III
Dias se passaram desde o dia em que Jeonghan me arrastou para a residência dos Kwon e segunda novamente chegou. Claro, os enjôos matinais ainda estavam presentes, mas não tanto quanto semana passada. Agora o que eu mais sentia era dor de cabeça.
Acho que a minha visita - forçada - com Jeonghan ao castelo dele não mudou nada, já que ele ainda não deu as caras ou se pronunciou sobre algo. Bom, certo que eu não dei meu endereço ou meu número de celular para ele, mas isso não é problema meu. Tomara que ele não apareça mesmo, prefiro ficar sozinho.
Como era segunda, eu tinha que trabalhar e ir para a faculdade. Eu trabalharia desde de 08:00 da manhã até 18:00 e depois, a noite às 19:20 eu teria que ir para a faculdade. Ah, mais um dia cheio e cansativo. Agora são 07:12 e eu acabei de acordar, completamente cansado por não conseguir dormir noite passada. Argh.
Me espreguiço, bocejando. Ainda fiquei alguns minutos sentado na cama olhando para um ponto fixo, até voltar a realidade e piscar freneticamente. Peguei meu celular na cômoda, começando a mexer nas minhas redes sociais por um tempo para ficar mais acordado. Respondi uma mensagem de Jeonghan me perguntando se eu ainda estava com enjôo e uma de minha mãe perguntando o porquê de eu estar estranho ultimamente.
Eu ainda não falei nada para minha mãe, acho que isso não é uma coisa que se deva falar por telefone, então só estou esperando o dia que ela aparecer aqui de surpresa ou o dia em que eu vou tomar coragem e ir para a casa dela, onde ela mora com meu padrasto.
Deixei o celular na cômoda outra vez e me levantei, ainda não estando preparado para enfrentar a água gelada do chuveiro, mas eu teria que enfrentar de qualquer jeito. Se eu enrolasse muito, provavelmente eu chegaria atrasado.
Entrei no banheiro e me forcei a entrar debaixo da água gelada que caía. Claro, o banho não foi muito demorado e eu logo saí de dentro do banheiro com a toalha na cintura, tremendo de frio. Procurei uma blusa qualquer e uma calça, vestindo-os. Por cima da blusa, vesti um moletom preto para não ficar com tanto frio.
Quando eu terminava de vestir as meias e enxugar o cabelo, ouvi a campainha tocar. Gritei um "Já vai" para a pessoa que estivesse do outro lado da porta ouvir e levantei da cama, esfregando a toalha pelos cabelos úmidos. Quem apareceria na casa de outra pessoa assim tão cedo? Jeonghan provavelmente ainda estava dormindo e, se não, por que ele quer me encher o saco a essa hora?
Abri a porta, vendo que não era Jeonghan ali, e sim, Soonyoung. Arqueei uma sobrancelha. Mas que...?
— O que você está fazendo aqui? — Cruzei os braços.
— Finalmente achei a casa certa. Você deveria ter pelo menos deixado seu endereço, né? Me pouparia de tanto trabalho para achá-lo. — Ele cruzou os braços. — E como assim "o que você está fazendo aqui"? Eu falei que iria te ajudar, não falei?
— Não achei que fosse verdade. — Olhei para trás dele, vendo o seu carro estacionado ali.
— Que tipo de pessoa você acha que eu sou? — Arqueou uma sobrancelha.
— Um babaca, riquinho de merda. — Falei. Achei que ele ia ficar bravo ou algo assim, mas ele riu.
— Tá. Posso entrar? — Perguntou, ainda com um sorriso na cara.
— Não. Entra no teu carro e volta para a tua casa. — Eu ia fechar a porta, mas ele botou o pé antes que eu a fechasse.
— Acho que não. — Falou. — Se eu falei que ia te ajudar, eu vou. E eu não vou embora até você me deixar entrar.
Aquilo me irritou profundamente. Como esse idiota tem coragem de vir aqui depois de falar comigo daquele jeito? Suspirei pesadamente, fechando os olhos e contando de um até três. Abri a porta, dando espaço para que ele adentrasse a casa. Acho que eu não tinha muita opção, já que não duvido nada que ele realmente ficaria ali.
Simplesmente ignorei o fato dele estar em minha casa e fui para a cozinha fazer alguma coisa para comer. Ele me seguiu como um cachorrinho seguindo seu dono e eu apenas fingi não vê-lo. Eu não estava com muita fome, apenas com uma pequena vontade de tomar café. Não adiantava muito eu comer muita coisa, eu colocaria para fora de todo jeito.
Depois de fazer o café, sentei-me na bancada, ainda sem olhar para ele. Ele se sentou uma cadeira afastado de mim e ficou me olhando.
— O que foi? — Resmunguei.
— Ahn... Acho que a gente começou meio errado naquele dia. — Coçou a nuca, parecendo meio sem graça.
— Hm. — Resmunguei sem dar muita importância.
— Podemos só esquecer o que aconteceu e começar agora como se fosse a primeira vez? — Perguntou com um sorriso. Ri sarcástico. Ele é idiota?
— É sério isso? — Balancei a cabeça negativamente.
— É. Eu acho que fui um pouco grosso com você naquele dia, eu estava um pouco estressado. Então, desculpe. — Olhou para as mãos. — E também, acho que se vamos passar os próximos nove meses juntos, então acho que nós temos que nos dar bem, pelo menos.
— Você está pedindo para eu esquecer que você praticamente me chamou de qualquer um e esquecer o jeito que falou comigo? — Ele corou, baixando o olhar. Arqueei uma sobrancelha.
— Eu sinto muito mesmo! — Ele fez uma reverência como um pedido de desculpas. Eu me assustei um pouco diante sua ação, mas não disse nada. — Mas você também não foi muito gentil... — Falou baixinho, mas eu escutei.
— E se você está fazendo isso porque se sente obrigado, não faça. Eu nunca quis a sua ajuda. — Murmurei, sentindo tontura.
Ele ficou calado, parecendo um pouco envergonhado com a minha resposta.
— Eu não estou fazendo por me sentir obrigado, eu... só quero te ajudar. — Murmurou.
— Por quê?
— Tem que ter um por quê?
Sem deixar ele com uma resposta, corri até o banheiro para vomitar. De novo. Minha cabeça doía e minha tontura parecia ter ficado pior mesmo depois de vomitar. Coloquei mais coisa para fora. Soonyoung estava ali, mesmo sem olhar para trás para confirmar, eu conseguia saber. Eu sentia seu cheiro forte vindo da porta do banheiro.
Ele bateu na porta aberta umas três vezes para sinalizar que estava ali, mesmo que eu já soubesse. Virei um pouco a cabeça para olhá-lo, mas logo virei a cabeça para o vaso outra vez.
— 'Cê tá bem? — Perguntou. Que pergunta idiota.
— Sai daqui. — Resmunguei.
Me levantei do chão e fui até a pia para lavar a boca, enxugando com a toalha que ainda estava ao redor de meu pescoço, a colocando em cima da pia. Coloquei a mão na testa e apoiei o cotovelo na pia, para tentar amenizar a dor de cabeça.
— Não quer ajuda? — Perguntou de novo.
— Não quero. Já disse para sair daqui! — Falei um pouco mais alto.
— Eu quero te ajudar, não posso? — Eu não passei mais de dez minutos com ele e já acho ele insuportável. Não me imagino passando uma hora com ele, imagine nove meses. — Eu deveria sair para comprar remédio ou...?
Eu ignorei ele e sai do banheiro sem falar mais nada. Fui para o meu quarto calçar os sapatos e pegar minha mochila - já que no intervalo eu aproveitava para estudar - para ir logo para o trabalho.
Voltei para a cozinha, vendo ele parado ali de novo. Ele me olhou de cima a baixo.
— Aonde você vai?
— Sair. — Falei simples.
— Eu percebi que você vai sair, mas pra onde vai?
— Trabalhar. — Falei indo até a porta. — É melhor você voltar.
— M-Mas você não pode trabalhar, não é?
— Não posso? — Arqueei uma sobrancelha, parando apenas para olhá-lo. — Por quê?
— Você... É um ômega grávido.
— E daí? Eu estou grávido, não incapacitado. Eu posso muito bem trabalhar.
— Então... Eu posso ao menos te levar? — Perguntou, me dando um sorrisinho.
— Eu posso ir andando. — Saí da casa, com ele vindo atrás de mim. Tranquei a porta de casa e comecei a andar.
— Para com isso! Deixa ao menos eu te levar! — Veio até mim, ficando a minha frente e impedindo que eu continuasse a andar.
— Por que você é tão insistente? Aliás, você não tem nada mais importante para resolver?
— Na verdade, não. Pedi para que minha irmã cuidasse para mim. Então, não vou sair do seu pé tão cedo. — Riu.
Revirei os olhos, passando por ele. Ele veio atrás outra vez, novamente se pondo a minha frente.
— Você está começando a me irritar.
— Vou ficar fazendo isso até você me deixar te levar. — Sorriu cínico.
— Que saco... — Murmurei, balançando a cabeça negativamente. — Tá, você pode me levar, mas para de me atormentar.
Ele sorriu grande, de modo que seus dentes ficassem a mostra e seus olhos virassem dois riscos em sua face. Cruzei os braços, suspirando e olhando para qualquer canto que não fosse o alfa.
Ele tirou a chave do carro do bolso e foi até o carro estacionado em frente a minha casa. Não tive outra alternativa a não ser seguí-lo. Ainda contragosto, entrei no carro e evitei olhar para ele, ficando virado para a janela.
Tudo no carro tinha o cheiro dele. Me deixava enjoado. Eu não gosto do cheiro dele, ao menos não quero gostar. Um flash da noite em que tudo aconteceu me passou pela cabeça e eu me encolhi no banco, ainda com os braços cruzados. Eu quero sair daqui o mais rápido possível.
O carro começou a se mover e, durante alguns minutos ele ficou calado e eu também não quis falar nada. Mesmo não querendo falar nada com ele, eu estava muito desconfortável com todo aquele silêncio, então falei baixo:
— Você mudou de ideia bem rápido para alguém que não acreditava nisso.
— Eu novamente peço perdão por aquele dia. Como eu disse, eu estava um pouco estressado. Acho que acabei descontando em você e seu amigo, desculpe. — Ele resmungou.
— Faz isso por que está se sentindo culpado? — Perguntei, mesmo sem interesse em saber.
— Na verdade, não. Eu só... quero ajudar. É meu filho também, não? — Falou. — Você fez o teste, né?
— Fiz. — Respondi simples.
— Ahm... Eu vou marcar uma ultrassom para você amanhã, tudo bem?
— Pra quê? — Virei para encara ele.
— Eu contei para minha irmã e ela não acreditou. — Mordeu o lábio inferior.
— Não tenho que provar nada a ela. E você não contou para seus pais, contou?
— Não, ainda.
— Hm.
Vi o rosto dele ficar vermelho e ele abrir a boca para falar alguma coisa, mas ele ficou calado. Eu só ignorei, prestando atenção no mundo do lado de fora da janela.
E o resto do caminho foi assim, em silêncio. Só no falamos depois quando ele perguntou onde eu trabalhava, mas foi apenas isso que falamos. Depois ficamos calados, apenas com o som do carro ligado.
Quando ele parou em frente a cafeteria onde trabalho, dei um pequeno suspiro de alívio por finalmente poder sair daquele carro que exalava o cheiro dele.
— Chegamos. — Ele disse, estacionando o carro.
— Tá. Valeu.
Apenas falei isso e saí do carro para ir para dentro da cafeteria. Assim que pus os pés para dentro da cafeteria meus colegas de trabalho me olharam confusos, provavelmente haviam me visto chegando e estariam se perguntando de quem seria aquele carro luxuoso parado em frente ao estabelecimento.
— Mas o que... — Seungkwan, um dos meus amigos e colega de trabalho, foi logo perguntando assim que fui para perto do balcão.
— Longa história. — Suspirei, indo para trás do balcão. Deixei a mochila no canto.
— A gente tem tempo para escutar. — Mingyu falou, se apoiando no balcão.
— Eu tô grávido. — Falei direto, enquanto amarrava o avental ao meu corpo.
— Você o quê?! — Seungkwan perguntou alto, recebendo o olhar dos poucos clientes ali.
— Explica isso direito! — Mingyu disse.
— Lembram daquela boate que Jeonghan me levou? Então. Aconteceram coisas e agora tem um bebê aqui dentro. — Dei de ombros.
—Ok, isso explica o seu mal estar semana passada. Não vai contar ao Joshua? — Seungkwan cruzou os braços.
— Não. Ele vai querer que eu não trabalhe durante esse período e eu não posso ficar sem trabalhar. Preciso do dinheiro. — Falei baixo.
— E por que você chegou naquele carro? — Mingyu me perguntou em seguida.
— E que é o pai do bebê? Você sabe?
— Sei. Kwon Soonyoung. E o carro é dele, ele me insistiu para eu deixar que ele me levasse. E ele é bem irritante. — Revirei os olhos só em lembrar dele.
— Kwon Soonyoung?! O filho do empresário mais rico de Seul? — Assenti. — Garoto??
— Jeonghan me obrigou a ir na mansão dele. Ele pediu para que Soonyoung cuidasse de mim durante esse período, e agora ele vai viver no meu pé. — Bufei. — Eu não queria a ajuda dele.
— Por quê?
— Eu só não gosto dele.
— Isso não é motivo. — Mingyu falou. — Pelo menos ele quer te ajudar né? Ele está assumindo a responsabilidade.
— Tá, Tá... Por favor, não contem ao Joshua. — Pedi.
— A gente não vai contar, mas você deveria ficar em casa. É melhor para você e o bebê. — Continuou a falar, enquanto saía para a cozinha nos fundos.
Seungkwan me olhou.
— O que você vai fazer? — Perguntou.
— Como assim? — Cruzei os braços.
— Você tem faculdade, tem que trabalhar, está grávido... Realmente consegue dar conta disso tudo? — Se encostou no balcão.
— O que você quer dizer com isso?
— Hyung, eu realmente acho que você deveria ficar em casa durante esse tempo. Trabalhar e estudar podem fazer mal a...-
— Não vai. — Suspirei, olhando para meus próprios pés. Eu não estava totalmente seguro de minha resposta, mas esperava ao menos conseguir trabalhar até os cinco ou seis meses. — Vai ficar bem. — Forcei um sorriso.
— Se você diz...
Ouvimos o sino da porta soar, indicando que alguém havia entrado na cafeteria. Olhamos para a porta, prontos para atender o cliente que havia chegado, mas meu rosto foi para uma expressão irritada ao ver Soonyoung entrar e vir até o balcão.
Seungkwan olhou para mim de relance, sem dizer nada. Soonyoung me abriu um sorrisinho, se sentando em uma das cadeiras que tinham próximas ao balcão.
— O que você tá fazendo aqui?! — Falei o mais baixo que pude. — Eu falei para você ir embora depois de me trazer aqui!
— Você falou, mas eu não concordei com isso. — Falou, me fazendo suspirar e contar até três para não bater nele.
— Você é um...-
— Não me xingue, Jihoon. Não é legal xingar um cliente. — Ele falou, fazendo uma falsa cara de ofendido. — Eu não tenho nada para fazer e tenho que ficar com você, então...
— Eu já falei que não precisa. Você não entende? Quer que eu desenhe?! — Ele fez uma cara meio sem graça, olhando para as mãos.
— Jihoon hyung, não seja antipático assim... — Seungkwan me cutucou. Eu suspirei novamente.
— O que é que você quer? — Perguntei.
— Hmm... Um latte e um red velvet. — Sorriu.
Não falei nada, virando as costas para ele. Vi de canto de olho, Seungkwan pegando o pedaço do red velvet para entregar a Soonyoung, logo depois de aproximar mais dele e falar algo que o fez sorrir. Ignorei, apenas querendo que ele fosse embora dali logo.
Depois de feito o café, deixei-o em cima do balcão a sua frente. Ele me olhou, ainda com um sorriso na cara. Fiz uma cara de descontento com sua presença, virando o rosto para o outro lado, para evitar olhar para o sorriso daquele idiota.
— Você está tentando me irritar, não é? — Perguntei, cruzando os braços.
— Não. — Negou, bebendo o café.
— Pois é o que está parecendo. — Franzi as sobrancelhas.
Ele sorriu.
— Porque você sorri tanto? O que tem de tão engraçado na minha cara? — Ele riu de novo. Realmente parece que ele faz isso para me irritar.
— E você? Por que é tão carrancudo? O que tem de tão irritante assim na minha cara? — Colocou um pedaço de red velvet na boca.
— Você é irritante. Totalmente. — Revirei os olhos.
— Já conheci ômegas temperamentais, mas nunca vi um ômega tão temperamental quanto você. — Balançou a cabeça negativamente, cutucando o bolo. — Vai ser um pouco difícil lidar com você.
— Eu nunca te pedi para lidar comigo. — Virei o rosto, mordendo a língua.
Ele deu de ombros.
— Você não tem que trabalhar? Seu chefe vai brigar com você se continuar aqui conversando comigo. — Eu abri a boca para falar alguma coisa, mas ele me interrompeu: — Não se preocupe, não vou a lugar nenhum.
Suspirei, cansado de falar com ele. Apenas dei as costas para ele para começar a fazer meu trabalho, é o melhor que eu faço. Alguma hora ele vai cansar de ficar aí sem fazer nada e vai embora, então não vou me preocupar muito com ele.
[...]
Ele não foi embora, muito pelo contrário, ele continuou ali, sentado e mexendo no celular. Ele também não me disse mais nada. Às vezes eu conseguia vê-lo me encarando enquanto eu atendia alguns clientes que chegavam, mas quando eu virava para ele, ele virava o rosto para o celular outra vez.
Assim que meu chefe, Jisoo, viu Soonyoung ali, ele começou a me encher de perguntas, tipo: "Por que ele está aqui?" ou " Quando você se tornou amigo dele?". Eu apenas respondi que o conheci por acaso e ele parece ter engolido essa resposta, pois ele não fez mais perguntas depois disso.
Eram quase meio dia e Soonyoung ainda estava ali. Me pergunto se ele não tem nada melhor para fazer - provavelmente não tem. Faltavam trinta minutos para o meu intervalo ainda e eu já estava com fome, mas teria que esperar até o meio dia para meu horário de almoço.
Eu havia ido na fazer outras coisas. Mingyu apareceu na cozinha, se encostando na pia.
— Joshua mandou avisar que já é seu intervalo. — Falou.
Suspirei aliviado. Caminhei de volta a recepção, percebendo que Soonyoung já não estava mais ali. Agradeci mentalmente, procurando ele pela cafeteria com o olhar, confirmando que ele já havia ido embora.
— Ele saiu faz um tempo. Uns trinta minutos. — Jisoo falou, vendo que eu procurava por Soonyoung. — Você estava na cozinha.
— Uhm, certo.
— Ele voltou e deixou isso para você. — Me entregou uma sacola plástica que tinha um também um papelzinho grudado nela. Peguei o post-it e comecei a lê-lo:
"Precisei resolver algumas coisas, volto para te buscar mais tarde. Comprei seu almoço, espero que goste de bibimbap." Junto com uma carinha feliz no final.
— Você só passou uma semana longe do trabalho e já arrumou um namorado nesse meio tempo? Você estava mesmo doente? — Joshua me olhou, cruzando os braços.
— Eu não saí de casa nessa uma semana, Jisoo. E ele não é meu namorado. Eca. — Fiz uma cara de nojo.
— Jura? Ele comprou teu almoço e ficou te olhando durante todo o expediente. — Fez uma cara de desacreditado. — Se ele não é seu namorado, está tentando ser.
— Com certeza não. — Revirei os olhos, balançando a cabeça negativamente.
— Aliás, seus feromônios estão mais fortes. Você não está perto do cio, está? — Perguntou novamente. Provavelmente meus feromônios devem ter aumentado por conta da gravidez.
— Não, não estou. — Murmurou.
— Jihoon, eu sou um ômega dominante, você não pode esconder nada de mim. — Eu ri.
— Não é nada, sério. — Ele me olhou de cima a baixo.
— Ok. Vai comer, você deve estar com fome. — Assenti, pegando a mochila no canto do balcão para ir para os fundos da cafeteria, onde eu geralmente passava meus intervalos.
Olhei novamente para o papelzinho em minha mão, revirando os olhos diante a caligrafia infantil de Soonyoung. Apenas amassei o papel e o joguei no lixo. Provavelmente ele não virá me buscar nem nada e eu realmente espero que isso aconteça.
[-♥️-]
Eram quase seis horas, haviam poucas pessoas no café. Soonyoung ainda não havia chegado, então eu provavelmente iria com Seungkwan para casa - ou talvez não, se ele fosse com o namorado.
Depois de terminar de varrer o café, eu retirei o avental, levando ele até a cozinha e deixando-o lá. Eu estou muito cansado, minhas costas estavam me matando. Eu apenas queria dormir agora, mas ainda não posso. Quero voltar logo para casa e tentar dormir pelo menos meia hora antes de ir para a faculdade. Peguei minha mochila atrás do balcão e olhei para Seungkwan.
— Você vai esperar o Hansol? — Perguntei.
— Vou. Você não vai esperar o Soonyoung? — Arqueou uma sobrancelha.
— Não. — Balancei a cabeça negativamente. — Tchau Jisoo hyung e Seungkwan. Vejo vocês amanhã. — Resmunguei.
Ouvi o sininho da porta tocar e, involuntariamente, virei para a porta. Soonyoung estava na porta. Ele me viu e veio até mim, sorrindo. As poucas pessoas estavam olhando para ele e, consequentemente, elas também me olhavam.
— Cheguei muito tarde?
— Eu já estava indo... — Murmurei.
— Ah, vamos então? — Sorriu.
Olhei para Seungkwan, que fez um sinal com a cabeça para que eu fosse. Suspirei, decidindo não falar nada e apenas seguir ele. Soonyoung pareceu feliz por eu não ter negado ou nem nada do tipo. Ele passou o braço por meus ombros, me trazendo mais para perto.
Arqueei uma sobrancelha, retirando a mão dele de meus ombros e me afastando um pouco mais dele. Algumas pessoas do café nos olhavam estranhos, outras olhavam surpresas. Isso realmente me deixou desconfortável, então eu apenas olhei para baixo, fingindo não vê-los nos encarando.
Ele me olhou um pouco surpreso por fazer aquilo, mas pareceu perceber que eu não queria nenhum contato físico com ele e que eu estava desconfortável com aquilo.
Desde que entramos no carro, foi um completo silêncio. Isso durou por cerca de uns cinco minutos. Isso até Soonyoung abrir a boca para falar alguma coisa:
— Você está com fome? Tem algum lugar que você queira ir? — Perguntou, enquanto eu olhava para a janela
— Não, não estou com fome. — Resmunguei.
— Não? — O olhei de relance. — Você trabalhou o dia todo. Não tem fome?
— Eu posso fazer alguma coisa para comer quando voltar da faculdade. — Virei minimamente o rosto.
— Eu não vou deixar você ir para a faculdade sem comer algo antes! — Mordi o canto inferior da boca. — Tem uma barraca de takoyaki aqui perto. Você gosta de comida japonesa?
— Teimoso... — Suspirei. — E... Obrigado pelo Bibimbap de mais cedo. — O olhei de relance e vi ele sorrir.
— De nada! — Falou.
Mesmo que eu tenha dito outras vezes que não sentia fome - que era mentira, em parte -, ele do mesmo jeito comprou uma caixa de takoyaki e me deu. Eu comi ali no carro mesmo. Vez ou outra, Soonyoung me olhava e ria baixo.
— Você realmente não estava com fome? — Riu baixo.
— Você realmente não consegue parar de rir um segundo? — O olhei de lado.
— Você reclama que eu não paro de sorrir. E você? Por que não sorri? — Perguntou.
— Por que eu sorriria perto de você? — Resmunguei. — Você não me parece divertido ou engraçado. Você me parece um idiota.
— Você é um ômega muito difícil... — Suspirou. — Vai ser tão difícil ser seu amigo... — Falou choroso. — Tenha piedade de mim, Jihoon~
Sorri de lado, ainda olhando para a janela. Ele não falou mais nada e eu também não.
Que eu tenha paciência para aguentar esse ser humano por nove meses.
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