Anteriormente...
- É claro, meu caro almirante! Meus homens e eu estamos mais do que prontos para uma briga, certo, rapazes?! – Perguntou a capitã, olhando ao seu redor e recebendo um grito de guerra de toda sua tripulação.
Enquanto todos gritavam, um homem alto, com cabelos branco e selvagem, chegava no local enquanto massageava o próprio ombro e estalava o pescoço.
- Terminei o que você me pediu, capitã. Rota de fuga, quartos, mais espaço pros navios... Tem certeza de que deveríamos ajudar esses caras? Não me parecem muito convidativos pra mim. – Diz o albino, com uma mão cobrindo a boca, perto do ouvido de sua capitã.
- Eles querem nossa ajuda, não nossa lealdade. Quando não formos mais necessários, eles com certeza vão nos apunhalar. – Afirma a mulher, enquanto se retirava do local e subia em seu navio, sendo seguida pelo albino e o seu imediato, Kazuha. – Mas, veja bem, isso também se aplica a gente.
- Então vamos trocar de lado?
- Quando for conveniente, sim. Nós vamos, Itto.
Agora...
O pátio central do palácio, que antes era utilizado para meras exibições de poder, havia se tornado um centro médico em poucos minutos, por ordem de Katara.
A garota havia ordenado, já que Zuko estava desacordado no momento, que todas as tropas, aliadas e rebeldes, fossem levadas para lá e fossem tratadas sem distinção. Apesar das caras amarradas de alguns curandeiros, eles realizavam seu trabalho conforme o ordenado pela sua Senhora. Até mesmo as curandeiras da Tribo da Água do Norte estavam realizando suas técnicas de cura naqueles soldados da Nação do Fogo, pro desgosto delas. Katara só foi auxiliar no centro quando saiu do quarto que compartilhava com Zuko, depois que fez uma breve avaliação em seu estado.
Durante seu breve período de cura naqueles soldados, viu várias formas de expressão do rosto dessas pessoas.
Surpresa.
Agradecimento.
Alívio.
Desgosto.
Raiva.
Orgulho ferido.
Mas a maior parte deles a olhava com certa desconfiança. Como se a questionassem o que ela estava fazendo com eles, ou o porquê dela fazer aquilo.
Mas o silêncio, a preocupação e a concentração no que fazia, deixava claro para esses pacientes que ela queria ajudá-los.
Quando Azula apareceu no local, a morena já sabia que aquilo não era um bom sinal. Principalmente quando viu a ex-princesa a chamar com o dedo.
- Espero que isso seja importante, Azula. – Avisou Katara, enquanto se afastava de todos para conversar com a cunhada.
- Achamos o atirador. Ao contrário daqueles caras que atacaram no pátio, ele não tinha uma cápsula com veneno escondida. – Informou Azula, enquanto caminhava para fora do pátio com Katara.
- Pelo menos temos alguém pra fazer perguntas.
- Mas isso é o de menos. Precisa fazer algo contra os opositores.
- Como?
- Ameaças.
Não foi preciso olhar a expressão que se formou no rosto da morena ao ouvir aquela simples resposta para o problema dos traidores.
- Eu não vou fazer isso! – Afirmou a dominadora da água, olhando com desaprovação para a outra. – Talvez se nós...
- Isso não vai funcionar. Esses homens aprenderam desde cedo que nós, da Nação do Fogo, somos superiores as outras pessoas. Nunca que eles aceitaram dialogar com alguém que veio de fora. Principalmente se esse alguém é a futura Senhora do Fogo. No caso, você. – Interrompeu a ex-princesa, para o desespero da outra. – E também, não precisa ser de verdade. Você vai brincar com o psicólogo deles. Fazer eles acreditarem que não tem outra escolha a não ser obedecer.
- Ainda assim, eu não quero fazer isso.
- Infelizmente não temos escolha. Zuko está acamado, até ele se recuperar. Eu perdi meu posto, graças ao Agni Kai. E meus tios até podem ter alguma influência, mas não são os futuros governantes. Você e Zuko são. – Rebateu Azula, mais firme do que antes. – Entenda. Nesse jogo, você é tanto a caça quanto caçador. Se não souber o que fazer com suas cartas, você vira caça e eventualmente morre. Ou pior.
Katara não havia gostado nem um pouco da conversa que teve com Azula, mas precisou dar o braço a torcer com seus argumentos.
Muitos dos oficiais jamais iriam aceitá-los de verdade, nem se estivessem pintados de dourado. Então a única forma de ter algum resultado direto, seria por meio de ameaças.
Cap. 7 – Preparações
No dia seguinte, depois de horas de trabalho e esforço dos curandeiros, todos os homens que haviam sido listados como rebeldes – os que estavam minimamente bem de saúde – foram reunidos num pequeno pátio do palácio. Eram cerca de 200 pessoas ali reunidas, mas ainda assim havia aqueles que eram de alta patente do ramo militar.
Capitães, tenentes, almirantes, generais.
Todos se entreolhavam e se perguntavam o porquê de terem sido reunidos ali.
Mas todas as suas dúvidas começaram a serem sanadas pela pessoa que se fez presente na entrada do local.
- Boa tarde a todos.
Katara atraiu a atenção de todos com sua voz, mesmo estando um pouco nervosa e se sentindo culpada pelo o que estava para fazer. Precisou ser acompanhada por Azula e Yae Miko, para que pudesse ao menos praticar no caminho a forma que deveria se portar diante de todos. E no momento, as duas "professoras" observavam tudo a alguns passos de distância dela.
- Eu espero que se sintam confortáveis e bens. – Começou a garota, num tom firme e confiante. – Eu trouxe notícias sobre o desfecho dos incidentes de ontem. Nosso Senhor do Fogo Zuko está bem e se recuperando. Já seus atacantes, se encontram mortos.
Não foi uma surpresa para as mulheres ali ao notarem o olhar de desgosto por essas duas notícias. Mesmo que essa última seja uma meia verdade. General Amak havia sim sido morto, mas a Almirante Cho foi capturada e presa numa cela individual, longe dos outros detentos da prisão da capital.
- Até aqui tudo bem. – Afirmou Azula, num tom baixo ao lado da tia.
- E você já identificou cada um deles? – Perguntou a rosada, mantendo os olhos fixos nos oficiais a frente dela.
- Apenas cinco deles que são real ameaça. Todos oficiais de alta patente, do capitão para cima.
- Fique de olho nos da direita. Eu cuido dos da esquerda.
- Quanto aos atos rebeldes de ontem, no qual vocês participaram, saibam que temos um relatório completo, que contém os nomes dos que participaram desse ato de rebeldia. – Continuou Katara, se esforçando para manter a pose de uma soberana séria e decidida, pronta para fazer as escolhas mais difíceis que um líder deveria fazer.
Uma meia verdade, já que eles só tinham os nomes dos oficiais que participaram da rebelião, que eram bem mais perigosos do que meros soldados rasos.
- Porém, venho informar que, meu noivo e eu, estamos dispostos a dar uma nova chance a vocês. Se jurarem não levantar armas contra a sua própria nação, ou contra seu Senhor, estarão livres para voltarem as suas casas e famílias. – Contou Katara, fazendo a oferta que lhe foi instruída a dar a aqueles homens. – Também gostaria de convidar os senhores ao meu casamento, que ocorrerá em algumas semanas. Todos vocês, independentemente de sua patente, serão mais do que bem-vindos para celebrar e comemorar o surgimento de um novo ciclo. Por favor, tragam as suas famílias. É meu desejo conhecer meu futuro povo.
- Ela está começando a hesitar. – Notou Azula, enquanto mantinha um dos olhos nos militares abaixo delas.
- Foco. Katara sabe o que faz. – Rebateu Yae Miko, mantendo os dois olhos nos oficiais em seu campo de visão. – Aquela capitã parece ser um possível aliado. Vamos conversar com ela mais tarde.
Azula deu uma breve olhada na oficial mencionada por sua tia. Uma garota, não mais velha que Azula, mas também não muito nova para ser recusada para entrar em carreira militar. Devia ter mais ou menos 1,68 m de altura, visto que ela era a oficial mais alta entre as mulheres ali, que eram a minoria ali, entorno de 9-10 indivíduos. O mais curioso daquela garota não era por causa de sua idade, mas sim pela sua aparência física. A pele levemente morena e os cabelos negros e volumosos, eram algo quase que comum em certas regiões da Nação do Fogo. A única diferença é que ao invés de manter a aparência digna de um oficial de alta patente das forças armadas de uma nação, ela deixava o cabelo de uma forma que mais parecia uma bola de pelo negro ao redor da cabeça.
A ex-princesa não viu nada de mais naquela garota, mas se sua tia disse que a oficial poderia ser útil para eles, então ela não iria discordar ou rebater a opinião.
Afinal, quanto mais aliados eles tivessem naquele momento, melhor.
Azula nem percebeu que Katara já estava se dirigindo a ela e sua tia, quando notou os olhos cinzentos da jovem oficial sobre si, e soltar um leve sorriso e um beijo para ela, antes de dar as costas e ir conversar com alguns colegas de carreira.
- Como eu fui? – Perguntou a futura governante da nação, tentando não demonstrar o nervosismo que ainda sentia.
- Mais uns 20 anos, e você vai ser tão boa quanto eu fui na sua idade. – Comentou Miko, com um sorriso levemente divertido para Katara, que se desanimou um pouco com o comentário. – Ainda assim, você conseguiu manter a postura que é esperado de você, uma Senhora do Fogo. E com esse empecilho posto de lado, podemos nos ater em coisas um pouco mais importantes, como algumas tradições nupciais. – Informa a rosada, enquanto dava as costas para as garotas.
- Prepare-se para mais uma aula cheia de coisa chata. – Avisou Azula, com uma cara tediosa em seu rosto, antes de começar a seguir a tia ao lado de sua cunhada.
- Pelo contrário, Pequenina. Diria que essa aula será deveras... Interessante. – Rebateu a mais velha, sem se virar para as mais novas.
De repente, a sacerdotisa retira uma espécie de livro de uma das mangas de seu traje e entrega para Katara.
O livro possuía uma capa dura simples, de um material similar ao pergaminho, só que rígido. Sem título ou desenhos para dar uma dica do que o livro se tratava, fazendo as duas garotas se entreolharem por um tempo, até desistirem de teorizarem – já que nenhuma das duas conseguia ter certeza do que isso se tratava – e abrirem o livro.
As primeiras páginas foram tranquilas, só um monte de palavrórios sem muita importância.
Até que elas notaram certas ilustrações bastante sugestivas no decorrer, do que seriam, os capítulos seguintes.
- Fufufu... Pela reação de vocês, acredito que não estavam esperando isso, não é? – Questionou Yae Miko, com um sorriso, deveras, satisfeito com o que via.
- Eu não quero ser rude ou algo do gênero, mas isso não seria um exagero?! Por que eu teria que aprender sobre isso?! – Pergunta Katara, quase entrando em pânico com o que acabou de ler.
- Até eu estou chocada com isso. E olha que não é fácil disso acontecer. – Comenta Azula, desviando o olhar do livro para a tia por um instante. – Eu nunca tive que aprender isso daquelas duas múmias ambulantes. Mas você quer ensinar isso pra ela? Aí tem coisa. – Complementa a mesma, antes de voltar seus olhos para uma imagem do livro que a deixou deveras intrigada. – “Tem como alguém fazer isso?” – Murmurou baixinho a ex-princesa.
- A resposta para isso é simples. Você nunca aprendeu sobre isso, pois tinha um espaço de tempo enorme para o seu “futuro casamento”, que nós duas sabemos que você cancelou por conta própria. Como o casamento de Katara e Zuko está logo ali na esquina, ela precisa ao menos saber o básico sobre sexo. Além de saber se prevenir, caso não queira uma gravidez num período indesejado, como está sendo esse momento. – Explica a rosada, se aproximando das duas garotas com bastante calma. – E também, ela precisa saber de um pequeno grande detalhe quanto ao fim da noite de núpcias.
- Que detalhe? – Questionaram as mais novas, ao mesmo tempo, pois até mesmo Azula não sabia de tudo sobre os costumes de seu país.
- Normalmente – mais precisamente, em meio as famílias nobres – a matriarca de uma das famílias deve averiguar se o ato havia sido realizado na noite anterior. Mas tanto Zuko quanto você, Katara, não poderão ter suas mães aqui presentes, infelizmente. O que obriga que eu, a guardiã de meus sobrinhos, tenha que levar você para um canto separado, e ser examinada para saber se você perdeu a virgindade. – Explicou a sacerdotisa, deixando as duas garotas vermelhas de vergonha. – E antes que você fale algo, mocinha, eu conversei com seu pai e avô primeiro sobre isso. Eles me disseram que a Tribo da Água possui uma tradição similar. Ao menos foi o que seu avô disse.
Katara queria congelar tanto seu pai quanto seu mestre/avô naquele instante.
Como diabos eles não avisaram ela sobre esse tipo de assunto com antecedência?
Ah, é...
Estavam ocupados com a guerra que eles mesmo estavam travando, contra o antigo Senhor do Fogo e sua nação. E como também nunca esperavam envolver seus familiares em jogos políticos de outras nações, esse tipo de coisa só seria mencionada, ou dita, depois de muitos anos, quando as pessoas envolvidas já estivessem mais velhas. Mas se eles tiveram essa conversa com Miko antes, podiam ter ao menos a preparado sobre o último assunto discutido com ela.
Isso tornaria as coisas menos incomodas e vergonhosas.
*
*
*
*
Foram duas horas, as DUAS HORAS, mais vergonhosas e embaraçosas na vida da jovem dominadora d'água. Mesmo que isso não se tornasse verdade futuramente, sentia seu rosto arder na maior parte do tempo. Tanto ela quanto Azula foram obrigadas a ler e VER cada uma das páginas apontadas por Yae Miko.
Isso se não quisessem levar um choque na testa, forte o bastante para simular um soco de um urso-gorila.
E ainda restavam outras 150 páginas para ler.
Na parte da tarde, Katara ajudou os curandeiros a tratar dos feridos que vieram da rebelião no dia anterior. Conseguiu arranjar um tempo para ver Zuko, que estava encostado na cama e analisava alguns documentos, com a ajuda de Iroh e Sokka, relacionado aos navios desertores. Infelizmente, Iroh não conseguiu reunir todo o exército da nação que estava no Reino da Terra. Uma parte da marinha e do exército queimou a largada e se dirigiram para a Nação do Fogo, mas não houveram relatos de aportarem em algum porto do país.
Isso levou Iroh desconfiar de que havia portos clandestinos em sua nação, de preferência próximo de locais minimamente civilizados, para que assim a tripulação não só pudesse descer e reabastecer seus suprimentos, mas também terem seus momentos de lazer e relaxamento.
Quanto aos agentes estrangeiros de Cawrios, a maioria estava morta. Exceto o atirador que foi capturado por Yae Miko, porém ele se recusava a falar alguma coisa útil. Além de estar falando em uma língua desconhecida pelos guardas.
- Alguma novidade na investigação de vocês? – Pergunta Katara, enquanto adentrava no quarto e só recebeu um simples murmúrio de desgosto por parte dos homens ali presentes. – É tão ruim assim?
- Ruim é pouco. Tamo é fodidos, isso sim! – Reclamou Sokka, soltando o mapa em suas mãos e o deixando cair na cama de Zuko, que apenas massageava a têmpora.
- A maior parte do nosso exército está em casa. Mas apenas as tropas de infantaria, cavalaria e mecanizada, como os tanques de guerra. O resto, como marinha e a força aérea estão escondidos por aí. Seja espalhados pela Nação do Fogo ou em um único lugar. – Explicou Zuko, mais calmo que o colega, mas ainda não conseguia esconder a frustração que sentia em saber daquilo.
- E graças a isso não podemos enviar tropas para rastreá-los. Seu casamento está marcado para daqui a duas semanas. Pakku e eu iremos ao polo sul, para tentar explicar a situação a sua avó e, se tudo der certo, convencer ela a vir para cá. – Continuou Iroh, com seu jeito calmo e sereno, mas ainda havia um toque de preocupação em sua voz.
- Não dá pra contar com o Aang e a Toph com esse trabalho, né? – Pergunta Katara, de forma inocente e, possivelmente, já esperando uma resposta negativa.
- Infelizmente não. – Disseram os três ao mesmo tempo.
- Aang precisa estar no casamento de vocês, por ser o Avatar e também padrinho de casamento de vocês. A pedido de Zuko, se não me engano. – Complementa o bom velhinho, surpreendendo a morena com aquela informação.
- Tio! – Gritou o enfermo, quase abrindo a ferida em suas costas.
- Quando foi que você pediu isso pra ele? – Perguntou a morena, surpresa com o pedido de seu noivo ao melhor amigo dele.
- Hoje de manhã. Ele veio me ver e eu o questionei sobre aquele espírito que vimos na carta do Raki. – Contou o jovem Senhor do Fogo. – Infelizmente, ele também não sabe quem é Raava.
- Nem mesmo os outros Avatares antes dele?
- Não.
Vendo o clima ficar meio pesado, Iroh se levantou de sua cadeira, retirando os papeis das mãos do sobrinho e de seu colega de estratégia militar (Sokka), ganhando um protesto silencioso do mesmo. Antes de sair do quarto, Iroh disse que mandaria alguém trazer o jantar aos dois, visto que Zuko ainda estava se recuperando do tiro do dia anterior.
Quando o velho general se retirou do local, sendo seguido por um Sokka irritado, Katara começou seu processo de cura em seu noivo.
Zuko precisou se curvar um pouco para frente, permitindo que a garota visse a cicatriz que se formava nas costas do rapaz.
- Hphm...
- Doeu? – Perguntou a garota, preocupada com o amigo.
- Não. A água tá fria... – Explicou o moreno, ganhando uma cotovelada fraca da médica, que sorri com a resposta. – Você tá bem?
- Depende. Sobre o que estamos falando?
- Dobra de sangue. – Apontou Zuko, ainda de costas para Katara. – Posso não ser o melhor quando se trata de assuntos sensíveis, mas o pouco que sei de você, é o bastante para dizer que há algo de errado. E eu lembro que você não estava nas melhores condições depois de ter me salvado ontem.
- Foi por conta do tsunami que eu fiz pra impedir a fuga dos desertores. O Aang pode ter aliado o fardo, mas eu acabei fazendo a maior parte do trabalho.
- Tem certeza? Quando fomos atrás dos Atacantes do Sul, você não parecia tão cansada.
- Era de noite e eu usei a força da lua pra fazer a dobra. Sim, isso forçou mais do que o esperado, já que não era lua cheia, mas ainda assim deu certo.
- ... Por que eu sinto que tem algo que você não está me contando?
- ...
A pergunta foi o que deixo o clima entre os dois amigos/noivos um tanto tensa. Afinal, Zuko não era uma pessoa que sabia muito – vulgo, nada – em como abordar temas sensíveis. Pode se dizer que ele é como um rinoceronte-de-komodo em uma loja de cerâmica, um completo desastre pra não falar outra coisa.
- Desculpa. Eu...
- Eu me senti como na primeira vez. – Interrompeu a garota, silenciando Zuko no mesmo instante. – O ataque aos Atacantes do Sul não foi a primeira vez que usei a dobra de sangue. Foi semanas antes, quando nós ainda nos escondíamos dentro da Nação do Fogo, nos preparando para o ataque durante o eclipse.
Zuko sentiu a água que o curava ser retirado de suas costas e ouviu o som do elemento sendo jogado num vaso não muito distante. Isso o permitiu se virar e encontrar uma Katara completamente diferente do que ele já havia conhecido. Uma Katara com medo, raiva, vergonha e até mesmo enojada de alguém.
Mas não com alguém que ele ou ela conhecia, mas dela mesma.
Ela sentia tudo aquilo dela mesma.
- Nós havíamos nos encontrado com uma sobrevivente da nossa tribo, Hama, que havia sido mantida presa em uma prisão feita para dominadores da nossa tribo. Ela consegui escapar, após criar uma nova forma de dobra. – Continuou a morena, fechando os punhos sobre os lençóis.
- Dobra de sangue.
Katara não pode evitar de sorrir ao ouvir a conclusão de Zuko.
Não tinha como não se orgulhar do raciocínio rápido do rapaz, em certas ocasiões.
- Quando a encontramos, ela me ensinou algumas coisas muito úteis para mim. Coisas que eu achava que nunca conseguiria fazer sem ter uma fonte de água por perto. Mas... Conforme as aulas foram se seguindo, alguma coisa dentro de mim se quebrava. Dizia para eu ficar longe dela. De que eu me arrependeria se continuasse. – Contou Katara, sem olhar para Zuko, mantendo o rosto voltado para o chão e deixando as mechas soltas de cabelo cobrir seus olhos. – Mas eu continuei. Eu continuei porque eu queria ser mais forte. Queria ser capaz de proteger meus amigos e minha família. Eu queria abandonar aquela eu que não pode fazer nada naquele dia. Nada além de correr e pedir ajuda.
Zuko estava prestes a falar alguma coisa, quando notou que Katara estava segurando o choro, e lágrimas saiam de seus olhos.
O Senhor do Fogo abraçou sua noiva, mesmo tendo um certo receio de que fazer tal ação fosse ajudar. Katara não o rejeitou ou o afastou. Ela simplesmente se permitiu ser abraçada pelo maior, sentindo o calor de seus braços e tronco desnudo a envolvendo, num abraço leve e calmo, buscando trazer algum conforto a jovem dominadora.
- Foi só quando ela contou e foi me ensinar a forma que ela escapou da prisão, que eu descobri o que ela queria de mim. Ela queria que eu difundisse esse conhecimento proibido para a posterioridade. Nós lutamos contra ela. Eu lutei contra ela. Tentei ao máximo não seguir os mesmos passos que ela trilhou, mas...
A pausa que Katara deu em meio a fala foi o bastante para Zuko entender o desfecho.
Hama era mais forte e experiente que Katara, mesmo tendo uma idade mais avançada e uma saúde mais debilitado que ela, a senhora tinha uma clara vantagem sobre Katara e companhia. Se Zuko não tivesse experimentado uma situação parecida no passado – graças a Azula – poderia dizer com clareza o que Hama estava fazendo com Katara naquela luta.
A senhora de idade a manipulou desde o começo.
O treinamento e o confronto, assim como a revelação repentina sobre a dobra de sangue, foi uma forma de manipular Katara. Para fazer ela se tornar forte o bastante para aprender e usar a dobra de sangue.
*
*
*
*
O resto da noite do casal foi algo tranquilo.
Katara se desculpou por ter mostrado aquele lado mais frágil da garota, mas Zuko não aceitou aquilo, dizendo que conseguia entender como ela se sentia. Ser manipulado e usado de tal forma era algo meio que cotidiano para ele, quando ele era mais novo e vivia no palácio.
Eles se arrumaram e jantaram com os amigos e parentes na mesa, antes de se despedirem de Iroh e Pakku após isso, visto que eles não tinham tempo a perder. Afinal, a viagem até o polo sul demoraria cerca de 10 dias (ida e volta) com as condições climáticas ideais é claro. E o casamento era em duas semanas, vulgo 14 dias. E como eles queriam que todos os parentes e amigos estivessem presentes nesse dia, não podiam demorar muito para trazer Kanna ao casamento de sua netinha.
Nesse meio tempo, até a chegada do dia do casamento, a equipe se focou em tentar descobrir um pouco mais sobre os infiltrados de Tsaritsa e dos Fatui, o que não deu muitos frutos – infelizmente – , e treinos voltados a recuperar o fluxo de chi em seus corpos, algo extremamente difícil de se fazer. O único prazer desse último foi ver Azula falhando miseravelmente, várias vezes. Yae Miko mantinha suas aulas de etiqueta e história com Katara, sendo auxiliada por Azula de tempos em tempos, pro desgosto das duas garotas e pro divertimento da rosada.
Faltando apenas três dias para a data marcada para o casamento, o navio que levava Iroh e Pakku retornou com Kanna, junto com alguns membros da tribo para reverem seus parentes e amigos, animando aqueles que haviam ficado na capital para o casamento.
Não é preciso dizer que Kanna estava desgostosa com o fato de sua adorável netinha estar se casando tão cedo. Mas o que ela mais detestava – pra não falar odiar – não era isso. E sim o fato do noivo ser aquele que havia atacado sua tribo e usado ela de refém, justo no primeiro encontro com sua tribo.
Obviamente houve desentendimentos e desavenças entre Zuko e Kanna, mas a senhora – apesar de velha – conseguiu ver que o rapaz havia mudado, assim como sua neta. Ela só não sabia dizer se a mudança que aconteceu com sua neta foi pra melhor ou pior – quanto a escolha do noivo – mas sabia que não tinha o que fazer. Se Katara estava feliz, então ela também estava feliz. Mas isso não quer dizer que Zuko escapou dessa sem sofrer uma ameaça da velinha que o deixou com um frio na espinha.
Mas foi apenas quando eles estavam terminando de se entenderem no cais, que Toph e Ty Lee se apresentaram diante de todos.
- Vocês não vão acreditar no que a gente descobriu! Tem uma caverna cheinha de piratas, não muito longe daqui! E o melhor? Existem alguns insurgentes com eles. – Cantarolou a Bandida Cega, quando disse a última parte, junto com um grande sorriso no rosto.
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