- Expresso, por favor. – pedi com o máximo de gentileza para a garçonete, que anotou rapidamente meu pedido e saiu.
Podia vê-la desfilar entre as mesas, provavelmente querendo chamar minha atenção. Olhei para os lados, eu era o único aparentemente visitando uma cafeteria de madrugada. Ela chegou ao balcão quase em câmera lenta, entregando o bloquinho para outra garçonete.
Com certeza, ela devia estar pensando: “que cara maluco pede café às três da manhã?”. As duas continuaram me olhando, até que a que recebeu meu pedido virou as costas e saiu em direção a uma portinha atrás do balcão.
Quando me dei conta, um copo de café fumegando estava na minha frente. A garçonete sorria como se estivesse vendo um artista famoso.
- Mais alguma coisa, senhor....? – perguntou, deixando uma brecha para que eu me sentisse à vontade e falasse meu nome.
- Shiroyama.
- Shiroyama-san, quer algo mais?
- Não, obrigado. – murmurei, levando o copo aos lábios.
A garçonete fez um cumprimento, saindo da minha vista. Suspirei ao perceber que estava observando o cardápio decorado com flores tempo demais. Senti meu celular vibrar no bolso. Não precisava saber quem era do outro lado. Só ele conhecia meus hábitos e se irritava comigo o suficiente para me ligar quando eu resolvia “sumir” por um tempo.
Eu estava tentando não sorrir com aquilo, com o meu papel patético de sentimental. Senti o olhar das garçonetes sobre mim, e além de estar um tanto incomodado, começava a ficar desconfortável com tanta atenção. Provavelmente, uma delas me daria o seu telefone quando eu pedisse a conta.
Odiava isso. Não só por não ter o interesse em nenhuma garota, mas por pensar na pessoa errada enquanto fazia isso.
De todas as pessoas, por quê justamente ele?
Deixei o copo vazio no descanso junto com umas notas, tirando meu casaco da cadeira ao lado. Ainda deu tempo para ouvir os passos apressados da garçonete frustrada enquanto eu abria a porta, enchendo os pulmões com o ar gelado da rua.
[...]
- Shiroyama Yuu, aonde você se meteu? – Kouyou indagou assim que me viu tirar os sapatos no canto da porta. Deixando a bolsa no porta toalhas, andei para a sala. Ele estava de pé, o semblante sério e os braços cruzados. – Não vai responder?
Aquele bico adorável que só ele conseguia fazer e que aquecia meu peito de uma forma indescritível, as mãos na cintura, o cabelo castanho com mechas caindo nos ombros. Kouyou era tão adorável que na maior parte do tempo ele não se dava conta disso.
- Essa é a minha camisa?
- Não foge da pergunta. Yuu, você sabe que detesto quando faz isso.
Respirei fundo, juntando coragem para respondê-lo. Vim o caminho inteiro ensaiando as respostas, porque sabia que ele me interrogaria. Ninguém vinha até mim sem pesos nas costas.
- Perdi o emprego, Kouyou. – confessei, tentando não abaixar a cabeça.
Já era a terceira vez só esse ano, e só eu sabia a sorte que nutria se arrumasse outro. Olhei para Uruha, esperando sua reação. Das outras vezes ele foi otimista, mas duvidava que seria dessa vez. Há limite para tudo, afinal.
Ele ficou calado. Interpretei como: "acho melhor você sair da minha frente". Arremessei o cachecol e as luvas no sofá atrás de Kouyou, indo em direção ao quarto.
- Como você perdeu esse, Shiroyama? – esse tom... Odiava quando me tratava friamente, como se fosse uma imprudência deixá-lo irritado.
Por escolha de Kouyou, saímos da casa de nossos pais para viver em nossa própria casa. Quer dizer, eu não sentia que o apartamento era mesmo meu. Engraçado, não é? Chamar seu amigo loucamente apaixonado por você para viverem juntos como simples amigos. De qualquer forma, não era nada barato pagar a casa e nos sustentar, e já devíamos 2 meses de aluguel.
- Corte de gastos. – menti, encolhendo os ombros. As portas do guarda roupa estavam abertas, um convite para que eu buscasse roupas quentes e parasse de bancar o gostosão sem camisa. - Uma hora ou outra, isso iria acontecer.
Na verdade, havia brigado com meu antigo chefe, que me fazia de escravo e ainda me assediava sempre que podia. Porém, queria poupar meu querido Kouyou de detalhes sórdidos.
Deixei minha camisa de lado, sentando-me ao lado de Kouyou na cama de solteiro. Ele estava tenso, com as mãos cobrindo o rosto avermelhado e de cabeça baixa. Colocando uma das mãos em suas costas, alisei carinhosamente por alguns segundos. Eu havia perdido o emprego, mas ele parecia mais chateado que eu.
- Não se preocupe Kouyou, vamos ficar bem.
- Ficar bem... – ele riu, sarcástico, assumindo uma pose bem diferente que a de antes. – Shiroyama, você já parou para pensar no que vai acontecer se pararmos de pagar a faculdade? E as contas? Como diabos vamos pagar tantas contas?
Por pior que fosse, ele tinha razão. E eu preocupado com a minha suposta carência. Isso explicava o porque dele assumir tudo em casa. Eu definitivamente não tinha a mínima vocação para tal.
- Já disse que odeio quando me chama de Shiroyama? – tentei fazer graça, levando um tapa na cabeça. Ele riu, parecendo se esquecer momentaneamente do assunto principal. – Não se preocupe Kouyou, eu vou procurar um emprego depois da faculdade.
Ele pareceu pensar um pouco, e depois virou o rosto para mim.
- Tudo bem. Mas, procure algo decente, por favor!
Dei uma gargalhada, ficando de pé. Falando daquele jeito, nenhum emprego além do dele era "decente".
- E a minha camisa, posso saber por que está usando ela?
Kouyou olhou para minha camisa em si, rindo em seguida.
- Não fique assim por causa de uma camisa, tem várias dela. – levantou-se, saindo do quarto. – Aliais, o que é seu é meu, e o que é meu é seu.
- Hã? De onde tirou isso? Nada do que é seu você me deixa pegar.
Não houve resposta.
- Yuu. - chamou depois de um tempo em silêncio. Olhei para ele. – Você precisa arrumar um emprego, ok?
Havia algo naquela quase ordem. Um tom divertido, mas grave e aborrecido. Algo que não deixava brechas para o contrário. Comecei a me perguntar se era realmente o fato de eu ter perdido o emprego e não ter dado detalhes que o irritava.
- ‘Tá Kouyou, eu já entendi.
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