O primeiro hibrido foi um bebê recém nascido na cidade de Qingqing na China, que tinha o DNA de uma raposa. Depois desse incidente, muitas pessoas pelo mundo começaram a nascer como híbridos de humanos e algum animal. Porém, os híbridos não conseguiram superar os números de humanos, tornando-os – por infelicidade desses seres – inferiores na sociedade.
Em algum momento, os híbridos começaram a ser vistos como meros animais de estimação ou trabalhadores braçais que surgiram para servir aos ‘verdadeiros’ donos desse mundo: os humanos puros. Foram anos de luta para conseguirem seus direitos e serem tratados com respeito.
Atualmente, os híbridos conseguiram se liberta com algumas leis que os ajudassem e por meio de um tratado com os humanos. Para viver em sociedade e conseguir algum emprego digno sem ser propriedade de alguém, os híbridos teriam que controlar sua parte animal por meio do uso de supressores e/ou coleiras. A liberdade de seu povo tem um preço... Disse um dos líderes mundiais. E foi o que aconteceu.
Infelizmente boa parte da população não aceitava o que foi determinado naquele dia. Por isso, para um híbrido arrumar algum emprego ou oportunidade em quais quer quesitos, é tortuoso. Muitos humanos ainda os tratam como animais e por isso a grande maioria deles preferem ser animais de estimação, jardineiros, mordomos ou empregados para pelo menos terem um teto sobre suas cabeças.
Quando Midoriya Izuku nasceu, sua mãe agradeceu aos céus por ter tido um garoto humano. E assim ele cresceu. Sua infância, adolescência e agora vida adulta eram rodeados de oportunidades como um humano de sangue puro. Porém era difícil para o homem de cabelos esverdeados ignorar o mundo ao seu redor.
– Seus bolinhos, senhor!
Entregou, por trás do balcão da doceria onde trabalhava, uma sacola com exatos seis bolinhos de baunilha com recheio de caramelo para o híbrido de corvo, que não escondeu a surpresa ao ser chamado de forma respeitada pelo atendente sorridente.
– Obrigado.
Agradeceu em um sussurro, abaixando a cabeça. Era normal híbridos abaixarem a cabeça para qualquer ser humano, seja pobre ou rico, mas Midoriya sabia que o homem corvo também estava constrangido pelo jeito gentil que foi tratado.
– Por nada, volte sempre, senhor!
Midoriya repetiu, sorrindo mais uma vez.
– Saía logo da fila, hibrido de pombo!! – o homem (humano) gritou logo atrás, impaciente.
– Desculpe. – o hibrido se desculpou e saiu do estabelecimento.
Midoriya seguiu com os olhos a figura pegar uma bicicleta e pedalar para longe.
– Ei, moleque! Tá ouvindo?? – sua atenção foi chamada pelo homem de antes, que já estava fazendo seu pedido.
– Sim? – o esverdeado forçou um sorriso, manteria o respeito, era um cliente afinal.
Não demorou muito e o homem fez seus pedidos. Midoriya recebeu o pagamento e os foi preparar rapidamente, entregando o pacote para viagem logo depois.
– Esse foi o último de hoje, Midoriya. – seu chefe e confeiteiro apareceu, bocejando e acenando para ele. – Limpe e tranque tudo. Vou pra casa! Até amanhã, garoto! – despediu-se.
– Até amanhã. – Midoriya acenou e quando o homem sumiu de vista, o esverdeado suspirou, olhando em volta e vendo que teria que limpar tudo sozinho mais uma vez.
Sem querer se demorar, Midoriya trancou o caixa e pegou os produtos de limpeza, começando a limpar as poucas mesas para depois cuidar do chão. Por sorte, a doceria que trabalhava era pequena e não estava tão sujo naquela sexta-feira. Logo já estava apagando todas luzes e trancando a última porta quando uma forte chuva começou sem aviso.
– Droga... Só porque não trouxe o guarda-chuva hoje. – murmurou para si mesmo, fazendo um bico de descontentamento.
Os ônibus para sua casa já haviam acabado, e por mais que não morasse longe de onde trabalhava, Izuku pegaria uma boa chuva na cabeça, mesmo que corresse. E foi exatamente o que fez. Sem perder mais tempo, colocou sua mochila amarela na cabeça e correu pelo seu costumeiro caminho.
– Obras?! – fez uma careta ao ver que o caminho que sempre pegava estava com obras na estrada – Vou precisar fazer um desvio pela... – desviou os olhos para a outra alternativa de caminho. Um bairro pouco movimentado com lojas que fechavam cedo por causa da pouca iluminação urbana e auto indicie de roubo.
Engoliu em seco e respirou fundo, começando a correr novamente para a direção daquele bairro. E quando a chuva começou a diminuir, Izuku resolveu desacelerar para não escorregar. Seus olhos esverdeados rondavam seu entorno, atento a qualquer sinal de perigo ou barulho suspeito.
Muitos noticiários haviam apresentado o caso de um hibrido serial killer de humanos, que estava andando por sua cidade no Japão e pegando todos os humanos desprevenidos. Um justiceiro como gostava de se proclamar. Ninguém sabia de que espécie era, nem mesmo a polícia. E as testemunhas humanos não eram de muita ajuda, a polícia ignorando totalmente os relados das testemunhas híbridas e seus esforços de tentar ajudar.
E com os pensamentos perdidos no noticiário daquela manhã, Midoriya assustou-se quando, mais à frente, um humano abriu a porta de um bar irritado e jogou um hibrido com um casaco verde para fora, junto com uma caixa de papelão amassada.
– Vira-lata de merda, já disse para sair da minha propriedade!!! – o humano gritou irritado e fechou a porta, podendo-se ouvir gritos de comemoração dos que estavam dentro do ambiente.
Midoriya nem sabia que tinha um bar naquele bairro, já que não era muito de passar por ele. Sua atenção foi para o híbrido de cabelos loiros e casaco verde, que se levantou do chão molhado com um rosnado preso na garganta e soltando alguns murmúrios de xingamentos. O mesmo pegou a caixa que foi jogada consigo e colocou perto de uma floricultura, entrando na mesma e cruzando os braços em raiva, sem se importar em pegar chuva.
Izuku, depois de ficar um tempo parado esperando mais alguma movimentação do outro, respirou fundo e continuou seu caminho à passos lentos. Ao se aproximar, notou que se tratava de um híbrido de cachorro com grandes orelhas e um rabo felpudo, tudo com a pelagem da mesma cor de seus cabelos. Suas roupas estavam rasgadas e molhadas, e suas garras estavam expostas.
– Tsc. Tá olhando o que? – rosnou na direção de Izuku, fazendo-o dar um pequeno salto e notar que havia parado de andar para encarar o homem que parecia ter a sua idade. Seus olhos vermelhos e suas presas mostravam se tratar de uma provável ameaça, a qual seria muito inteligente somente ignorar e continuar andando. E Izuku era inteligente. O primeiro de sua sala. Mas naquele momento...
– D-Desculpe... Ham... – seus olhos desceram para a escrita borrada na caixa: “Adote um Katsuki.”. – K-Katsuki?! – murmurou em dúvida, se era uma raça ou um nome.
– Tsc. Sou eu, porra! Algum problema? – perguntou agressivo mais uma vez e Izuku rapidamente negou. O híbrido o encarou por longos segundos antes de bufar e virar o rosto – Se não vai adotar, então cai fora! – mandou impaciente e foi exatamente o que o esverdeado fez, começando a andar de volta para seu caminho de casa, a chuva forte, agora, não passando de um sereno.
No mundo em que vivia, era normal os próprios híbridos se colocarem para adoção em busca de uma vida melhor. É claro que nem todos conseguiam tal feito e seria uma afronta contra os humanos, as criaturas colocarem preço nelas mesmas. Não valem um tostão. Muitos repetiam. Só era permitido colocar preço em um híbrido, se fosse algum humano o vendendo.
Na infância inocente de Izuku, o mesmo sempre desejou adotar ou comprar um híbrido para ter um amigo com quem brincar e conversar. Não que ele não gostasse de animais comuns, mas ele sempre pensou que seria divertido. Após crescer, e amadurecer, ele notou o quão errado estava. Izuku era contra o jeito que os híbridos eram tratados. Odiava injustiças, não importa a espécie. E seu coração era mole demais. Bondoso demais.
E quando estava virando a esquina para sair daquele bairro, parou, suspirou alto e pensou algumas vezes antes de virar e ver o híbrido de cachorro “brincar” tedioso com sua caixa de papelão, esperando alguém o adotar.
E se ninguém aparecer? E se ninguém o querer? Ele foi expulso daquele bar, não é? Mas não posso deixá-lo nessa chuva, pode adoecer. Mas não posso adotar todo híbrido que encontro na rua. Mas eu sou contra tudo isso. Adota-lo seria hipocrisia, certo? Ou só estaria sendo mais um ignorante com as questões deles? AH MINHA SANTA DO BRIOCO, AGORA NÃO SEI O QUE FAZER!!
– Hey, humano esquisito!! – o híbrido loiro gritou, assustando Izuku mais uma vez naquela noite.
– Hein... o que... – o esverdeado olhou para os lados, percebendo que havia voltado todo seu percurso e parado novamente na frente do outro. Seu rosto corou por sua desatenção. – C-Como que-
– Tsc. Humano esquisito. Tava murmurando como doido. – o loiro o interrompeu com um olhar desconfiado. – O que quer? Me chutar? Jogar seus sapatos em mim?
– Q-Que? Não. Não. Nunca. – negou rapidamente com a cabeça e as mãos, todo desastrado. – B-Bem... e-eu... – olhou para os lados, vendo que estava sozinho e o único barulho, além da chuva fraca caindo, era o do bar em que o híbrido foi expulso. Midoriya respirou fundo mais uma vez. – V-Você quer... – coçou a nuca, sorrindo sem graça e sem encarar o loiro que ainda suspeitava de seu jeito – Q-Quer ir para casa comigo? – criou coragem para perguntar, finalmente trazendo seus orbes verdes para o homem ainda dentro da caixa.
Os dois homens se encararam por longos segundos, antes do loiro corar e concordar com a cabeça, desviando os olhos para longe daqueles olhos brilhantes que lhe observavam com gentileza.
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