Acordo com alguém fazendo cosquinha nos meus dedos dos pés e encolho a perna, puxando-a para debaixo do cobertor.
— Izza. — É minha mãe. — Feliz dia do Canadá, querida!
— Hmmm — murmuro ainda sonolenta.
Primeiro de Julho. Segunda-feira.
O Dia do Canadá é a data mais esperada por todos durante o ano, bem mais do que Ação de graças e o Natal. Mas dessa vez eu não estava tão animada para participar de comemorações.
— Vamos, levante — insiste mamãe em tom calmo.
Sinto o colchão afundar e abro os olhos.
Naquele momento vi mamãe sentada na pontinha do meu colchão, usando um vestido vermelho de listras brancas e mangas curtas, é novo.
— Levante — mamãe repetiu. — Não vai deixar a Amanda esperando, não é? Ela está na sala.
Ah, droga.
Sentei-me tão depressa que senti minha cabeça ficar zonza.
— Okay — dou um meio sorriso para ela.
— Izza, porquê não convida Kim para ir com vocês?
— Kim está chateada comigo — esclareci. — Ela acha que foi errado eu ter me aproximado de Caroline.
— Ah, filha. Isso vai passar — mamãe acariciou meus cabelos, tranquilizando-me.
É o que eu espero.
Entro no carro de Amanda e coloco o cinto de segurança.
— Dylan não vai com a gente? — ela perguntou mexendo no rádio, provavelmente procurando por alguma estação com músicas que tenha "Dia do Canadá" na letra.
Mas ela parou em uma estação de música pop.
— Não — admiti.
— Porquê?
— Eu acho que ele está doente.
— Ah, que pena.
— É.
E ele tinha feito de novo. De uns dias para cá Dylan passou a inventar desculpas para não sair comigo quando era eu quem chamava. E sinceramente não sei qual é a dele. Mas vou tirar essa história a limpo, e talvez até ligue para Dylan quando chegar em casa à noite.
Uma hora e cinquenta minutos foi o tempo que levamos para sair de Stratford e ir em direção à Toronto. Passamos por Kitchener e Brampton, e pareciam que todos os moradores estavam se mudando ao mesmo tempo. Até vi pessoas carregando suas coisas pelas ruas, o que é comum de se ver nessa época do ano. Mas ainda assim é engraçado, preciso admitir. E isso tirou da minha cabeça por alguns minutos a pequena discussão que tive com Kim, graças a Caroline Funck's, e em como minha vida estava se arruinando aos poucos.
— Eu não deveria ter vindo — reclamei, cruzando os braços e apoiando o peso do corpo em uma única perna, quando desci do carro.
O dia estava quente, muito quente. Mas eu via as pessoas chegando empolgadas, vestidas com as cores vermelho e branco e que carregavam balões de gás, igualmente da mesma cor. Haviam barraquinhas espalhadas pelas ruas, tomadas pelas cores e a folha da bandeira do Canadá.
Suspiro e acompanho Amanda, abrindo caminho entre as pessoas.
Toronto fica bastante agitado quando se trata do Aniversário do Canadá.
— Ah. Relaxa, amiga. O desfile já vai começar.
— Vou tentar, Mandy. — Lanço o meu melhor sorriso para ela.
— Com licença, querem uma bandeirinha? — perguntou um rapaz, a nós duas.
Ele carregava pequenas bandeirinhas do Canadá em uma das mãos e sorria abertamente. Meu coração errou uma batida quando olhei o garoto nos olhos, estranhamente me lembravam alguém.
— Queremos, sim. — Foi Amanda que respondeu e pegou duas bandeirinhas das mãos dele. — Obrigada.
Ele apenas sorriu e se retirou.
E basicamente as próximas duas horas passei espremida entre as pessoas tentando sobreviver ao calor e ficar o mais próxima possível da grade de separação. Amanda nem dava bola para mim, estava muito empolgada vendo os malabaristas e a banda marcial desfilando pela rua, eu pude perceber. E a propósito até o protetor de tela do celular de Amanda tinha a imagem da folha da bandeira.
Minha amiga é tão patriota.
É noite.
Não esperamos a queima de fogos e saímos de Toronto antes das cinco horas da tarde, o que foi bom. Pois ainda consegui ligar para Dylan e me certificar que ele estava apenas com um resfriado.
Espero que melhore logo.
Estou sentada no banco de madeira, na varanda. Tenho um livro apoiado nos joelhos e um suéter jogado ao meu lado, quando ouço Kim chamar por mim.
— Oi, Kim. — Falei. Eu não esperava vê-la aqui.
Ela se aproxima devagar olhando para baixo, os ombros caídos. Mas ainda assim, consigo ver um sorriso retraído em seu rosto. Eu não fazia ideia do que Kim queria falar mas endireitei-me no banco, abrindo espaço para Kim.
— Oi, Izza. Eu aproveitei que a Mel tá dormindo e quis me desculpar por ter agido daquela forma com você.
— Tudo bem, Kim — eu disse, enquanto virava o corpo para ela. — Já passou.
— Não, Izza. Sinto muito, de verdade. Por tudo. Eu sei que fui uma péssima amiga.
— Está tudo bem, Kim — digo. — Não vamos lembrar mais disso. — Pausa. Kim está arrancando o esmalte vermelho da unha com os dentes. Devo me preocupar? Desde que a conheço, só vejo Kim roendo as unhas quando algo a incomodava. Um tique nervoso. — Kim, aconteceu algo?
Ela balançou a cabeça em negativa.
— Eu, bem, eu preciso te contar uma coisa. É sobre o Dylan. — Kim falou, um pouco nervosa. — Você sabe o que ele iria fazer hoje?
— Sim — respondo. — Dylan ficou em casa. Está resfriado.
— Tem certeza?
— Tenho — digo tirando uma mecha de cabelo da frente dos olhos. — Por quê a pergunta?
Ela não fala nada.
— Kim.
E então com uma voz baixa, ela diz.
— Vi Dylan no parque com uma garota essa tarde, quando fui levar a Mel para passear.
— O quê? — estou em choque. — Tem certeza, Kim?
— Tenho.
— Mas não pode ser. Você deve ter se confundido, Kim. Falei com Dylan agora pouco e ele me garantiu que ficou de cama o dia inteiro.
— Na cama? — Kim riu sem humor algum na voz. — Só se for com outra, não é?
Arregalei os olhos.
Ah, não Kim!
— Não consigo acreditar — digo para mim mesma, mas sei que Kim escutou.
E o que ouvi de Kim a seguir confirmou que ela continuava chateada comigo.
— Está bem. — Kim levantou as mãos para o alto claramente irritada. — Desisto de tentar te mostrar o que já tá bem na sua cara, Isabella.
E Kim saiu pisando duro em direção à sua casa.
Droga.
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