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História Acontece na biblioteca - Único - História escrita por nunytales - Spirit Fanfics e Histórias
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História Acontece na biblioteca - Único


Escrita por: nunytales e 7decopas

Notas do Autor


Então. Oular~

Eis library!au, tema do mês de julho do Projeto 365 (se não tá sabendo o que é, corre no perfil do co-autor, que lá existem informações, eu juro). Todo mês a gente faz votação no twitter pra decidir o tema do mês no perfil do 7 de copas (no twitter é @ 7decopas_), inclusive tá tendo votação! (Ajudem a gente, por favooor!!! /olhos brilhando/).

A fic nasceu de um pensamento quando eu tava no ônibus a caminho da aula: "Por que não fazer uma coisa meio baseada em tudo o que eu já vi/vivi na minha vida de estudante?". As outras coisas foram só se agregando no meio do caminho, porque as coisas funcionam assim com a minha criatividade, pois é.

AH, e a capa é temporária (eu tive que fazer uma escolha: revisar a fic ou fazer uma capa decente), mas dizem que o conteúdo é que o importa, já que não se deve julgar um livro pela capa, né~

É isso. Sem mais delongas: boa leitura <3

Capítulo 1 - Único


 

Jimin não era nenhum rato de biblioteca, mas precisava reconhecer que passava mais tempo ali que em qualquer outro lugar, até mesmo aquele que chamava de casa – e ele nem estava se referindo à casa dos pais, a qual visitava apenas duas vezes no ano, com um pouco de sorte.

Como a maioria dos alunos – ou pelo menos como a maioria que se importava o suficiente com as notas e com a faculdade e que não conhecia outro ambiente em que pudesse estudar –, não tinha muita escolha, tampouco reclamava.

Apesar do silêncio sepulcral, quebrado apenas por um arrastar de cadeiras de alguém pouco delicado, a biblioteca não era um lugar realmente morto, como se poderia pensar. Havia vida acontecendo ali, nos cochichos trocados por amigos que discutiam a matéria sem querer incomodar ninguém; nas risadas sem som de quem lia algo engraçado; nos olhares lançados pelos arredores, os quais muitas vezes eram capturados pela beleza de um dos estudantes – Jimin, por exemplo, tinha uma paixonite insuperável pelo carinha que se sentava sempre perto das estantes de livros de Filosofia.

Além disso, ele tinha que admitir que havia dias em que observar era mais tentador que estudar, motivo por que ele viu quando um rapaz deixou um post-it na mesa em que uma garota estava estudando, aproveitando-se do fato de que ela estava ausente para provavelmente deixar seu número. Sem falar nos olhares demorados que às vezes as pessoas direcionavam a outras quando achavam que não seriam descobertas, nos dedos entrelaçados não apenas embaixo, mas também em cima da mesa, o que uma parcela dos casais não se incomodava em esconder – em uma proclamação muda de que "ei, essa pessoa está comigo e nós estamos muito bem, muito obrigado(a)".

Ele também havia tido sua cota de tentativa de romance na biblioteca, não por iniciativa própria. Uma garota pedindo para compartilharem a mesa quando havia outras desocupadas ao redor deles – pedido que foi aceito relutantemente, porque ele tinha esse espírito de bom samaritano do qual não conseguia se livrar; um bilhete jogado em sua mesa por um cara que estava passando, cujo rosto ele não pôde ver – a letra também era difícil de decifrar, mas ele conseguiu entender a parte em que sua beleza era elogiada e em que a pessoa revelava a esperança de saírem juntos em um encontro. O pedido nunca foi atendido, porque na verdade Jimin teve um momento de desespero por não saber o que fazer e não pôde escrever uma resposta antes que o cara passasse de volta recolhendo o pedaço de papel.

Não se arrependia de não ter respondido, mas sentia uma conexão com o rapaz – formada pelo sentimento de querer alguém. Tal conexão era tamanha que Jimin sentia vontade de fazer o mesmo com o carinha da sessão de Filosofia.

Ou pelo menos era o que dizia a si mesmo, que apenas por culpa da “conexão”.

Jimin também dizia que não lhe fazia bem nutrir sentimentos por alguém que sequer olhava em sua direção e, assim, sempre deixava os materiais que já não prendia sua atenção como antes para se esconder no terraço, fazer uma pausa para o lanche – uma fruta que ele sempre contrabandeava para a biblioteca, mesmo com a regra que proibia que os frequentadores levassem comida. Mas era melhor ser pego que continuar desviando o olhar na direção dos lábios finos e rosados, dos olhos pequenos e entediados, da pele maculada por pintinhas que deveriam ser cicatrizes de espinhas, mas que para Jimin eram bem charmosas.

Se pelo menos Jimin não tivesse um fraco por caras fofos…

O ar fresco do terraço o fazia bem, Jimin pensava entre uma mordida e outra na maçã adocicada. Ir ali quando nenhuma frase de seu livro fazia sentido e deixar seus olhos, bem como sua mente, descansarem permitia que ele retornasse aos estudos revigorado, decidido a concluir o assunto que o professor havia comentado na aula anterior. Além disso, ficar longe o ar-condicionado por alguns minutos era bem-vindo.

O que não era bem-vindo era ter seu pequeno momento de descanso sendo interrompido, com seu santuário sendo ocupado por mais alguém.

Congelou no lugar quando ouviu a porta bater ruidosamente atrás de si e piscou algumas vezes antes de se virar, o suficiente para olhar por cima do ombro e notar que, parado perto da entrada, o dono daqueles olhos castanhos sonolentos o encarava com uma expressão neutra.

“Não sabia que tinha alguém aqui”, ele comentou, colocando uma das mãos no bolso da calça. Apesar de não estar realmente feliz de ver alguém em um lugar que ele esperava estar vazio a fim de se isolar, ao que parecia, o outro não dava quaisquer sinais de que estava aborrecido pela companhia, tampouco parecia inclinado a ir embora, algo pelo qual Jimin agradecia, sequer ousando pensar sobre as possibilidades.

“É um bom lugar pra se esconder se você não quer ser pego”, Jimin respondeu, sem saber como ele podia estar falando tão naturalmente quando tinha os olhos dele sobre si.

“Eu que o diga…”, o outro riu e então, colocando a mão livre no bolso do moletom que vestia, perguntou: “Você tem fogo?”

A pergunta, estranha e completamente fora de contexto, pegou Jimin de surpresa.

“Fogo?”

“Um isqueiro ou algo que dê pra acender um cigarro”, respondeu, segurando, com o indicador e o polegar, um cigarro, inconfundível mesmo à distância em que estavam.

“Não, desculpe”, pediu, mesmo que não tivesse por que se desculpar – era uma força do hábito, afinal.

“Tudo bem, eu estou tentando parar”, o outro falou em um tom gentil e deu de ombros, tudo isso de um jeito que fez Jimin sentir vontade de sorrir – e de se apaixonar por ele mais e mais.

 

 

 

Conversar com Min Yoongi foi a melhor coisa a acontecer com Jimin em dias. Talvez não fosse exagero dizer a melhor coisa em meses também. Desde o primeiro dia no terraço da biblioteca, quando, em vez de ir embora sem o cigarro aceso, Yoongi ficou por perto, fazendo-o se sentir nervoso, a conversa entre eles soava natural.

Certo que Jimin precisou de todo o nervosismo que sentia para iniciar uma conversa baseada em comentários aleatórios e pouco coerentes que conseguiram arrancar algumas risadas abafadas de Yoongi, que aos poucos foi se permitindo ficar, cada vez mais perto de Jimin, até que eles estivessem sentados lado a lado, comentando sobre o sistema de localização de livros e sobre como ele não era prático.

“Só causa confusão”, Jimin reclamou e viu Yoongi concordar sem hesitar, mesmo que tivesse confessado segundos depois que conseguira entender depois de anos estudando naquele lugar.

Ele gesticulava com o cigarro que carregava consigo, mas não parecia sentir vontade de colocá-lo na boca, o que Jimin considerou como algo bom. Se ele se distraísse o suficiente para esquecer o vício, talvez considerasse a ideia de voltar mais vezes e ficar ali a papear. Yoongi ainda o provocou sobre contrabandear comida para a biblioteca, e Jimin se viu rindo, deixando que o nervosismo fosse embora aos poucos.

Não houve nenhuma promessa sobre voltarem a se encontrar ali nos dias seguintes, mas Jimin cultivara esperanças mesmo assim. Yoongi apareceu na tarde seguinte com um cigarro entre os lábios, tateando o bolso do moletom e da calça só para perceber que não tinha trazido consigo o isqueiro – que, ao que parecia aos olhos de Jimin, era esquecido para que ele não caísse em tentação.

Ao notá-lo sentado no mesmo lugar do dia anterior, no chão perto do parapeito, com as costas apoiadas na construção de concreto que cercava o local, Yoongi abriu os olhos em espanto, e Jimin sorriu, acenando com a mão que segurava a maçã mordida. Não demorou para que o outro guardasse o cigarro não utilizado no bolso e andasse até ele.

“Vejo que conseguiu passar pela segurança hoje de novo”, ele brincou, sentando-se ao seu lado, deixando que a cabeça descansasse sobre o concreto às suas costas.

“Eu sou um profissional”, rebateu, assumindo um ar de importância e orgulho exagerado, só porque ele queria testar a sorte e tentar fazer Yoongi rir.

“Se acreditar nisso te faz sentir melhor…”, Yoongi comentou, mas tinha um sorriso no rosto que era bom o suficiente para Jimin.

“Hyung!!”, chamou de modo a repreendê-lo pela reação pouco impressionada, mas percebeu que talvez tivesse passado um pouco dos limites ao tratá-lo daquela forma. Eles não eram tão próximos assim e talvez Yoongi preferisse ser tratado como o sênior que era. O pedido de desculpas estava preparado em sua língua, pronto para deixar sua boca quando as funções normais de seu corpo voltassem a funcionar corretamente, mas não foi preciso se desculpar. Yoongi, notando sua vergonha, dispensou-o de todas as formalidades com um aceno displicente de mão.

“Não precisa se preocupar, eu não sou tão apegado às formalidades e à idade assim”, disse, logo partindo para outros assuntos a fim de deixar o momento para trás. A princípio, Jimin não se sentia tão animado quanto antes, mortificando-se pela situação em que se colocara, mas a cada vez que Yoongi abria a boca para falar com aquela voz rouca ou mesmo quando ele dava um dos sorrisinhos misteriosos e sem qualquer motivo aparente, Jimin se esquecia cada vez do motivo por que ficara tão chateado consigo.

Desconfiava que Yoongi não era muito de falar, visto que ele passava mais tempo ouvindo Jimin tagarelar que realmente se expressando com palavras. Não significava que ele não podia botar para fora o que pensava e sentia através de pequenas alterações em sua expressão facial, e era difícil dizer o que cada uma delas significava logo naqueles primeiros encontros, mas Jimin se percebia cada vez mais enamorado da forma como as sobrancelhas se uniam e subiam, os olhos abrindo em espanto e por vezes sorrindo, o nariz movendo de um lado a outro ou franzido, e a boca curvando-se para cima, para baixo, pendendo entreaberta ou mesmo formando uma linha bem fina.

Ah, a boca de Yoongi era uma de suas coisas preferidas nele. Tinha uma cor vívida e um formato engraçado que fazia Jimin se desconcentrar por alguns segundos. Perguntava-se como seria beijá-lo, mas nunca deixava o pensamento ganhar asas em sua mente ou iria conseguir parecer ainda mais estranho do que ele com certeza já parecia.

“O sol está quase se pondo”, Yoongi comentou ao olhar para o alto e ver as cores características do pôr-do-sol no horizonte – o rosa, o laranja, o amarelo e o púrpura formavam uma pintura delicada nas nuvens que passavam por cima deles naquele instante, contudo, ele não tinha tempo para apreciar as cores.

Tinha um questionário para terminar para a aula do dia seguinte.

“Como o tempo passou tão rápido?!”, Jimin balbuciou enquanto se levantava apressadamente. O miolo da maçã havia escurecido em suas mãos e ele ainda precisava se livrar daquela prova de seu crime.

“Você vai estar por aqui amanhã também?”, ouviu Yoongi questionar enquanto também se levantava, mas, ao contrário de Jimin, com bastante calma. A pergunta fez o mais novo ficar imóvel como uma estátua, tentando afastar a urgência a fim de pensar com clareza.

“Eu preciso de um lugar pra me esconder enquanto desfruto do meu contrabando”, respondeu, sem saber exatamente se a pergunta significava que Yoongi gostava de sua companhia também, mas esperava do fundo do coração que a resposta fosse um grande e sonoro sim.

“Você parece alguém que está prestes a ficar com uma nota baixa em alguma disciplina, acertei?”, Yoongi comentou com um sorriso divertido, e Jimin nem se preocupou em rebater de verdade, saindo a passos apressados e soltando um grunhido de frustração. Levantou uma das mãos sobre o ombro em uma despedida apressada, mas não voltou a olhar para trás. Sabia que ele o compreenderia.

Às suas costas, tinha certeza de que Yoongi estava sorrindo com um olhar gentil, e talvez aquela fosse a única resposta de que Jimin realmente precisava.

 

 

 

Jimin sempre se preocupou com a aparência, tomando o cuidado de sair de casa com as roupas limpas e engomadas, o cabelo lavado e penteado, a pele bem cuidada. Por isso não era nada estranho que ele demorasse o olhar sobre as portas e as janelas de vidro em busca de um vislumbre de seu reflexo e da certeza de que nenhum fio de cabelo estava fora de lugar. Posteriormente, ele iria agradecer pelo costume cultivado através de sua vida, porque quando ele menos esperava, uma das cadeiras vagas da mesa em que costumava estudar foi puxada silenciosamente, distraindo-o do livro que estava lendo.

“Posso me sentar aqui?”, reconheceu a voz familiar que perguntava de imediato e levantou a cabeça para confirmar que era Yoongi ali, pedindo para lhe fazer companhia.

“Claro que sim”, respondeu mantendo o tom de voz baixo para não ser pego por uma das funcionárias da biblioteca ou por algum estudante mais problemático.

Yoongi sentou-se com cuidado, retirando o material da mochila e fazendo o mínimo de barulho. Ele sempre havia parecido a Jimin o tipo de estudante concentrado e silencioso, porém suspeitava de que teria dificuldades em não se distrair. Já era difícil quando eles estavam a vários metros de distância, separados por inúmeras mesas, quando Jimin o achava apenas fofo e quente ao mesmo tempo. Agora que ele o conhecia e que sua paixonite estava ainda pior, tinha certeza de que acabaria perdendo todo o ponto de estar ali – e as datas das provas se aproximavam como um trem bala, pronto para atropelá-lo.

Para sua sorte, no entanto, não havia muito o que ser feito quando a ausência de barulhos era opressora. Não havia como permanecer no ambiente da biblioteca sem se sentir pressionado a estudar, ou pelo menos era assim que Jimin se sentia. De modo que aos poucos, ele se viu esquecendo que Yoongi estava por perto para distrai-lo. Usar fones de ouvido ajudavam bastante, e, se ele se esforçasse o suficiente, talvez até conseguisse alguns pontos com o crush.

Mas seu sossego estava com os minutos – ou horas, pelo que Jimin percebeu depois – contados. Foi pego de surpresa por um ser vivo não identificado subindo por sua perna, por baixo da calça que usava, que não era tão apertada em seu corpo naquele dia. Levantou a cabeça de uma vez devido ao susto e deu de cara com Yoongi sorrindo de sua reação. Só então Jimin se concentrou o suficiente no que acontecia debaixo da mesa para notar que eram os pés de sua companhia, ainda cobertos pelas meias, que encontravam abrigo em suas canelas, não completamente cobertos pela calça jeans, embora isso não parecesse incomodá-lo.

“Meus pés estão frios”, Yoongi murmurou, e Jimin precisou se utilizar de suas enferrujadas habilidades em leitura labial para compreendê-lo.

“Você podia esquentar eles sozinho”, murmurou de volta e viu os ombros de Yoongi balançando para cima e para baixo. O miserável estava rindo.

“Nah, compartilhar calor humano é a melhor forma de esquentar”, ele rebateu com uma cara de pau de dar inveja a Jimin, que respirou fundo e piscou algumas vezes, incrédulo. O sentimento só se tornou mais forte ao notar que Yoongi estava fazendo um biquinho deveras adorável com os lábios, que o fez sentir seu coração se remexendo em seu peito desconfortavelmente.

Ele não sabia o que havia feito para ser testado daquela forma, tampouco sabia dizer se estava gostando ou não do passo dado, do significado daquele ato de invasão de espaço pessoal, mas sabia que não podia vencer contra a cereja no topo do bolo.

“Você não vai negar isso a seu hyung, vai?”, adicionou.

Jimin se lembrava perfeitamente de ouvir Yoongi dizer, em uma das muitas conversas que tiveram no terraço, que era incapaz de agir de maneira fofa para conseguir algo. “Não pode ser verdade”, ele rebatera, quase confessando que achava Yoongi bem fofo quando achava que ninguém estava olhando. “Todo mundo deve ter um lado fofo escondido, de que outro modo as pessoas conseguiriam se safar?”, indagou, mesmo sabendo que não era parâmetro, mas Yoongi não precisava saber que, apesar de algumas pessoas o acharem fofo, a realidade era bem diferente.

Naquele momento, Jimin estava ao mesmo tempo feliz e frustrado por estar certo e por ter permitido que Yoongi tivesse o benefício da dúvida. Porque Yoongi estava sendo completamente encantador, e ele não tinha a menor ideia de como conseguiria resistir.

“Bom garoto”, Yoongi sussurrou quando notou os sinais de resignação em seu corpo – o relaxamento dos ombros deveria tê-lo denunciado –, dando a Jimin a certeza de que havia revelado seu ponto fraco e que Yoongi se utilizaria dele sem dó.

E estava certo.

Jimin voltou a compartilhar a mesa com Yoongi, que sempre o tirava de seus estudos por motivos bobos. Ele pegava suas canetas emprestadas, mandava bilhetes aleatórios e chegou até mesmo a tomar um de seus cadernos para rabiscá-lo, proibindo Jimin de ver o que havia escrito ali enquanto estivessem na biblioteca.

“Olhe só quando chegar em casa”, Yoongi aconselhou, despertando a desconfiança e a curiosidade de Jimin, que, apesar da vontade de abrir o caderno e procurar a página riscada, preferiu seguir o conselho que lhe fora dado.

Só esperava que não fosse nenhum comentário constrangedor que não podia ser visto em público.

Ao voltar para o dormitório, Jimin já havia esquecido completamente do caderno e do acontecido, preocupando-se em viver um pouco e determinado a esquecer os assuntos da faculdade por algumas horas. Só voltou a lembrar quando retirou o caderno na sala de aula, no dia seguinte. Apesar de ainda duvidar do conteúdo ali deixado, ele deixou a aânsia vencer a hesitação – caso contrário, acabaria esquecendo novamente.

Achou uma letra apressada e leve, diferente da sua letra cuidadosa e forte, numa página em branco perto do fim. Ocupando o topo da página, de cabeça para baixo, estava uma sequência de números a qual Jimin encarou por longos segundos enquanto tentava aceitar que era real. Yoongi havia deixado o número do celular escrito em seu caderno.

Sentiu a pele esquentar, mas o sorriso que se formou em seu rosto ia de orelha a orelha e não desapareceu durante todo o dia. Embora não soubesse o que fazer com tal informação, especialmente quando encontrasse Yoongi mais tarde naquele dia, Jimin não conseguia impedir que uma pequena semente de esperança fosse plantada em seu peito.

 

 

 

“Como anda toda a coisa de parar de fumar?”

Passavam bastante tempo em companhia do outro na área de estudos, trocando olhares, bilhetes e comentários sussurrados, porém era no terraço que sempre voltavam, seja para ficarem em silêncio por longos segundos, seja para comentarem sobre o que lhes passava pela cabeça – Jimin sendo o responsável pela maior parte das frases pronunciadas entre eles.

Por um instante, Yoongi parecia um pouco perdido com a pergunta, como se não soubesse do que Jimin estava falando, mas em um estalo de compreensão ele voltou a parecer mais consciente.

“Eu tô indo bem”, ele respondeu, sem elaborar uma explicação para o que considerava “bem”.

“Não sente mais vontade de um trago?”, insistiu, só porque sabia que a conversa morreria ali se ele não continuasse perguntando.

“Às vezes”, Yoongi concedeu depois de pensar por um tempo, o lapso de memória ainda fresco na mente de Jimin como um sinal de que algo estava fora de lugar, mesmo que ele não soubesse dizer o quê. “É como se minha boca sentisse falta de algo”, adicionou, e como por instinto, Jimin deixou seu olhar recair sobre a boca alheia, notando como os lábios dele pareciam um pouco ressecados.

Não seria a primeira vez a sentir vontade de beijar Yoongi a ponto de começar a salivar pela ideia de poder provar daquela boca bonita que Jimin adorava ficar encarando. Havia agradecido aos céus por muitas noites seguidas o fato de que Yoongi havia escolhido se sentar com ele na biblioteca – quando o outro estava preguiçoso demais para escrever em um papel o que queria dizer, Jimin não tinha outra alternativa a não ser fazer leitura labial, uma tortura.

Mas também uma benção.

Naquele final de tarde no terraço, no entanto, não havia qualquer desculpa para o fato de que seus olhos ali se focaram de modo permanente, tampouco havia explicação, além da verdade, para o fato de que Jimin havia esquecido o que era articular uma frase coerente a fim de manter uma conversa fluindo.

Se lhe fosse dada a chance, aquela boca não sentiria falta de nada, porque seus lábios estariam grudados nela o tempo todo.

"Seria inapropriado perguntar–", começou, mas a continuação da pergunta se perdeu em meio ao olhar curioso de Yoongi. "C-como você começou a fumar?", complementou com a primeira coisa que lhe veio à cabeça, vendo o outro franzir o cenho.

"Por que seria inapropriado?", o outro rebateu, mas não esperou por uma resposta antes de contar sobre como estava estressado na época e tinha uma tendência a se autodestruir sem ter realmente coragem de tirar a própria vida. "O usual", ele adicionou depois de um tempo, como se não fosse grande coisa.

Jimin estava feliz por Yoongi estar se abrindo e não ter vergonha de quem ele havia sido – afinal, foi através das experiências que viveu no passado que ele veio a se transformar na pessoa que era. Mas por outro era meio triste ter conhecimento sobre aquele lado de Yoongi, ainda que desconfiasse que as pessoas não estavam livres de serem vulneráveis, não importava o quão quente e duronas elas parecessem.

"E essa cara?", Yoongi indagou com um tom de provocação, e só então Jimin percebeu que estava com uma careta de tristeza que se aproximava bastante de uma expressão de choro.

"É a minha cara", resmungou, aproveitando o momento para relaxar os músculos de seu rosto. Fez um bico com os lábios e olhou para Yoongi como uma criança que faz birra.

"Não faça isso, por favor", Yoongi rebateu, mas, apesar do pedido, ele estava rindo. "É sério, é uma parte triste do meu passado, mas não é pra tanto, eu era um idiota", ele continuava sorrindo e até tocou o rosto de Jimin a fim de virá-lo em outra direção.

"E não é mais?", Jimin questionou somente para provocá-lo, retornando o rosto para a posição inicial, e Yoongi olhou respirou fundo, olhando para os próprios pés por alguns segundos antes de finalmente responder.

"Acho que eu ainda sou, sim. Ainda deixo umas boas oportunidades passarem por estar preocupado demais com as possibilidades e consequências", ao dizer a última parte, ele olhou para Jimin, que congelou no lugar, assustado com a intensidade do olhar e com a seriedade de suas feições.

"Acho que todo mundo... Todo mundo é assim", comentou, afastando seus receios para o fundo de sua mente. "Pelo menos você parou de fumar, além de fazer mal pra saúde, deixa um fedor horrível na pessoa", desconversou. Era melhor que retornassem a assuntos que fossem mais seguros, que não permitissem a Jimin questionar se ele também não deveria se arrepender pelas oportunidades perdidas.

"Tem razão", Yoongi concordou com um daqueles sorrisinhos misteriosos que ele soltava de vez em quando e que se tornavam cada vez menos frequentes, mas não deixavam de intrigar Jimin mesmo assim.

Mais tarde, quando voltaram para a área de estudo e Jimin acabou adormecendo por estar cansado demais devido à rotina que levava, algo suave e delicado em seus cabelos o acordou. Ele sempre havia gostado da mão de Yoongi, de dedos longos e nodosos, mas nunca havia imaginado que iria acabar sentindo uma delas a brincar com seus cabelos. Não queria revelar que estava acordado quando o que sentia era bom o suficiente para fazê-lo dormir novamente, então resolveu que não faria diferença alguma.

Ele se perguntou, contudo, se era uma das coisas que Yoongi revelara querer fazer, se ele estava se permitindo não perder uma oportunidade daquela vez. Acreditar que sim era mais doce que a resposta mais provável, e Jimin costumava ter dificuldades em recusar os poucos doces que tinha a oportunidade de provar.

 

 

 

Eles foram descobertos logo após o fim das provas, mas Jimin não teve tempo de processar o que estava acontecendo. Em um minuto ele estava distraído com Yoongi – Min Yoongi, de todas as pessoas do mundo – e no seguinte ele estava sendo empurrado enquanto Yoongi dizia “corre” com uma insistência alarmante. “Rápido”, ele insistiu, e Jimin não viu outra escolha a não ser correr.

Desceram por uma segunda escada em uam velocidade perigosa. A todo instante, Jimin torcia para não quebrar o pé ou, pior, quebrar a cara em uma queda naqueles degraus. Yoongi, à sua frente, era bastante ágil e temerário para alguém que costumava se mover como se estivesse submerso, com uma suavidade que beirava à delicadeza. Por não saber exatamente o que estava acontecendo, Jimin desconhecia escolha que não fosse segui-lo e, apesar do medo, viu-se apreciando a corrida, a adrenalina que corria por suas veias.

Quis parar para respirar ao chegar ao final das escadas, mas Yoongi não lhe deu trégua. “Nós vamos ser pegos”, ele alertou, segurando o pulso de Jimin firmemente e o arrastando consigo até que o ritmo fosse restabelecido.

Só pararam quando estavam longe do prédio, longe de quem quer que os estivesse perseguindo – se é que estavam realmente sendo perseguidos. Porque Jimin não ouvira nada nem ninguém se aproximar, nada além das batidas de seu coração e do barulho que o impacto dos tênis contra o chão produzia.

Enquanto se curvava, com as mãos apoiadas nos joelhos, a fim de regularizar a respiração Yoongi começou a rir, para surpresa e confusão de Jimin.

“O que é tão engraçado?”, questionou em meio à sua própria tentativa de se recuperar daquela corrida maluca de que participara sem que tivesse a chance de concordar com ela.

“Nada”, Yoongi respondeu, logo complementando: “Eu só não pensei que acabaria suado e sem ar quando resolvi que era uma boa ideia frequentar a biblioteca do campus”.

Era uma resposta razoável, Jimin reconhecia, mas não significava que ele compartilhava do mesmo pensamento…

Contudo, precisava admitir, não era uma ideia tão sem graça quanto ele achou a princípio por não achar divertido estar a ponto de passar mal depois do esforço físico repentino, e ouvir Yoongi rindo tinha algo de contagiante. Só por isso ele ouviu o som da própria risada deixando sua garganta, complementando o som da risada do mais velho.

“Mas o que aconteceu lá atrás?”, Jimin questionou quando os dois, já recuperados, começaram a andar a passos lentos e sem rumo pela área onde estavam – cheia de árvores e bancos em que os alunos podiam socializar. Não ficava muito longe da biblioteca, mas havia uma boa caminhada os separando do prédio.

“Nosso esconderijo foi descoberto”, Yoongi explicou. Olhava para frente e escondia as mãos no bolso do moletom que vestia. Ele parecia prestes a ser engolido pela peça e tinha uma coloração rosada peculiar no rosto devido ao esforço de sair em disparada em uma fuga, e Jimin reconhecia que havia um lado positivo em tudo o que acontecera.

“Então agora somos fugitivos?”, indagou em tom de troça, relembrando como ele havia se transformado em um contrabandista de comida no passado – coisa que ele ainda fazia, mas em maior quantidade, na esperança de que Yoongi se juntasse a ele. No entanto, Yoongi sempre torcia o nariz e recusava suas frutas. “Não vou ser seu cúmplice”, ele dizia, só para ver Jimin encará-lo com um olhar pouco impressionado. “Só o fato de você não me denunciar já te transforma em um cúmplice”.

“Vamos ser mais procurados que Bonnie e Clyde”, Yoongi respondeu com o mesmo tom utilizado por Jimin, o qual queria acreditar que a referência à famosa dupla de criminosos pudesse significar algo mais, mas, apesar de alimentar esperanças lá no fundo de seu peito, acreditava mais seguramente na crueldade de Yoongi.

“Só aceito se a nossa história for contada por um produtor de sucesso”, replicou, optando por fazer birra em vez de acabar revelando mais do que gostaria.

“A gente… Pode ver isso”, prometeu. “Podia até ter um final mais…”, adicionou, deixando a frase suspensa no ar, como se buscasse as palavras que melhor descreviam o que queria dizer. Jimin esperou que ele concluísse a linha de raciocínio, mas, quanto mais o silêncio se prolongava, menores eram as chances de que soubesse o que o outro tinha em mente.

“Depois de me fazer correr como se minha vida dependesse disso, você devia me pagar uma bebida”, arriscou, sentindo-se destemido de repente. Era uma proposta inocente, ainda como parte de sua birra, mas não se importaria se fosse interpretado de modo diferente.

“Não está um pouco cedo pra isso?”, Yoongi rebateu, e o cérebro de Jimin fez o favor de pular para as conclusões mais (des)favoráveis ao momento e aos seus sentimentos, os quais só haviam se intensificado a cada dia que passavam juntos na biblioteca.

“Isso o quê?”, questionou, confuso.

“Álcool a essa hora não vai te fazer bem”, respondeu, fazendo Jimin parar de andar e encará-lo, incrédulo. Aos poucos, a fachada de seriedade de Yoongi deu lugar a um sorriso enorme, ladino, e Jimin sentia vontade de bater naquele rosto atrevido – e depois dar uns beijinhos, mas descontar a frustração era uma prioridade.

“Por que eu ainda ando com você?!”, resmungou, dando meia volta e dirigindo-se à biblioteca novamente. Se não iriam a lugar algum, pelo menos que voltassem para o lugar onde deveriam estar e talvez de onde não devessem ter saído.

“Meu charme?”, ouviu Yoongi replicar atrás de si. Pelo que pôde ouvir, Jimin imaginava que ele o estava seguindo, mantendo uma distância segura ainda que não ficasse para trás.

“Sonhar é de graça”, fungou, mesmo sabendo ser parcialmente verdade. “Pelo menos você podia achar um livro pra mim”, virou o rosto para falar por sobre o ombro, para que ele o ouvisse sem problemas.

“Por você, qualquer coisa”, ofereceu como resposta. Se Yoongi tivesse mandando aquela afirmação por mensagem de texto em um momento durante o qual Jimin estivesse sozinho, o mais novo teria choramingado. Yoongi não lhe dava nenhuma paz – parecia até que ele estava brincando com seus sentimentos quando provavelmente era apenas uma brincadeira decorrente da amizade que mantinham. Como estavam em público, Jimin revirou os olhos e retirou do bolso da calça um papel amassado contendo um título e um número.

“Vamos ver se você é bom mesmo com o sistema de organização da biblioteca, hyung...”

 

 

 

Jimin sabia onde o livro estava – se não soubesse, certamente não estaria tão determinado em seu intento. No entanto Yoongi não precisava daquela informação. Só assim para que o mais novo fosse capaz de obter a resposta de que precisava sem precisar se expor. Confessar sentimentos deveria estar no topo da lista de coisas mais difíceis de serem feitas, e ele não era tão destemido quanto fazia parecer às vezes.

E que atirassem pedras os que nunca tiveram medo, não é mesmo?

Yoongi observava cada prateleira em busca da sequência de letras e números vencedora, tão atento a cada livro que Jimin começava a se sentir nervoso com o que precisava fazer – servia de consolo o fato de que a parte mais difícil era colocar todos os elementos nos lugares certos, depois disso, só dependeria de Yoongi e das palavras que iriam sair de sua boca.

Atento a cada estante pela qual passavam, Jimin seguia Yoongi fingindo uma paciência que não sentia. Não reconhecia os livros das sessões que ficavam por perto do livro escolhido por si – um dos títulos indicados por uma das professoras para a prova do final do semestre anterior de uma disciplina que ele já nem cursava mais –, porém suspeitava de que estivessem cada vez mais perto.

Quando afinal chegaram ao destino final, Jimin andou a passos despreocupados até que suas costas cobrissem o local onde o livro estava e esperou enquanto observava Yoongi olhando cada prateleira para conferir se estava indo na direção certa.

“S1360… S1470… S1690i…”, Jimin conseguia ouvi-lo balbuciar. A atenção dele estava completamente focada na busca, os olhos não paravam por muito tempo sobre a lombada dos livros, sequer percebia que estava perto, mais e mais perto até que–

Jimin prendeu a respiração quando notou Yoongi paralisado ao seu lado, com as costas curvadas, o rosto enfiado na estante, impedindo o mais novo de ver que expressão tinha no rosto ao chegar àquele ponto.

“Eu deveria achar engraçado que você esteja exatamente onde o livro deveria estar?”

“Estou?”, Jimin perguntou fingindo inocência e umedeceu os lábios, nervoso.

“Está”, Yoongi respondeu com um sorrisinho cínico no rosto, ajeitando a coluna de modo que eles ficassem cara a cara afinal. “Você não está procurando pelo livro, não é?”, indagou, olhando ao redor e notando que eles estavam bem ao fundo da biblioteca, em uma sessão pouco frequentada, especialmente depois que as provas haviam passado.

“Eu posso sair da frente e deixar você pegar o livro pra mim...”, desconversou, embora tivesse esperanças de que ele não fosse mandá-lo sair de onde estava.

“Eu parei de fumar há três anos”, Yoongi disse em vez de responder à sua pergunta, e algumas peças começaram a finalmente se encaixar. Em vez de se afastar ou de permanecer onde estava, ele deu um passo pequeno para frente, apoiando o braço sobre a prateleira que ficava à altura da cabeça de Jimin. “Carrego o cigarro como souvenir…”, continuou, aproximando o rosto do seu, fazendo sua respiração ficar presa na garganta enquanto seu coração batia acelerado no peito. “E pra me aproximar de caras fofos que contrabandeiam comida para o terraço.”

“Isso é ótimo”, murmurou apesar de se sentir um idiota – não que ele pudesse ter feito diferente com a confusão de pensamentos e de sentimentos que experimentava naquele instante. Só depois iria perceber que isso poderia se referir a qualquer afirmação de Yoongi. “Você nem pode falar nada de mim”, adicionou, feliz por não ser o único a usar de desculpas para conseguir o que queria.

Yoongi lhe beijou o canto dos lábios antes que Jimin pudesse compreender o que estava acontecendo e se afastou antes que ele pudesse aproveitar a sensação de ter os lábios alheios pressionados contra os seus. Ele iria provocá-lo até quando tudo se encaminhava para um desfecho bom para os dois?!

Não era um problema para Jimin, que puxou Yoongi para si até que o corpo dele estivesse colado ao seu e o beijou de volta, mas daquela vez agiu sem reservas, ávido para desfazer o sorriso que ele tinha no rosto e deixá-lo tão sem ar quanto ele mesmo estava.

“Você ainda quer aquela bebida?”, Yoongi ofegou, e Jimin acompanhou o movimento da boca dele com deleite, orgulhoso por ver os lábios vermelhos e inchados, registrando o convite no fundo de sua mente sob a etiqueta de “Importante”, logo depois dos pensamentos sobre continuar beijando o outro até cansar.

Notando a intensidade de seu olhar, Yoongi mordeu o lábio inferior em uma tentativa frustrada de esconder que estava se divertindo cada vez mais com as reações de Jimin, mas foi em vão.

“E então?”, ele insistiu.

“Depois– quando a gente for pego e tiver que sair correndo daqui.”

“Não sabia que você era um pervertido”, Yoongi soltou e riu, mas não se opôs à ideia.

Tampouco foi preciso que eles fossem flagrados aos beijos em meio aos livros poeirentos da faculdade para que saíssem dali trocando olhares cúmplices, com a promessa de que o que havia acontecido ainda voltaria a se repetir – na biblioteca ou fora dela.

 

 

 


Notas Finais


Obrigada por ler <3


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