Anne não parava de me fuzilar, mas assim que os outros aos poucos percebiam a sua presença a sua feição mudava. De puta da vida, a Anne passou para um anjinho em segundos. Caramba, ela deveria dar aulas de falsidade, é expert no assunto.
Anne estava vestida com uma calça jeans branca e uma camisa rosa com uma estampa do seu canal. É claro que usaria uma roupa sua já que ela passaria pelo aeroporto e teria vários fãs histéricos a sua espera. Espertinha.
-O que ela está fazendo aqui? -Tentei soar calma, mas acho que não funcionou.
-De duas uma, ou ela veio se divertir, como todos nós, ou... -Luba não completou a frase com medo, aparentemente de mim.
-Ou o que? Fala! -Explodi.
-Atrás do Cellbit, pronto falei. -Luba recuou.
-Por que ela viria trás do Cellbit? Eles terminaram. -Resmunguei ainda encarando Luba. -E outra, eles nunca se gostaram de verdade.
-Ah é? Então olha pra trás querida. -Luba apontou e eu me virei.
Lá estava Cellbit caminhando pela praia indo em direção a Anne que o recebeu de braços abertos, fingindo não se importa com as roupas molhadas dele. O modo sínico como ela conversava com ele, fez o meu sangue subir à cabeça. Dava para perceber que ela estava tentando se mostrar para me irritar. Se pudesse, eu não duvidaria nada, que ela transaria com ele, ali mesmo, para me causar ciúmes.
Mas o ponto que me fez quase sair daquele mar e puxar aquela vagabunda pelos cabelos, foi quando ela puxou Cellbit até o carro e deu partida. E eles foram embora, sabe lá Deus pra onde. Passei água no rosto, tentando de certo modo, fingir que não tinha ligado para aquele fato, mas na verdade estava explodindo por dentro.
Burra! Julie, você é muito BURRA!
E foi aqui que senti todos os olhares, antes no “Ex-Casal” se pousarem sobre mim. Alguns ainda soltaram coisas como “O que eles foram fazer? ” e “Eles estão juntos de novo?”.
-Já deu por hoje né? Todos para a van! -Damiani berrou batendo palmas e aos poucos, as pessoas foram saindo da água.
Acabei saindo por último e acabei pegando Satty e Malena conversando, com certeza sobre mim, pois quando passei elas disfarçaram e começaram a cantarolar uma música internacional. Elas falharam tanto no modo disfarce que até cantar errado conseguiram.
-Da próxima vez, fala na minha cara. -Soltei uma piscadela no final. -Odeio fofocas.
-Que isso! Não estávamos falando de você. -Malena sorriu.
-Me engana que eu gosto. -Joguei os cabelos molhados para o lado. -A vida de vocês devem ser uma merda né? Para falar dos problemas dos outros, primeira resolvam os seus.
Soltei um beijinho e fui em direção ao fundo da van. Lá estava um lugar vago ao lado de Sange, mas decide passar direto e parar ao lado de onde Daniel e Lukas que estavam conversando animadamente.
-E aí Julie! -Daniel fez sinal de paz. -Algum problema?
-Sim, você está sentado no meu lugar. -Puxei sua camisa fazendo ele se levantar. -Obrigada, você é muito gentil.
-Calma! Um com licença já resolvia. -Daniel reclamou, mas logo abriu um sorriso e foi embora se sentar ao lado de Coelho e Authentic que estavam na frente.
-Não vem descontar a sua raiva em mim não! -Lukas colocou as mãos no rosto em um sinal de proteção.
-Eu não vou bater em você. -Juntei as mãos e respirei fundo. -Eu só quero conversar.
-Conversar? Você? Marrenta desse jeito. -Ele bufou.
-É sério. -Coloquei uma mecha do cabelo atrás da orelha. -Eu realmente não gostei do que você fez, e ainda estou irritada.
-Você está falando da aposta? -Lukas tentou soar confuso, enquanto eu o encarava irritada. -Até eu repensei nisso, e finalmente refleti que tinha feito muita merda.
-Muita mesmo. -Esbravejei e ele soltou um riso seco.
-Então eu te peço, aqui e agora, as minhas singelas desculpas. -Lukas passou as mãos nos cabelos ainda molhados, enquanto me perguntava por que achava aquele gesto dele, tão sei lá, atraente.
-Você me desvalorizou, como se eu fosse um objeto! -Entrelacei os dedos.
-Eu sinto muito por isso, eu fui um idiota. -Lukas colocou a mão no meu colo. -Eu não aguentei te ver ao lado daquele moleque, e simplesmente saiu.
-Você e seus ciúmes possessivos.
-Não consigo controlar. -Lukas olhou para o teto. -É bem mais forte do que eu.
-É idiotice isso sim! Quem já se viu competir por um encontro? -Coloquei mais uma mecha atrás da orelha. -Vocês pareciam duas cachorros competindo por um pedaço de pão, me senti insignificante.
-Não deveria. -Lukas soltou. -Você é uma garota especial, que eu faria de tudo para passar o resto de minha vida ao seu lado.
Sorri com suas palavras e senti a sua mão agarrar a minha no estofado do banco. Ele começou a aperta-la, mas de um jeito carinhoso, quase como uma massagem.
-No fundo, eu queria que você ganhasse. -Sussurrei e vi a reação alegre estampar o seu rosto.
-Espera, acho que eu não ouvi bem. -O seu sorriso bobo era contagiante. -Eu sabia que você queria um beijo meu!
-Quem falou em beijo? -Arqueei as sobrancelhas. -Se liga moleque!
-Você é caidinha por mim, marrenta. -Ele tentou fazer cocegas em minha barriga, mas eu recuei.
-Não faz isso! -Soei autoritária. -E não me chama de marrenta!
-Mas você é a minha marrentinha. -Lukas tentou apertar a minha bochecha, mas eu dei um tapão na sua mão. -Tá vendo!
-Você mereceu!
Ficamos alguns minutos em completo silêncio, e já estava se tornando insuportável.
-Eu já sei que você só veio aqui por causa do Cellbicha. -Lukas falou. -Se ele estivesse aqui dentro, tenho quase certeza que você nem se lembraria de mim.
-Começou? -Me referi aos seus ciúmes. -E deixando claro, o que o Cellbit faz ou deixa de fazer, não é da minha conta, nós não estamos juntos.
-E aquele beijo, é o que? De amigos? Virou amizade colorida agora? -Lukas se transformou, mais uma vez.
-O beijo só interessa a mim e a ele, entendeu? -Reclamei e ele ergueu as mãos em defesa.
-E foi bom? -A voz de Lukas falhou. -Quer saber? Não precisa responder.
-Na questão do momento, sim. -Respondi a sua pergunta. -Mas agora, depois do que aconteceu, me arrependi.
-Você se refere a Anne? -Lukas me olhou, mas eu não respondi. Não queria mais motivos para ele acreditar que eu estava com ciúmes daquele idiota.
Chegamos no hotel e eu fui direto para o banheiro tomar banho. Troquei de roupa e coloquei o meu pijama. Joguei meu corpo na cama e fiquei encarando a cama vazia de Cellbit por alguns instantes até pegar no sono.
Acordei, ainda de madrugada, com um barulho forte vindo do lado de fora e deduzi que só poderia ser um carro. Fui até a janela e a abri. Sorte minha que a visão que tinha era exatamente para a fachada e para o estacionamento e lá estava o carro de Anne, parada ainda com os faróis ligados. Cellbit saiu cambaleando com uma latinha que parecia ser cerveja na mão e com a ajuda de Anne ele caminhou até a entrada. Claro que ela não perdeu a oportunidade e deu um selinho em seus lábios. O meu sangue ferveu.
Os dois se despediram, e como se adivinhasse, Anne olhou para cima e nossos olhares se encontraram. Ela sorriu e acenou, enquanto eu recuava e fechava a janela. Corri em direção para a minha cama e cobri o corpo com o edredom, e fechei os olhos no exato momento que a porta se abriu dando entrada para Cellbit.
Ouvi passos vindo em minha direção e senti seus lábios tocarem a minha bochecha, enquanto eu o afastava, ele ria feito um bobo. O seu hálito alcoolizado preencheu o ambiente.
-Posso dormir com você? -Ele sussurrou se sentando ao meu lado, ele ainda estava com a roupa molhada, resultado do seu banho de mar.
-Mas é claro que não. -Resmunguei empurrando seu corpo para longe. -Vai tomar um banho garoto.
-Vou ficar cheiroso pra você. -Ele respondeu indo em direção ao banheiro.
Respirei aliviada e me virei para o lado. Minutos depois Cellbit já estava em sua cama quase roncando e eu também decide voltar a dormir.
Mas o sono durou pouco tempo e acordei assim que o dia amanheceu. Olhei para o relógio e era exatamente sete horas. A temperatura estava beirando os dez graus e eu corri para o banheiro fiz minhas necessidades e tomei um banho quente. Coloquei o meu casaco e deitei novamente ao perceber que o café da manhã do hotel, só seria servido as oito horas. Decide ligar para Luba, que não atendeu da primeira vez, e eu tentei novamente.
-O que foi? Por que está me ligando a essa hora? -Luba reclamou com a voz embargada de sono.
-Já amanheceu e está um belíssimo dia! -Assim que terminei de falar, ouvi um trovão e um temporal surgiu.
-Está uma maravilha. -Luba disse. -Posso voltar a dormir agora?
-E eu vou ficar sozinha? Quero conversar com alguém.
-Problema é seu. -E desligou.
-Seu insensível! -Gritei para ninguém em especial e vi o corpo de Cellbit se remexer pelo colchão.
-Bom dia. -Ele levantou com os olhos vermelhos e com os cabelos armados.
-Bom dia. -Respondi a mais seca possível e comecei a jogar Criminal Case no celular.
-Estou morrendo de dor.
Cellbit foi em direção a sua mala, pegou um envelope de comprimidos, e depois abriu o frigobar do quarto e pegou uma garrafa d’água.
-A madrugada foi tensa hein? -Soltei e ele balançou a cabeça.
-Você acredita que eu nem lembro o que aconteceu. -Ele rebateu com um sorriso sínico.
-Sério? Como você é falso. -Grunhi, e fui em sua direção. -Arque com as consequências dos seus atos moleque, não coloque a culpa na bebida.
-Do que você tá falando? -Cellbit deu de ombros enquanto eu dava um soco no seu peito. -Ei!
-Ai você vai fingir que não se lembra de se embebedar a noite toda com a sua amiguinha, ou sei lá o que, Anne Fabulosa. -Bufei.
-É claro que me lembro, ela me chamou para conversar e...
-Conversar? Sério? -Cruzei os braços.
-Sim, conversar. -Cellbit deu um sorrisinho. -Está com ciúmes?
-Ciúme? De você? -Soltei uma risada seca. -Por que eu teria? Não temos relacionamento nenhum.
-Sério? E aquele beijo? Parece que você gostou. -Cellbit me olhou com um ar provocador.
-Não quero falar sobre isso. -Virei e fui até a janela. -E voltando, eu quero mudar de quarto.
-O que? Por que? -Cellbit veio atrás de mim. -Eu beijo tão mal assim?
-Eu só não quero ficar mais ao seu lado. -Ele colocou as mãos ao redor de mim, mas eu fugi. -Ai você pode chamar a Anne para conversar a hora que quiser.
-Olha aí. -Ele gritou. -Você tá morrendo de ciúme.
-Ciúme é uma coisa. -Abri a porta. -Raiva é outra.
Sai e fui em direção ao restaurante. O café da manhã estava começando a ser servido e eu fui me sentar em uma das mesas. Quando deu exatamente oito horas, eu não estava mais aguentando a fome, e fui me servir. Peguei panquecas, ovos e bacon. Antes que me julguem, sim quero engordar.
Aos poucos os youtubers começaram a chegar. Primeiro a descer foi Coelho que começou a dançar, fazendo os gringos o olharem de mal jeito. Depois foi a vez de Lukas que chegou na companhia de Daniel.
-Posso me sentar aqui? -Lukas perguntou e eu concordei, não desgrudando o olho do prato nem por um segundo. -Isso é fome?
-Bastante. -Falei com a boca cheia e ele fez cara de nojo.
-Então, vocês conversaram? -Lukas seguiu com as perguntas momentos depois, e naquele mesmo instante Cellbit veio em minha direção com o seu prato, mas ao ver que estava acompanhada de Lukas, ele mudou seu trajeto.
-Desculpa, mas eu não quero falar sobre isso. -Respondi e ele concordou.
-Claro. -Lukas colocou a mão no meu ombro. -Se ele te magoar ou qualquer coisa do tipo, não hesite em me contar.
Concordei e sorrimos um para o outro.
A van já estava à disposição para nós guiar até a nossa primeira parada que seria o parque da Universal. Era o que eu estava mais ansiosa para visitar, pois é onde se encontrava o castelo de Hogwarts, e eu como fã de Harry Potter, já sabia que iria enlouquecer.
Tudo seria uma maravilha, se não fosse a presença de Anne.
-Olá! -Ela gritou assim que nós avistou dentro do parque. -O Cellbit me convidou para vir também, será um dia divertido!
-Bastante. -Cochichei para mim mesma.
-Então vamos galera, todos juntos para não se perder. -Damiani, que já deu para perceber, era o líder da matilha, foi na frente sendo seguidos por todos nós.
-Julie Brandt. -Ouvi a voz fina de Anne ao meu lado. -O que foi que eu disse na festa mesmo?
-Você não manda na minha vida. -Grunhi e ela agarrou meu braço fazendo todo o grupo seguir na frente. -Ei garota! Eu vou me perder, me solta!
-Cala a sua boca. -Ela disfarçou. -Você é tão autoconfiante, saberá o caminho certo.
-O que você quer? -Ela soltou o meu braço e ficamos frente a frente nós encarando.
-Eu disse para você se afastar do meu Cellbit, mas parece que você é surda, ou idiota mesmo. -Ela estalou a língua. -Mas se lembre que seu pai trabalha para a minha família, ou seja, só basta uma palavra...
-Você está me ameaçando? -Cruzei os braços abismada.
-Interprete como quiser. -Anne sorriu. -Mas só basta uma palavra com o meu Rafael, e o seu pai vai para o olho da rua. Quero ver você e a sua família imunda sobreviver sem um centavo no bolso.
-Você não seria capaz. -Cerrei os punhos e tive vontade de soca-la.
-Experimenta. -Anne colocou os óculos escuros. -Se afasta do Cellbit e o seu pai continua no trabalho, se não seguir as minhas regras, ele é demitido e você vai ter que comer o pão que o diabo amassou. Você escolhe.
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