— Yoongi... Eu já disse que não quero ter que te trazer a hospitais. Tem que aprender controlar suas crises, não tenho todo o tempo do mundo!
Silêncio. A cama hospitalar parecia pequena demais, nem mesmo as roupas eram o suficientes. Grande demais, insolentes em demasia. Os cabelos tampavam os olhos, baixos e quietos. Enquanto o homem engravatado lhe olhava enraivecido. Olhar rígido, postura ereta e voz grave.
— Desculpe.
O homem bufou. — Desculpas?! Quantas vezes vou ter de ouvir meras desculpas sendo que, em breve a mesma coisa acontecerá novamente?! Responda-me! É você quem tem de deixar uma empresa inteira de lado para socorrer um sobrinho retardado? É você, Min Yoongi?! — travou o maxilar e tentou respirar fundo. — Seus pais deveriam ter te deixado em um hospital psiquiátrico a muito tempo. Como não fizeram, irei eu mesmo o fazer.
Yoongi ergueu a cabeça e esbugalhou os olhos. - Como?! O senhor não pode fazer isso...
— Sim eu posso. — disse firme. A mulher acanhada a sua esquerda segurava uma planilha -, vestia óculos grandes demais enquanto o uniforme parecia incomodar todas as suas curvas. Ela tremeu quando ganhou os olhos do chefe sobre si. — Anote isto. Procurar clínicas para colocar o garoto. Não precisam ser caras, não quero gastar meu dinheiro com coisas fúteis. Ande depressa.
Yoongi travou a respiração e fechou os olhos. Sua cabeça não entendeu e seu coração acelerou tanto que pôde o sentir palpitar nas têmporas. Ele não podia ficar ali. Estava o sufocando.
Olhou o homem. Falava asneiras e mandava em uma moça pequena e mede. Parecia ele um boneco, uma farsa. Uma caixa vazia sem alma ou empatia. Podia-se ver isso diante de seus olhos escuros e perdidos.
Então as vozes apareceram, sussurram elas em seu ouvido esquerdo. Yoongi sentiu-se perturbado. De repente eram quase como trezentas vozes borbulhando em seu cérebro psíquico. Mas eram elas suas únicas companheiras, então ele as obedeceu. Desceu da maca e correu para longe. Tampando os ouvidos com as duas mãos para não escutar os chamados do tio enfurecido. Não tinha para onde ir, mas tinha que seguir para onde quer que seus pés o levasse. As vozes iriam cuidar de si.
Iria para longe das maldades de seu tio. Então seria somente ele e os sussurros vagos da mente doentia.
[...]
Jimin caminhava acanhado. Segurava um copo de plástico médio, o rosto pálido e o corpo trêmulo. Sozinho na parca luz do corredor, observava os enfermos passearem, alguns idosos debilitados davam um passo de cada vez -, mesmo assim, sorriam a cada vez que avançavam. Haviam crianças, sem cor e franzinas. Porém, sorridentes. Um lugar como aquele, tão carregado de doenças e mortes, parecia ter tanta esperança.
Era uma nova visão do mundo. Jimin não conseguia entender.
Chegou a recepção com seu copinho de café pela metade. Sentou-se na cadeira de plástico dura e bufou cansado. As costelas doíam e o pescoço estralando já não resolvida mais. Os olhos eram somente linhas caídas, enquanto os lábios racharam pelo frio saliente da noite. Olhou para o lado e viu o primo dormindo mal posto. Jung Hoseok. Tão bom garoto que aceitou ir ali apenas para não deixar a solidão tomar conta de Jimin. Sentia-se grato.
— Nenhum médico... Eu estou murchando. — disse o loiro, para o silêncio da sala quase vazia. Tomou o resto do café, frio e amargo. A cafeína não era o suficiente. Precisava fechar os olhos e encontrar paz dentro da própria mente.
Hoseok se mexia logo ao lado, até abrir os olhos assustado. Procurou o primo com as íris saltadas, olhos arregalados. Ao vê-lo, soltou o ar. - Tive outro pesadelo.
— Vai ficar tudo bem, — lhe tocou as mãos, frias e suadas. Precisava cuidar melhor do amigo, seus olhos de amêndoas diziam tantas coisas quando estavam desnorteados. E, mesmo cansado da tristeza, Jimin o ofereceu abrigo em seus braços -, alisando seus cabelos e tentando acalmar seu coração. — Eu vou sempre estar aqui.
Abraçados permaneceram por mais alguns minutos. Pessoas passavam, doentes ou acompanhantes. Médicos corriam com pacientes ou diversos papéis para todos os lados. Mas ainda assim, as notícias sobre Jungkook pareciam não alcançar o Park. O barulho já estava lhe atingindo a cabeça culminando em pontadas hostis nas têmporas. Os olhos quase se fecharam, mas um garoto surgiu em sua frente lhe tomando a atenção.
— Moço, você quer café? — Jimin franziu o cenho.
Os cabelos eram pretos demais. A pele pálida aumentava-te a beleza, o deixando com mesclas pálidas e fortes. Os olhinhos pequenos eram brilhosos; quase quinhentas estrelas brilhavam em suas esferas e, nebulosas pintavam o sul das íris curiosas. Mesmo distantes e assustados. Era de corpo médio e franzino, as roupas hospitalares eram grandes demais então tudo o fazia se situar ainda menor. Os lábios eram apáticos, sem muita vida. Mas Jimin não pôde esquecer seus olhos.
— Desculpa.
— Não! — Jimin disse envergonhado. — Eu quero o café sim. Muito gentil da sua parte.
O homem sorriu um pouquinho. Entregou o mesmo copinho a Jimin e lhe tocou os cabelos amarelos. Se aproximou perigosamente e observou Hoseok; ele dormia encostado sobre os ombros do Park. Mas seus olhos se interessaram novamente pelos fios brilhosos. Mesmo bagunçados ainda eram bonitos. Macios e cheiravam muito bem.
— Seu cabelo parece ouro. — atreveusse a cheirar as madeixas. — Você vai vendê-los?
— Não. — riu da inocência daquele homem. Seus olhos brilhavam tanto que Jimin se sentiu diante de uma noite estrelada. — Qual seu nome?
— Min Yoongi. O seu é como? Posso adivinhar? — sussurrou, não podia tirar os olhos dos fios bonitos. Queria pinta-los depois. — Na verdade não posso, estou sem ideias. Qual seu nome?
Jimin sorriu. — Park Jimin. Muito prazer.
Assentiu. De repente ele soltou seus cabelos, se ergueu e olhou Jimin por instantes. Analisou seu rosto e guardou na memória para não esquecer jamais. Era um rosto especial e merecia uma pintura muito bem detalhada. — Vou pintar você.
— Como?!
— Sim. Se eu encontrar você aqui de novo, eu prometo deixar você ver o quadro. Mas eu vou ficar com ele. Vai ficar lindo. — falou sonhador. As mãos por detrás do corpo. Então ele tocou uma última vez os cabelos louros. Queria se recordar deles quando se deitasse para dormir. — Tchau!
Jimin tentou o chamar para que não fosse embora. Mas o moreno fora de pressa para outro setor. Franziu as sobrancelhas e não entendeu aquilo que havia acontecido.
Mesmo que confuso, Jimin gostaria de encontrá-lo e apreciar seu quadro. Mas o médico que cuidava de Jungkook de repente apareceu. Então Jimin não pôde lembrar de mais nada além do que o profissional tinha a dizer.
[...]
— Sunji, Nam, vou tomar uma água. Eu volto em breve! — o palhaço avisou com o corpo para fora do quarto, o rosto bagunçado olhava os colegas e simultaneamente, o paciente deitado logo mais. Era um senhor de idade, ele sorriu quando cantaram canções antigas e os mostrou fotos do passado. Contou a eles histórias e se sentiu amado. Taehyung também se sentia assim.
Os colegas assentiram e Taehyung seguiu em busca de um bebedouro. Iria passar na recepção e pegar as próximas salas que iriam visitar. Faltavam duas e o expediente iria se findar. Taehyung já estava ansioso pelas próximas visitas.
— Oi Susy, quais são os próximos pacientes? — disse o palhaço já com um copo de água em mãos. Escorado no balcão da recepção, esperava a moça entregar seus papéis. — Obrigado.
A mulher sorriu e voltou ao trabalho; Taehyung já não se importava mais com a falta de monólogos da recepcionista. Talvez ela fosse reservada demais, ou até mesmo, não gostasse de Taehyung. Assuntos aos quais não lhe indagou muito pois folheava a papelada decorando o número dos quartos. O copo de plástico jogou no lixo mais próximo.
Taehyung quase se virou para ir embora e voltar ao serviço, todavia, um paciente passou correndo por si. As folhas quase voaram, mas suas mãos grandes eram ágeis o bastante para não as deixar escapar. Observou o homem sumir entre os corredores esbranquiçados. Talvez estivesse feliz.
Virou o rosto contente e observou a recepção. Até que encontrou aqueles olhos tristes e molhados como o fizera de manhã. Estes mesmos olhos buscavam o findar do corredor; procurando algo ou alguém.
Taehyung ficou feliz de vê-lo novamente ali e tentou se aproximar. Dois passos foram dados, até o médico chegar e assustar o homem louro e seu companheiro de madeixas escuras que dormia em seu ombro esquerdo. O palhaço escutou o monólogo do médico, entretanto, somente a última palavra lhe fez olha-lo explicitamente.
— Talvez vocês saibam, ou talvez não, mas quando se tenta suicídio através de afogamento o cidadão é posto diante de diversas consequências. Tais quais como, perda de memória ou problemas cardíacos. Jeon Jungkook fora de muita sorte, ele passou por apenas duas paradas cardíacas. Mas conseguimos o fazer retroceder. Ele pode esquecer as coisas após acordar, mas não será permanentemente. Não se preocupem. Ele ficará em observação por mais quatro dias. A única coisa que o paciente precisa por agora, é cuidados e sorrisos.
Sorrisos. A palavra preferida de Taehyung, o significado mais lindo e a única ação que vem de dentro da alma. Ele tinha quatro dias.
Então Taehyung voltou a visitar mais enfermos. Sorrisos e mais risadas ele ouviu por toda o passar da tarde. Crianças ficaram mais felizes e idosos, conversaram um pouco mais.
Agora o palhaço tirava sua maquiagem e guardava o figurino tão divertido. Namjoon, ainda vestido com roupas divertidas dançava uma música infantil em um curto espaço na salinha que tinham para se arrumarem. Ele estava feliz. Taehyung sorriu e agradeceu pelo dia bom que teve. — Namjoon 'ta animado!
— Vem dançar também, Tetê! — sua mão fora apanhada antes que ele dissesse não. Mas Taehyung não se importou.
Se juntou ao amigo e dançou com ele numa sala tão pequena, mas tão cheia de amor. Outros palhaços e palhaças também se juntaram a festinha, o som da caixinha certamente já era inferior as risadas e os passos desorientados dos palhaços. As vezes gritavam ou apenas riam alto.
Este era o fim do circo. Todos felizes. Mesmo com as portas fechadas, a alegria ainda os alcançavam.
Então Taehyung lembrou sobre o paciente que escutara mais cedo. Desejou, e pediu silenciosamente para seu Deus, que um dia ele estivesse ali também. Como todos os outros pacientes que visitou. Desejou que as canções de esperança alcançassem a todos, e que as vibrações de alegria pudessem salientar corações infelizes.
Taehyung nunca iria desligar a música.
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