre te achei diferente das moças que já conheci. - Disse ele.
- Devo considerar isso um elogio? - Perguntei arqueando uma sobrancelha.
- Certamente! - Ele sorriu. - Me pergunto se uma moça como você já não tenha um pretendente...
O encarei nervosa, aquilo era um assunto um tanto delicado para mim e com certeza não falaria naquele momento. Olhei em volta a procura de um motivo para sair dali quando avistei meus pais observando-nos de longe.
- Andrew... - Comecei. - Preciso ir, meu pai deve estar me chamando.
Falei e o vi se frustrar um pouco, mas logo ele sorriu e beijou minha mão desejando-me melhoras.
Aproveitando a oportunidade fui até meus pais e pedi para ir embora dali, e sai assim que me foi permitido.
Pouco tempo depois, já em casa, fui direto para o meu quarto, estar sozinha relembrando meus momentos em Nárnia foi uma atividade frequente que desenvolvi nesses anos na tentativa de amenizar um pouco a minha saudade. Na maioria do tempo costuma funcionar.
Caminhei até a mesinha de estudos que havia ali e peguei um caderno grande e com uma capa de couro preto, era o meu caderno de desenho. Abri o caderno e encarei o desenho de um rapaz de pele clara, cabelos pretos e na altura dos ombos e um sorriso largo, aquele era o melhor desenho que eu já fiz do Caspian e era como se ele estivesse um pouco mais próximo de mim através daquela folha, um pequeno sorriso brotou em meus lábios quando passei os dedos sobre a imagem.
- Que saudades de você... - Sussurrei para o desenho.
Mas algo me chamou a atenção, o barulho de passos subindo a escada ecoava cada vez mais perto até, pelo que percebi, chegar em frente ao meu quarto.
- Acho que ela deve estar dormindo, Phill, tadinha. Vamos voltar outra hora... - Sussurrou minha mãe. Em seguida os ouvi se afastar e descer as escadas novamente e fui atrás tomando o cuidado de não ser vista. – Sobre o que você estava falando com o Sr. Thorne? – Perguntou mamãe e meu pai jogou-se no sofá, suspirando.
- Sabe, Helena... – começou ele. – Acho que Lúcia já está passando da idade... – Parei no topo da escada, meio escondida atrás da parede.
- Como assim?
- Acho que já está na hora dela se casar. – disse meu pai. Meu coração parou no peito.
- Ela só tem vinte e um anos, Phillip! – argumentou minha mãe.
- Você era mais nova que ela quando nos casamos. – rebateu ele.
- Vendo por esse lado...
- Eu estive observando o filho dos Thorne. – Continuou meu pai enquanto eu lutava para me manter calada. – Andrew é um ótimo garoto, e você o viu conversando com Lúcia hoje na recepção.
- Sobre isso que você estava falando com o pai dele?
- Na verdade, o próprio George disse, hipoteticamente, como seria um bom negócio se os dois fossem mais a frente...
- Phillip, eles mal se conhecem e Lúcia não me pareceu muito à vontade com ele, não acha que é cedo para pensar em um relacionamento? – Mamãe questionou contrafeita.
- Bobagem. É só questão de eles se conhecerem mais um pouco, a Lúcia também não colabora. Você devia conversar com ela Helena, ela sequer quis conversar com o rapaz...
- Ela anda estranha de uns tempos para cá, Phill. – Comentou ela.
- Estranha como?
- Não sei... Estranha. Anda com a cabeça nas nuvens, de poucas palavras...
- Deve ser fase.
- Não, é algo mais que isso. - Mamãe disse. - Pensei que fosse os traumas da guerra, mas já se passaram cinco anos! E ela continua reclusa...
- Já experimentou perguntar ao Edmundo? - Papai sugeriu. -Eles são bem próximos e talvez o Ed possa ajudar... Mas não acho que isso seja desculpa. Continuo achando que ela devia dar uma chance ao Andrew, ele é um bom rapaz... Você devia conversar com ela sobre isso, Helena.
- Tudo bem... - Mamãe cedeu depois de um tempo em silêncio e aquela conversa era demais para mim.
Corri novamente para o meu quarto sem me importar com o barulho e se ele deduziriam que eu ouvi a conversa, apenas me joguei na cama e chorei.
Casar-me com outro que não fosse Caspian era algo que me apavorava, era um amor grande demais para ser sufucado assim, apesar de ter passado tanto tempo.
Peguei novamente o desenho dele e fiquei contemplando-o pelo que me pareceu horas até que ouvi alguém entrar no quarto.
Enxuguei depressa as lágrimas e virei para ver quem era. Mamãe.
- Querida... você ouviu nossa conversa não foi? - Ela perguntou sentando na cama.
- Como pôde concordar com uma coisa dessas? - Falei por fim. - Como podem interferir na minha vida assim?
- Querida, por favor...
- Eu não vou casar com esse tal de Andrew! Não vão manipular minha vida.
- Não fale assim Lúcia! - Papai entrou no quarto para ficar ao lado de minha mãe. - Nos queremos sempre o melhor para você.
- Me casando com um homem que não conheço? - Disse sarcástica. - Me desculpe papai, mas não quero e nem vou querer nada com esse cara.
- Você ao menos deu uma chance dele se aproximar! Como pode dizer que não vai gostar dele. - Papai argumentava. - Convidei os Thorne para um chá amanhã a tarde, aproveite a oportunidade para conhecê-lo melhor.
- Não vou compactuar com isso. - Falei furiosa. - Não tente papai, não vou ficar com ele.
- Agora chega mocinha! Sempre fizemos de tudo para o seu bem e é assim que você retribui? - Ele gritou. - Amanhã você irá recebê-los comigo e sua mãe, será agradável e dara uma chance a esse rapaz. É uma ordem
Papai disse e em seguida saiu do quarto acompanhado pela minha mãe. Ultrajada como estava apenas continuei chorando enquanto deitada em minha cama até cair no sono.
(...)
Papai cumpriu sua promessa e no dia seguinte, ao fim da tarde, os Thorne cruzavam a entrada da minha casa para um chá.
A discussão de ontem ainda zunia na minha cabeça e apenas por educação eu me segurava e respondia ocasionalmente as perguntas direcionadas a mim, mas estava longe de ser agradável e fiz questão de deixar isso bem claro em meu comportamento.
Ao todo esse chá estava sendo uma chatisse e eu não suportava a cara de bobo do Andrew quando me olhava, ou a expectativas mal escondidas dos nossos pais. Eu so queria que aquilo acabasse logo.
- Lúcia, qual profissão pretende seguir? - Perguntou o Sr. Thorne.
- Serei serei Advogada, estou me formando em alguns meses, inclusive. - Respondi.
- Não acha que poderia ter escolhido uma profissão mais delicada, Lúcia? Não sei, trabalhar num ambiente tão masculino não cairia bem para uma moça. - Ele insistiu.
- Não, não acho. Trabalhar no que gosto é algo que jamais abriria mão. - Disse firme vendo papai me encarar atônito.
- Diga-me, querida... - Disse a mãe de Andrew. - Oque mais pretente para o futuro? Casar talvez, ter filhos?
- Não pretendo ter filhos. - Falei rindo levemente ao ver a cara de espanto da minha mãe. - Estou prestes a me formar e quero conquistar minha independência primeiro.... e casamento agora nem pensar!
Terminei de falar e logo caímos num silêncio constrangedor, se aquilo era um teste para saber minhas intenções quanto ao casamento espero ter sido clara o suficiente. Ignorei o fato que assim que os Thorne saíssem daqui eu receberia uma bronca daquelas do papai por estar fazendo tudo errado.
Mas oque está feito não se pode mudar.
Em seguida mamãe desatou a falar das minhas "inúmeras qualidades", sobre como eu desenhava bem e que eu seria uma ótima dona de casa, até desenterrou um álbum de fotografias que eu não fazia idéia que existia.
Passei o restante do chá torcendo pela hora em que nossa visita fosse embora, e quando foram não fiquei muito tempo na sala para ouvir a bronca de meus pais, subi e me tranquei no quarto o mais depressa que pude.
Respirei aliviada assim que me vi em segurança.
Peguei novamente meu caderno de desenhos e algumas cartas que haviam chegado ontem caíram no chão, lembro de te-las colocado na escrivaninha para ler depois... Aproveitei o momento e verifiquei as cartas e dentre elas estava uma carta de Edmundo. Estou morrendo de saudades do meu irmão e não vejo a hora de visitá-lo.
Por essa razão decidi ler a aquela carta primeiro, retirei a folha do envelope e comecei a ler.
"Querida Lúcia, como tem passado?
Como estão mamãe e papai ? Espero que estejam todos bem... Surgiram algumas novidades aqui em Londres que estou louco para te contar com detalhes, Ashley e eu marcamos a data do casamento, será no próximo verão e mal posso esperar que aconteça, você vem não é?
Também recebi uma carta de Susana, e adivinhe só: ela está grávida! Seremos tios em breve, Lu. Dá pra acreditar?
Ah, antes que eu me esqueça, Pedro mandou um beijo para você.
Recentemente Eustáquio me contou que ele e Jill Pole (vizinha dele) foram à Nárnia há alguns meses e me contaram a aventura que viveram lá ao procurar um príncipe que foi sequestrado. Surpresa maior que essa foi saber que este príncipe era ninguém menos que filho de Caspian X com Lilliandill... sei que não superou tudo oque passaram juntos mas pensei que gostaria de saber.
Mais uma vez espero que esteja bem, minha irmã, espero também que possamos nos ver em breve.
Muitos beijos e abraços para você, mamãe e papai.
Saudades.
Ed."
O sorriso que crescia em meus lábios no início da carta morreu assim que processei a notícia sobre Caspian enquanto lia e o aperto característico em meu peito surgiu com força total.
O papel escorregou de minhas mãos e caiu no chão lentamente sem que eu fizesse nada. Meus medos haviam se realizado e Caspian realmente casou-se com a estrela.
Minha mente vagou para a lembrança em que vi os dois juntos através do nevoeiro e senti aquela dor de quando nos separamos, o medo dele se apaixonar por outra e esquecer de mim se tornava cada vez mais vívido.
E então chorei novamente, percebendo que era tudo real, Caspian realmente tinha me aquecido.
Ele nunca me amou de verdade.
Encostei-me na varanda do meu quarto observando a vista que ela me proporcionava do mar enquanto relembrava dos momentos que passei ao lado dele. Nossos beijos, o cheiro dele, o sorriso, as promessas. Era tudo mentira.
Imaginar a vida que Caspian teve ao lado de Lilliandill era inevitável para mim no momento, eles casados e felizes, governando Nárnia juntos e criando um filho deles. Todos esses momentos Caspian jurou que seriam somente nossos, ele descumpriu essa promessa, e ter a certeza daquilo me fez chorar ainda mais.
(...)
Os dias seguintes não foram fáceis para mim, passei a maior parte do tempo trancada no quarto e estranhamente não fui interrompida em nenhum momento. Acredito que mamãe tenha encontrado uma desculpa para que papai não me perturbasse, paz era tudo que eu precisava.
Durante esse tempo pensei muito em Caspian e em Andrew... talvez eu devesse esperado mais um pouco, mas decidi dar uma chance a ao Andrew já que agora, infelizmente, eu tinha certeza que Caspian tornara-se passado para mim assim como eu tornei-me para ele.
Quando fecho os olhos o sorriso dele ainda era a primeira coisa que me vinha a mente, suspirei ao levantar da cama. A jornada que eu teria pela frente para esquecer o Caspian era longa, eu sabia, mas era o melhor a ser feito. Para o meu próprio bem.
Meu relacionamento com Andrew não era ruim, na verdade era como todos os outros relacionamentos que já vi e ele era atencioso comigo o tempo todo.
Era claro que ele tinha sentimentos por mim e que cresciam a casa dia, mas eu não conseguia sentir por ele nada além de respeito.
Todos a minha volta pareceram felizes e minhas amigas me patabenizavam dizendo que eu tive sorte de conseguir um partido tão bom como Andrew. Nossas mães eram poços de alegria e nossos pais estavam orgulhosos.
Teoricamente, eu deveria estar muito feliz com as coisas que estão acontecendo na minha vida, mas eu não conseguia e ninguém enxergava que eu era a única que não estava feliz.
Os meses se passaram com rapidez e logo o assunto casamento era tocado com cada vez mais frequência que eu gostaria me deixando desconfortável, e eu tentava ao máximo adiar uma resposta positiva.
Como estou nos Estados Unidos de férias, Logo teria que voltar para Londres e minha rotina, e confesso que venho usando isso como desculpa.
Eu realmente mal via a hora de voltar.
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