Um arrepio percorreu-lhe o corpo, o ar entrando engasgado, desnorteando-se com aquela sensação, que apesar de tão pecaminosa, era divina.
Seus dedos se encontraram com aqueles volumosos cachos avermelhados, o “auxiliando” nos movimentos, já que mal conseguia tomar o controle de seu próprio corpo, Crowley sabia realmente fazer coisas incríveis com aquela língua bifurcada, passeando por toda a extensão de seu pênis, enrolando-se vez ou outra, arrancado gemidos cada vez mais trêmulos do arcanjo, o levando ao delírio conforme aquelas mãos passavam por suas coxas, o sentido, o trazendo para perto, necessitado de ter todo aquele corpo para si.
E o corpo humano é realmente fascinante, tão sensível, cada mínimo toque fazia com que se incendiasse por completo, e não eram só o que era palpável, não, porque só de ver aquela figura tão encantadora podia sentir as faíscas, e o demônio ficava simplesmente tão bem de joelhos, o olhando com toda aquela luxuria, o que era não só tentador, como um alivio que não tivesse feito nenhum comentário a respeito de seu membro, porque já era fato e de utilidade publica que anjos possuem marcas de outro em alguma parte de seu corpo, o local varia muito, lábios, dente, pele, e Gabriel nunca havia ligado para a sua, em uma área tão intima, até Crowley começar com seus comentários, a piada de “seu pau vale ouro” já havia perdido a graça a alguns séculos, só que no fim das contas não conseguira uma vez si quer ficar irritado com o demônio, porque Crowley era aquele tipo raro de pessoa, daquelas que te faz ficar a vontade com facilidade.
Sua cabeça encontrou o encosto do sofá, tudo se tornando mais desesperado, próximo de encontrar o Céu na Terra, ao alcance das estrelas com aquela sensação tão sublime, mas sendo esse o exato momento em que Crowley parara com seus serviços, era claro que não deixaria que a noite acabasse tão rápido, e o olhar atordoado que recebera do arcanjo era um misto de suplica com magoa, o respondera, então, com seu sorriso travesso, subindo o corpo, deslizando para mais próximo de seu anjo até que seus braços pudessem envolver-lhe o pescoço, o beijo começando calmo, apaixonante e tão cheio de prazer. E o queria perto, o puxando mais e mais até que ambos estivessem no chão, o baque surdo sendo ignorado ao som de gemidos roucos e suspiros encantados. As roupas sendo tiradas sem real pressa, a ansiedade existia, mas era verdadeiramente preciso admirar aquele templo celestial, era até mesmo irônico, um anjo tentar um demônio, porque as fortes coxas de Gabriel o prendiam, de uma forma tão tentadora que qualquer santo acabaria por ceder, e ele estava muito longe de ser um santo.
E para o arcanjo, ter aquelas mãos tão características em sua cintura era não só maravilhoso como uma passagem direta ao passado, porque se fechasse os olhos podia voltar há tempos pouco turbulentos, porque mesmo que o céu continuasse estrelado por trás daquelas janelas com isolamento termoacústico, nada jamais seria o mesmo, porque haviam perdido a estrela mais brilhante, fosse o que fosse, estava condenado àquilo, então era como costumam dizer:”ta no Inferno, abraça o Capeta”, o que no caso não era o tal em si, mas sim um de seus subordinados e, também, a frase vinha a acabar com abraços, o que não batia com a realidade, já que as marcas deixadas em seu corpo angelical eram boas provas de tal.
Talvez fosse loucura cogitar que para o demônio tudo aquilo não passasse de um bom passatempo, no entanto, ninguém seria capaz de impedi-lo de sonhar, porque em seus sonhos mais lúcidos vinha a se entregar a seu Arcanjo Raphael. Em seu colo as coisas aconteciam por milagre, parecendo tudo tão natural, a cumplicidade era como uma rotina, devia ser tudo obra de destino, como se cada linha já estivesse sido traçada há milênios, tinha de que acreditar nisso, era um anjo afinal, mesmo que fosse totalmente contra as tantas questões filosóficas em respeito do tão famoso livre arbítrio, mas era isso, como se cada palavra que descrevesse como cavalgava no demônio já tivesse sido prescrita, contando a maneira extasiada com que olhava para aqueles olhos de um âmbar tão brilhante, que se mantinham tão encantados quanto, quando eram capazes de se manter abertos, quando o ruivo não jogava a cabeça para trás, arqueando a coluna, as unhas cravadas em sua cintura, o puxando para cada vez mais próximo, clamando seu nome como uma prece. O que fazia com que o arcanjo esboçasse os dos mais genuínos sorrisos, apaixonado por aquele momento, apaixonado por aquele anjo caído, com aquela fagulha de esperança que o seu próprio nome pronunciado com tanto esmero podia trazer.
Um riso surgiu entre um dos tantos beijos, com ambas as mãos no rosto de seu amado, o impedindo de desgrudar aquela imensidão arroxeada de sua vista, Crowley não conseguia deixar de achar o mundo tão cômico, Gabriel não era o melhor de cama com quem já transara, mas era sem duvidas o que ele mais gostava de ter por perto, não sabia ao certo por quê, mas tinha um carinho com relação ao mensageiro. Selou seus lábios mais uma vez, uma mão descendo a cintura, a outra descendo mais, o masturbando com aquele sorriso divertido no rosto, o ouvindo proferir os gemidos mais melodiosos.
E queria sentir mais e mais, cada pequena sensação, cada parte daquele corpo tão perfeito, os dedos do anjo se agarrando as madeixas vermelhas, o ar entrando entrecortado, o coração batia acelerado, de uma maneira que ele nem mesmo sabia ser possível.
O anseio em encontrar aquele mar de sensações, daquele deleite efêmero, encontrar o tão sublime prazer, e não era por um fim, porque o adeus estaria por vir e seria dolorido como em todas as outras vezes, era por chegar àquele momento que por mais que todos os melhores autores que a humanidade conheceu tivessem tentado, jamais tiveram a capacidade de descrever sensação tão intensa, de revelar aquele real sentimento que só se conseguia ali, o tendo em seus braços, se entregando de corpo e alma. E o ápice veio com todas aquelas estrelas, nebulosas e constelações, os gemidos como um coro celestial, mas exaltando um amor tão profano.
Mas todo aquele brilho veio a se emancipar gradativamente em meio a toda aquela imensidão que era o universo, a calmaria se instalando conforme as respirações vinham a se regular, trazendo aquele inicio de vazio, do então fim. E jogados no chão da sala, lado a lado encarando o teto de cor tão comum, o silencio sendo uma melodia cúmplice, os dedos se entrelaçaram aos do demônio, bem como a cena de um livro ou filme, porque era como um sonho, porque ele estava ali, seu toque, sua respiração, seu cheiro, tudo, tudo que o fazia ama-lo cada vez mais estava ali, tudo que fazia seu peito doer estava ali, não em sua forma mais inocente, mas tão longe de ser sua mais perversa, era apenas ele, e o que precisava ser para seu coração bater descompassado.
Quando seus olhares voltaram a se encontrar, Gabriel pode admirar mais aquele ser - em como seus adoráveis caninos ficavam a mostra quando sorria, em como algumas mechas ruivas caiam sobre aqueles olhos tão iluminados, que pareciam mudar quando o olhavam. E vinha a ajeitar-lhe os cachos atrás da orelha, o ato feito com tão inocente carinho - ou, então, como tantos sentimentos acumulados por milênios vinham todos à tona naquele como silencio.
E o telefone tocou. Poderia ser qualquer pessoa, qualquer uma a ser bem ignorada, o que seria o real fato se o telefone em questão não fosse o da linha particular de Crowley, porque é claro que ele tinha duas, era preciso para escapar das legiões de operadores de telemarketing. O que levava a entender que vinha a ser alguém importante e, pelo horário, com algo importante a se dizer, o que fez o ruivo se levantar, se afastando aos poucos do anjo, que o acompanhou com o olhar.
- Aziraphale!
O demônio pronunciou tal nome animado assim que retirara o aparelho do gancho, e era óbvio, simplesmente óbvio de mais que seria ele.
E apesar de todo aquele clichê para tirar as roupas, colocá-las de volta fora como um passe de mágica, sabia que o telefonema poderia levar horas, mas também não era como se tivesse mais o que fazer ali, então não precisava esperar que desligassem e o Céu não teria de se preocupar com a sua súbita ausência.
Estava relutante em ir embora, era sempre assim, e por educação se aproximou do demônio para se despedir, o gesto breve já explicando o adeus de tempo indeterminado. Foi quando Crowley pediu que o outro aguardasse um pouco na linha que seus olhos se iluminaram de um brilho cheio de duvida, com o telefone fora do gancho - mas apoiado na mesa - o ruivo tinha ambas as mão livres para trazer o arcanjo para mais perto, enroscando-se nas madeixas escuras, o tomando nos lábios de forma inesperada, apaixonante. No fim, era só isso que tinha, um curto beijo de adeus seguido daquele sorriso de abalar corações, porque o passado estava no passado, e agora todas aquelas graças viriam a pertencer a outro anjo, e talvez estivesse tudo bem, até porque seria pior se não aceitasse isso, independente, continuaria sendo o arcanjo cheio de fé – uma fé direcionada a outros lados, mas tão forte quanto – era um tolo, e talvez ainda sim continuasse apaixonado, como os tolos faziam.
E eles se distanciavam.
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