Eu ainda conseguia escutar a música alta de ontem, os corpos se balançando num compasso agitado. O efeito da droga correndo em mim. Me sentia cansada apenas de lembrar. Flashes da noite passada vinham em minha cabeça, Justin dançando comigo, bebidas, drogas, caras... Era tudo extremamente vago, mas ao mesmo tempo sabia que tinha sido perfeito.
Meus olhos protestavam contra luz do sol, recusando a se abrirem. A dor de cabeça já costumeira, me incomodava enquanto tentava a todo custo sair da cama e viver mais um dia de minha existência. Minha cama, no entanto, nunca havia me atraído tanto como estava atraindo no momento. Oh, eu realmente queria passar o dia aqui, mas infelizmente, eu não podia.
Penteava meus cabelos em frente ao espelho, meu reflexo já vestido e com uma cara bem indisposta, essa era eu. Só mais um dia, apenas mais um. Repetia um pequeno mantra de auto ajuda em minha mente, enquanto andava pelos corredores a procura da minha aula.
- Bom dia Senhorita Murray, como sempre atrasada. - Falou minha professora de Artes, talvez a matéria mais inútil daquela escola. Apenas assenti com a cabeça. - Ei, já que está em pé, poderia entregar esses papéis ao senhor Connor? - revirei os olhos me virando e pegando os papéis. - Ele está na detenção! - me avisou enquanto batia a porta da sala.
Mas uma vez, estava caminhando pelos os extensos corredores. Enquanto minha cabeça flutuava ainda anestesiada, me deparei com a porta escrito "Detenção" em letras grandes vermelhas, pela janelinha que tinha, conferi se Connor estava mesmo lá. Adentrei a sala sem ao menos bater antes. Passei meus olhos pelos os detentos e quase cuspi minha própria saliva ao ver Justin ali me encarando com súplica. O menino já está detido, logo de manhã? Não me segurei e soltei uma pequena risada.
- O que faz aqui Murray? - Ouvi a voz grossa do professor chamar minha atenção. Justin continuava a me olhar, vi sua boca se mexer formando um "Socorro" e em seguida "Me ajude!"
Então quer dizer que ele precisava de minha ajuda, novamente. Acho que sua conta está ficando cada vez mais cara comigo. Me virei para o professor e o vi me encarando.
- Senhorita Parker, mandou te entregar esse papéis. - entreguei-lhe o envelope, e no momento que ele olhou para baixo abrindo sua correspondência, olhei pra Justin apontando para a porta dos fundos. Depois de uma olhar confuso, como se não tivesse me entendido, ele seguiu meu olhar e logo se situou assentindo.
- Ela pediu pra que você lesse com calma, vírgula por vírgula. - falei enquanto minha mão fazia sinais pra Justin andar logo.
- Ok eu irei ler, mas tarde. - Connor me olhou e Justin teve de se sentar novamente de forma imediata.
- Não, precisa ser agora, porque se tiver algum erro, eu já levo pra ela consertar. - continuei o enrolando. Minha visão periférica, me permitia ver Justin se levantando lentamente sem tirar os olhos de nós.
- Eu posso te chamar depois que acabar. - falou.
- Eu não me importo em esperar. - insisti, aquele joguinho já estava me dando raiva. Então ele respirou alto e começou a ler a minha frente, quando vi que Justin estava na porta espirrei fazendo questão de fazer barulho, assim o ranger natural da porta, não iria ser escutado, e quando a mesma teve de ser fechada, tossi alto também. Acho que meu trabalho já estava feito.
- Nossa, eu preciso ir ao banheiro, quando acabar, pode entregar diretamente a professora Parker se tiver erros. - Ele assentiu vendo o meu estado.
- Tudo bem, obrigado, e... melhoras. - agradeci com um sorriso rápido e me retirei da sala. Virando o corredor vejo Justin encostado em um dos inúmeros armários ali.
- Ei, Juliet! - ele me chamou quando percebeu que eu iria passar direto. Me virei pra ele revirando os olhos, afinal ele já tinha ocupando bastante meu tempo. - Obrigado. - ele me agradeceu com voz baixa.
- Você está me devendo cada vez mais Justin. Agora, volte pra sua aula. - finalizei e voltei a andar, mas meu braço foi puxado contra algo duro. Olhei pra trás vendo seu peitoral. - Me solta. - falei baixo e relativamente calma considerando a situação em que nos encontrávamos.
- Eu não posso voltar agora, a professora que me mandou para detenção vai estar na sala até o horário do intervalo, o que ainda faltam horas, logo vou ter que ficar por aqui.
- Triste história, aliás, comovente. - usei minha velha amiga ironia e tentei me soltar de seus braços.
- Você poderia me mostrar a escola, não é? - estava ficando incrédula, eu o ajudei duas vezes e agora ele acha que podemos ser melhores amigos, ou algo do tipo? Conheço o tipo de Justin Bieber, o único jeito que ele conhece para se aproximar de alguém é a sensualidade. A pessoa é bonita, reconhece, então sua beleza vira uma arma.
- Você pode pedir isso a um inspetor. Bem mais útil. - cortei sua voz sensual de meus ouvidos.
- Eu preciso de mais Juliet, e eu sei que você tem, sei que você não se importa com a escola, muito menos com sua aula de artes. - Ele falou em tom de tédio enquanto me soltava deixando com que seus olhos invadissem os meus. De repente meu mar azul estava invadido por amêndoas.
- Tudo bem. - falei, eu não podia enganar ninguém, matar aulas inúteis para fazer uma das melhores coisas da vida, era bem tentador.
Vi o sorriso de Justin crescer em seu rosto, enquanto eu andava me arrastando pelos os corredores a caminho do meu quarto. Caminhava olhando pra baixo, era uma mania minha fazer isso, talvez isso tenha contribuindo para os meus momentos submissos.
- Entra aí. - falei apontando para a porta de meu dormitório. Justin entrou sem hesitar, entrei atrás dele e logo tranquei a porta. - Senta ai. - ele olhou pra cama bagunçada e sentou-se na mesma. Fui em meu armário repetindo o mesmo processo de ontem. - Qual você vai querer? - espalhei tudo o que eu tinha na cama vendo os olhos de Justin brilharem.
- Oh! Isso é heroína? - ele pegou a siringa analisando-a.
- Yep! - confirmei.
- Eu sempre quis experimentar. - ele tirou sua blusa e ajeitou a siringa em seu braço fazendo força para que a veia saltasse podendo ser vista com mais facilidade. O ajudei a aplicar a droga e o efeito foi positivo. Justin sorriu mordendo os lábios jogando sua cabeça pra trás, como se tivesse no ápice de seu prazer, e eu não duvido que ele realmente esteja.
Meus olhos ficavam admirando a cena, as tatuagens diferentes cobrindo grande parte de seu corpo, a luz do sol iluminando seu abdômen, aquela paisagem era digna de uma foto, ou até mesmo uma bela pintura. Desviei meu foco para a cama, peguei um baseado e o acendi. Fumei lentamente, sentindo a fumaça invadir meus pulmões e sair com assopro. Justin me olhava com um olhar diferente, como se nunca tivesse visto algo parecido em sua vida. Estávamos completamente relaxados. Meu companheiro novamente fez jus ao seu cargo e me acompanhou, fumando um baseado comigo. Eu nunca tive a sensação de fazer o que eu gostava com alguém comigo, e posso dizer que era diferente, era... legal.
- Como consegue tudo isso? - ouvi sua voz mais rouca do que o normal, me perguntar.
- Basta ser inteligente, Bieber. Só isso. - sorri soltando fumaça consequentemente.
- Alguém sabe de você? - Ele se referia ao fato de eu me drogar. Fiz que não com a cabeça. - Você é realmente esperta Juliet. - ele falou, ele estava tão sereno que meu cérebro começara a desconfiar. - Por que você não senta aqui? - Ele deu espaço ao seu lado. Ah, agora sei onde ele queria chegar.
- A quanto tempo está na seca? Apelando pra qualquer uma? - ri enquanto esfregava a ponta queimada do cigarro num cinzeiro.
- Você se denomina qualquer uma? - ele pareceu divertido.
- Me denomino como "boa demais pra qualquer um" - falei como se tivesse lendo um outdoor em minha frente.
- Não conhecia seu lado egocêntrico, mas saiba, - ele aproximou seu rosto do meu. - que eu me garanto.
- Eu não me importo. - sussurrei de volta e ele riu, sua risada dominou o lugar por um momento. Quando nossas respirações cessaram, voltei para a realidade. - Que horas são? - Ele pegou seu celular ao seu lado conferindo as horas.
- Oito e quarenta e cinco. - Merda! Tínhamos que guardar tudo.
Me levantei e comecei a catar qualquer vestígio criminoso de acordo com as normas do colégio, Justin me ajudou jogando tudo desarrumadamente em minha caixa, fechei-a e a pus em seu devido lugar. Peguei o spray de perfume e espalhei pelo o quarto. O cheiro hoje estava mais forte do que o de costume, provavelmente pelo o consumo em dobro. O menino me olhava perplexo, enquanto espirrava o líquido de bom odor pelo dormitório e respirando em seguida pra averiguar se estava fazendo efeito. Eu tinha que ser perfeccionista.
- Você pensa em tudo mesmo. - comentou. Sorri agradecida como resposta. - Precisamos mesmo ir agora? Não podemos ficar aqui?
- Só se quisermos ficar sem nota no bimestre. - falei e arrumei meu uniforme. Joguei a blusa de Justin para ele que se vestiu rapidamente, ajeitou seu topete e sua gravata. - Pega o colírio. - apontei para uma estante, Justin pegou e derramou gotas em seus olhos, repeti seu ato logo em seguida. Quando estávamos finalmente com aparências melhores, nos permitimos a sair do quarto.
Sem ao menos uma despedida, caminhamos para lados opostos no corredor. Abraçava-me de forma protetora sem ter um porquê. Justin estava invadindo um lugar nunca ultrapassado, que era ao meu lado, eu nunca tive melhores amigos, estou aqui desde pequena, e nunca ninguém foi merecedor de minha amizade e agora estava com novato em meu quarto desfrutando dos mesmos prazeres. Wow, isso soa tão estranho. Por mais que uma parte de minha mente diga para abrir espaço ao novo, a outra metade se encolhe de medo de arriscar, eu realmente não deixaria o pensamento comum me dominar. Eu nunca tive medo de arriscar.
A lua brilhava redonda em seu devido lugar no céu, olhava pra ela através da janela que logo iria pular. Apenas um simples impulso e já podia sentir meus sapatos na grama do jardim. Era incrível a sensação de liberdade, mesmo ainda não completa, eu podia me sentir livre de alguma forma. Refiz meus passos de sempre para o meu local reservado do muro, espero que hoje não tenha nada que me atrapalhe... Ou ninguém.
Segurei meu suspiro de surpresa ao ver Justin sentado ali encostado no muro. Ele realmente levaria a sério essa parada de me perseguir? Cruzei meus braços me pondo a sua frente, assim que o mesmo notou minha presença se levantou sorrindo. Por que ele sorria?
- Estava te esperando. Podemos ir agora. - Como? Me perguntei mentalmente.
- Justin, você está confundindo as coisa, ok? - fui sincera, mas logo após minha fala, meu pensamente de hoje cedo venho em minha mente. "Não tenha medo de arriscar."
- Juliet, eu pensei que... - o interrompi assim que o vi começar a gaguejar. Ele tinha essa mania quando ficava nervoso com algo, de fato, aquilo era engraçado pra mim.
- Tudo bem, tudo bem novato. Hoje vamos conhecer um lugar novo. - sorri maliciosa e ele me acompanhou.
Agora mais uma vez, estávamos andando juntos pelas ruas desertas da Inglaterra. O casaco nos cobria do frio mas mesmo assim meu rosto conseguia ficar pálido e gelado. Com Justin ao meu lado, uma parte de minha rotina se tornava diferente, de um certo modo, ele me trazia segurança. Notei suas maneiras de lidar com as pessoas, ele usa piadas ruins com a desculpa de manter as pessoas distraídas, mas na verdade aquilo é a uma distração pra ele. Justin não gosta de ficar quieto e toda hora está mexendo alguma parte de seu corpo mesmo que sem perceber. Seu assovio e sempre ritmado e ele gosta de demonstrar que não tem medo de nada, mas no fundo ele deve se assustar até com a própria sombra.
Não me leve a mal, sou uma ótima observadora, mas nem com dois dias de convivência eu poderia saber tanta coisa assim. O fato de que eu sabia me dar bem com o Justin, é que ele era igual a mim. O maior medo que um dia poderia ter, é o medo de não saber até onde minha mente pode ir. O ser humano tem a capacidade de se defender de sua própria ou outras espécies, mas não tem o poder de se proteger de si mesmo.
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