Os beijos haviam começado singelos, sem segundas intenções, mas com certeza apaixonados.
Gabriel adorava cada um daqueles tantos que trocavam, mas não podia negar o quanto agradecia pelo caminho que aquilo havia tomado. Já era tarde da noite quando perceberam o quanto de tempo haviam perdido com aquela maratona boba de uma daquelas tantas series que você começa sem muito animo e quando se da conta já estava lá pro fim da terceira temporada, o fato era que o que toca a vida dos humanos é aquela adrenalina causada pelo medo da eminente morte, e como eles não tinham essa preocupação, poderiam ficar vegetando pela eternidade inteira se quisessem, então sim, tinham um tempo livre ilimitado uma vez que Crowley não se via mais preso aos afazeres que o Inferno lhe obrigava a fazer e de que o arcanjo havia tirado um tipo de férias para que pudesse resolver tudo e, principalmente, aproveitar aqueles momentos com seu amado – apesar de não ter pedido pela folga e o Céu nem si quer ter noção de onde ele estava ou por que -.
Então, ao bem do drama e do suspense, resolveram dar uma pausa, deixando o próximo episodio para o amanhã, a rotina ainda ia se formando, Gabriel até que estava se acostumando com esse negocio de dormir - mesmo não gostando muito das sensações quando acordava, mas afinal, quem gosta de acordar ? – e Crowley não achava que não haveria jeito melhor para passar a eternidade se não aquele, então em um resumo: tudo estava bem, nos conformes.
As roupas eram despojadas, não era preciso todo aquela polidez ou estilo quando se passava o dia inteiro dentro de casa. As cortinas estavam fechadas, mas mesmo se não estivessem o quarto continuaria escuro, a única luz presente – tirando a do corredor – sendo a daquele abajur estrelado.
Gabriel já havia se sentado a cama quando Crowley decidira, por si só, que a noite tinha um jeito muito melhor de acabar do que da maneira que estava indo. Então, bem, mãos a obra.
Apoiou-se na porta, com uma das mãos na cintura, logo após de estalar os dedos, preparando uma pequena surpresa a seu arcanjo, o mesmo, por sua vez, o encarou, uma das sobrancelhas arqueadas, os braços cruzados e aquele sorriso que sabia que daquela pose e feições não podia vir coisa boa – no sentido figurado, é claro -. Era uma tentação consideravelmente fácil, mas isso não queria dizer que não se dedicaria ao máximo em seu trabalho, então mordeu o lábio inferior, tirando lentamente os óculos escuros – mesmo que dentro de casa não houvesse qualquer necessidade, já havia ficado tanto com eles que ficar sem chegava incomodar os olhos – e os colocando na cômoda mais ao canto, o andar sendo aquele seu de sempre mas, é claro, com um ar mais sedutor.
O demônio era sim alguém a se admirar, certamente deveria se achar que demônios em geral deveriam de ter uma aparência deveras atraente para tentar os humanos, mas isso jamais chegaria a ser fato e Crowley, certamente, se destacava entre os demais com toda aquela beleza. Aquelas mãos, agora, passeando por seu próprio corpo, bagunçando aqueles seus cabelos avermelhados, passando por seu pescoço, descendo e invadindo-lhe por baixo da camisa enquanto a outra para dentro da calça, tocando lugares já necessitados.
- Ah! – O gemido foi baixo, como se tivesse saído sem querer.- Gabriel!
O arcanjo tinha os olhos vidrados na cena, o coração já palpitando acelerado, a respiração querendo desregular, porque Crowley continuava a fingir segurar os gemidos, o olhando daquela maneira, como se lhe implorasse para que se levante-se e o tomasse em seus lábios e tocasse-lhe em todas as partes, coisa que não estava fora de cogitação, porque estava realmente difícil se manter ali parado.
Mais um gemido que saiu alto, esse mais agudo,seguido daquele sorriso travesso e encerrou-se o pequeno show, na verdade, uma pequena pausa para que pudesse, do modo mais sedutor que conseguia, tirar a blusa, a atirando em um canto qualquer do cômodo, aproximando um pouco mais do anjo tão ansioso. Uma vez o peito a mostra, sua mãos foram a calça, o sorriso se tornando maior conforme via aquelas violetas tão atentas, o que certamente o fez enrolar um pouco mais antes de deixar a mostra a calcinha de seda vermelha, teve até mesmo de segurar o riso quando vira a reação do arcanjo, os olhos se abriram mais que o de costume e a boca os seguiu nisso, a única diferença sendo o sorriso que se formava nos cantos.
Depois de conseguir se recompor, é claro, fora a vez que Gabriel tomar uma posição, lá estava, de volta, aquele diplomata - mesmo que não conseguisse esconder aquele olhar encantado -, dando alguns tapinhas no próprio colo, convidando o demônio a se aproximar, o mesmo o fazendo de bom grado, as mãos encontrando aquelas madeixas negras enquanto sentava em seu colo, já podendo sentir o notável volume ali.
- Porra...
Soltou, sendo essa a vez do demônio de se impressionar.
- Gabriel! – Seu sorriso era impagável, mas talvez não tanto quanto a cara do arcanjo.
-Eu...
- Que feio.- Brincou, aquele ar sedutor voltando.- Um anjo não devia falar essas coisas.
E então Gabriel voltou ao momento.
- Então, talvez, você devesse manter minha boca ocupada, para não acabar acontecendo de novo.
O convite havia sido feito e mão seria Crowley a recusar, puxando o arcanjo com ambas as mãos, colou seus lábios num beijo ansioso, deleitando-se naquelas sensações que corriam por todo o seu corpo quando aquelas mãos tocavam-lhe todo o corpo.
Com os olhos fechados, sentiu ser deitado na cama, isso de longe chegando a ser um incomodo, enroscando-se no amado, se entregava mais e mais. As mãos agora na procura de livrar seu parceiro da camisa, apenas ansiando por sentir aquela pele junto a sua, quente como aquela estrela que chamamos de sol .
E não era automático, mas tudo parecia se encaixar perfeitamente no outro,as mãos, os beijos, cada parte envolvendo-se com todas aquelas sensações. Aquelas ondas o atingindo quando pode sentir seu arcanjo dentro de si, os movimentos começando lentos e provocantes, a troca de olhares naquele misto de paixão e luxuria. Os gemidos começavam a vir com mais frequência, Crowley agarrava-se ao anjo, o mesmo proferindo todas aquelas juras, arrancando-lhe sorrisos.
- Ah, Gabe.- Começou, as unhas nas costas do outro.- Você podia ter abandonado o Céu antes.
E, no entanto, a frase não teve o resultado esperado, Gabriel parou e o demônio se viu obrigado a abrir os olhos, se deparando com o olhar deveras confuso – e um tanto apreensivo – do arcanjo.
- O que ?
- “O que” o que ?
- O que você disse ?
- Que ‘cê poderia ter abandonado o Céu antes, que que tem ?
- Eu não abandonei o Céu, Crowley.
- O que ? – Foi, então, a sua vez de ficar confuso, a fala saindo mais estridente que o normal.- Como assim não abandonou ?
- Não abandonando.
- Não, pera.- Como a noite já tinha sido estragada mesmo, o afastou, ambos então se ajeitando melhor na cama, sentados.- O que você ‘ta fazendo aqui então ?
- Estou passando um tempo com você.
- E depois vai voltar para lá ?
- Sim.
- Por que ?
- Porque é meu dever.
- Claro que não, o Aziraphale não tem mais obrigação nenhuma com eles.
- Tem como você parar de me comparar com o Aziraphale ?
- Eu não estou comparando.
- É claro que esta! Você sempre faz isso.
- Eu só comentei que se ele não precisa fazer o que o Céu manda, você também não tem que fazer.
- E só porque ele quis uma coisa eu também tenho que querer ?
- Não, mas...ele teria ficado aqui por mim.
- Pelo que eu sei ele nem mesmo te quis.
Calcanhar de Aquiles. E talvez tivesse sido de mais, só que já estava cansado de todas aquelas comparações, como se ele não pudesse ter vida própria, havia feito tudo que podia e mais um pouco por Crowley para ele ser tão egoísta ao ponto de lhe negar de voltar ao Céu. Sabia que iria se arrepender disto depois, mas agora, ver aquele olhar chocado e magoado, parecia apenas justo.
- E pelo visto você também não quer.
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