Fiquei transtornada ao ver aquela cena, digna de filme de terror. Cellbit prontamente me levou para fora do quarto e fez uma vistoria a procura de Anne. Conhecemos Anne muito bem e sabemos que ela seria bem capaz de ser esconder em algum canto do quarto à minha espera.
-Tudo limpo. -Cellbit surgiu novamente depois de revirar o quarto de cabeça para baixo. -Ainda acho que é uma ótima ideia denuncia-la para a polícia.
-Essa hora ela já deve estar voltando para o Brasil Cellbit! -Entrei no quarto e comecei a recolher minhas roupas e a maioria estava com algum tipo de rasgão. -Você acha mesmo que ela continuaria perdendo tempo aqui? A Anne é muito esperta, e agora mesmo ela está bolando um plano para se sair como vítima nessa história toda, é típico dela.
-E ela é boa nisso. -Ele deu um sorriso no final da frase, enquanto eu lançava um olhar repreendedor.
-Não tem graça nenhuma. -Recolhi todas as coisas e vi que metade não prestava mais para uso. -Ainda bem que amanhã é o último dia de viagem, por que se não, eu teria que ficar nua.
-Mas o que! Acho melhor ficarmos mais uns dias, talvez... -Ele me olhou com malícia.
-Vai se fuder! -Sorri e guardei tudo dentro da mala.
-Você tá tão calma, alguns minutos atrás pensei que você fosse explodir e começar a caçar a Anne feito uma louca. -Cellbit forrou a sua cama e depois se deitou sobre ela.
-Ela teve o que mereceu. -Chegou a minha vez de deitar, mas antes verifiquei se a minha cama tinha algo (Nunca se sabe né?). -E quer saber, acho que foi uma péssima ideia te deixar dormir no meu quarto.
-Seu quarto? Agora a pouco era NOSSO quarto. -Cobri meu corpo com o cobertor e tapei a boca para não rir. -E só não vou dormir ao seu lado, pois eu sei que seu namoradinho vai ficar com ciúmes.
-Namoradinho? Não tenho nenhum namorado. -Rebati. -E quer saber? Parece que é você que está morrendo de ciúmes.
-Imagina. -Ele se remexeu na cama. -Então a cena que eu vi nesse quarto alguns dias atrás, entre você e o Lukas, foi coisa da minha mente?
-E ainda diz que não é ciumento. -Soltei um riso alto.
-Então o que me impede de ir até aí e te dar um beijo? -Ele soltou isso com tamanha calma que me assustou. O meu riso cessou, engoli no seco e senti o clima esquentar.
-Ahn...
-Boa resposta. -Cellbit caminhou até a minha cama em uma velocidade absurda e beijou a minha boca.
Senti seus lábios macios se chocarem contra os meus, em uma explosão de emoções. Era estranho, e ao mesmo tempo maravilhoso. Pensem comigo, o cara ontem mesmo não aguentava nem olhar na minha cara, e hoje já senti a liberdade e o prazer de me beijar, como se eu fosse a garota mais fácil do mundo? Ah não é bem assim que a banda toca querido.
-Vai dormir garoto! -Desfiz o beijo, mas Cellbit não se cansou, e começou a beijar o meu pescoço.
-A sua cama é tão confortável... -Ele começou a se juntar ao meu lado, mas o afastei.
-Nem vem que não tem! -Depois de muita insistência, Cellbit desistiu e foi se deitar.
-Nosso sorvete ainda está de pé? -Ele perguntou.
-Boa noite! -Gritei fechando os olhos, mas no fundo era um sim, e acho que foi isso que ele deduziu.
Acordei com a claridade da janela batendo no meu rosto. Era quase início de inverno em Orlando, e o clima estava bastante frio. Coloquei um casaco (Por sorte, não estava rasgado), e fui ao banheiro. Fiz minhas necessidades diárias e tomei um banho quente. Mas a grande surpresa foi não encontrar Cellbit em sua cama. Ela estava vazia e devidamente arrumada. Pensei em ligar, mas ele poderia estar no quarto de algum amigo, ou desceu para tomar café, já que eram quase nove horas.
Mas ele não estava no restaurante também. Alguns youtubers estavam presentes e discretamente eu perguntei para Alan.
-Vocês viram o Cellbit? -Na mesa, também estavam Felps, Spok e Authentic.
-Soube que vocês dormiram juntos. -Alan tirou sarro e eu dei uma tapa na sua cabeça.
-Para de besteira e responde. -Peguei uma maça em seu prato. Ele protestou, mas nem liguei.
-Eu não vi aquele puto, vocês sabem de algo? -Alan se virou para os meninos, que negaram. -Por que você não pergunta para o Lukas?
-Haha, você é tão engraçado Alan.
Distanciei e fui me servir. Sentei em uma mesa e momentos depois ganhei a companhia de Lukas. No momento eu não percebi, mas segundos depois notei a cara de insatisfação que estava pregada em seu rosto. Tanto que tirou até o meu apetite.
-Cara feia pra mim é fome. -Ri com a minha péssima piada.
-A noite parece que foi boa, está até sorridente. -Ele mordiscou o lábio. -Foi só reatar com o Cellbit que a alegria voltou!
-Vai começar? -Bati na mesa irritada. -E que teatrinho é esse? Eu sempre dividi quarto com o Cellbit, e agora que ele voltou você fica com esse charme? Por favor Lukas, seje menas!
-Charme? Olha a merda que você tá fazendo Julie! -Lukas rugiu. -O cara te maltrata todos esses dias, e na primeira oportunidade de paz, você o convida para dormir ao seu lado.
-Ele estava sendo manipulado! Não sabia a verdade! -Falei em um tom mais alto e nem liguei e nem liguei para a multidão de olhares que conseguimos atrair. -E olha pra você! Que sabia o quanto a Anne era podre e do mesmo jeito continuou armando ao seu lado!
-Se não fosse eu, o seu plano teria falhado miseravelmente. -Lukas indagou, enquanto eu bufava.
-Pelo menos você serviu para alguma coisa. -Senti que tinha pegado pesado, mas continuei com a minha pose imponente.
-Que bom que pensa assim. -Ele pegou a sua bandeja e se levantou da cadeira. -Agora só refleti em uma coisa, qual dos dois ficou ao seu lado esse tempo todo, apesar de tudo? Pensa nisso.
Respirei fundo e coloquei as mãos na cabeça. Era necessário brigar Julie? Sua idiota!
Mas de certo modo, eu tinha razão. Não era necessário esse teatro todo, já que o Cellbit dividia o quarto comigo antes dessa confusão toda. Mas por outro lado o Lukas tem razão, nem esperei a poeira abaixar e já estava nos braços de Cellbit. Resumindo, eu não sabia o que fazer da minha vida!
Fui para o meu quarto minutos depois e dei de cara com Cellbit que arrumava a sua mala.
-Bom dia, foi atrás da mala? -Perguntei e ele concordou. -Anne estava no hotel?
-Não, você tinha razão. -Cellbit me observou. -O gerente do hotel disse que ela foi embora hoje de manhã.
-Eu sabia. -Joguei meu corpo na cama.
-Então, vamos? -Ele estendeu a mão na minha direção e eu a agarrei. -Conheço uma sorveteria aqui perto, que vai fazer você engordar uns três quilos!
-Assim que eu gosto! -Exclamei e saímos do quarto.
Passamos por Lukas no corredor que ao nós ver, fechou a cara e fez questão de bater no ombro de Cellbit. O mesmo se segurou para não começar a brigar.
-Ei, pensei que as coisas tinham se resolvido entre vocês. -Perguntei relembrando o aperto de mãos na festa.
-Ele só se desculpou por armar o plano contra mim. -Cellbit sorriu. -Ainda tem muitas coisas pendentes entre nós.
-Então quer dizer que vocês ainda se odeiam? -Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha (Sim, eu estava nervosa!)
-Ainda estou com uma vontade enorme de quebrar a cara dele. -Cellbit imitou o gesto no ar. -Isso responde a sua pergunta?
-Infelizmente sim.
Chegamos na sorveteria e era um ambiente lindo. As paredes eram repletas de fotos de variados tipos de sorvetes, desde casquinha, até os monstruosos potes. As cadeiras e as mesas eram padronizadas e seguiam as respectivas cores: Branco e vermelho.
Sentei em uma mesa, e pegamos o menu. Olhei para os lados envergonhada e assustada. Todas as pessoas falavam inglês! E isso me assustava!
-Não se preocupa. -Cellbit colocou a mão sobre a minha. -Eu faço o seu pedido.
-Obrigada. -Relaxei.
-Eu sei o quanto o seu inglês é péssimo. -Bati no seu braço assim que ele pronunciou aquelas palavras. -Já escolheu?
-Esse aqui. -Apontei para o sorvete de nome esquisito, enquanto Cellbit ria em tom baixo.
-Não enxergo muito bem, você pode pronunciar?
-Vai se fuder Cellbit! -Reclamei.
-Diz, ou não tem sorvete. -Cellbit cruzou os braços.
-Que saco! -Olhei aquelas palavras, e tentei soar a mais estrangeira possível. -Istraberi explozion, é isso?
-Quase isso. -Ele prendeu o riso e depois com a chegada da garçonete, ele pronunciou uma palavra totalmente diferente (Strawberry Explosion). Senti vergonha.
Assim que o sorvete chegou, senti vontade de pedir outro. A aparecia estava ótima e dava pena de comer. Mas depois de comer a primeira colherada, o resto acabou rapidamente. Bem que Cellbit disse que eu iria engordar, pois assim que terminei o primeiro a segunda rodada já foi pedida, agora com um tipo diferente de fruta, chamada Blueberry, que era tão gostoso como o de morango.
A nossa última noite em Orlando chegou e algumas pessoas armaram coisas para fazer com que o esse dia fosse o melhor. Cellbit e seus amigos foram para algum tipo de salão de games no shopping da cidade, enquanto que Lukas, Daniel e Coelho pegaram um táxi e foram para algum lugar misterioso. Um puteiro, talvez.
Enquanto eu, fui para a praia com Luba e as meninas. Estava rolando um mini circuito de surf, e eles quase que me obrigaram para assistir. Era cada homem, que valeu a pena levantar da cama só para ver os seus corpos sarados e molhados.
-Olha aquele cara! -Satty apontou para um garoto loiro que estava saindo da água, os outros suspiraram em resposta. -Levaria pra casa fácil!
-Mariana abaixa a bola. -Damiani a abraçou por trás e começamos a rir da reação do casal.
-Vamos animar galera! Esse é o nosso último dia de viagem! -Sangerine reclamou e pulou na areia.
-E o que você propõe? Estou me divertindo à beça observando os boys. -Luba respondeu.
-Quer saber? Eu vou dar um mergulho. -Ela tirou a camisa, ficando apenas de biquíni. -E se rolar, ainda peço umas aulinhas de surf.
-Safada! -Gabbie grunhiu com um sorriso.
-Eu duvido você fazer isso. -Desafiei. -O Daniel não vai gostar nada disso.
-Eu não tenho nada com o Daniel, que saco! -Sangerine reclamou. -E quer saber? Cansei dessa vidinha, fui!
Ela foi em direção aos surfistas e começou a conversar com alguns. De uma hora pra outra, ela já estava de mãos dadas com um e correndo em direção ao mar.
-Não é que a cachorra conseguiu. -Gabbie não escondeu o tanto que ficou impressionada.
-Sortuda! -Disparou Luba que se sentou na areia e ficou observando a amiga ter aulas.
Fui a primeira a dizer que estava cansada e optei por deixar a praia e voltar para o hotel. Já era de madrugada e sorte que o hotel era praticamente na frente do mar, então não tinha motivos de eu voltar na companhia de alguém. Entrei em meu quarto e a primeira coisa que fiz foi me jogar em na minha cama. Minha última noite dormindo com você querido colchão. Que no caso era dez mil vezes mais confortável do que o meu verdadeiro.
Estava tão cansada que meus olhos fecharam sem a minha permissão, mas abriram de forma abrupta assim que escutei um barulho vindo do banheiro. Parecia passos, e pela primeira vez eu notei que a porta estava fechada. Mas o caso é que ela sempre estava aberta, só fica fechada quando ficava ocupada.
-Cellbit? -Perguntei, mas não ouve respostas. -Responde! Está me assustando!
E o quarto estava totalmente escuro, iluminado apenas pela luz do luar. Foi aí que a maçaneta girou, revelando a identidade de nada mais nada menos do que Anne.
Meu coração parou assim que ela pronunciou as seguintes palavras:
-Precisamos conversar.
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