Dizem que pessoas inteligentes levam um tempo a mais para encontrar um parceiro e, bem, Miguel era muito inteligente, assim como Aziraphale.
E lá estavam eles, juntos mais uma vez, não que estivessem namorando, estava mais para encontros casuais, apesar do principado ansiar por algo a mais, nenhum pedido havia sido feito - e a relação do guerreiro com o mensageiro continuava em pé, claro que lhe parecia errado, de certo modo, mas era como um vicio, tinha de ir cortando aos poucos -. Então seus lábios se tocavam e era como mágica, mas mesmo assim não conseguia parar de pensar que isso não viria ter uma duração ao longo prazo, já tinha um péssimo histórico e preferia não arriscar se entregando de mais, não queria desacreditar da veracidade daqueles atos que trocavam, parecia egoísmo da sua parte e tentava não pensar muito, mesmo que lhe parecesse impossível não esperar um fim não muito agradável, e ainda assim, se policiando tanto, não conseguia evitar todas aquelas sensações, não quando Aziraphale retribuía o beijo tão fervorosamente.
- Fica...
Ele começou, o espaço para qualquer dialogo sendo, no entanto, substituído por mais daquele beijo, porque Miguel queria desfrutar o máximo daquele instante, as mãos se afundando naqueles cachos tão louros, o dono dos mesmos não vendo outra escolha a não ser entregar-se, com os olhos fechados e os suspiros apaixonados, suas mãos estavam na cintura do arcanjo, enquanto as próprias costas eram coladas á parede, o que era, na verdade, um alivio, ter um apoio, porque o corpo já estavam em êxtase.
- Já deu minha hora.
Disse uma vez afastados, mesmo que minimamente.
- Não pode ficar nem para o jantar ?
Aziraphale suplicava-lhe com o olhar.
- Hoje não. – E beijou-lhe novamente, mais rápido dessa vez, as mãos ainda em seu rosto ajeitando alguns cachos rebeldes próximos às orelhas.- Tenho assuntos a tratar lá em cima.
- Mas eu vou comer sushi.
O principado, sem duvidas, era extraordinário, porque mesmo perdendo a paciência e fazendo caras e bocas, conseguia ser um manipulador, com aquele olhar tão adorável.
- Fica para uma próxima.
E voltou a beija-lo, sendo este seu breve adeus e um jeito de lhe impedir de contestar.
~*~
De volta ao Céu, as coisas estavam bem, suas visitas a Terra não eram lá as mais frequentes, mas gostava de dizer que eram de um número razoável, enquanto as vezes em que o principado ia ao Céu tiveram um pequeno, mas perceptível, aumento, não só em todas as reuniões que tinham, mas vez ou outra para um encontro rápido, nada muito além de colocar o papo em dia e alguns amassos com a porta de sua sala fechada, não que fosse a dar algum problema se descobrissem, era um anjo com outro anjo em tempos que, mesmo com todo aquele tabu, não era mais um alarde, só não queria seu nome na boca do povo tão de graça assim.
Andando pelos corredores, seu suspiro saiu baixo, não gostava disso, de ter aquela sensação quente de volta ao seu peito, já perdera as contas de quantas vezes já havia se repreendido por isso, enquanto em outras se deixava sonhar, no fim todos precisam de um pouco de fantasia para suportar a tão aterrorizante realidade. E foi no exato momento em que fechara os olhos, tentando retomar as rédeas depois de ter estado todo abobado com aquela paixonite adolescente que vinha acontecendo, que outro anjo aparecera logo a sua frente, simplesmente do nada, segurando o pelos ombros.
- Miguel! Começou!
E é claro que abriu os olhos, espantado, o olhar sendo irritado para aquele principado sorridente.
- O que começou, Haniel ?
- O Anticristo nasceu!
E Miguel, aquele arcanjo serio que na maioria das vezes se vê com a cara fechada, deu um dos sorrisos que jamais se poderia esperar, porque não era só uma noticia boa, era uma noticia maravilhosa(!) e não havia quem pudesse negar isso.
- Ele nasceu ?
Repetiu, porque precisava saber que era mesmo real.
- Sim! Finalmente vamos voltar a ativa e resolver isso de uma vez! – O Líder dos Principados tinha o olhar distante e sonhador, ainda segurando seus ombros, ato esse que agora não importava, porque também compartilhava daquele olhar. – Consegue imaginar ?
- Ah, eu mal posso esperar.
Era, sem duvidas, uma frase peculiar de se ouvir, já que se tratava de uma guerra, mas ele era um guerreiro, precisava, sim, de um campo de batalha, não de uma sala engomada com pilhas e mais pilhas de papeis.
- Só mais onze anos.
Haniel falava com aquele ar todo encantado.
- Vou contar os segundos.
E era irônico como aquilo, de repente, era um paraíso.
- Pela sua cara acho que já soube da boa noticia.
A voz de um terceiro anjo se fez presente, era Gabriel, sorrindo-lhe daquela maneira tão apaixonante de sempre.
- Sem duvidas. As informações são confiáveis, não são ? – O guerreiro perguntou, apenas para ter certeza. – Não quero vocês dois me dando alegrias falsas.
- Se não fossem, acha que veríamos Haniel sorridente assim ? – É, falando assim não havia mais duvidas, porque se o principado não estivesse tão contente com a noticia, teria com certeza feito cara feia com o comentário do mensageiro. Então concordou, feliz, Gabriel logo continuando a falar. – Você que estava na Terra, Miguel, sabe onde o Aziraphale esta ?
- Vai contar a ele ?
- Ah, por favor, Miguel, isso é óbvio. – As vezes Haniel cruzava um limite que poucos tinham coragem, odiava e admirava isso nele. – Ele é o mensageiro.
Mas tal audácia foi ignorada e voltara-se ao seu arcanjo.
- Você não vai gostar de onde ele foi.
- Não me diga que é outro restaurante.
Gabriel torceu, não sendo seu dia de sorte.
- Desta vez é comida japonesa.
- Deus...
Miguel era dramático, mas Gabriel conseguia lhe superar quando se tratava daquela “matéria nojenta”.
- Falando nisso tudo, - O principado começou, direcionando-se ao mensageiro. – Qual o demônio envolvido dessa vez ?
Assim, a alegria do momento havia ido embora , toda a fisionomia do arcanjo mensageiro mudou e seu olhar foi para Miguel, talvez procurando por amparo, e voltou ao principado, meio receoso.
- Pelo que...pelo que eu soube. – Parou, molhando os lábios após um longo suspiro. – Crowley, é o nome dele.
- Não me é estranho.
E o desanimo do arcanjo era nítido quando veio responder ao outro anjo:
- Para mim também não.
~*~
Miguel não podia acreditar que havia voltado a estaca zero.
Tudo bem, podia esta exagerando um pouco, as coisas andavam meio puxadas com o Armagedom próximo assim, mas não lhe parecia motivo o suficiente para estarem no pé que estavam, tudo começou com aquela ideia de que poderia influenciar o Anticristo a ser bom, o que lhe parecia sem nexo algum, mas já que Aziraphale queria tentar, não iria o impedir, só não achava que fosse tomar todo o tempo do principado, praticamente não se viam, porque por algum motivo o outro não queria que fosse o ver quando estava de olho na criança, então o número de mensagens e ligações foi se tornando cada vez menor até que deixassem de existir.
- Você não esta escondendo nada de mim, esta ?
Perguntou, depois que os outros arcanjos saíram e, assim, ficaram só os dois ali, o clima não parecendo o melhor, não fazia muito tempo que o Anticristo estava na Terra e não sabia o que dizer sobre essa reviravolta do destino, com tudo desabando assim.
- O que ? – Ele parecia espantando, havia acertado na pergunta ? – N.. não, não é... é claro que... é claro que não. – Aziraphale era um péssimo mentiroso, mas sue modo de falar parecia ser sempre meio embolado, pelo eu havia visto ao longo de todos aqueles milênios quando conversavam. – É apenas muito trabalho. – E molhou os lábios, as mãos parecendo um pouco tremulas quando seguraram as suas. – Depois que ganharmos... vamos poder passar a eternidade juntos, o que acha ?
Miguel se sentia um idiota em acreditar nessas coisas, em tomar atitudes como as que tomou, mas isso só depois de o fazer, assim ignorou seus princípios, levando suas mãos aquela rosto angelical ao mesmo que colava os lábios ao do principado, o beijo não sendo muito longo ou profundo, mas cheio de significado.
Mas talvez Aziraphale não passasse de uma distração, algo para lhe desviar de seu verdadeiro foco, ou talvez era só seu tolo coração lhe pregando peças de novo, porque quando Gabriel aparecera aquele dia, lhe contanto da briga com Crowley, os três tinham a certeza de que havia acabado, definitivamente, e isso lhe parecia uma luz, vindo a clarear aquelas tantas duvidas, entre um e outro, o arcanjo parecia ser sempre sua escolha. Então talvez fosse maldade com o principado, mas não tinham nada fixo e ultimamente parecia mais uma competição para ver quem consegue se importar menos, mesmo com tantas promessas a eternidade, a distancia só crescia entre eles e Miguel não via outra opção a não ser correr de volta àqueles braços que nunca foram seus, porque por mais que seu coração batesse diferente ao louro, Gabriel o teria sem precisar de palavras.
Sim, ele sabia, estava estragando tudo de novo, mas em um mundo cheio de negativas, uma positiva assusta.
~*~
Nada costuma ser fácil, mas o Armagedom estava próximo e isso aumentava o ânimo dos anjos, era o finalmente, não é ? Só que conforme menos anos, meses e, então, dias se restavam, mais Aziraphale mudava, diferente e não de uma forma grandiosa que se elogiaria, ele parecia suspeito, estava com certeza escondendo algo, vindo com toda aquela gagueira e conversas desconexas, Sandalphon até mesmo comentara que queria lhe dar um soco só para ver se dava uma desengasgada no que estava tentando falar, assim, era nítido que a moral do principado não estava ficando a das melhores por lá, e isso não era nenhum pouco bom, principalmente em momentos tão próximos a tão esperada guerra.
As vezes Miguel se perguntava o que acontecia para as coisas sempre darem errado, Gabriel ainda estava ali, mas mesmo sem a presença física de Crowley, ele sabia, jamais viria a ter seu amor. E quanto Aziraphale ? Tudo simplesmente se perdera, e pensar que um dia chegara a sonhar com uma historia de amor, parecia tão estúpido agora, com todos aqueles erros, complicações e falhas de comunicação que arruinaram tudo, talvez fosse sua sina viver sozinho por toda a eternidade, porque aquela historia estava parecendo muito com uma tragédia agora.
- No que esta pensando ?
A voz era de Uriel, que estava bem relaxado deitado em seu peito nu, as mãos brincando com o cabelo solto e bagunçado que descia pelos ombros do arcanjo guerreiro. Seu olhar, então, encontrou com o dele e o sorriso foi sutil, gostava de Uriel, era realmente um ótimo amigo, um confidente no qual não via problemas em confiar.
- No Aziraphale.
Foi sincero, levando as mãos aquele rosto tão lindo que o arcanjo conseguia ter.
- Nossa, que romântico.
- Ora, por favor, sabe que não desse jeito. – Pelo menos não nesse momento. O outro, por sua vez, apenas concordou com um murmúrio baixo, nitidamente crendo o contrario, quando os lábios voltaram a se tocar, o beijo assim tomando mais profundidade com todos aqueles suspiros e as mãos o puxando para mais perto. – Não teria como pensar em qualquer outro com você aqui.
E suas mãos então desceram mais, passeando por aquele corpo tão encantador no qual amava explorar, cada parte já tento sentido o seu beijo.
- Não é muito comum anjos mentirem.
- Eu só estava pensando que ele anda um estranho ultimamente.
- Ah. – Não era lá a melhor das explicações, até porque... – Mas ele sempre foi meio esquisitinho, né ?
E Miguel não pode deixar de rir, sabia que era na maldade, mas também não o defenderia se fosse, não se podem contradizer fatos.
- Ele parece estar fazendo algo de errado. – Se corrigiu, então, assim ficando mais fácil a se entender. – Anda muito suspeito.
- Então, o que acha de investigarmos quando voltarmos ao Céu ?
- Leu a minha mente.
- Mas antes...- Uriel fez uma pausa dramática, dando aquele belíssimo sorriso que parecia só ele conseguir fazer, sortudo mesmo seria quem conseguisse conquistar o coração desse arcanjo, porque poucos não foram os que tentaram, mas o mesmo parecia andar bem mais interessado em se divertir há algo serio. – Vamos pedir serviço de quarto!
A risada que o guerreiro dera não tinha preço, essa era, sem duvidas, uma ótima tradição que tinham. Não se lembrava quando começara, mas sempre que o tempo era favorável faziam a reserva de um quarto em um dos melhores hotéis de Paris – porque Miguel simplesmente adorava aqueles lados -, então depois das caricias, bebidas, risos e sexo, era hora de descansar naquela enorme e ornamentada cama e encherem os funcionários com alguns pedidos.
O evento de hoje sendo uma despedida àquela civilização que conheciam. E já sentado a cama com o telefone a mão, Uriel se virou para ele:
- O que vamos pedir dessa vez ?
Eram clientes de mais prestigio ali, então o absurdo não era lá impossível. Também se sentou a cama, selando seus lábios mais uma vez e então proferindo:
- Me surpreenda.
~*~
Traição.
Era essa a palavra que descrevia o que Miguel sentiu ao ver aquelas fotos.
E poderia chama-lo de hipócrita sim, porque Gabriel já se encontrara com o demônio Crowley inúmeras vezes e o guerreiro fizera questão de ajudar em esconder tudo aquilo, então não, não tinha moral alguma para julgar o principado. Mas ele não sentia aquela traição só de forma política, apesar de muito bem ser, mas era porque Aziraphale era para ser seu, e não estar cheio de interesses em um demônio, era para o principado confiar em si e ser seu mundo, mas parecia que Crowley conseguia tomar seu lugar com tanta facilidade, qual era o problema deles para preferirem um demônio qualquer a um Arcanjo Guerreiro ? Porque Crowley conseguia ser tão melhor a si ?
Então sentia-se sim traído, por saber que Aziraphale tivera a capacidade de lhe beijar enquanto além de ter interesse em um demônio tramava coisas com ele, porque por mais que Gabriel amasse Crowley, sabia que jamais se voltaria contra Deus, enquanto o principado tinha a mente fraca, sabia que sucumbiria, e como guerreiro que era não poderia deixar uma coisa dessas acontecer, passara por essa mesma historia com Lúcifer e não fora ele quem caiu.
E mesmo sem todas as respostas a suas perguntas, o confrontou, junto a Uriel e Sandalphon, que pareceram fazer questão de ir – também não estava esperando que ele fosse mesmo dar aquele soco, mas não interviu -. Era a hora de escolher um lado e, no fim das contas, Miguel decidira que preferia não estar do lado de ninguém, teria apenas Deus no coração e uma lança em suas mãos, que o fim tivesse seu inicio.
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