Acordei e o Paul ainda dormia. Desci preparei o café da manhã e já estava arrumando a mesa quando ele finalmente desceu
- Bom dia – falei
- Bom dia – ele disse se espreguiçando – O bolo dessa vez está bom?
- Se não quiser não come – respondi
- Eu to brincando – ele disse me abraçando por trás.
Me virei para abraçar ele também
- Ainda bem, se não ia te obrigar a comer mesmo assim
Ele riu
- Depois quer dar uma volta?
- Se for pra me levar em um lugar que eu ainda não conheço...
- É claro que eu vou te levar a um lugar que você ainda não conhece
- Então eu topo
Depois do café me arrumei para ir a esse tal lugar com o Paul, e ele foi para a casa se arrumar também
Alguns minutos depois ele estava me esperando do lado de fora com uma bicicleta
- bicicleta? - falei
- Nunca andou?
- Andei, claro... mas eu estou de vestido
-Ah, deixa de ser boba e vem logo
Tentei ignorar o fato de não me sentir muito bem naquela bicicleta até chegarmos a um enorme gramado
Havia algumas pessoas por lá, crianças brincando, cachorros correndo um atrás do outro e adultos sentados lendo um livro, conversando ou até mesmo dormindo.
- Uau, que lugar é esse?
- Chavasse Park
- É lindo...
- Eu sei
Paul me levou até uma grande árvore que havia no parque e nos sentamos debaixo dela
- Sabe, eu estou pensando em trabalhar com o Mr. Lewis
- É mesmo? Ele é bem legal...
- sim, ele disse que estava precisando de ajuda na biblioteca e eu gosto de ler, seria uma ótima maneira de não precisar pagar pelos livros
- E fica perto da escola, a gente pode...
- Oi Paul
Olhei para cima e pude ver uma garota sorrindo. Cabelos pretos, olhos claros e vestido vermelho
-Ah... oi Rebecca
- Não sabia que estaria aqui
- Eu também não
Ele se levantou e me deu a mão para me levantar também
- Nossa quanto tempo sem te ver, desde aquela noite em que você disse que iria viajar para a casa da sua tia – a garota se aproximou e o abraçou – senti saudades
Paul parecia um pouco sem jeito
- E quem é essa? – A garota falou com Paul se referindo a mim
Ela já tinha dito e feito o suficiente para que eu não gostasse dela
- É... é a Anna, ela é... bem... ela é minha amiga
Olhei para ele... amiga??
- Ah, então está tudo bem, eu só queria te dizer que eu aceito o convite para ir à sua casa... sabe, passar um tempo juntos – enquanto ela falava deslizava seus dedos pela camisa do Paul
- Ah... quer dizer ... tudo bem – ele estava vermelho
Eu também, porém era de raiva
- Tudo bem? – falei
- Incomodada queridinha? – a tal Rebecca disse com sarcasmo
- Cala a boca garota que eu não falei com você
- Nossa que grossa, dá pra ver que não é daqui
Tentei ignorá-la e me virei para o Paul
- Porque não a leva para a sua casa agora mesmo? Não quero ser um incomodo
- Ah ainda bem, seria horrível ter você por perto – a garota se intrometeu
Eu já estava me controlando mais do que achei que fosse capaz, minha vontade era arrancar os fios do cabelo dela um por um.
Mas por outro lado sabia que não tinha nem ao menos o direito de sentir ciúmes do Paul, ele não era nada meu. Ontem a noite pode não ter significado nada para ele, e eu sabia disso, sabia da fama que ele tinha.
Mas significou bastante para mim, eu não era santa mas nunca me entregaria tão facilmente para um cara se não soubesse quem ele era ou sem a certeza do que sentia por ele.
- Não Anna, olha, eu e a Rebecca, nós...
- Somos namorados – A garota se apoiou no ombro dele
- Nós não somos namorados – ele retirou a braço dela do seu ombro – Nós só...
Ela o agarrou com toda a força e o beijou. O pior de tudo foi ver que ele nem sequer se afastou dela, quando terminou de beijá-lo falou normalmente
- Estávamos saindo... Paul e eu já fomos namorados e algumas semanas atrás voltamos a sair juntos de novo – ela deu um riso debochado – Você não pensou que ele estivesse realmente afim de você não é? Querida, eu sou a garota mais popular de Liverpool, você não chegaria aos meus pés. E aliás, o Paul trás todas as garotinhas com quem ele quer dormir ao Chavasse, você é só... – ela me olhou de cima a baixo – mais uma.
- Ninguém fala assim comigo sua... - Agarrei em seus cabelos totalmente fora de mim, nunca estive com tanta raiva de alguém na minha vida como eu estava dela agora.
Ela também agarrou os meus e eu fazia de tudo para solta-los, uma das formas de defesa que eu sabia usar eram as minhas unhas que eu sempre deixava grandes e pontudas, simplesmente por eu gostar delas assim.
As finquei com toda a força que podia nos braços dela a fazendo gritar e puxar ainda mais meus cabelos. Ela conseguiu me derrubar e nós duas caímos, tentei passar para cima dela o mais rápido que pude e cheguei a dar um tapa em seu rosto e ela revidou.
Eu não desviava a minha atenção mas pude perceber que várias pessoas nos olhavam e Paul estava completamente sem saber o que fazer.
Por fim ele conseguiu com a ajuda de um cara nos separar e enquanto o outro garoto a segurava, ele me ajudou a levantar.
- Vocês ficaram loucas? – ouvi o garoto falar
- Foi essa daí quem começou – Rebecca me olhou com ódio enquanto arrumava o cabelo despenteado
Olhei para o Paul, isso já havia sido o suficiente para hoje
- Eu vou embora – falei
- Espera Anna, eu te levo – ele segurou no meu braço
- Não quero que você me leve – falei seca e me soltando dele
Comecei a andar
- É sério Anna, eu quero falar com você
- Vai falar com a sua namorada, eu não quero falar com você Paul
- Pelo menos posso passar na sua casa mais tarde?
- Não! – disse dando as costas para ele e indo embora do parque
Andei pelas ruas de Liverpool com a pouca orientação que eu tinha. Meus pés já estavam doendo e o tempo havia mudado
Estava passando pela Mather Ave, a rua já estava vazia e por causa do tempo a maioria das pessoas estavam em suas casas
Eu segurava minhas lágrimas o máximo que podia, talvez Rebecca tivesse razão. Eu mal havia chegado na cidade e já tinha me apaixonado pelo Paul. Me entreguei a ele acreditando cegamente naquelas palavras mesmo já sabendo da fama que ele tinha entre as garotas.
Ele era o Paul McCartney, um dos garotos mais desejados pelas meninas e eu era apenas a Anna, uma garota de 17 anos que veio morar sozinha em Liverpool e que agora estava apaixonada por um cara que já saiu com a maioria das garotas da cidade.
Justo quando achei que as coisas dariam certo...
Eu queria chorar, mas meu orgulho era grande demais para fazer isso no meio da rua, tinha que segurar as lágrimas até em casa e por isso andava o mais rápido que podia.
Passei em frente a uma loja de instrumentos e sem perceber esbarrei em alguém
- Ai!
- Desculpa, foi sem querer – eu disse me virando – George?
- Anna – George sorriu mas o seu sorriso logo se desfez – Você está chorando?
Eu não consegui me segurar mais, o abracei com toda a força que eu ainda tinha e desatei a chorar em seu ombro.
- O que foi? O que aconteceu?
- Não me pergunta nada... só me abraça, por favor
E então começou a chover, a chuva começou fraca e rapidamente se tornou forte e gelada
- Ok, mas vamos pra sua casa então, está chovendo e podemos ficar resfriados. E você também não vai querer que te vejam chorando, vai?
Fiz que não com a cabeça
George me levou até em casa. Quando chegamos peguei uma toalha para ele e uma para mim, eu já estava mais calma e tinha parado de chorar. Ele se sentou no sofá a minha frente
- Está melhor?
- Estou sim, obrigada George
- Não foi nada, mas agora você pode me falar o que aconteceu?
Olhei para baixo, não queria contar aquilo para ninguém, era só mais uma burrada que eu havia cometido
- George, você conhece alguma Rebecca, namorada do Paul?
- Conheço sim, mas na verdade ela e o Paul não estão mais juntos, não que eu saiba. Eles terminaram há bastante tempo, ela é totalmente desequilibrada, eu tenho pena do Paul por ter ficado tanto tempo com aquela garota
- Me fala mais sobre ela...
- Ah, eu não sei muita coisa, só sei que ela é bastante bonita e popular, quando eu entrei para a banda Paul e ela ainda estavam juntos e sempre que eu os via estavam brigando. Ela o usava como se fosse um troféu e parece que o Paul todo enfeitiçado por ter uma garota tão bonita e popular ao lado dele não enxergava isso.
- E ele gostava dela?
- Bastante, até o dia em que ele flagrou ela com um outro cara praticamente seminus atrás de um pub
- Nossa! Que... vaca
- Ele só terminou o namoro porque o John o mostrou o quão idiota ele estava sendo, não era a primeira vez que alguém falava que já a viu se pegando com outro cara, mas ele teve que ver para acreditar
- Imagino como ele deve ter ficado
- Demorou algum tempo para ele se restabelecer e desde então começou a ficar com uma garota diferente a cada noite, não teve mais nenhum relacionamento sério com ninguém.
- E nem pretende ter não é mesmo?
- Não sei... mas por que está me perguntando isso?
- Por nada... eu só... queria saber
- Você não está afim do Paul, está Anna?
- Não sei... quer dizer... não, não estou
Ele levantou do sofá que estava e veio se sentar ao meu lado. Ele me abraçou como se quisesse me proteger de alguma coisa.
- Ainda bem – ele disse
- Por que ainda bem? – olhei nos seus olhos
- Ah... porque... você é uma garota legal, Anna, existem vários caras por aí que dariam tudo para ficar com você
- Também não é assim George
- É sim...
- Ah é? Então me fala pelo menos um
Ele ficou pensativo por alguns segundos e quando eu já ia falar “está vendo, não tem ninguém” ele respondeu
- Eu...
- Você? – me assustei
Ele se aproximou de modo que agora eu já podia sentir sua respiração
- É Anna, eu... – Seus lábios ficavam cada vez mais perto dos meus e seu cheiro era suave e irresistível.
Quase como em um sonho eu abri meus olhos e vi o que estava prestes a fazer
Me levantei de presa e assustava
- George, eu... – eu não sabia o que falar, olhei para ele e ele continuava na mesma posição só que dessa vez olhando para baixo e mordendo os lábios - ... desculpa – falei sem graça
- Não, você não tem que se desculpar
Me sentia um lixo por ter que fazer o George se sentir assim
- Olha eu... eu gosto muito de você, muito mesmo, mas... – o olhei com um olhar suplicando desculpa – você é como um irmão para mim George
Ele me encarou com alguns segundos, se levantou e olhou para baixo
- Eu sei... como um irmão mais novo – ele me encarou novamente
- Desculpa – falei novamente
- Tudo bem, eu... já vou indo
Antes de falar qualquer coisa ele abriu a porta e saiu fechando-a com força
Me sentei no sofá e comecei a chorar, mas dessa vez era pelo George, por toda a confusão que havia se formado na minha cabeça.
“ - Qual o seu favorito?
- George
- Por que?
- Porque sim
- Você o ama mesmo? Seria capaz de fazer qualquer coisa por ele?
- Amo, amo mesmo e sim, eu seria capaz de qualquer coisa para tê-lo comigo”
Acordei dos meus pensamentos quando escutei uma batida na porta
“George deve ter esquecido alguma coisa” pensei
Me levantei e fui abri-la
- Paul? – ele estava com a camisa branca toda rasgada, sangrando em um canto da boca e com um corte na testa
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