Eu só queria estar bem com Harry.
Quatro dias se passaram desde aquele fim de semana que se tornou um fracasso no final das contas e eu adoraria saber como Harry se sente, se está pensando em mim da mesma forma que tenho pensado nele ou se ficou tão destruído por dentro como eu após aquela discussão. Mamãe me viu entrar em casa naquela manhã com os olhos cheio de lágrimas e não perguntou o motivo, mas o olhar dela já dizia tudo: Harry aprontou alguma coisa, não foi? E em troca eu esbocei um sorriso, o melhor que consegui.
Na manhã do Dia de Ação de Graças levantei a contra gosto. Tudo o que eu desejava era sumir até esse sentimento ruim sair do meu peito. Tentei pensar em tudo de ruim que Harry já havia feito. Desde suas mudanças repentinas de humor, até seus beijos em Alice Miller que ela fazia questão de esfregar na minha cara. E detalhe, descontei toda minha frustração limpando a casa.
Pronto. Isso era para ser o suficiente para querer ficar bem longe dele. Mas quem disse que o meu coração queria saber disso?
Ele era tão teimoso quanto Harry Styles. E definitivamente eu não sei lidar com nenhum dos dois.
Por isso eu tenho estado a todo custo tentando não dar de cara com Harry o que é praticamente Impossível levando em conta que somos vizinhos. Mas creio que isso não será um problema quando enfim eu estiver viajando para Detroit para cursar a faculdade dos meus sonhos. Logo mais estarei livre de Harry, e de Caroline Funck’s.
Não me surpreendi quando a Sra. Campbell bateu na minha porta às três horas da tarde naquele mesmo dia.
— Olá, querida. Desculpe vir aqui sem avisar — ela disse quando me viu descer a escada.
Sorrio e dou-lhe um abraço, a cumprimentando.
— Olá, Sra. Campbell. Como está?
— Estou bem, querida. Vim aqui porque preciso conversar com você.
Enrugo a testa e sento-me no sofá de frente para ela, as mãos apoiadas sobre os joelhos.
— Aconteceu algo grave?
— Eu não sei, Isabella — ela falou. — Me diga você.
O quê?
A Sra. Campbell remexe a bolsa bege de couro procurando por algo. Ela veste uma blusa de botões vermelho escuro e saia preta na altura dos joelhos, parece que veio pronta para me dar alguma sentença e imagino que tenha o dedo de Dylan no meio. Isso me faz pensar no que ele deve estar fazendo agora e se já se envolveu com outra menina boba que pretende realizar os caprichos dele.
A sra. Campbell retira da bolsa um envelope pardo ainda fechado e estica o braço em minha direção para pega-lo.
— Encontrei isso enquanto arrumava o quarto de Dylan — ela disse. —Está endereçada à você, querida.
Viro o envelope para examiná-lo com cautela. Meu coração já estava disparado só em ver meu nome completo na parte de trás.
Não é possível.
Abro o envelope e leio o conteúdo de dentro.
Lá estava com todas as letras minha carta de admissão na Wayne State. Eu fui aprovada e fiz papel de trouxa com Dylan e Caroline, claro que isso só poderia ser obra deles, mas porque fazer isso? O que ganharam me fazendo de idiota e acreditar que eu não era boa o suficiente para frequentar a faculdade que sempre quis?
Eu agradeci a mãe de Dylan e a conversa se encerrou por ali mesmo.
Eu não queria mais que nada vindo desses dois me abalassem e, é claro que fiquei mal, mas não deixei isso me abalar na mesa de jantar. Ajudei mamãe a assar o peru e fizemos purê de batata. Depois de comer a torta de abóbora que preparamos pra sobremesa eu entrei no meu quarto e chorei a noite toda de raiva por tudo o que havia acontecido. Mas se à algo que eu possa fazer por mim mesma é deixar isso pra trás e ir em busca do que eu quero.
— Izza!
É minha mãe que me chama da cozinha.
— Izza! — ela grita novamente.
— Já estou descendo, tenha calma por favor! — digo de volta.
Largo meu laptop sobre a cama e vou em direção a cozinha de pijama, pantufas e cabelo desarrumado.
— Oi, mamãe. Bom dia.
Sento no banco de pernas altas e pego uma torrada que estava no prato sobre o balcão.
São 6:35 da manhã, é quinta-feira e estou ansiosa planejando minha ida para a Wayne State. Só Deus sabe o quanto foi trabalhoso eles me aceitarem como aluna deles depois do ocorrido, mas após ter explicado a situação do meu jeito (mentindo na cara dura mesmo, contei que a carta tinha ido parar em um endereço errado e só agora descobrimos, eles acharam que tivesse sido erro dos correios e aqui estou eu) e fui chamada para ir à uma reunião com a reitoria na semana seguinte.
— Bom dia, querida. Preciso que faça algumas compras para mim. — Ela disse andando de um lado para o outro na cozinha com uma xicara de café em mãos. — Já estou atrasada para ir trabalhar e não terei tempo de ir ao supermercado.
— Ah, claro. Vou sim. O que preciso comprar?
— Deixei a lista na porta da geladeira — ela riu. — Pensei que estivesse dormindo.
— Não estava — falei.
— Que bom — mamãe passa por mim, pega a bolsa que estava com a alça enganchada na cadeira e me dá um beijo no topo da minha cabeça. — Seu pai precisou sair mais cedo. Preciso pegar um taxi.
— Se cuida.
Mamãe e papai estavam bem, conversavam e riam juntos e eu não soube o que aconteceu para terem voltado ao normal. Acho que independente do que tenha acontecido o amor sempre da um jeitinho de ganhar e fazer tudo ficar bem. Estava na cara que meus pais se amam mesmo com suas alfinetadas.
A lista de compras estava colada na porta da geladeira como mamãe havia dito. Nesses dias que se passaram eu só vi a janela de Harry Styles aberta algumas vezes quando eu entrava no meu quarto, agora o peitoril da janela tem dois vasos de plantas, mas as flores não estão bonitas.
Voltei para o quarto, tomei banho e vesti uma calca jeans e blusa branca de botões com manga três quartos. Calço minhas sapatilhas e deixo o quarto amarrando o cabelo em um rabo de cavalo.
Saio na varanda, sentindo o ar frio da manhã.
O jornal de hoje está jogado no nosso jardim e eu me aproximo para pega-lo. A notícia principal me surpreende como um tapa.
Classe A tem presença confirmada no Baile Beneficente da Stratford Northwester Secondary.Gestão e Professores convidam aos ex alunos a se fazerem presente e prestigiar o momento no dia 19 de Outubro.
Fala sério. Um baile e Dylan? Definitivamente não é uma boa opção.
Balanço a cabeça e deixo o jornal sobre o banco de madeira na varanda. O supermercado ficava próximo a minha casa e por essa razão eu iria a pé mesmo. São 20 minutos andando e eu poderia socializar com as pessoas no meio do caminho.
Próximo a minha casa tem um parquinho onde eu costumava brincar com Harry todas as tardes de bicicleta, enquanto mamãe ficava sentada em um dos bancos conversando com as mães das outras crianças. Se eu me concentrar sou capaz de ouvir a risada de cada uma delas, consigo ouvir o barulho do balanço, e lembro o quanto era gostoso tocar os pés descalços na areia após descer no escorrega laranja em forma de espiral.
São quase oito horas da manhã, o céu começou a escurecer dando indícios de que iria chover e eu me via sozinha sentada naquele balanço — imaginando que ao fechar os olhos voltarei a sentir as mãos de Harry tocando minhas costas para me empurrar, e então sinto novamente meus pés tocarem a areia fria.
— Porque está aqui sozinha, Isabella? — sinto alguém tocar minhas costas. É Harry, ele senta no outro balanço ao meu lado.
Olho para ele, e sou saudada por um belo par de olhos verdes iluminados por um brilho especial que nunca irei saber se é coisa da minha cabeça ou se realmente está ali. Dizem que nossos olhos brilham quando olhamos para alguém que gostamos, por isso prefiro acreditar que não é só coisa da minha cabeça.
— Estou pensando — e pensar em Harry afetou minha voz, estou rouca.
— Posso te fazer companhia?
— Fica a vontade — eu disse.
—Pensei que não quisesse mais olhar na minha cara.
Não digo nada.
Ele sorriu meio sem jeito, as covinhas em suas bochechas ficando marcadas.
— Será que ainda tenho chance? — ele continua falando.
— Não sei.
Harry faz uma careta.
— E por acaso podemos conversar sobre o assunto?
Consigo sentir meu estômago revirar ao pensar que se conversar sobre o assunto Alice Miller entraria em discussão graças ao surto que tive na casa dos avós de Mandy.
— Harry, não insista. — Eu disse.
— Izza.
— Não quero ouvir nada, Harry. — Olho irritada para ele. — Além disso semana que vem estarei indo para Detroit e você vai ter tempo suficiente para atender as ligações da sua amiga.
Harry está com uma expressão um tanto chocada, eu diria.
— Alice não é um problema aqui, Isabella. Eu não a quero. Consegue perceber isso?
Dou uma risadinha falsa, segurando as duas correntes do balanço. Limpo os pés um no outro para tirar a areia e os enfio dentro das sapatilhas amarelas.
— Mas sempre que ela dá em cima de você, você se deixa levar.
— E sempre que eu me aproximo de você, você foge de mim. — Ele retruca.
— É porque ela sempre se intromete, Harry. E daqui a pouco ela vai vir esfregar na minha cara tudo o que ela conseguiu.
— Só porque você deixa.
A forma como ele olhou para mim me deixou nervosa. Sinto que a qualquer momento vou chorar, e não quero isso. Não na frente dele.
— Harry... — percebo minha voz sumindo.
— Isabella, você precisa confiar mais em si mesma. Eu só vejo a Alice como uma amiga.
— Eu tenho medo, Harry.
— Eu entendo você, Isabella. E não precisa ficar estranha comigo por causa dela. Isso mostra que você não confia em mim e nem se sente segura também.
— Eu quero confiar em você — digo.
Ele assente.
— Então peço que também confie em si mesma. Não deixe sua mente falar coisas que não existem, Isabella.
— Okay.
Levanto, já me preparando para ir embora.
— Me dá sete dias — ele disse.
— O quê?
— Me dê sete dias, Isabella — ele repete.
Pisco confusa.
— Para quê?
— Se em sete dias eu não conseguir fazer com que você pense diferente ao meu respeito, eu mesmo saio da jogada e te deixo livre. Só te peço sete dias, Isabella. Será que é possível?
Ele ergue uma sobrancelha.
— Tem seus sete dias, Harry — eu disse.
Harry ficou quieto por uns três segundos sentado no balanço e sorriu para mim, em seguida.
— Obrigado — ele disse.
— Disponha sempre, Harry Styles.
Harry levanta, eu me afasto e saio correndo em direção ao supermercado.
Preciso fazer compras.
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