Segundo uma filosofia chinesa o yin yang é a representação do positivo e do negativo, sendo o princípio da dualidade, onde o positivo não vive sem o negativo e vice e versa. Em termos mais fáceis, uma pessoa, por exemplo, não é cem por cento boa a maior parte do tempo e uma pessoa ruim, não é ruim a maior parte do tempo. Ninguém é só isso ou só aquilo, há maldade na bondade e bondade na maldade e por mais contraditório que possa ser, a filosofia chinesa ainda diz que a contrariedade se complementa.
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Jungkook sabe que ele não é cem por bom, há aquela pitada de raiva e ódio em seu peito, plantada há mais dois anos e sendo cultivada faça sol ou faça chuva e embora saiba que são sentimentos comuns a qualquer pessoa isso o assusta, porque justificável ou não, de alguma forma, ele se sente errado agora, não como um todo, mas em relação a pessoa ao lado dele.
Após eles levarem a criança para os pais, que os agradeceram com lágrimas nos olhos e curvando-se constantemente, os dois seguiram para o caminho que os leva para fora da comunidade.
Seokjin está olhando tudo ao redor, olhos atentos em cada casa, se demorando um pouco mais na casa que ele viu o homem jogando uma bomba de gás lacrimogêneo em direção a Jungkook e a criança. Além dos artefatos no chão, não há rastro dos meliantes, e ele está muito distraído para perceber o olhar atento de Jungkook nele.
Os pensamentos de Jungkook não param, algumas coisas começam a fazer sentido, a saída repentina do homem do seu apartamento, o número da polícia e mesmo sabendo seu endereço aquele estranho nunca retornou, nunca fingiu embarrar nele na calçada do prédio onde Jungkook mora. Aquele dia não mudou somente o rumo da vida de Jungkook, provavelmente mudou a vida daquele desconhecido, que agora tem um sobrenome, uma profissão e um rosto muito mais bonito do que Jungkook se lembrava.
Quando ambos chegam próximo ao carro de Jungkook, Seokjin pigarreia, se sentindo desconcertado, ele sabe que fez um pedido estranho, porque não é como se Jungkook de repente fosse fazer um retrato dele e expor por aí, mas antes que ele possa dizer qualquer coisa ele percebe o Jeon tirando o telefone do bolso. É quase um déjà vu.
“omma, estou bem, estou indo... omma... eu... a senhora pode deixar eu falar? Ok... Obrigado... Eu estou bem, um policial me ajudou, você precisa parar de seguir essas páginas de notícias 24 horas do Facebook... já estou indo para a casa. Até logo. Sim, omma, eu também te amo.” Jungkook respira fundo, já abrindo a porta do carro com a mão livre. Ele olha para o policial parado ao seu lado. “Uh, eu acho que estou seguro agora...”
“Sim... Uh, bem... Como está o adolescente?” Seokjin pergunta, é claro que ele está preocupado, mas sabe que Jungkook cuidaria bem do garoto. Ele não sabe exatamente o que está fazendo, ele deveria simplesmente seguir seu próprio caminho agora.
“Ele está bem, ficou com a minha omma...” Jungkook engole a seco, ele olha para os olhos do policial e se sente tão burro. Agora olhando melhor é tão fácil perceber quem era aquele homem o tempo todo. Esse olhar é tão fácil reconhecer porque é tão –
“Que bom... sobre seu álbum – aí!” Seokjin arregala os olhos, ele não estava esperando um empurrão em seu ombro. Não foi forte o suficiente para doer, mas ele põe a mão no local agredido. “O que foi isso? Você enlouqueceu?”
Jungkook se aproxima, seu rosto ficando a centímetros do rosto do mais velho e por Deus, ele quer tanto ver esse rosto novamente sem a porra de uma balaclava.
“Você furtou meu álbum!” Jungkook diz entredentes e cenho franzido.
“Eu não – “
“De qualquer forma, eu nunca vi o senhor, eu não faço ideia de quem o senhor é! Nós nunca nos vimos antes, não é mesmo?!” Ele diz em tom de deboche, abrindo a porta do carro e se enfiando dentro, deixando Seokjin parado no lugar. “Se o senhor puder sair da minha frente, eu agradeço!” Ele bate a porta com força, quase fazendo o Kim pular no lugar, confuso com mudança repentina do mais novo.
Seokjin nem está na frente do carro, mas ele, ainda assim, dá um passo para o lado, ele vê Jungkook ligar o carro, seu olhar se demorando um pouco em Seokjin até que comece a prestar atenção no caminho que está fazendo.
“eu poderia prender você por desacato, seu idiota!” Seokjin grunhe, a mão ainda no ombro, enquanto faz seu caminho para o local onde Taehyung o espera.
Jungkook é tão irritante, como pode existir alguém tão irritante, Seokjin não sabe e ele revira os olhos quando vê o carro de Jeon voltando de ré.
“O que foi, senhor Jeon?” Ele pergunta quando o carro para ao seu lado.
“Hyuka precisa dos materiais escolares e a casa está trancada, é possível alguém pegar e me entregar?” Jungkook evita olhar na cara do policial agora. É quase uma birra de criança, mas ele realmente não se importa com o que esse senhor está pensando dele.
“Por que diabos você não me pediu antes? Eu poderia ter – eu poderia ter pegado e – “Seokjin olha para a lomba e só de pensar em subir de novo, ele se sente cansado, a noite não foi nada fácil.
“Será que é porque estávamos no meio de um ataque e tinha uma criança chorando no meu colo?! Ah! Deve ter sido por isso!”
“Senhor Jeon...” Seokjin respira. “Na verdade, eu não tenho a chave da casa, mas poderia ter dado um jeito, o senhor pode comprar um caderno e lápis pra ele, só até amanhã?”
“Não, eu não posso.” Jungkook finalmente o encara, sua expressão tediosa faz Seokjin querer socá-lo.
“Que horas começa a aula dele?”
“As oito horas da manhã!” Jungkook boceja, seus olhos piscando em uma expressão de puro deboche.
“Ok, eu compro os materiais e envio para seu apartamento, já que o senhor não pode comprar. Deve ser muito caro, um lápis e um caderno!”
“Pensei que o senhor não sabia onde eu morava, já que nós não nos conhecemos..., mas enfim, vou aguardar!”
“Você –” Seokjin fica de boca aberta, vendo Jungkook fazer o caminho para fora da comunidade. Ele não pode acreditar que Jeon o deixou falando sozinho. “Esse idiota! Pirralho!” Ele olha para os lados, porque ele não precisa parecer um maluco falando sozinho rua. Mesmo que ninguém possa ver seu rosto, isso é tão constrangedor.
Chutando as pedras invisíveis no seu caminho, Seokjin entra na viatura da polícia, sentando no banco do carona e finalmente se livrando da balaclava, sendo encarado com curiosidade por Taehyung. Eles ficam em silêncio enquanto Taehyung dirige para longe da comunidade, ele precisa deixar a viatura no centro de operações especiais. Em alguns momentos ele olha para Seokjin com o canto do olho, percebendo que o mais velho está irritado, mordendo o lábio inferior sem parar e estralando os dedos até que nenhum som mais seja feito em suas articulações das mãos, alguns suspiros profundos são ouvidos.
“Pensei que você iria me perguntar sobre o ocorrido.” Taehyung diz, entrando na garagem do prédio do centro de operações especiais. “Você nem mesmo perguntou como estou.”
“Um civil viu o meu rosto.” Seokjin diz, seu olhar fixo em um dos pilares do estacionamento.
Taehyung arregala os olhos, a boca aberta com o choque da revelação. O Kim mais velho finalmente o encara depois de um longo silêncio.
“Hyung, isso é péssimo, sua identidade está em risco, você está correndo risco de vida. Como você deixou isso acontecer?” Ele olha para todo o corpo de Seokjin tentando encontrar algum ferimento.
Seokjin apenas respira fundo, explica tudo o que aconteceu e por algum motivo que ele mesmo não sabe, ele oculta a parte de que a pessoa que viu seu rosto é Jeon Jungkook e não é que ele não confie em Taehyung, ele só sente que é uma parte da vida dele que ele quer ter só para ele. O pensamento o assusta um pouco porque Jungkook não é alguém que ele tem, não é alguém que faz parte da sua vida e talvez nem fará no futuro e isso assusta muito sem que ele tenha uma explicação lógica para tal medo.
“Talvez devido as circunstâncias o civil esqueça meu rosto, isso é comum de acontecer.” Ele respira fundo novamente, sabendo que a menos que Jeon realmente finja que não o conhece, ele será facilmente reconhecido pelo homem.
“Sim... Hyung, precisamos relatar o que aconteceu, não sobre o civil, eu me refiro sobre o ataque e sobre a patrulha da noite sequer dar notícias e o reforço nunca parecer. Isso não é normal, acho que tem alguma coisa errada.”
“Eu sei, vou redigir um relatório assim que chegar em casa e também vou conversar com meu pai, ele deve ter alguma resposta... obrigado por me esperar, eu teria ficado sozinho no caos e sinto muito que minha teimosia nos colocou nisso. Você está bem?”
“Estou bem e você estava sendo o policial exemplo, então tudo bem.” Taehyung sorri, se soltando do cinto de segurança e se inclinando em direção a Seokjin. “Você não é bom para o meu coração, Hyung.” Ele diz tão próximo ao rosto do Kim que suas respirações se misturam. “Eu fiquei muito preocupado com você, tive medo e não foi um medo comum...”
“Somos amigos, Tae, é normal...” Seokjin se cala quando Taehyung balança a cabeça em negativo.
“Acho que nossa amizade com benefícios precisa terminar.” Ele engole a seco, os olhos ficando levemente marejados. “Você é apaixonante e não faz a mínima ideia disso.” Taehyung sorri carinhosamente, a ponta dos seus dedos contornando delicadamente o rosto de Seokjin.
“Taehyung-ah, nós podemos...”
“Você sabe que não, Hyung.” Taehyung se afasta com um suspiro pesado e triste. “Como seu amigo, eu já sou um pouco paranoico e me preocupo mais do que é dito como saudável, eu não saberia o que fazer se estreitássemos o laço que temos. Eu não seria saudável pra nós.”
Seokjin assente, ele sabe que o senso de proteção de Taehyung é grande, principalmente depois da perda de seu irmão, sabe que Taehyung acredita que precisa estar sempre com as pessoas para que o pior nunca aconteça, como se sua presença fosse forte o suficiente para evitar qualquer dano a quem ele ama. Ele não estava lá quando seu irmão morreu e isso é uma culpa que ele carrega consigo.
“Obrigado por se preocupar comigo... e obrigado por ter dito pra eu me esconder quando meu trabalho é justamente enfrentar, suponho que havia menos meliantes do que você fez parecer.”
Taehyung desvia o olhar, realmente não havia tantos deles, talvez uns cinco que foram o suficiente para ele quase entrar em pânico, mas se arriscar era levar o risco a Seokjin e ele nunca se perdoaria.
“Você tem síndrome de Rambo, eu não gosto disso.” Taehyung resmunga.
Seokjin fica em silêncio, apenas encarando seu amigo, ele leva sua mão a nuca do mais novo, acariciando com cuidado.
“Eu acho que prefiro o MacGyver ...”
“Ugh, eu te odeio!” Taehyung abre a porta do carro, saindo e deixando Seokjin para trás.
“Eu sei que não!” Seokjin grita para o dedo do meio de Taehyung sendo exposto no ar. Ele sorri para si mesmo, suspirando logo em seguida, enquanto fecha a porta do carro. Ele odeia magoar as pessoas e espera que Taehyung saiba lidar com os próprios sentimentos, porque Seokjin já se sente uma bagunça lidando com os seus.
E Taehyung é um ótimo amigo, eles se entrosaram fácil, eles reuniram alguns amigos do batalhão no apartamento do Kim mais novo, beberam um pouco, assistiram a um bom filme, aos poucos todos iam se despedindo, mas Seokjin se sentiu confortável demais no sofá, sentindo o frio que vinha do ar-condicionado, ele se encolheu e Taehyung tentou puxá-lo, a brincadeira se tornou em beijos e os beijos o levaram para a cama. Nada era combinado, as coisas simplesmente aconteceram, um dia Taehyung estava carente e no outro Seokjin, eles se estabeleceram em uma amizade com benefícios facilmente, nunca cobrando nada um do outro e nunca conversando sobre o que estava acontecendo.
Taehyung sabia que não deveria desenvolver nenhum tipo de sentimento, sabia que Seokjin o via como um amigo. E enquanto tira sua farda no vestiário do batalhão, ele pensa que era impossível não desenvolver sentimentos pelo mais velho. Seokjin é doce, gentil, é teimoso como uma mula empacada, é rígido quando precisa ser, sabe se desculpar quando erra e realmente faz de tudo para mudar e não cometer os mesmos erros, ele é alegre e conta piadas ruins sempre que pode, adora jogar e se encolher no sofá de Taehyung como se ali fosse seu lugar seguro, além de que ele é ótimo na cama e faz Taehyung ficar de conchinha com ele por pelo menos dez minutos até que os fluidos de seus corpos começam a ficar pegajosos e Taehyung definitivamente não aguenta ficar sem banho. É fácil se apaixonar quando Seokjin invade sua cozinha e faz café da manhã, prepara o almoço ou jantar cantarolando baixinho algum rock que Taehyung não conhece. Seokjin é apaixonante e Taehyung sabia que estava num beco sem saída, mas ele precisava arriscar e viver um pouco disso, era a felicidade no meio do caos que estava sua vida. Seokjin trouxe frescor e Taehyung se agarrou a isso com unhas e dentes.
Depois de trocar de roupa, e se vestir com roupas casuais, ele sai do prédio da polícia, caminhando preguiçosamente até o ponto de ônibus mais próximo, ele normalmente pegaria carona de Seokjin, mas hoje ele quer se distrair um pouco, ir até a casa de sua mãe, observar a paisagem de Busan, sentir o vento em seu rosto pela janela no ônibus, hoje ele quer sentir que não estava colocando sua felicidade nas mãos de outra pessoa. Embora saiba que Seokjin o cuidaria como se fosse a joia mais preciosa do mundo, Taehyung tem consciência que seu próprio senso de cuidado é um pouco excessivo.
O ônibus não demorou a chegar e como o trajeto até casa de sua mãe não é longo, seu momento de apreciação a vida noturna de Busan foi rápido demais em sua humilde opinião. O ônibus não passa tão perto da comunidade em que mora e ao contrário do Décimo Terceiro Distrito, a Comunidade do Sétimo Distrito não é pacificada, a polícia só aparece no local quando há alguma guerra entre facções criminosas ou quando há algum homicídio. Taehyung não se orgulha disso e é por isso que raramente ele volta para a casa de sua mãe, normalmente ele prefere ficar em seu apartamento, é mais seguro.
Após descer no ponto de ônibus mais próximo da comunidade, ele faz o restante do percurso a pé, as mãos enfiadas no bolso da calça moletom, sentido em seu rosto a brisa gelada que anuncia que o outono está chegando. Algumas luzes dos postes da rua estão apagadas, provavelmente quebradas pelos traficantes que temem que a qualquer momento a polícia vá até o local começar o projeto de pacificação. Infelizmente, Taehyung sabe que neste lugar as coisas não serão tão rápidas, o governo não está tão interessado já que não está em época de eleição.
Ao contrário do décimo terceiro Distrito que há muitas saídas, aqui só há duas e ambas são monitoradas dia e noite pelos ditos donos do local. Ao se aproximar da entrada, ele já pode avistar o “porteiro” checando a identidade dos moradores, um verdadeiro pesadelo para quem vive no local.
Assim que a claridade se torna maior, uma figura muito familiar o faz franzir a testa e tentar ver melhor, por que o que diabos Min Yoongi, líder comunitário está fazendo aqui a essa hora da noite? Ele sabe o que aconteceu na comunidade onde mora? Por um momento, o Kim acredita que está delirando, mas ao se aproximar mais ele percebe que não.
“Veja, se não é nosso cidadão mais ilustre nos dando a honra de sua presença!” O porteiro diz, o sorriso gigante enfeitando seu rosto magro.
“Olá, Jun Ho-ssi, como está?”
“Explicando a esse senhor que ele não pode entrar.” Jun-Ho, o porteiro, fala, olhando com desdém para a figura encolhida de Min Yoongi.
Taehyung o encara com curiosidade, esse Min Yoongi é muito diferente do líder comunitário que discutiu com ele por causa do fechamento da rua para o evento.
“Eu... eu só preciso falar com Min Jihoon, por favor.” Yoongi insiste, mal encontrando olhar de Taehyung ou de Jun-Ho. Ele precisa pedir que seu irmão pare o que quer que esteja fazendo, precisa implorar para ele deixar a comunidade do Décimo Terceiro Distrito em paz, precisa dizer que não faz ideia de onde seu pai está e não importa se Jihoon vai pôr a comunidade abaixo, isso não vai fazer o senhor Min sair do buraco de onde se escondeu. Yoongi quase teve um colapso quando Jimin lhe enviou uma mensagem informando o que estava acontecendo e pedindo que Yoongi não entrasse na comunidade naquele horário.
“Eu já disse que nenhum Min Jihoon mora aqui e – “
“Quem é Min Jihoon?” Taehyung pergunta, fingindo que não sabe que provavelmente é algum parente do líder comunitário.
“Meu irmão mais velho.” Yoongi engole o medo que sente, se esses caras descobrem de onde ele é, ele está ferrado, há muitos anos as duas comunidades mantinham uma rivalidade e ele realmente não sabe se Jihoon está aqui, não sabe sequer se faz sentido, mas se tratando de alguém que aparentemente procura uma vingança, era o lugar mais provável para procurá-lo.
“Mas que diabos!” Jun-Ho grita, assustando os dois homens a sua frente. “Você deveria ter me dito isso antes.” Ele sorri divertido. “Eu não sei se Tony está, nas você pode subir e procurá-lo...”
Yoongi franze a testa pensativo, ele não sabe se estão falando da mesma pessoa, mas antes que ele possa questionar, Jun-Ho fala novamente:
“Tae, você pode ajudar ele a se achar, os caras podem cercá-lo, você sabe, e eu não posso sair daqui.”
“Ok...” Taehyung assente, caminhando em direção a entrada real da comunidade. Os passos de Yoongi o seguindo são quase silenciosos e o Min mantém uma certa distância, seus olhos olhando tudo ao redor.
É tão tudo tão igual e tão diferente da comunidade onde vive, ele tem medo desse lugar e sinceramente tem medo de não conseguir sair dali. Yoongi está tão distraído que esbarra nas costas do homem que o guia silenciosamente.
“Me desculpa.” Ele sussurra, seu coração quase quebrando sua caixa torácica em uma tentativa de fuga.
Taehyung lentamente se vira para ele, encontrando os olhos cheios de medo do Min.
“Eu não deveria me intrometer..., mas não acho uma boa ideia o senhor ter vindo até aqui, eu vou acompanhá-lo até a saída.”
“Eu-eu só quero ver meu irmão.”
“Senhor Min, se os caras descobrem de onde o senhor é, não há nenhuma garantia que o senhor saia com vida daqui!”
“O senhor me conhece?” Yoongi arregala os olhos porque ele nunca viu esse homem antes, então como ele sabe de onde Yoongi é.
“Se eu não estou enganado, o senhor é Min Yoongi, líder comunitário...” Taehyung abaixa seu tom de voz para quase um sussurro. “Decimo Terceiro Distrito.”
“Como...? Como...?”
“Eu sei? Hum...acho que vi algo sobre um evento, sua foto todo orgulhoso bem na capa. Havia também o anúncio de algum documentário, então, não é difícil saber quem o senhor é.”
“Merda... eu realmente preciso falar Jihoon Hyung, eu...” Yoongi fixa seu olhar no chão, pensando em uma maneira de falar com seu irmão sem colocar sua vida em risco. “O senhor o conhece? Pode dar um recado? Por favor?” Yoongi o encara, olhos implorando, é única saída que ele encontrou.
“Eu não faço a mínima ideia de quem seja seu irmão e não- “
“Trazendo um jantar para os velhos amigos, Taehyung?”
“Inferno!” Taehyung sibila, ele não pensa muito quando segura a mão de Yoongi e puxa para perto do seu corpo, quase fazendo o Min tropeçar nas próprias pernas. “Apenas fique quieto!” Taehyung avisa e sorri para o homem que se aproxima dele, a mão livre acenando sem vontade. “Senhor Xu... há quanto tempo?”
“Eu que deveria dizer isso, meu velho e bom amigo... vejo que trouxe visitantes?” O homem muito mais velho, barba branca por fazer e sobrancelhas grossas, diz, um sorriso enfeitando seus lábios finos, ele está agarrado a uma muleta, mancado enquanto se aproxima dos dois, a mão livre escondida no bolso do enorme casaco que ele usa.
“Vim visitar minha omma... e apresentar.... ele...” Taehyung engole a seco, ele espera que o Min não sinta o tremor de suas mãos.
“Uau... eu não sabia que você era tão moderno.” O homem ri baixinho, escondendo seu rosto em uma das mãos. “Jun-Ho disse que alguém estava procurando por Tony... pensei que seu... uh...” ele olha para as mãos unidas dos dois. “companheiro fosse o nosso jantar do dia...”
“Não, não!” Taehyung se apressa. “Esse cara aí, eu acho que ele já saiu... ele entrou comigo, conosco e não quis nossa ajuda. Cara ingrato.” Taehyung aperta a mão de Yoongi, um aviso silencioso para ele se manter calado ou os dois estão definitivamente mortos.
“Minha natureza sempre quer uma diversão... uma brincadeirinha de gato e rato, você sabe.” O homem sorri, seus dentes amarelados todos a mostra. “Perdoe minha falta de educação, eu sou Xu, ou senhor Xu como todos me chamam, é uma honra tê-lo em nossa humilde comunidade, senhor....” Ele estende a mão para Yoongi.
“Jin, o nome dele é Jin...”
“Jin?” Xu arqueia uma sobrancelha para Taehyung.
“Sim, eu me chamo Jin...” Yoongi segura a mão do homem, o aperto firme causando arrepios em seu corpo. O olhar do homem é quase faminto de repente.
“Jin...” Xu testa o nome em sua voz, como se apreciasse um bom vinho, ele inspira o ar e solta ao mesmo tempo que solta a mão de Yoongi. “Se você fosse um pouco mais alto e um pouco mais largo, você não sairia daqui vivo, Jin...” O homem respira fundo e sorri quando vê os olhos arregalados do casal a sua frente. “Não se preocupe, é só alguém que eu realmente não quero vivo. Tenham um bom jantar, rapazes.” Xu curva brevemente a cabeça, seu olhar demorando na figura de Yoongi.
“Porra!” Taehyung solta todo o ar que nem percebeu estar prendendo quando Xu some do campo de visão deles. Ele caminha rápido, arrastando Yoongi com ele até chegarem ao portão de sua casa. “Merda! Merda!” Ele solta a mão de Yoongi, erguendo suas próprias mãos para alto e depois segurando seus fios curtos. “Você está bem?”
Yoongi cai de costas contra as grades do portão, sua respiração irregular enquanto pensa que poderia ter morrido segundos atrás, seu corpo está tremendo e suando tanto que ele acha que vai entrar em colapso.
“Porra quem é Jin? Eu poderia ter morrido!” Seus olhos estão arregalados quando ele encara o homem a sua frente. “Você quase me matou!”
“Eu estava tentando ajudar!”
“Que ótima ajuda! Belíssimo. Caralho, não tinha algum nome que esse cara não quisesse matar?”
“Ah sim! Porque eu sou um advinha, não é mesmo?” Taehyung está incrédulo, ele deveria ter pensado melhor antes de ajudar esse idiota.
“Taehyung, meu amor, com quem você está brigando?”
“Omma...” Taehyung se desarma por completo quando vê sua mãe parada na porta. “Omma, como você está?” Ele se apressa em envolver seus braços na cintura da mulher e abraçá-la, escondendo seu rosto na curvatura do pescoço dela.
Ela o envolve com delicadeza, suas mãos quentes acariciando as costas do filho com cuidado.
“Estou bem, Tatá... agora mostre um pouco de educação e me apresente ao seu amigo.”
Taehyung geme frustrado enquanto se afasta e se obriga a encarar Yoongi que agora está de pé, os encarando timidamente.
“Esse é Jin...”
“Jin? Seu Jinnie Hyung? Você bebeu?” Ela olha para o homem e então para Taehyung. “Eu conheço Seok-“
“Omma, esse é outro Jin!” Taehyung a interrompe. “Ele é um amigo... Uh... Jin está é minha omma.”
“Ah, oi, senhora, é um prazer conheça-la... Tatá fala muito bem da senhora.” Yoongi sorri e olha para Taehyung, por Deus, alguma divindade poderia arrebatá-lo agora, talvez se ele fosse abduzido, seria muito melhor do que passar por esse constrangimento.
“Eu fico muito feliz quando meu filho vem me visitar e traz um amigo, isso significa que você é muito importante pra ele... Dois Jin em sua vida, hein?” Ela pisca para Taehyung, que apenas revira os olhos. “Parece que eu estava adivinhando, eu fiz comida suficiente para três pessoas, venha entrem, lavem as mãos e vamos jantar.” Ela diz alegre, os empurrando para dentro da casa, os fazendo tropeçar enquanto deixam os sapatos na porta. “Você conhece o outro Jin?”
“N-não, ainda não tive a oportunidade.” Yoongi fala um pouco mais alto, ele está seguindo Taehyung até o banheiro para lavar as mãos e tentando localizar uma maneira de fugir. Como ele foi se enfiar na casa de um desconhecido que o fez parecer que é seu namorado?
“Ele é tão legal, infelizmente ele só pode vir aqui uma vez e foi em um momento tão delicado, mas sempre que pode ele me convida para um almoço ou um jantar, então fique ciente que adoro jantar fora...”
“Omma!” Taehyung respira fundo. “Desculpa, minha Omma fica muito emocionada com visitas.”
“Me culpe!” ela dá de ombros, guiando Yoongi até a mesa assim que ele sai do banheiro.
A casa é pequena e simples, confortável o suficiente para duas pessoas ou três. Yoongi olha tudo ao redor, pensando se ele disser que tem outro compromisso ficaria muito estranho, porque não é como se essas pessoas fossem vê-lo novamente.
Antes que ele possa expor sua ideia e fugir, as mãos gentis em seus ombros são trocadas por mãos firmes, o empurrando cuidadosamente para baixo, o fazendo sentar no chão acarpetado próximo a mesa. A respiração suave e lábios na sua orelha o fazem congelar no lugar.
“Primeiro, não pense em deixar minha Omma triste com uma desculpa repentina e segundo, se encontrarem você sozinho, não garanto que você viva por muito tempo.”
Yoongi vira o rosto para encarar Taehyung, seus rostos tão próximos um do outro que se fosse em outro momento, talvez ele teria adorado conhecer esse homem.
“Tatá! Nada de namorar na mesa!” A mãe dele surge, toda alegre, sentando-se do outro lado da mesa, sorrindo carinhosamente para o suposto casal. “Você é ciumento, Jin-ssi?”
“Na-não.” Yoongi diz engolindo a seco.
“Isso é ótimo, então, eu sempre pensei que meu Tatá fosse namorar com o Jinnie, ele até tinha olhos de coração uma vez...”
Taehyung geme frustrado sentando-se ao lado de Yoongi, ele não pode acreditar que sua mãe realmente falaria da sua paixão avassaladora para um possível namorado. Isso é tão constrangedor e se realmente fosse verdade, provavelmente eles teriam uma briga por ciúmes depois e deboches infindáveis sobre isso. Por sorte, eles não são namorados e nunca serão, por sorte Yoongi nunca verá seu rosto novamente e eles só se encontrarão por poucos momentos enquanto Taehyung estará escondido sob uma farda policial e uma balaclava e o Min nunca saberá que é a mesma pessoa com quem divide um jantar agora.
A mãe de Taehyung é extremamente tagarela, adora contar histórias de quando os filhos eram pequenos, ama falar de como Taehyung sempre pareceu um ursinho fofo na infância e de repente era um tigrinho raivoso na adolescência, sempre curioso sobre tudo, fazendo perguntas que a mais velha nunca soube responder, ela conta como Taehyung é um bom filho e que sempre se preocupa com seu bem estar, liga todos os dias e sempre a apresenta para seus amigos mais próximos, nunca se envergonhando de uma senhora estar no meio de muitos jovens adultos.
E por mais que não conheça Taehyung, Yoongi se sente confortável ouvindo as histórias da senhora mais velha, ele fica feliz em saber que mãe e filho tem um laço estreito de amor e carinho, ele quer pergunta do outro filho que a mulher menciona, mas não se acha no direito de conhecer a vida íntima dessa família que sequer o conhece.
Após jantarem e lavarem a louça, Taehyung se despede deixando um abraço apertando em sua mãe e Yoongi agradece profundamente a hospitalidade.
Eles caminham lentamente para fora da comunidade do Sétimo Distrito, mãos dadas para caso alguém os encontre e questione quem é o visitante e embora Yoongi olhe todos os lados a procura de um rosto familiar, ele não vê seu irmão, nenhum sinal dele e impossível ignorar o suor de sua mão ligada ao desconhecido.
É só quando estão no ponto de ônibus que Taehyung solta sua mão, discretamente enxugando o suor em sua calça moletom cinza.
“Eu acho que nenhum ônibus que passe aqui tenha itinerário para o Décimo Terceiro Distrito ...”
“Eu vou chamar um Uber... e uh... Taehyung-ssi...” Yoongi se curva em noventa graus e respira fundo. “Obrigado por me ajudar, por permitir eu jantar com sua mãe e por me tirar em segurança da comunidade, se eu puder retribuir de alguma forma.”
“Me retribuía não retornando aqui, eu não sei quem é seu irmão e nem que assunto tão importante fez o senhor se arriscar, mas não faça isso de novo. Esse lugar é terrível.” Taehyung diz sério, seu olhar fixo no rosto de Yoongi. “Se o senhor morre ou se machuca aqui... muitas outras vidas se perdem...”
Taehyung não precisa dizer mais nada, porque Yoongi entende perfeitamente o que ele quer dizer e ele se envergonha por não ter pensado nisso antes. Porque é óbvio que o se o líder comunitário do Décimo Terceiro Distrito morre no Sétimo Distrito, haverá uma guerra entre os distritos e são os moradores que mais sofrerão com isso.
Yoongi apenas assente, não há nada que ele possa dizer, nada para refutar a verdade que está sendo jogada em sua cara. Tudo o que ele pode fazer é chamar o Uber pelo aplicativo em seu celular e ir embora, fingir que nunca esteve ali e esperar que seu irmão encontre uma maneira pacífica de encontrar seu pai.
Quando o carro estaciona para pegá-lo, ele olha uma última vez para o homem alto e bonito que gentilmente o ajudou.
“Obrigado novamente, Taehyung-ssi!”
Taehyung apenas assente, dando um tchau singelo, abanando com uma mão e então vendo o Min ir embora. Foi um dia caótico e ele só quer tomar banho e dormir até que seu corpo e mente estejam completamente relaxados.
Yoongi deita a cabeça no vidro na janela do carro, há uma música suave tocando, talvez ele precise falar com Hoseok e Namjoon para remover sua foto das redes sociais, ele não quer prejudicar o homem que o ajudou caso alguém consiga reconhecê-lo também. Ele pensa em ligar para Namjoon na manhã seguinte, mas o medo fala mais alto quando ele rapidamente localiza o número de Namjoon em seu celular. Namjoon atende rapidamente, entendendo perfeitamente o pedido do Min e não questionando o real motivo para isso.
“Perdão, pelo horário.”
“Não há o que desculpar, podemos remover a foto imediatamente, não se preocupe. Fique tranquilo, Yoongi-ssi!”
“Obrigado, muito obrigado.”
“Está bem, está bem, tenha uma boa noite e não se preocupe.”
“Boa noite, Namjoon-ssi.”
Namjoon respira fundo e quando vê que finalmente a chamada foi encerrada, ele enfia o celular no bolso. Ele bate o pé na porta insistentemente como tem feito na última hora e toca a campainha do apartamento, em uma tentativa de ser atendido que tem se mostrado falha até agora.
“Hyung, eu sei que você está em casa, por favor, me atenda.” Ele bate lentamente a parte de trás cabeça na porta, o cansaço do dia pesando em seu corpo. “Eu não vou embora enquanto não falar com você! Eu vi você chegando!”
“Eu só acho engraçado que pra remover a foto de alguém que você mal conhece, você foi muito rápido!”
Namjoon tropeça para dentro do apartamento, tentando manter o equilíbrio enquanto finalmente vê o rosto nada amigável de Seokjin que já está de pijama e parecendo tão cansado.
“Hyung...”
“Escrever um artigo incitando ódio foi bom? Você vai ganhar algum prêmio por isso?” Seokjin se senta na lateral do sofá, realmente esperando uma resposta. Ele está tão cansado do dia que teve, que a última pessoa que ele esperava ver hoje era Namjoon.
“Eu precisava escrever... você está bem? Eu soube o que aconteceu na comunidade.”
“Você precisava escrever um artigo incitando ódio contra mim?”
“eu não fiz isso...” Namjoon se sente pequeno sob o olhar de Seokjin, porque mesmo com a aparência cansada e visivelmente com sono, Seokjin sabe ser intimidante quando quer e sinceramente Namjoon sempre teve um pouco de medo dele quando está bravo.
“Não?” Seokjin ri sem vontade, ele se inclina até a mesinha de centro, sendo obrigado a se levantar devido à distância, e pega no meio de algumas revistas velhas um jornal muito conhecido por Namjoon. “Vejamos... Humm... abre aspas...” Ele encara Namjoon e ele leu tanto esse artigo, que já decorou tudo que está ali. “Estaria o inspetor protegendo a identidade do filho ou simplesmente impedindo as denúncias?” Seokjin respira fundo. “Não preciso da sua falsa preocupação comigo, Namjoon. Não é porque somos parentes e um dia tivemos uma boa relação que você precisava vir aqui. Você já pode ir embora, como você vê, apesar de tudo, estou bem.
“Eu só estava fazendo meu trabalho.”
“Até então as pessoas tinham rumores, agora elas têm certeza, porque você tem muita credibilidade. Espero que se alguém... se alguém decidir matar o filho do inspetor, que matem o Kim certo.” Seokjin aponta o jornal para o próprio peito. “Você não precisará se sentir culpado por um inocente.”
“Você está sendo cruel, Hyung.” Namjoon engole o nó na garganta e a vontade de chorar. Ele realmente não pensou em nada disso quando publicou o artigo. Ele sempre criticou a forma que a polícia agia na comunidade do Décimo Terceiro Distrito e até mesmo já criticou Jungkook por suas ações impensadas, acreditando que o Jeon só estava lá por motivos políticos. Claro que com o tempo sua percepção mudou, ele realmente acredita nas boas intenções do filho do governador, da mesma forma que acredita em Seokjin, mas não acredita que o inspetor e o governador possuíam a mesma bondade que seus filhos. “Nunca foi minha intenção prejudicar você... eu estava criticando o sistema e não você... eu sei quem você é, conheço seu rosto, se eu realmente quisesse eu já teria dito a todos quem você é... você é da minha família, meu sangue, crescemos juntos e eu amo você, eu sei que você é uma pessoa boa, uma pessoa incrível, eu nunca colocaria em risco a sua vida e me magoa que você pense que eu seria capaz disso.”
Seokjin fica em silêncio olhando atentamente para o rosto de seu primo, infelizmente esse Kim Namjoon, não é o mesmo doce, adorável e atrapalhado Kim Namjoon que cresceu com ele, correndo de porcos na fazenda de seus tios e afundando Maria na lama até que ela chorasse e corresse para bater neles.
“Você fez muitas coisas que eu pensei que você não seria capaz...” A voz de Seokjin é baixa, triste e magoada.
E dói em Namjoon ouvir isso porque ele sabe que é a verdade e ele se envergonha profundamente do seu passado.
“você... você tem notícias dela?” Ele morde os lábios com força, ele não tem direito de saber nada sobre a prima de Seokjin por parte de mãe, a história deles acabou há muito tempo por sua única e exclusiva culpa. “Desculpa, eu não acho que ela gostaria que eu soubesse dela.”
“Ela parece bem apesar de tudo.”
“É verdade sobre... sobre o bebê?” os olhos de Namjoon ficam marejados, a dor em seu peito cresce em uma velocidade que quase o deixa tonto, o sabor amargo na boca e o enjoo são repentinos ao lembrar do que ele poderia ter feito e não fez, das palavras que poderia ter dito e não disse, do abraço que ele poderia dar e covardemente negou. As lembranças são cruéis porque na história deles, ele é o vilão e ele nunca pensou que seria.
“Então você sabia?” Seokjin soa ainda mais magoado, não é a história da vida dele, mas eram seus melhores amigos, eram as pessoas a quem ele contava tudo, era sua família que ele cresceu confiando sua vida se fosse necessário e eles esconderam tudo dele até que não aguentassem mais e precisassem de ajuda. Até que tudo ao redor desmoronou, ruiu a ponto de cada um seguir caminhos diferentes. E doeu. “Eu só soube quando ela me ligou... anos depois que tudo aconteceu... Você sabia o tempo todo.” Seokjin ri sem graça amargo, parecendo tão pequeno agora em seu pijama que Namjoon não segura as lágrimas ao vê-lo assim.
Seokjin sempre foi o porto seguro deles, doce e gentil, compreensivo além do que é necessário, sempre honesto sobre seus sentimentos, sempre disposto a ajudar e Namjoon sabe, se eles tivessem sido honestos com Seokjin a história poderia ser diferente.
“Hyung...” Namjoon o chama com a voz quebrada, a dor em seu peito aumentando como se fosse sufocá-lo. “Eu não queria que nada disso tivesse acontecido, eu juro pra você, se eu... se eu pudesse voltar no tempo as coisas seriam diferentes. Eu e Hyejin, teríamos nosso bebê e você seria um padrinho incrível, mas...” Ele se abaixa em frente a Seokjin, segurando os joelhos do mais velho para manter o equilíbrio, para lembrar que Seokjin sempre foi a pessoa que o manteve seguro. “Poderíamos não estar juntos porquê... você sabe que não... eu não podia ficar com ela.”
“Você era gay demais pra isso. Imaturo demais pra assumir as responsabilidades das suas ações, novo demais pra estender a mão a alguém que confiou em você. Ela não pediu casamento, Namjoon, ela pediu que você estivesse com ela quando ela precisasse contar aos pais, extremamente conservadores, que estava grávida! Ela queria que você estivesse lá porque se tudo o mais desse errado, pelo menos ela tinha você!”
“Eu só tive medo... eu tinha acabado de assumir que era gay, metade da nossa família começou a fingir que eu não existia e me ignorar... Eu-eu...” Namjoon respira fundo. “eu tive medo de piorar tudo, tive medo de ser mais odiado, as pessoas já estavam me vendo como um erro... eu seria o pior pra ela, os pais dela já me odiavam só por eu ser quem eu sou, e-eu...”
“Eu perguntei a ela e vou perguntar a você também... por que vocês não me contaram o que estava acontecendo? Por que só agora? Eu fiz algo de errado?”
“Você não fez nada de errado, Hyung.” Namjoon tenta se recompor, mesmo com vergonha, ele tenta olhar nos olhos de seokjin pelo máximo de tempo possível. “Eu e Hyejin pensamos que seria legal nos divertimos, um com outro enquanto não conhecíamos ninguém para levar a sério..., principalmente se estivéssemos bêbados e carentes... conversamos sobre isso, mas então, tudo depois foi complicado, nenhum de nós esperava uma gravidez..., a gente esqueceu que eu ser gay e ela ser lésbica não era um método contraceptivo... e acredito que estávamos envergonhados demais para contar a você... é como se estivéssemos... excluindo você e...”
“Eu definitivamente não iria querer namorar meus primos.” Seokjin faz uma expressão azeda e se não tivesse tão nervoso e os anos não tivessem colocado um iceberg diante deles, ele até faria piada agora, mas seu coração está pequeno no peito e por mais que não queira ele se sente magoado.
“eu sei, não-não é isso... nós três éramos inseparáveis, melhores amigos e foi estranho fazer algo que você não fazia parte, parecia errado.” Namjoon desvia o olhar, olhando para suas mãos trêmulas no joelho do mais velho.
“Eu não sou juiz, nunca coube a mim dizer o que era certo e errado... eu só queria estar lá e poder ajudar... eu só queria ter meu afilhado ou afilhada nos braços e ser o tio legal..., mas...
“Eu sinto muito que fiz tão mal a ela, que ela perdeu o bebê.”
Eles ficam em silêncio, falar alto faz parecer tudo pior, admitir erros não é fácil, ninguém quer estar errado, sempre há uma justificativa para tudo, uma maneira de amenizar o caos que é causado.
Seokjin, embora não estivesse ciente, se sente culpado, ele sente que deveria ter prestado mais atenção aos amigos, estar mais presente para ajudá-los, para ser alguém em quem eles pudessem confiar, ele sente que falhou quando estava focado demais em seguir os passos de seu pai e se tornar o orgulho de sua mãe e seu pai. Talvez se ele não estivesse tão ausente naqueles últimos meses, a amizade dos três pudesse ter sido mais forte, não que ele se sinta o elo mais forte, é só que ele estaria lá para remendar se fosse necessário. Ele não estava.
Um soluço feio escapa de seus lábios, lágrimas grossas inundam seu rosto, enquanto ele cede e abraça Namjoon, da mesma forma como ele fez quando conversou com Maria. Ele não pensou que fosse chorar novamente, não acreditou que levaria em consideração as palavras de seu primo, mas são nítidos o sofrimento e a culpa estampada no rosto do jornalista e Seokjin não é juiz de ninguém. Ele ama Namjoon na mesma proporção que ama Maria, ele entende que Namjoon errou e entende que o arrependimento não vai mudar o passado, mas pelo menos mostra que Namjoon não mudou tanto e que agir pelo medo faz o ser humano fazer coisas impensáveis.
“Eu sinto muito.” Namjoon chora no ombro do mais velho. “Quando eu puder, quando ela me permitir, eu juro que vou pedir perdão, Hyung. Eu prometo que vou, eu realmente, sinto muito.” Ele respira trêmulo, ranho e lágrimas sujando seu rosto bonito. Os dedos gentis de Seokjin o limpam, enquanto seu olhar faz Namjoon lembrar de quando eram mais novos e Seokjin sempre os cuidava para não se machucarem. “Eu fiquei com tanto medo que tivesse acontecido algo com você, eu fiquei... eu juro que nunca quis fazer mal a ninguém, eu não quero ferir ninguém, eu não... eu tinha que ver você, eu tive tanto medo de não ver mais você, de... de perder você, de não conseguir dizer que eu amo muito você e você sempre será a melhor pessoa mais incrível que eu conheci na vida e que eu sinto muito por tudo o que eu causei... eu sinto muito... muito.” Ele diz tão rápido, o fôlego sumindo à medida que o choro aumenta. Na época em que tudo aconteceu, ele simplesmente pegou um trem pra Seul e não voltou até três anos atrás quando finalmente estava formado e foi convidado para trabalhar no HanaSam. Ele não se orgulha disso, não se orgulha de não ter procurado Seokjin até agora, até ouvir sobre o que tinha acontecido no Décimo Terceiro Distrito e seu coração quase parar no peito com a mera possibilidade de nunca ver seu primo.
“Estou bem, estamos bem... eu acho...” Seokjin respira fundo, seus dedos gentis ainda limpando as lágrimas nas bochechas do mais novo. “Não sei se algum dia ela vai querer falar com você, mas você pode tentar. Espero que tudo fique bem, eu sinto saudade dos meus melhores amigos.” Ele diz com um tom de melancólica e nostalgia, as lembranças do passado feliz são nítidas, ele gostaria de estar agora festejando as conquistas de seus amigos e não lamentando pelos erros do passado.
Depois da conversa, o silêncio é tudo que lhes restas, a amizade não é igual a antes e talvez não será, mas eles podem tentar reconstruir a ponte que os conectava. Há uma pequena esperança nos olhos molhados de Namjoon quando ele se despede, com a promessa silenciosa de que vai consertar tudo ou pelo menos tentar.
Seokjin adormece em meio as lágrimas, com uma dor latejando em seu peito por não saber exatamente como se comportar, tanto Maria quanto Namjoon eram seus melhores amigos, e mesmo sabendo do erro de Namjoon, também sabe que ele está realmente arrependido. Ele também entende a mágoa de Maria e não sabe o que fazer e se realmente deveria fazer alguma coisa.
Ele amanhece com esses pensamentos, toma um longo banho quente e se satisfaz com café com leite e uma torrada com geleia, nada realmente que ele gostaria de comer ou beber, mas ele ficaria o dia inteiro mal se não fizesse o desjejum com o mínimo de alimento e uma fruta nunca foi o suficiente.
Seokjin passou no shopping depois de não encontrar Taehyung em lugar nenhum para dar carona ao mais novo, ele espera que realmente não tenha magoado o Kim mais novo de alguma maneira, ele não quer perder mais uma amigo, a vida já o afastou daqueles que ele pensou daqueles que ele pensou que nunca perderia o vínculo.
Com os materiais do adolescente que mora no Décimo Terceiro Distrito, ele sai do condomínio onde mora e segue para o complexo de apartamentos de luxo onde Jungkook mora e onde o garoto está ficando até que tudo se resolva.
E Jungkook realmente não queria acordar tão cedo, pelo que ele calculou, ele poderia acordar às sete da manhã e não às seis com o som do interfone tocando. Ele preguiçosamente atende para saber que tem alguém querendo falar com ele e ele está muito cansado para questionar, seu cérebro está dormente enquanto ele sai de seu apartamento e desce de elevador vestindo apenas um pijama. Ele foi dormir tarde com sua mãe o questionando porque ele simplesmente não comprou materiais novos e porque ele não avisou, ele não precisava estar na comunidade e quase morrer. Obviamente Jungkook ocultou toda a história, se foi porque sua mãe iria ficar mais preocupada ou porque ele realmente não estava afim de dar elogios ao policial, ninguém nunca vai saber.
Ele está bagunçando seus próprios cabelos quando se aproxima da cabine onde o porteiro fica quando seus olhos se arregalam e ele vê um homem alto, de boné preto, ombros largos e cintura fina, vestindo roupas iguais a quando Jungkook o viu na padaria.
Ele geme cansado, ele realmente não achou que o homem fosse comprar os materiais de Hyuka, mas é óbvio que ele fez, ele parece ter comprado uma mochila para o garoto.
“Você não precisava.” ele diz, abafando um bocejo com uma das mãos e olhando com puro cansaço para o policial.
“Bom dia, senhor Jeon.” Seokjin estende a mão, entregando a ele a mochila com todos os materiais que ele comprou para o garoto. Ele olha ao redor e então encontra os olhos de Jungkook. “O senhor disse que não tinha condições.”
“Você sabia que era mentira... bem...” Jungkook pega a mochila e a segura contra seu peito. Ele vê como os olhos do policial estão inchados e há olheiras que estão deixando o rosto do homem tão frágil. Jungkook sente uma onda de carinho repentina. O policial foi para a casa ontem a noite ou precisou trabalhar ainda mais? A que horas ele comprou os materiais? Ele dormiu? Ele chorou? Por que seus olhos estão tão inchados?
“Uma noite mal dormida.” Seokjin responde, desviando o olhar. “Espero que o garoto faça bom proveito dos materiais.”
Jungkook fica em silêncio, com olhos arregalados. Ele perguntou em voz alta? Tudo?
“Eu-eu... como você sabe onde eu moro?” ele morde a língua quando vê que Seokjin arqueia uma sobrancelha. “Esquece. Obrigado!”
“Me avise de ele precisar de algum coisa.” Seokjin se curva e quando se vira, esbarra em alguém. “Senhora, me desculpe.” Suas mãos seguram os ombros da mulher como se ela fosse cair.
“Estou bem”. A mulher sorri com carinho, as mãos gentis segurando os braços de Seokjin.
“Omma...” Jungkook geme frustrado quando vê que sua mãe apareceu tão cedo sem necessidade e porque diabos ela não entrou pelo estacionamento.
A mulher não solta Seokjin, ela se inclina para lado apenas para dar uma olhada em seu filho então olha para Seokjin novamente, o sorriso gentil nunca deixando seus lábios.
“Meu filho, você parece tão cansado.” Ela diz a Seokjin e Jungkook revira os olhos atrás deles. “Aqui!” Ela de afasta e mexe em sua bolsa, procurando algo. “Espere, só um momento, eu vou encontrar...” Ela resmunga.
Seokjin encara Jungkook em um pedido de ajuda, ele não sabe exatamente o que está acontecendo, mas Jungkook apenas encolhe os ombros e bufa cansado.
“Achei!” Ela diz triunfante. “Eu sou psicóloga! Na verdade estou aposentada, mas tudo bem, isso não importa, se você quiser conversar, estou a disposição e faço pra você de graça. Você é muito bonito pra parecer tão triste.” Ela diz carinhosamente.
Seokjin tem vontade de chorar novamente, mas sorri para ela, pegando o cartão de visitas da mulher.
“Obrigado.” Ele pega com a mão livre a carteira em seu bolso e parece que o destino quer manter a lembrança que ele precisa ficar bem, que a tristeza que ele sente não vai durar para sempre, é só um dia ruim não uma vida ruim, foi só uma momento de fragilidade, ele não é frágil, ele é forte e tudo bem não saber o que fazer as vezes, a vida vai lhe dar respostas um dia. A foto de Haru cai de sua carteira assim que ele abre para guardar o cartão de visitas da senhora Jeon, ele se atrapalha para pegar, não percebendo o olhar curioso dos Jeons na pequena fotografia que mostra uma garotinha sorridente, usando um chapéu de balde amarelo com um linda flor branca desenhada na frente, os olhos dela estão fechados devido a luz do sol. “vou guardar.” Ele sorri para a mulher colocando o cartão de visitas e a foto de volta na velha carteira que ele ganhou de seu avô quando ainda era uma adolescente.
Ver a foto de Haru trouxe um brilho diferente para seu rosto, um alívio em seu coração, porque a pequena e adorável garota é como um pequeno raio de sol em sua vida, o iluminando desde o dia que a conheceu. Seokjin, vai ficar bem, ele precisa. Por ela.
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