Capítulo XXXI
- Todoroki-kun, acorda. – sacudiu o dorminhoco ao seu lado.
- O quê?! O bebê?! – se sobressaltou alarmado, sentando na cama e segurando Midoriya pelos ombros.
- Calma – soltou um risinho. - Não é nada, só deu a hora de levantar, daqui a pouco os meninos chegam para a viagem.
- Hum, que horas são? – jogou o cabelo para trás.
- Cinco e meia.
- Muito cedo, só sairemos as sete. – se jogou de volta na cama.
- Mas temos que tomar café e deixar tudo pronto, sabe como o Iida-kun não gosta de atrasos.
- Dez minutos não vão matá-lo. – puxou o gravido para se deitar sobre si. - Estou ansioso. – confessou com a voz ainda mais grave pelo sono.
- Com o quê? – Izuku podia sentir que não se tratava da viagem, para falar a verdade, o lúpus andava bem inquieto na última semana.
- Com a classe do bebê. – falara de olhos fechados, enquanto acariciava as costas do menor.
- É verdade, logo saberemos se ele é um lúpus ou não.
- Não só isso, na época que nascemos, os testes não eram tão precisos, por isso era comum os pais só fazerem os exames para saber o segundo gênero quando as crianças já passavam dos dose anos, mas agora, pelo que li, junto dos exames na maternidade, já se pode saber se é um alfa, beta ou ômega. – explicou.
Era realmente verdade, e se fosse em outro momento o esverdeado pararia para pensar sobre como as coisas mudavam em vinte anos, o quanto a tecnologia e principalmente a medicina era capaz de dar grandes saltos. Porém, ali, ambos sabiam o que isso significava.
- Não precisa ter medo, não deixarei que nada aconteça a vocês. – beijou os fios esverdeados com carinho, e se Shouto pudesse prever o futuro, talvez sua promessa realmente se cumprisse.
- Vem, vamos levantar, já passou mais do que o tempo da função soneca no celular. – mudou de assunto, afinal, não era um dia para se estar triste.
- Tenho mesmo que levantar? – resmungou um pouco.
- Precisamos comer antes de ir, Todoroki-sama, ou você quer que seu filhote fique com fome? – automaticamente pousou as mãos na barriga lisinha e bem protegida pelo moletom grosso que usara para dormir.
Rapidamente o dicromático o agarrou, por trás, sentindo no mais íntimo de seu ser, a alegria de seu lobo ao ouvir o seu pequeno ômega falar assim. Era um conforto tão grande e um calor tão aconchegante que mantinha seu coração aquecido mesmo no pico do inverno, que este ano parecia sem fim.
- E o quê minha criança deseja comer? – perguntou rente ao ouvido.
- Eu deixei alguns lanches para a viajem prontos, acho que só precisamos fazer algo para beber. – analisou.
- Deixa comigo! Você pode ir tomar banho primeiro.
- Meu beijinho de bom dia?
O jovem de olhos de floresta se virou no abraço, aquele era um costume que tinha adquirido, sempre ao acordarem davam um pequeno selo de carinho, coisa rápida, mas significativa. Assim que realizaram o ato, Todoroki desceu para a cozinha, abrindo a geladeira e pegando os pratos cobertos por plástico filme que continham os sanduiches variados. Talvez mais do que eles poderiam comer durante a viagem, aquele era outro hábito do esverdeado, sempre que podia estava na cozinha, inventando algo novo ou mesmo quando estava se sentindo feliz demais ou frustrado, descontava no excesso de comida preparada.
Não que o heterocromático reclamasse realmente, ele havia se viciado completamente na comida do seu ômega e se enchia de orgulho quando alguém o elogiava por isso. Era bom ver o sorriso sincero e meio envergonhado que Izuku dava, além de saber – agora pela marca – que ele se sentia realizado. Certamente Midoriya podia viver disso, na opinião do namorado, embora o menor tivesse outros interesses.
Outra coisa que Shouto precisava anotar mentalmente para falar com ele depois, era o fato da carreira política, se sua memória não estivesse falha, sabia que ele tinha escolhido essa carreira apenas pela segurança financeira, porém, agora não era mais necessário seguir com isso. Não que o meio-ruivo o diria para ficar em casa e cuidar dos filhos ou coisa parecida, apenas achava que ele poderia seguir os sonhos que tinha sem ter que se preocupar com dinheiro.
Ouviu o barulho da chaleira e ao mesmo tempo os passos na escada, aguardando a figura pequena adentrar o local.
- Chá verde? – indagou sem se virar.
- Pode ser. – ouviu o arrastar da cadeira e por último um suspiro arrastado.
- O que te preocupa? – buscava as xícaras no armário.
- Estou pensando na minha mãe, sabe. Eu estou muito feliz por ela e tudo mais, mas ao mesmo tempo tenho medo dela se machucar. Não que o Yagi-san não pareça boa pessoa. Só que, sei lá. – realmente não sabia explicar claramente.
- Todo relacionamento é um risco, não podemos prever o futuro. – o esverdeado concordou e agradeceu pelo chá. - Mas eu tenho certeza de que se sua mãe aceitou se casar tão rápido é porque ela confia nele.
- Você está certo. Vamos comer, estou morrendo de fome. Agora eu entendo quando dizem estar comendo por dois.
- E mesmo tão pequeno, já influencia nisso?
- Não sei, mas se influenciou, bem... você sabe, acho que é possível. – seu rosto corou.
- Entendo, eu fico contente por isso, mal posso esperar para te ver com uma boa saliência na barriga.
- Pois eu, não, tudo que minha mãe me disse era de como seus pés e suas costas sofreram. – comia calmamente.
- Me admira mesmo é que até agora você não teve enjoos ou desejos.
- Para desejos acho que ainda estar um pouco cedo, mas sobre os enjoos, realmente não senti nenhum, só um pouco de tontura algumas vezes. – explicou.
- E por que eu não fiquei sabendo disso?- estreitou os olhos para o namorado.
- E-eu... não foi nada demais. – desviou do olhar inquisidor sobre si. - Além do mais, é super normal. – se justificou.
- Mas eu me preocupo.
- Talvez por isso não tenha dito nada. – murmurou e quase seria inaudível se se tratasse de um alfa comum.
- Miiiidoriya! – arrastou o nome do menor com um timbre mais grave que o normal, em um claro aviso de descontentamento.
- Todorooooki! – o ômega repetiu o ato. - Não se preocupe, sim? Eu prometo que avisarei se eu sentir que é algo grave demais. – tentou amenizar o clima.
- Ok, vou tomar banho. – levantou da mesa se dando por vencido. No fundo o lúpus sabia que não poderia ajudar em nada com isso, entretanto queria estar o máximo possível presente durante toda a gestação.
[...]
- Não estamos esquecendo nada? Eu fechei a válvula do gás? E as janelas do primeiro andar estão todas fechadas? Melhor eu ir ver. – retirou o sinto e quase saiu do carro.
- Eu fechei a válvula e sim, todas as janelas estão fechadas e as portas também. – tranquilizou o outro.
- Ok, podemos ir então. – se deixou convencer.
- Você só não é mais paranóico do que o Tenya, Deku-kun. – a morena começou a rir de todo o alvoroço causado pelo amigo.
- Ei! Não sou... – se cortou com o olhar de sobrancelhas arqueadas da companheira. - Taaaanto assim. Ok, talvez um pouco. Mas vale ressaltar que eu me preocupo, não quero que o meu apartamento exploda ou algo.
- Eu que o diga. – Izuku concordou com o alfa de óculos.
- Falando nisso, como anda o processo? – Ochako perguntou.
- Me ligaram semana passada, o laudo acusou que foi uma fagulha elétrica próxima as cortinas do apartamento ao lado do meu, como não havia ninguém no prédio, o fogo se alastrou rapidamente. Ainda bem que o seguro cobria esse tipo de incidente.
- E tem um prazo para a indenização sair? – Iida perguntou.
- Ainda não recebi nenhuma informação sobre isso, mas agora que o laudo saiu acho que não demore muito.
- E você pretende se mudar quando receber? – o moreno indagou, porém um baixo rosnado ecoou pelo carro, fazendo os ômegas encolherem os ombros.
- Ca-calma, Todoroki-kun. – Midoriya passou a pequena mão pelo braço do maior que apesar de não tirar os olhos da estrada, estava prestando atenção a conversa. - Não tenho essa intenção, Iida-kun. Até porque é bem difícil um ômega marcado conseguir viver longe do seu alfa, ainda mais eu que estou esperando... eeeh... esperando o dinheiro sair. – sorriu sem graça, se batendo mentalmente por quase ter revelado a gravidez.
- Bom... é verdade. – Uraraka estranhou a atitude evasiva do amigo, no entanto resolveu dar de ombros.
A viagem seguia tranquila e ao longe já podiam avistar a saída de Tokyo, logo estariam nas estradas principais. E pensando na quantidade de horas que ficariam naquele carro, Izuku agradecia mentalmente a seu filhote que não o incomodava com enjoos. Seria ainda mais difícil tentar manter em segredo dos demais caso começasse a passar mal do nada. Teria que por a culpa na comida e consequentemente todos ficariam alarmados, já que os únicos lanches que teriam eram os que ele próprio havia feito em casa.
[...]
Era quase meio-dia quando avistaram a grande casa que sua mãe tinha sinalizado como endereço. A casa em um azul claríssimo, a primeira vista tinha o dobro do tamanho da que Midoriya morava atualmente, fora que o ômega reconheceu o condomínio só pelo nome na mensagem; aquele era sem dúvidas alguma um lugar bastante caro.
- Seu novo padrasto é rico, Deku-kun? – a moça de cabelo castanho estava espantada com o local.
- N-não sabia. – ele também estava alarmando.
Uma figura baixinha pareceu na porta dupla – gigantesca na opinião de Izuku – e correu pelo pequeno caminho de pedras bancas assim que viu os jovens descerem do automóvel. Seus cabelos longos soltos e balançando ao vento, porém esverdeados, denunciavam quem ela era e o sorriso que praticamente escondeu as orbes esmeraldinas, não deixava dúvidas alguma sobre a quem o ômega tinha puxado. Todoroki nunca se cansaria de pensar que aquela era a versão feminina do seu namorado.
- Meu amor, você chegou! – envolveu o filho em um abraço apertado. - Como foi de viagem? E como está o meu neto? – tocou gentilmente a barriga do rapaz ao se afastar um pouco dele.
Quatro pares de olhos estavam arregalados, embora por motivos diferentes. Nem o lúpus ou o esverdeado esperavam que Midoriya Inko fosse falar assim que visse o filho. Muita ingenuidade de ambos. Até parece que Izuku não conhecia a mãe que tinha. Ao lado deles, Ochako e Tenya estavam pasmados. Cada um sem conseguir assimilar o fato de seus melhores amigos terem escondido algo assim deles.
- Midoriya Izuku, que história é essa! – a ômega foi a primeira a reagir.
- Sur-pre-sa?! – levantou os braços como se comemorasse algo, mas a verdade era que estava com medo do olhar mortal que estava recebendo.
- Eu não acredito nisso, como você pôde esconder algo assim de mim? – se exasperou.
- Não foi só de você, Uraraka-san. – Shouto tentou apaziguar. Mas também recebeu um olhar gélido da acastanhada.
- Amor, calma, eles devem ter um bom motivo, não é, Todoroki? – Iida também estava visivelmente desgostoso.
- Não ‘tô nem ai. – se afastou do toque do namorado. - Eu pensei que confiasse em mim! – quase gritou.
- Não brigue com meu ômega, Uraraka. – o bicolor assumiu a frente do seu pequeno.
- Gente, calma, sim? – a única beta presente entrou no meio do alvoroço. - Melhor entrarmos primeiro. – nem esperou respostas e saiu puxando o filho.
Eles estariam mais admirados com a ampla sala de estar, se não fosse pelo clima estranho entre os casais. Nem mesmo o lustre gigantesco de cristal no centro do lugar chamava mais atenção do que a bombástica revelação de minutos atrás. Nem mesmo sentaram-se antes que a ômega recomeçasse suas reclamações:
- Eu merecia saber, Deku-kun, é meu futuro sobrinho. – lamuriou enquanto encarava o gravido.
- Me desculpa – abaixou o olhar e sentiu o seu alfa o abraçar por trás, consolando sua tristeza. - Foi um momento complicado para nós e eu pedi ao Todoroki-kun um tempo até me acostumar com a ideia. Também pretendia contar a todos vocês em uma reunião como as que sempre fazemos lá em casa. – encarou a amiga com os olhos marejados.
- Não o faça chorar. – Shouto falou tranquilo, apoiando o queixo na cabeça abaixo de si. - Ele não pode se estressa, Uraraka, é uma gestação de risco. – explicou. - Izuku merece todo o carinho do mundo, e não que alguém fique o enchendo de cobranças.
O pequeno ômega de fios esverdeados, adquiriu a costumeira coloração avermelhada. Não só o fato de ter sido chamado pelo primeiro nome, como as palavras contidas na última frase do seu parceiro. Inko que apenas assistia tudo, sentiu o peito aquecer com a linda demonstração de cuidado e amor para com o seu filhote. Não tinha como uma mãe não estar feliz sabendo que seu único filho estava em boas mãos.
- Larga ele, Todoroki-kun! – ordenou enquanto fazia menção de abraçar o amigo e via a cara emburrada do alfa de duas cores. - Okay, vou deixar passar dessa vez. – se resignou. - Mas só porque eu sei que a reação da Mina-chan será bem pior que a minha, mal posso esperar. – sorriu maléfica para o amigo.
Izuku nem mesmo queria pensar nisso agora, sabia que estaria realmente encrencado, ainda mais se contasse dos riscos que corria por ter trabalhado normalmente durante o mês. Fora que Todoroki acabaria tomando conhecimento de tudo. É, estava realmente ferrado.
[...]
Após o clima tenso ter passado, todos foram encaminhados para os quartos que ficariam. Izuku totalmente surpreso por ver um quarto decorado exatamente como era o seu no pequeno apartamento em que morou com sua mãe. “Pequeno”, porque aquele quarto era praticamente do tamanho da sua antiga casa inteira, isso se somasse com o closet e o banheiro. Também havia uma enorme cama de casal, que facilmente caberia uns cinco Midoriya’s ali.
Se sentou na cama, cansado da viagem e do pequeno estresse que teve quando chegaram. Sua mãe o havia dito para se acomodarem antes do almoço, no entanto o ômega queria mesmo era poder dormir um pouco, já que sabia que a tarde seria corrida. Na verdade, ele andava dormindo mais do que o seu normal, e sendo uma pessoa madrugadora, se preguntava se sua gestação seria toda assim. Esperava que não, entretanto.
- Sua mãe está bem tranquila para quem vai se casar em poucas horas. – Todoroki comentou ao sair do banheiro.
- Oh, não se preocupe, já, já ela estará surtando e fazendo todos surtarem junto. – ambos riram.
- Você está se sentindo bem? – se sentou na cama e puxou o namorado para seu colo, afundando o rosto no vão do seu pescoço. Se espantando logo em seguida com o forte cheiro que vinha do ômega.
Sem esperar uma resposta, Shouto deitou Midoriya na cama, ficando entre seus joelhos flexionados, subiu a blusa de lã clara que o menor usava, passando a esfregar o nariz por toda a extensão da barriga de pele macia.
- O q-quê que você es-tá fazendo? – Izuku sentia cocegas com aquele ato, fazendo sua risada ecoar por todo o ambiente.
Não obteve resposta. Todoroki podia sentir o delicioso cheiro de seu ômega cada vez mais doce e também podia sentir o seu como se estivesse misturado ao do pequeno, porém o que lhe intrigava era o forte cheiro presente que não vinha de nenhum dos dois. Sorriu largamente quando levantou a cabeça para encarar o esverdeado, aquele sorriso que fazia Midoriya se derreter de tão poucas as vezes que o alfa o mostrava.
- O bebê está exalando um aroma bem forte de você. – sorriu mais. E mesmo que soubesse o que aquilo significava, estava tão contente, tão satisfeito. Não era só o seu lobo que se sentia pleno. - Não chora, meu amor. – apoiou o corpo no braço esquerdo e se ergueu acima do outro sem realmente deixar seu peso ali.
Izuku sorria bobo enquanto acariciava sua barriga lisa, porém um pouco dura abaixo do umbigo. As lágrimas eram de alegria, não havia dúvidas, e mesmo que aquilo o preocupasse, estava feliz, seu filho ou filha seria uma criança de sorte em sua opinião.
Ganhou um beijinho em cada pálpebra para que parasse de chorar, sentindo os selares rondarem todos os cantos do seu rosto. Alguns eram em seus lábios, mas a maioria era em suas bochechas.
- Você realmente gosta das minhas sardas, não é?
- Muito, espero que o nosso bebê nasça com elas e com seus lindos olhos verdes, e com o seu cabelo ondulado e seja assim: pequeno e fofo. – se olhavam com carinho.
- Não tem graça, olhos verdes são bastante comuns, além do mais você era lindo criança, eu queria um mini Todoroki-kun. – acarinhou o rosto do mais velho.
- Já vi que essa será a nossa primeira briga de casal. – o menor deu uma risada alta.
- Achei que brigaríamos sobre menino ou menina como pessoas normais. – ainda estava rindo.
- Oh, não, definitivamente eu quero uma menina e sei que você também. – ao ver os olhos arregalados do outro, tratou de explicar: - Sabe na minha casa sempre foram mais homens e acho que uma menina parecida com o seu jeitinho seria linda. E eu sei que você está preocupado, sobre o que o meu pai te disse.
Não puderam continuar a conversa, logo uma batida discreta na porta os alertou que provavelmente o almoço estava à mesa. Desceram cada um com seu próprios pensamentos, mesmo que de alguma forma soubessem que martelavam um só problema.
[...]
Definitivamente Midoriya não era bom com gravatas. O nó sempre parecia maior que os das outras pessoas e isso o irritava. Sua mãe, sempre que ele precisava usá-las, era a responsável por auxilia-lo na tarefa, que hoje estava sendo realizada por seu namorado. Izuku estava meio deslumbrado com a figura estoica que era Todoroki Shouto em roupa de gala. Os ombros largos e braços definidos, não eram apagados pelo tecido azul-marinho do seu terno, o colete também da mesma cor, estava por cima de uma camisa social cinza claro que contrastava perfeitamente com o tom escuro do resto de suas vestimentas. Era de tirar o fôlego.
O esverdeado também não estava diferente aos olhos do lúpus, certamente ele seria o ômega mais bonito da festa, não que para o dicromático ele já não fosse sempre lindo. Midoriya tentou prender um lado do cabelo o que deixava seus quase cachos ainda mais evidentes. O terno na mesma cor, tinha o corte mais delineado que o do mais alto, deixava sua cintura contornada e mesmo que não gostasse, a calça de linho deixava suas nádegas marcadas e isso o incomodava um pouco. Embora fizesse seu alfa quase babar.
Ao saírem do quarto deram de cara com o casal de amigos que estavam descendo as escadas. Iida usava um terno preto e simples como o do seu namorado, a diferença era a falta do colete. Uraraka usava um vestido lilás longo, com uma gola canoa que deixava parte de seus ombros a mostra, o cabelo preso em um coque bem feito e umas pequenas fores brancas, evidenciando ainda mais a marca em seu pescoço. Discretos, porém bonitos, definiria o visual dos quatros.
Sorriram entre si e caminharam para fora em direção ao carro, tinham um endereço do templo onde a cerimonia aconteceria. Não era um templo tão grande como o que tinham visitado no final do ano, porém era um lindo lugar, cuidado pelos monges para que as passagens não estivessem cobertas de neve. Sentaram no lado da noiva e Midoriya cumprimentou os poucos parentes ali presentes, antes de ouvir a porta principal do salão ser aberta revelando o casal em seus kimonos tradicionalmente preto e branco.
Bastou apenas uma pequena troca de olhares entre Izuku e Inko para que ambos estivessem com os olhos marejados, a diferença era que a mais velha segurava as lágrimas para não borrar a singela maquiagem enquanto andava de braços dados com seu noivo. Sentaram em seiza um de frente para o outro, enquanto ouviam o monge que entoava seus cânticos e mantras em um japonês tão antigo, que seria impossível alguém além dele próprio entender do que tudo aquilo se tratava.
Era uma silenciosa e tradicional cerimônia, ninguém falava nada ou mesmo uma música era tocada, exceto por o momento em que os noivos deveriam trocar o sake para oficializar a união, bem como a família mais próxima de cada um deveria o fazer, para rezar aos deuses e abençoa-los. O problema foi que na vez de Midoriya beber, nem mesmo pode encostar os lábios na pequena taça. Pares de olhos demais se voltaram contra si e a mão de Todoroki retirou o objeto com cuidado da sua.
- Ele está gravido. – Toshinori explicou ao monge. E bastou isso para que uma pequena perturbação em um lugar tão solene surgisse. Todos os tios e primos da família Modoriya queriam saber sobre a novidade, só então se aproximando e notando além do cheiro do lúpus em si, a perfeita marca em sua nuca.
Por sorte aquele era o momento em que todos deveriam ir para o local da festa, mas só deixaram o pequeno ômega sair com a promessa de que ele ainda nessa noite contaria todos os detalhes.
[...]
O esverdeado estava nervoso. Era a primeira vez que falaria em público, entretanto não deixaria de discursar durante a linda festa. Na mesa principal, os noivos estavam ansiosos, principalmente Inko, que sabia que seu bebê era muito tímido e mesmo assim, por ela, decidiu seguir o costume, onde os familiares falavam sobre o casal e faziam seus votos de felicidade, logo após os recém-casados terem partido simbolicamente o bolo com uma katana.
Assim que subiu ao pequeno palanque ao lado da mesa onde sua mãe estava, Izuku reclamou baixinho e colocou a mão em frente aos olhos tentando fazer uma mínima sombra para olhar para as pessoas ali. O grande salão estava muito bem ornamentado, com flores brancas e pequenas, misturadas às diversas plantas, na verdade, todo o local estava assim, em tons de verdes que contrastavam com o branco. Pigarreou antes de pegar no microfone, porém foi ouvido por todos que começaram a rir quando ele quase derrubou o objeto do tripé de apoio:
- Eeeeh... Nem sei por onde começar. – coçou a nuca sem jeito. - Eu devia ter me preparado melhor, mas eu fiquei pensando: como eu colocaria tudo que minha mãe é e representa para mim, em uma só folha de papel? É simplesmente impossível. Aos que nos conhecem, sabem bem como temos vivido, aos que não, gostaria de contar um pouco, prometo que vai ser rápido, vou tentar terminar isso antes que me desmanche em lágrimas.
E todos riram; porém só Todoroki podia sentir o que aquilo realmente significava para o ômega.
- Não tenho muitas lembranças do meu pai, quando dei por mim Midoriya Inko – agora Yagi Inko – era tudo o que eu tinha e sempre fez o difícil papel dos dois. Mesmo trabalhando dia e noite, sempre esteve ao meu lado, sabe, eu era muito pequeno, mas me lembro claramente da conversa que tivemos quando ela decidiu pegar mais turnos no hospital; precisávamos de dinheiro para pagar as parcelas da casa, porém para que eu não me sentisse sozinho ela prometeu que sempre estaria comigo. E não eram só as constantes ligações. Mãe, a senhora exagerava.
Novamente se ouviu risadas no salão.
- Mesmo sem a ver, eu sabia que ela tinha ido em casa, porque todos os dias eu deveria dar um nó na ponta do meu lençol e quando eu acordava ele não estava mais lá. Foram temos difíceis, ela chegava tarde e saía cedo, mas fazia questão de deixar o café da manhã para mim. Isso até eu aprender a cozinhar. Comecei seguindo seus livros de receita e logo era eu que fazia o seu jantar e daquele momento em diante outra rotina se estabeleceu: eu dava um nó e ela desfazia, ela fazia o café para mim e eu o seu jantar. E então, nós sabíamos que não estávamos sozinhos.
Um soluço baixinho foi ouvido, Inku fungava amparada por seu agora marido, mas mantinha o olhar firme em seu filho.
- Tínhamos um ao outro e por muitos anos isso bastou, até eu ver o lindo sorriso da dona Inko em apenas contar que estava namorando. Naquele momento eu vi como ela sentia falta de alguém em sua vida, principalmente depois da minha mudança para Tokyo. Não vou mentir que eu não fiquei receoso, tinha medo de vê-la sofrer nas mãos de algum aproveitador de mães gostosas.
Uma repreensão do tipo “quê isso menino” foi ouvida e as risadas se espalharam.
- Sem ofensas, Yagi-san. Até porquê, quando o conheci e ele inundou nossa sala com seu gigantesco e contagiante sorriso, eu tive segurança de que ela estaria em boas mãos, e aqui estamos nós, na prova de que eles se amam. Por isso, Yagi-san, conto com você para fazê-la feliz, porque não tenho dúvidas de que ela o fará. – se curvou em respeito e saiu para abraçar a matriarca.
Midoriya estava orgulho de si mesmo por não ter chorado, bom, talvez só um pouquinho. E se sentiu ainda mais orgulhoso ao ver o enorme sorriso estampado no rosto de sua mãe, ela estava radiante e ele encantado de ter conseguido transmitir pelo menos um pouco de todo o amor que nutria pela mais velha, que o arrastou de volta ao palco.
- Meu filho não é incrível, gente? – praticamente lambeu a cria que estava “vermelhamente” envergonhado. - Foi para Tokyo sozinho, trabalhou para pagar a universidade, arrumou um companheiro maravilhoso e agora vai me dar um lindo neto ou neta, não sabemos ainda. Só sei que não poderia estar mais feliz no dia de hoje, mas não sou eu que vai falar sobre essa fase da vida dele. Por isso, quero que conheçam meu genro gato. – anunciou.
Todoroki caminhou calmamente até onde estavam os esverdeados. Sorrindo bobo com o olhar confuso do seu ômega para si, olhar esse que dobrou de tamanho ao ver o alfa retirar do bolso interno do paletó uma pequena caixa verde tão escura como o seu cabelo. Ele vai me pedir em casamento?
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