– Shiro! Shiro!
– Keith? Garoto, onde você estava?! Eu estava tão preocupado - o abraçou apertado - Nunca mais me assuste desse jeito!
– Shiro, me escuta! - se separou, com olhos marejados - Lotor fez algo horrível…
– O que aconteceu?
– Eu fui ao mercado e uma pessoa me ajudou. Ele não fez nada de errado comigo, eu nem o conhecia, mas ele me ajudou, nem sabia quem eu era! - chorou, respirando com dificuldade por conta dos soluços - Ele era inocente, Shiro…
– Do que está falando, meu filho? - o abraçou novamente, dessa vez, sendo retribuído - Se acalme e me diga com calma: o que Lotor fez?
– Condenou o rapaz que me ajudou… - fungou - Ele o matou, Shiro! E eu nem soube o seu nome… - apertou o mais velho, derramando mais e mais lágrimas.
– Com licença, majestade - Lotor interrompeu, vendo a cena - Oh, perdoem-me. Eu volto outra hora.
– Um momentinho! - Takashi o impediu - Você fica, precisamos conversar.
– Do que precisa, senhor?
– Que história é essa que você condenou um rapaz inocente? - indagou, mudando sua expressão pacífica para uma séria e severa - O que deu em você para dar uma sentença sem meu consentimento?
– Senhor, eu sinto muito! Vieram denúncias de que o príncipe estava com ele no mercado, e eu achei que fosse um sequestro. Não lhe avisei nada para não alarmá-lo-
– Eu já estava alarmado, desde o momento em que não achei o meu filho em parte alguma do castelo! Isso não lhe dá o direito de tomar uma decisão sem minha ordem! - bradou, ainda com Keith em seus braços - O que você fez não tem perdão, eu deveria puni-lo por isso.
– Minhas sinceras desculpas, majestade - ajoelhou-se - Eu realmente não pensei em meus atos…
– Desculpas não vão trazê-lo de volta - disse Keith, com o olhar furioso na direção do platinado - Você nunca terá o meu perdão - e com isso, ele saiu da sala de seu pai, indo diretamente para seus aposentos com lágrimas teimando para sair de seus olhos.
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Nas masmorras, Lance tentava pela milésima vez se soltar das correntes que prendiam seus pulsos na parede, dessa vez, desistindo. Se contentou de que não sairia mais de lá; estava perdido…
– Como pude ser tão burro? - questionou a si mesmo - Ele é o príncipe e eu nem ao menos notei… - suspirou - Sinceramente, Lance, você foi pego de um jeito ridículo. Já foi melhor que isso.
Continuou falando consigo mesmo, se lamentando por estar na situação de agora.
Seguiria se martirizando se não fosse Hunk aparecendo na pequena janela no topo da parede, que fornecia sua única luz naquele breu da masmorra.
– Hunk! Você está bem, fico tão aliviado por isso - sorriu para o amiguinho, que o soltava rapidamente - Obrigado! Agora, temos que arrumar um jeito de sair daqui…
– Eu tenho um lugar - disse um senhor, que Lance nem notara que estava ali. Ele era baixinho, corcunda e tinha uma longa barba branca; vestia um manto cinza e tinha consigo, uma bengala.
– Quem é você? E como veio parar aqui? - perguntou com desconfiança.
– Estou aqui já fazem trinta e oito anos - falou, assustando o moreno - E não se preocupe, eu sou um amigo.
– Como posso confiar em você…?
– Quer ou não sair daqui? - Lance trocou olhares com Hunk, que apenas deu de ombros - Ótimo, então venha comigo.
– Mas, não tem saída…
– Sabe, meu jovem, às vezes você precisa olhar seus arredores com outros olhos - e, como se fosse mágica, o senhor moveu uma das pedras da parede, dando visão de uma caverna no meio do deserto. Lance, surpreso, recuou um passo - Você não vem?
– Vou… - e mesmo acuado, seguiu o senhor.
Não fazia o menor sentido aquilo, Lance tinha essa noção, mas… era uma oportunidade de sair daquele lugar e, quem sabe, ver o príncipe Keith novamente.
Estavam de frente para a caverna que, estranhamente, se movia. Ela tinha o formato de uma cabeça de leão e, assim que viu o moreno, bufou.
– Façamos um trato, garoto - disse o senhor - Você entra na caverna e pega algo para mim. Em troca, lhe dou a liberdade que merece - Lance, desconfiado, olhou para a caverna e para o velho - Ou prefere voltar para aquela masmorra?
– Tudo menos isso - afirmou; foi suficiente para fazer o outro sorrir. O moreno deu um passo à frente.
– Quem ousa adentrar os meus domínios?
– E-eu… Lance. Preciso entrar… - gaguejou, recuando um passo.
– Apenas um ser puro tem a honra e o direito de entrar. Você se acha digno?
– S-sim, creio que sou…
E com isso, a caverna se abriu, permitindo sua entrada.
Lance olhou de relance para o senhor, que o incentivou a entrar, relembrando-o para pegar a lâmpada.
– Só pegue um dos tesouros. Se ousar levar algo mais, a sentença será severa - a caverna deu seu último aviso; o moreno engoliu a seco, assentindo, finalmente entrando.
Andava devagar pelo corredor escuro, com Hunk sempre perto de si, apertando a alça de seu colete com força. À frente, uma única passagem, que continha luz do outro lado; sem pensar duas vezes, Lance passou por ela, se surpreendendo com tantos tesouros.
Moedas de ouro, rubis, diamantes, esmeraldas e muito, muito mais. Eram pilhas e mais pilhas, não importava a direção que olhava, tudo ia até ao teto praticamente.
A tentação e vontade de pegar algo mais dali era enorme, mas se lembrou da advertência da própria caverna, o que, para si, ainda era estranho ela falar e se mexer…
– Hunk, nem pense em tocar nisso - disse olhando o amigo pelo canto dos olhos, que cruzou os braços em desgosto - Você ouviu a sentença, e sinceramente, eu não estou afim de ir dessa para melhor - sorriu ladino, ainda olhando os arredores em busca da lâmpada. Hunk reclamou, mas mesmo assim, o seguiu.
Focado na sua procura, mal notou que o macaquinho atrás de você estava desconfiado. Sempre andando e olhando para trás, já que desconfiava que estava sendo seguido e o mais estranho era, por um tapete. Sim, um tapete; algo que era para ser inanimado.
Confirmou suas suspeitas quando foi apunhalado e começou a reclamar, chamando a atenção de Lance.
– Hunk, o que- uou! - seus olhos brilharam - Um tapete mágico! - sorriu, se aproximando. Era estranho interagir com um objeto que, novamente, era para ser inanimado - Oi, amiguinho, como vai? - cumprimentou o Tapete que, com uma das pontas, "apertou" sua mão - Será que consegue nos ajudar? - ele afirmou - Sabe onde está a lâmpada? Precisamos muito dela.
Com animação, o Tapete afirmou novamente, permitindo que o moreno e o macaquinho subissem em si. Depois disso, os levou até a sala onde a lâmpada estava.
Lance desceu indo na direção do objeto dourado, querendo sair o mais rápido dali de dentro e ter, enfim, sua liberdade.
Estava tão focado nisso que não prestou atenção à sua volta, e quando lembrou que não estava sozinho, era tarde demais…
– Hunk, não! - sua última visão foi ver o Tapete segurando o amigo, que escapou e agarrou um rubi. Com isso, a caverna tremeu, e antes de correr para escapar, Lance pegou a lâmpada, tendo a ajuda do Tapete para fugir.
A caverna caía aos pedaços, dificultando a saída, inundando tudo com lava que subia e os acompanhavam quase na mesma velocidade que o Tapete fugia.
Desviaram de pedras e cascatas daquele líquido vermelho fervente, fazendo de tudo para saírem dali vivos. Mas, algo tinha que dar errado; um grande pedregulho caiu na direção deles e como um último ato para salvar Lance e Hunk, o Tapete impulsionou os dois para cima antes de ser atingido.
Lance conseguiu se agarrar na parede e subir até a entrada da caverna, avistando o senhor que o instruiu a entrar.
– Me ajuda!
– Me dê a lâmpada!
– Me puxa logo, eu vou cair!
– Primeiro a lâmpada! - ordenou, e com pressa, Lance entregou - Isso! Finalmente, ela é minha!
– Agora me ajuda! - implorou, enquanto Hunk tentava o ajudar também.
– Desculpe, garoto… - o olhou com um sorriso maldoso - Mas hoje não é seu dia de sorte - e, com um simples empurrão, ele derrubou Lance para dentro da caverna novamente. Hunk tentou impedir, mas também teve o mesmo destino.
No meio da queda, o moreno ficou inconsciente, crente que seria seu fim.
E esse tempo todo, o Tapete fazia de tudo para sair debaixo daquela pedra que o prendia, e ao ver Lance em queda livre, se esforçou mais, conseguindo sair para salvar o moreno e o amiguinho peludo.
Fora da caverna, que já havia sumido em meio as dunas de areia, o senhor ria com gosto, voltando a sua verdadeira forma; não é nenhuma surpresa que era Lotor, ou é…?
– Finalmente ela é minha… - riu perverso, procurando em si mesmo a lâmpada; não tendo o sucesso de encontrá-la - Ora essa, onde… não. Não! Maldito! - bradou com raiva, sumindo dali, furioso; havia sido enganado e para piorar — no caso, melhorar —, por um macaco. Sua inteligência havia sido contornada por um animal que, em teoria, não deveria saber fazer o que fez. Se sentiu humilhado.
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– Ai… - murmurou, abrindo os olhos - Ué… eu morri? - era uma pergunta idiota de se fazer - Hunk? - chamou, se assustando quando o amigo pulou em si - Ah, você está bem! O Tapete também! - o viu assentir - Sabe sair daqui? - ele negou - Então, vamos morrer de todo jeito…
Suspirou. Não tinha nenhuma saída, então, era isso; não sairia dali e não veria Keith novamente. Entristeceu com a ideia que, era verdade.
Hunk revirou os olhos com as lamúrias do moreno e, com sua ótima pontaria, o acertou na nuca.
– Ei! - bradou passando a mão no local, olhando para o amigo - O que deu em você?! - com um suspiro, Hunk mostrou a lâmpada que havia pego do senhor antes de ser igualmente arremessado para dentro da caverna - Você a pegou de volta! É mesmo um mãozinha leve - fez um breve carinho na cabeça do amigo, pegando a lâmpada - O que há de especial nela…? - forçou a visão para ler algo.
Não conseguindo ler nada, esfregou o objeto dourado, sentindo-o tremer em suas mãos.
Assustado, atirou-o longe, vendo uma grande fumaça branca com flashes verdes saírem do bico, e do meio dela, uma forma… humana? Talvez era.
– Nossa! Finalmente consegui sair dessa coisa, puxa… quanto tempo se passou? - perguntava a si mesmo - Foram mil anos? Cinco? Dez?! Isso fica cada vez mais cansativo… - olhou para o lado - Tapete, você também está aqui! - o abraçou - Quanto tempo! Você não mudou nada nesses anos, hein?
– Ah, com licença? - Lance chamou a atenção - Quem… é você?
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