Acordei as 6 em ponto, para falar a verdade, nem dormir, embora eu tente ficar calma, esse extasse em que eu me encontro é como estar em uma corda bamba, por mais que você tente se equilibrar, ainda a uma possibilidade de acabar cair. Sentei em minha cama e coloquei os pés no chão, o frio do piso de porcelana percorreu como um choque em todo meu corpo, o que me fez acordar de vez.
Fui ao banheiro e tomei um banho, fiz um coque tão perfeito que era impossível encontrar-se qualquer fio solto, e precisava ser desse jeito, qualquer defeito, mesmo o mínimo, pode me deixar atrás de outra concorrente, e isso é a última coisa que eu quero que aconteça, coloquei o collant, meia-calça, saia, ponteira e tutu nessa ordem, normalmente eu sou desleixada ao colocar os vestimentas padrões para o ballet contemporâneo, afinal, o ballet que eu aprendi foi bronco e de uma forma que não foi preciso seguir a norma padrão, mas passei a tarde toda aprendendo como se utiliza de forma correta em vídeos.
- Será que está certo? (Resmunguei para mim enquanto olhava fixamente o espelho).
Fui em direção a cozinha tentar comer alguma coisa, embora eu me sentisse tão enjoada que poderia vomitar mesmo de estomago vazio.
- Bom dia meu amor (diz minha mãe enquanto me entrega uma xícara de café e uma torrada) como você está bonita, então, você está nervosa?
- SIM, e muito, sinto que meu estomago vai sair pela boca a qualquer momento.
- Meu amor, você treinou sua vida toda por esse momento, você só precisa fazer o que sabe e eu tenho certeza que vai arrasar, a The Juilliard School of Dance vai se perder arrepender se não te aceitarem (ela diz enquanto segura a minha mão) agora olha a hora, se não sairmos agora de casa, vamos nos atrasar.
- Meu deus, temos que ir (disse pegando minha bolsa e um casaco para me proteger do frio que chegou na cidade embora estejamos no verão).
Saímos de casa e minha mãe fechou a porta, entramos no carro e seguimos em direção ao estúdio de dança onde ocorreria a maior competição de ballet do mundo, a competição The Juilliard School of Dance. O tempo que demoráramos para chegar lá era de 3 horas, moramos em uma zona rural e infelizmente fica longe da cidade, mas isso nunca me impediu de sonhar alto, todos da pequena vila onde eu morro tendem a ficar onde estão, muitos não terminam seus estudos e vão trabalhar na colheita de café que traz a economia de lá, mas eu era diferente e me orgulho muito disso, eu segui meu objetivo até chegar aqui, neste exato momento, parada em um transito que não parecia ter fim, fala sério. Por mais que eu tenha programado para chegar lá uma hora antes, eu infelizmente não imaginei que ocorreria um acidente na avenida, mesmo que pareça mórbido, tudo que passava na minha cabeça era “santo Deus misericordioso, porque essa pessoa teve que sofrer o acidente logo aqui? Não poderia ter sido em outro lugar? ”.
Faltando 2 horas para a competição começar, eu estava começando a me desesperar, eu certamente chegaria bem em cima da hora, nem daria para me aquecer, será que isso irá prejudicar minha dança? Espero que não. A minha única esperança era que as 50 dançarinas que iriam participar me dariam mais tempo até chegar lá, afinal, eles pediram uma apresentação de 1 minuto, isso me dará 50 minutos a mais e cada segunda conta.
- Filha, vou sair um pouco do carro e ver como a situação está. (Ela diz abrindo a porta do carro)
- Ok.
Não consigo medir o desespero que eu estava sentindo, só de pensar que talvez eu não consiga fazer minha audição já me deixa mal, imagina não entrar na escola por um acidente estupido ao invés de não entrar mas pelo menos ter feito o meu melhor na apresentação?, eu certamente estaria acabada, não podia imaginar nada pior que isso acontecendo, eu sei que isso soa um pouco exagerado, mas imagina que seus sonhos mais profundos foram jogados em um vulcão e esse despedaçassem e por mais que você tentasse alcançar, você estaria paralisada.
Minha mãe entrou no carro e olhou para mim
-E aí mãe, como está a situação?
- Filha, me escuta (eu comecei a ficar sem ar), os bombeiros avisaram que só começaremos a andar depois das 11. (Após ela falar isso, eu não consegui entender mais nada, eu estava paralisada, meu rosto não mexia um musculo, nada passava em minha cabeça, mas então eu pensei um uma frase que uma bailarina me disse quando criança, Elasticidade, conforto, adaptabilidade e resistência.
- Elasticidade, conforto, adaptabilidade E resistência (gritei após sair do transe)
- Filha, você está bem? Meu amor, se acalme, você tenta de novo ano que vem.
- NÃO, EU VOU CONSEGUIR, EU TENHO RESISTENCIA (gritei para minha mãe e sai do carro correndo)
- FILHA!! (Ela tentou me acompanhar, mas já não era a mesma de 20 anos atrás, correr já não era mais uma opção, ela decidiu voltar para o carro e se acalmar, sabia que sua filha era teimosa e nada que ela falasse iria mudar a ideia da filha).
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