História Adágio - Lento e tranquilo

único

lento e tranquilo

Quando Hongjoong desceu do ônibus intermunicipal e a sola desgastada do tênis pisou em terra nova, a ficha finalmente caiu, ele se deu conta que estava numa grande cidade. Seu coração interiorano bateu mais forte, assustado com as luzes, o passar dos carros, os prédios altos e com o pra lá e pra cá de gente como via na tv. A sua história não é uma história nova, assim como sua vida não é singular. Quantos não são como ele, afinal? Quantos não saem do completo nada, buscando um sonho musical numa cidade grande? Por que ele seria especial?

talvez não fosse...

só o especial é importante?

Um rapaz de mullet castanho, blusa doada e calça não estilisticamente rasgada. Sem mudas de roupas, apenas um teclado nas costas e gaita pendurada como se fosse um chaveiro. Com uma audição marcada para daqui a três dias e sem lugar para dormir. Esse era ele, como nenhum outro e como todos os outros, que juntam dinheiro para uma passagem só de ida, escolhendo desbravar o mundo hostil sem saber ao certo se esse mundo sisudo sorriria pra ele

Encarar e seguir forte, apertando firme a bolsa do teclado, cismado. Daquele céu nublado, noturno e nada estrelado, recebeu boas-vindas com chuva, que o fez correr para se abrigar numa loja de conveniência. Era às 23h em ponto e ele sabia que geralmente essas lojas funcionam 24h por dia. Em escala, era um rapaz que não parecia mais velho e nem mais novo que ele, muito bonito, mas cansado. Olheiras não negam. Debruçado sobre o balcão, estudando, e Hongjoong supôs corretamente ser para o vestibular que se aproximava.

Percebendo a entrada de alguém, como se tivesse sido apanhado num ato muito errado, ele rapidamente escondeu o livro e se colocou à disposição. Era um cliente e não o supervisor, ufa! Sua postura arisca relaxou e seus olhos sonolentos pousaram sobre aquele rapaz exótico, que teve sorte em não estar encharcado. “Ele escolheu viver o mundo...” pensou, julgando a escolha alheia, pois achou-a imprudente. Também o esperou fazer alguma compra, mas Hongjoong preferiu sentar numa bancada e retirar do bolso um bloco de notas amassado. Com os cotovelos apoiados na madeira, a mão destra brincava com um lápis entre os dedos longos. O atendente o observava curioso, assim como contava os minutos para bater o ponto. Ninguém merece sair às 00h do trabalho, mas isso sequer é relevante pro mundo. Ele não estava a fim de lutar, tampouco de resistir deslumbrado. Ele apenas queria relaxar os ombros embaixo da água quente.

ele tinha esse direito, certo?

“Ele escolheu viver o mundo, mas eu também não sou de ferro!” O atendente refletiu por um momento e saiu de trás do balcão, indo em direção à prateleira de alimentos. Ele pegou uma marmita comum e se aproximou do estranho, posicionando-a sobre o balcão. — É melhor jantar antes. — sugeriu. — A mente não funciona se estiver de barriga vazia.

— Por que? — Hongjoong olhava o atendente, que tinha um crachá escrito Park Seonghwa. Ele encolheu os ombros, porque não entendia o motivo que o levou a isso. Às vezes a vontade de fazer o diferente vence, quebrando regras muito bem marcadas. Talvez esse fosse um desses desregramentos, mas... quem realmente sabe?

Para Seonghwa, era estranho pensar que agora, o seu coração estava acelerado de felicidade, porque dentro de algumas horas, assistiria do camarote o primeiro show do namorado. Era um local pequeno ainda comparado a um palco tão grande que são as ruas, mas significativo. Ele chegou a algum lugar, não se tem certeza se foi lá, no entanto, entende-se que é algum lugar. Quando Hongjoong passou na audição, ele fez questão de encontrar o atendente que o alimentou naquela noite para contar, sem ele perguntar, sobre a própria conquista. E continuou indo lá... indo lá... indo lá até se confessar através de sua primeira música lançada.