História Affection - Procurando carinho nos lugares errados

  O ambiente era claro, como o Céu costumava ser com toda aquela luz simbolizando a paz, só que enquanto todos os outros anjos trabalhavam arduamente, passando de um lado para o outro do lado de fora de sua sala, tão atarefados quanto ele deveria estar, todos os seus relatórios já haviam ido pelos ares, o chão agora repleto de folhas em uma bagunça que só, algumas canetas também já não estavam mais em sua mesa e sabia que viria apenas mais tarde se preocupar com seu estimado tinteiro, porque a mente não estava para raciocínios, nenhum si quer, não quando seus corpos estavam tão próximos, tão quentes, porque Miguel era excepcional e não poderia negar seus pedidos.

  Sua manhã tinha começado comum como qualquer outra, já havia tirado o seu tempo para distrair a mente, mesmo que não precisasse dormir, um anjo estressado é improdutivo. E mesmo que fosse sempre a mesma coisa todos os dias, ele não se via capaz de reclamar, porque gostava do que fazia, sentia orgulho de seu titulo, estava satisfeito com a vida que levava mesmo que alguns apesares pudessem surgir no caminho, tinha só de se acostumar e as vezes se esquecer do problemas com aquela distração que lhe vinha de graça.

  Miguel, como já dito antes, era um grande amigo seu, mesmo com certo comodismo, o considerava e era bem íntimos, porque os tempos haviam mudado – como haviam sempre de mudar – e toda aquela historia de pureza e castidade já havia se perdido no meio do caminho, porque, é claro, eles também apreendiam muito com os humanos, e os desejos carnais sempre vinham atormentar hora ou outra. Então essa não seria a primeira nem a ultima vez que o arcanjo guerreiro batia a porta de sua sala, com aquele olhar sereno, tinha aquele ar de superioridade, de se estar certo em todos os tempos e o sorriso simpático que de simpático não tinha nada, aquele típico sorriso em que não é bom confiar, mas normalmente é dado por alguém de autoridade, o que sempre te deixa de mão atadas, mesmo que nesse caso ambos estivessem no mesmo patamar.

  Mantinha a cabeça erguida e o andar era pomposo, atraente, se aproximando sem pressa de si, os sapatos fazendo barulho contra o piso, já que o silencio se fazia presente, até porque não era como se já não soubesse o que estava por vir, então não tinham que discutir sobre. E cada vez mais próximo, a mão passeando vagarosamente pelo canto de sua mesa, parando e servindo de apoio enquanto a outra puxava seu rosto para perto, começando aquele beijo quente e tão pecaminoso. Seus lábios eram de um macio aveludado, atraentes, daquela maneira malditamente sedutora que só ele sabia, o atiçando vagarosamente ao trazer para mais perto, ao sentar em seu colo e o agarrar pelos cabelos.

  E o tendo ali, Gabriel podia senti-lo, as mãos passeando por todo o seu corpo, subindo das coxas até tirar-lhe a blusa, para subir mais e mais, envolvendo aqueles seios com ambas as mãos, a boca passando pelo pescoço, em beijos e chupões, em mordidas leves em seu ombro, na clavícula marcada, deixando pequenas lembranças daquele momento, começando a desestabilizar a respiração do arcanjo guerreiro.

  Os quadris começaram a se mover instintivamente e Miguel pedia por mais quando suas bocas se separavam. Foi quando o colocou em sua mesa que todo aquele trabalho foi pelos ares, para chão na verdade, suas roupas eram amassadas, um adeus para a gravata e logo os botões já não estavam mais em suas casas, mas não ficariam só naquelas poucas caricias, não quando o de cabelos castanhos abria aquelas pernas tão convidativamente, o fazendo ficar de joelhos, beijando sua barriga até chegar ao baixo ventre, onde um significativo volume se fazia presente.

  Seu suspiro saiu alto quanto pode sentir a boca quente do arcanjo mensageiro em seu membro, os olhos se fechavam conforme era inundado por aquelas sensações tão primitivas, mas tão viciantes, agarrava-se as mesas e as suas madeixas negras, sendo cauteloso o suficiente para não causar alarde, não seria bom que descobrisse, porque, mesmo que fosse os dois quem mais mandassem naquele departamento, os rumores sempre correm soltos e não seria muito bom se os fatos chegassem a outras patentes. Os movimentos eram sem qualquer presa, subindo e descendo, beijos sendo depositados, os olhares sendo trocados em meio as caricias.

  E não conteve o sorriso, porque era cômico, aquelas necessidades tão humanas que o consumiam. Gabriel sempre fora um amigo seu, desde a Criação, só que o fato era que nunca teve uma escolha de não serem, primeiro ponto era que eram arcanjos, o que fazia com que consequentemente se vissem com muita frequência, segundo que mesmo com toda aquela arrumação que o Céu podia ter, tudo ainda sempre viria a ser uma bagunça, e terceiro, mas não menos importante, aturar Miguel era uma tarefa bem difícil que o de cabelos negros fazia com muita facilidade, o próprio guerreiro sabia disso, então não tinha como não considera-lo, ficava até mesmo feliz em ter que aturar suas conversas, ou em consola-lo naqueles tempos de desespero.

  No entanto, o tempo ia passando e o anjos da Terceira Esfera se viam cada vez mais próximos da humanidade, não interferindo na mesma em si, mas pegando seus fatos, suas energias e suas manias, não seria surpresa ver algum anjo com roupas humanas, se apropriaram de suas tecnologias. E naquelas épocas onde o pecado reinava – apesar de ainda sim, o ponto era que como era o começo de todas essas ações, acabava por ser um alarde -, não foram poucos a ganhar uma curiosidade equivocada, e com certeza muito já haviam se aventurado nesses mares, era aquelas típica coisa que todo mundo sabe, mas não comenta nada, como se não existisse, mesmo estando estampado na cara de todos. Foi gratificante saber que Gabriel compartilhava das mesmas vontades, facilitava muitas coisas para si, porque ali estavam eles, enroscando-se, com aqueles lábios de volta nos seus, quando o posto de costas, apoiado na mesa, sendo inundando por aquelas sensações conforme o sentia dentro de si.

  E Gabriel não podia negar, aquilo realmente o agradava, quando ele estava no controle da situação e tudo que Miguel podia fazer era soltar aqueles gemidos harmoniosos, mesmo que no fundo as coisas sempre fossem arquitetadas pelo arcanjo guerreiro, a sensação de falso poder era sempre bem vinda, especialmente quando outras tão melhores a acompanhavam, o fazendo pronunciar aquele nome com tanto zelo.

  Depois de tantas idas e vindas, do calor ardente e daquele orgasmo tão ansiado, as roupas eram recolocadas calmamente, o cheiro de sexo continuava forte no ar e aquele típica calmaria já havia se feito presente, calmaria essa que Gabriel viu, em segundos, ser substituída por um genuíno espanto quando seu celular tocara, de inicio não achara ser nada de realmente importante, mas quando viu o nome do principado, o ar entrou engasgado.

  Seu sorriso não fora o mais convincente e Miguel arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços, agora, com uma pose impecável.

 - Metatron.- Tentou, porque parecia ser o único nome que o levaria a ter uma exaltada reação.- deve ser uma coisa bem importante, não é ?

 - Claro.- O sorriso de Miguel seguira aquela atuação muito mal feita, se eram para jogar com mentiras, ele também entraria na brincadeira.- Devia falar com ele.

 - Isso!

  Mantinha ambas as mãos atrás das costas, o que lhe dava uma pose de confiança e superioridade, mas que na verdade estava servindo para esconder o nome de Aziraphale na tela do aparelho que não parava de tocar. E foi instintivo recuar quando Miguel se aproximara, o que fez seu sorriso de “eu sei que esta escondendo algo” se intensificar antes de se desfazer em um beijo rápido.

 - Continue fazendo um bom serviço.

  Foi só quando viu o Arcanjo Guerreiro fechar a porta ao sair que pareceu conseguir respirar de novo, no entanto o toque havia cessado e seria ele quem teria de retornar a ligação.