Capítulo XXVII
"E você aprende que realmente pode suportar...
que realmente é forte, e que pode ir muito mais longe
depois de pensar que não se pode mais.
E que realmente a vida tem valor e
que você tem valor diante da vida!"
(William Shakespeare)
Lanterna
O dia havia sido longo, aproveitou cada minuto para colocar seus móveis no lugar. Ninguém a ajudou, nem mesmo um mísero samurai. Quando terminou de posicionar a escrivaninha próxima a estante de livros, alongou o corpo sentindo as costas estralarem.Caminhou para o banheiro deixando as roupas no cesto, ligou o chuveiro entrando sem cerimônia. A água fria tocou sua pele relaxando instantaneamente, pediu por aquele banho desde do momento que pisou seus pés naquele quarto.
Assim que terminou procurou por seu pijama e logo se enfiou debaixo das cobertas. A noite estava fria, não demoraria para começar nevar. Seus olhos foram fechando pouco a pouco, até perder-se em seus sonhos.
Um lugar a qual ela não reconheceu de imediato foi surgindo diante de seus olhos, a pista longa, se perdia no horizonte onde o sol começava a se pôr. Em meio àquela paisagem uma silhueta caminhava em sua direção, aos poucos os passos calmos e curtos deram lugar a uma corrida que não durou muito. O homem sorridente envolveu os braços em sua cintura a puxando para um abraço forte.
Sorriam um para o outro com uma cúmplice troca de olhares, seus sentimentos pareciam querer explodir em seu peito, aquela doce sensação de ser única e amada era acalentador. Seus lábios se encontraram com um toque suave, movimentavam-se sem pressa, naquele instante o tempo simplesmente havia estagnado. Nada mais importaria, pois ela se entregaria a ele, assim como deveria ter feito no momento em que ele entregou-se completamente.
─ Hyuuga-san!
Abriu os olhos sonolentos ao ouvir alguém a chamar. Seus braços estavam agarrados no travesseiro enquanto tentava beijar o mesmo.
─ Hyuuga-san!
Mais uma vez às batidas incessantes ecoaram. Com uma preguiça absurda levantou-se para abrir a porta.
─ Sim? - sua visão estava um pouco distorcida, mas conseguia identificar a carranca assustadora da mulher a sua frente.
─ Já é tarde. Prepare-se para o treino - comunicou ríspida.
─ Tarde? Mas agora é... - virou-se a procura do relógio - Cinco da manhã! - exclamou em reprovação.
─ Vinte minutos, Hyuuga-san. Lhe darei vinte minutos para estar no campo de treinamento - alertou - Atrasos geram consequências. Não queira experimentar - curvou-se em cumprimento e saiu.
Hinata sentiu seu corpo estremecer, um único olhar daquela mulher lhe causava calafrios.
Mais rápida do que já foi em toda sua vida, procurou por uma roupa apropriada e a vestiu, saiu com os sapatos nas mãos os colocando nos pés pelo caminho. Amarrou os cabelos em um rabo de cavalo desajeitado, finalmente avistando o campo.
Kurenai permanecia em pé de olhos fechados e braços cruzados, parecia até mesmo estar dormindo, pois não movia um único músculo. Hinata aproximou-se tremendo de frio, mal enxergando a sua volta.
─ Kurenai-sa-sama estou pro... - o chute foi certeiro no estômago, o corpo da Hyuuga foi arremessado a poucos metros colidindo com a árvore.
─ Antes de dirigir a mim, curve-se - disse ainda de olhos fechados - Não se esqueça!
─ Des-desculpe. Na-não vo-vou me es-esquecer - seu corpo dóia até mesmo para respirar. Se levantou com dificuldade apoiando-se a árvore.
─ Venha até aqui - ordenou - Seus reflexos estão péssimos. Não tem respeito, nem disciplina - os olhos castanhos se abriram fixando-se a imagem sofrida da Hyuuga - Me mostre o que sabe.
Hinata se posicionou a frente de sua Mestre, uma mão sobre o estômago e a outra esticada diante do corpo aberta com os dedos flexionados para cima. Por alguns instantes analisou Kurenai, a mesma permanecia imóvel sem expressão alguma em sua face. Hiashi dizia que o oponente fraco demonstra do que é capaz em suas expressões, e se não há demonstração alguma esteja preparado para o pior.
Seu pai e Neji haviam lhe ensinado muitas coisas, das quais poucas foram gravadas em sua memória. O período que passou na faculdade tomava conta da maior parte do seu tempo, os finais de semana eram os únicos dias que se dedicava, não o suficiente, aos treinos. Hiashi era sempre muito rígido, mas com ela tudo era diferente. Durante o treinamento os olhos perolados estavam o tempo inteiro preocupados, um único arranhão, e lá estaria o pai coruja afobado. Um sorriso de lábios unidos surgiu, para Hiashi ela e Hanabi sempre seriam suas princesinhas. As bonequinhas que até mesmo um espinho teria consequências se as machuca-se.
Determinada a mostrar que não era mais alguém frágil, Hinata direcionou sua mão -que antes estava sobre o estômago - ao lado do quadril a posicionando da mesma maneira. A coragem foi fluindo aos poucos, em um piscar de olhos já estava correndo com toda sua confiança até a mulher que, aguardava seus movimentos pacientemente.
Sua mão direita fechou em punho seguindo em direção ao rosto de sua adversária, contudo, Kurenai desviou facilmente. Os chutes completavam uma sequência de direita, esquerda, rasteira. Os socos vinham com grunhidos frustrados, pois não havia nem mesmo tocado a pele da sensei.
Uma hora se passou, e Hinata se mostrava ofegante. Seus golpes tornaram-se cada vez mais lentos, mas não desistiria. O sol ja mostrava seus primeiros raios, quando Kurenai saltou girando os pés no ar em forma de L, o chute pareceu vir em câmera lenta, por um triz Hinata se abaixou desviando do golpe que lhe causaria o deslocamento de sua clavícula, no entanto seus sentidos não a alertaram da rasteira que viria. Seus joelhos foram atingidos em cheio, a dor foi tão intensa que ao menos percebeu o tornozelo torcido.
─ Não absorveu nada do que foi ensinado, nem mesmo o básico é capaz de reproduzir - rugiu, seu tom frio não demonstrava se quer compaixão pela Hyuuga que sofria em agonia ao chão - Como quer reger um batalhão sem ao menos saber lutar? Um líder não é inferior aos seus discípulos. - pronunciou caminhando a passos curtos - Pois uma abelha rainha pode ordenar uma grande remessa de Mel, mas se ela mesmo não for capaz de cumprir com suas
obrigações de proteger os seus... a colmeia estará fadada a destruição. Consegue compreender? - com dificuldade Hinata assentiu positivamente - Responda!
─ S-sim Ku-Kure-nai-Sa-sama...
─ Levante-se.
A Hyuuga espremeu os olhos tentando conter a dor, apoiou uma de suas mãos sobre o chão a impulsionando se levantar. Suas pernas tremiam mal sustentando o próprio corpo. Temia receber outro golpe e não mais se levantar.
─ Ataque - ordenou.
Entretanto, Hinata mal dava um único passo.
─ E-eu na...
─ Ótimo, se não consegue atacar defenda-se - Kurenai posicionou-se da mesma maneira que a Hyuuga fizera. Seus pés movimentaram-se rapidamente correndo em direção ao alvo. Uma sequência de socos vieram em uma velocidade absurda, por fim atingindo o queixo de baixo para cima. Hinata mais uma vez colidiu com o chão, seu corpo parecia estar dormente, pois nada mais sentia - A Vitória verdadeira não é vencer de alguém forte. É defender o que é importante pra você. Não ouse esquecer, Hinata-hime - a voz suave de Kurenai - completamente diferente de qualquer tratamento que havia recebido desde que chegou - ecoou em seu consciente antes de sucumbir a escuridão.
°°°
Ino acordou assim que os primeiros raios de sol invadiram seu quarto. Sua cabeça latejava fortemente, não tinha vontade alguma de sair de seu quarto. Talvez estivesse sendo dramática demais ou fraca. Porém naquele momento tudo que mais queria era que o mundo parasse por alguns instantes pra que ela pudesse se recuperar.
Decidiu permanecer na cama por mais alguns minutos, encontrava-se muito cansada e envergonhada. Seus olhos demostravam todo sofrimento que a invadiu durante a noite, sua mãe com toda certeza perceberia que algo estava errado e ela não queria preocupa-la.
Lágrimas deslizaram por seu rosto quando uma leve batida chamou sua atenção. Limpou as lágrimas e correu em direção a porta, precisava garantir que ela não fosse aberta.
Sua mãe não permitia que a porta fosse trancada, dizia que a filha não deveria ter nada a esconder. Por esta razão, foi necessário segurar a maçaneta impedindo que quem quer que fosse conseguisse entrar.
─ Ino?
─ Oi mãe - tentou disfarçar a dor presente em sua voz.
─ Você tem visitas.
─ Não estou me sentindo muito bem, diga a eles para voltarem outro dia.
─ Você quer que eu traga um remédio para você?
─ NÃO! - limpou a garganta na tentativa de disfarçar seu descontrole- Não precisa... Só preciso dormir um pouco.
Ino pode ouvir sua mãe se afastar, respirou aliviada e voltou a se esconder sob os lençóis. Se sentia mais calma quando escutou passos vindo do corredor, mal teve tempo de reagir, em poucos segundos sua porta foi bruscamente aberta.
─ Tia Kushina?- levantou-se bruscamente
─ Ino - cumprimentou com um aceno de cabeça - Sua mãe não te ensinou que é feio dispensar visitas?
─ Sim, ela...- não foi capaz de terminar sua frase soluços começaram a escapar de sua garganta enquanto grossas lágrimas voltavam a cair.
─ Oh, minha querida - aproximou-se da cama a envolvendo em seus braços- Naruto me contou o que aconteceu - acariciou os longos cabelos loiros
Ino não foi capaz de falar, mais uma vez a dor arrancará sua voz, fazendo com que apenas seu choro fosse ser ouvido.
─ Está tudo bem... Tudo bem - balançava a garota como fazia com Naruto quando ele era apenas um bebê.
Alguns minutos se passaram até que Ino fosse capaz de pronunciar algo. Seu corpo tremia por conta do esforço, mas seu rosto já encontrava-se completamente seco.
─ Não fique assim Ino, você ainda vai encontrar alguém que te ame. Que te ame louca e perdidamente - beijou o topo da cabeça da garota que a abraçou com carinho - Sei que está doendo, mas você precisa ser forte.
─ Dizem que o que eu tenho é um coração partido - sorriu sem graças- Entretanto, sinto dor por todo meu corpo como se cada parte de mim precisa-se dele para viver.
─ Não diga isso! Você não precisa dele e jamais precisará de ninguém para viver - ficou de joelho sobre a cama e ergue o queixo da garota para que ela olhasse em seus olhos - Sei que dói, dói muito... Por isso, não vou te julgar por querer ficar sozinha em seu quarto, entretanto não me diga que você precisa dele pra viver.
─ Tia...
─ Quieta, eu estou falando- Bufou por conta da interrupção
─ Amo o Minato com todo o meu coração, mas não preciso dele para viver. Se por algum motivo nós nos separássemos... Com certeza eu sofreria. Sofreria como nunca sofri antes, porém eu daria a volta por cima. Por que amar alguém é saber viver ao lado dele e ama-lo o suficiente para desejar que ele seja feliz, mesmo estando longe de você. O amor não é uma prisão nem uma necessidade, ele é uma escolha! Você escolhe estar ao lado de alguém e faze-lo feliz, você abre mão da sua vida e das suas necessidades para se dedicar a alguém de corpo e alma, mas não por que precisa e sim por que quer. Você QUER ama-lo, você QUER cuidar dele, Você se entrega a alguém para que ele seja feliz, você se doa para completá-lo... Por que a sua felicidade é vê-lo sorrir - um sorriso tomou conta de seu lábios enquanto sua mente vagava em meio as lembranças.
─ Agora, levanta dessa cama e se arruma! Hoje você vai sair comigo e com o Naruto, e nem ouse dizer que não vai. Você vai sair por essa porta e dizer ao mundo - subiu em uma cadeira e com uma mão sobre o peito iniciou seu discurso - Muito bem vida, você ganhou essa batalha, contudo a guerra não acabou! Eu vou encontrar a felicidade que mereço, não importa o obstáculo que você colocar a minha frente. Então... Pode afiar suas facas por que agora eu vou com tudo!- rapidamente desceu da cadeira e atravessou a porta sem dar tempo para a loira reagir.
Sozinha em seu quarto, sorriu docemente. Kushina era incrível e tinha toda razão, ela podia estar quebrada e despedaçada, todavia a vida não ia parar para que ela se reconstruísse. Shakespeare já dizia isso e ela foi uma tola por não ouvi-lo.
Se levantou da cama decidida a acompanhar a ruiva em seu passeio, e não permitir mais que a tristeza domine sua alma.
°°°
O corpo pequeno da Haruno se remexeu procurando por uma posição confortável, agarrou o travesseiro sólido se aninhando ainda mais. Algo circulou sua cintura a trazendo para mais perto, quase fundindo a ambos. No início sorriu suspirando inebriada pelo perfume que lhe invadia as narinas logo pela manhã, em seguida estranhou a mão que acariciava suas costas indo de encontro a curva de sua cintura. Seus olhos se abriram lentamente com medo do que poderia encontrar, tudo que conseguia processar em sua mente era o assedio que estava vivenciando. Seu corpo havia paralisado, assustada demais para mexer um único músculo.
Primeiro visualizou o queixo retangular proeminente sem resquícios de barba, o lábio inferior mais generoso que o superior chamou sua atenção, sentia vontade de toca-los com o intuito de testar sua maciez. As maçãs do rosto altas e largas mostravam uma cavidade pequena e escondida a qual sabia ser as famosas covinhas. Ela sorriu sentindo inveja, seus olhos curiosos voltaram a observar o nariz fino, quase delicado, do rapaz. Os olhos fechados causaram inconscientemente o desejo de que fossem da mesma cor de seus cabelos ébano. Alguns fios desalinhados caíam sobre o rosto daquele homem que, ela arduamente buscava por seu nome.
─ Até quando vai ficar me admirando? - a voz rouca e extremamente sexy, a assustou.
Bruscamente se levantou da cama, tropeçou nos lençóis indo ao chão com um baque oco.
─ Sakura? - arqueou a sobrancelha preocupado.
─ Seu... Seu TARADO! - apontou para o Uchiha - O que está fazendo aqui? Quem é você? Ai meu Deus! - tatuou as próprias roupas desesperada - Nós fizemos?
─ Claro. Não se lembra? - esboçou um sorriso malicioso.
─ MENTIRA! - arregalou os olhos - Eu não posso... Não com você. Ai meu Deus - seus braços envolveram o próprio corpo, não contendo o choro.
─ Ei - saiu da cama aproximando-se da moça - Tsc. Garota idiota - ergueu o queixo dela entre os dedos sustentado seus olhares - Não fizemos nada, só dormimos juntos.
─ Quem é você? Por que está aqui? O que quer na minha casa, no meu quarto e... - Feche os olhos - a cortou com uma ordem.
─ Não quero - o encarou determinada. Tentou retirar a mão que segurava seu queixo, mas foi impedida.
─ Se não fechar, juro que roubo um beijo - disse com seriedade.
─ Você não fa... - Sasuke colou seus lábios em um rápido selinho, logo voltando a encara-la com um sorriso faceiro - SEU CANALHA IMBECIL, EU VOU MATA VOCÊ - suas bochechas coraram, só não sabia se era de vergonha ou raiva.
─ Feche os olhos depois faça o que quiser - ordenou outra vez.
─ Eu não vou fazer nada. Me solta! Eu vou quebrar sua cara, te picar em pedacinhos e depois jogar no triturador e dar pro meu cachorro comer. - disparou, seus olhos emanavam um ódio absurdo.
─ Que cachorro? - riu de toda aquela baboseira - Anda morango, feche os olhos. Se não vou roubar um beijo de verdade, com direito a língua, chupões.. - mordeu os próprios lábios - E um pouco mais.
─ Você é nojento - fechou os olhos com força - Se tentar algo eu ju...
─ Shii - a interrompeu.
─ Não faz "shii" pra mim - retrucou irritada.
─ Você me conhece - começou - Se esforce, morango - pediu - É irônico dizer isso agora, mas eu nunca faria mal a você. Nada que fosse contra sua vontade - suspirou com pesar - Conseguiu se lembrar?
─ Não...
Sasuke não desviou seus olhos dos esmeraldinos, pois implorava silenciosamente para que ela se lembre-se.
─ Tente de novo - mandou - Você não está se esforçando.
─ Desculpe eu...
─ PARE DE SE DESCULPAR! - apertou os braços dela com uma força desnecessário - Tente de novo... Você tem que se lembrar.
Sakura mordeu os lábios, no entanto, não foi capaz de segurar a gargalhada. Riu até perder o fôlego. Após se recuperar deparou-se com a face confusa do Uchiha.
─ Eu sei quem é você Sasuke - sorriu - Bobinho - ele continuava a encarando, mas agora sua expressão tornava-se assustadora - Ei, foi só uma brincadeira.
─ Sabe o que faço com quem tenta me enganar, Sakura? - ela balançou a cabeça negativamente. Sasuke foi se aproximando até estar próximo do rosto dela - Isso - suas mãos foram direto para a cintura fazendo cosquinhas por toda parte.
─ Pa-paa-para Sa-Sasuke... Pa-para - tentava impedi-lo, porém era inútil. As cosquinhas intensificaram nos pés e atrás dos joelhos a fazendo chorar de tanto rir, seus pulmões já reclamavam por oxigênio, quando a porta foi aberta com violência.
─ Sasuke está tu... Mas o que vocês estão fazendo? - Mebuki não sabia se abraçava Sasuke por fazer sua filha sorrir daquela maneira ou o matava por vê-lo encima dela.
─ Mãe! - Sasuke se levantou e logo a ajudou - Não é nada do que está pensando...
─ O que está fazendo neste quarto, Sakura? - perguntou sem tirar seus olhos de Sasuke.
─ Eu não me lembro - murmurou cabisbaixa.
─ Sasuke eu...
─ MAS O QUE ESTA ACONTECENDO AQUI? QUEM DEVO MATAR? QUEM? - gritava Kizashi com sua metralhadora A45 em mãos.
─ Papai!
─ Kizashi guarda está arma, homem!
─ O QUE SAKURA FAZ AQUI... - mirou a arma em direção a Sasuke - COM ESSE MOLEQUE?
─ Pai, pare com isso - seu coração batia a mil. O desespero começava a tomar conta de si.
─ Você tocou na minha filha? - sua voz soou fria.
─ Eu...
─ Não responda, vou matar você de qualquer jeito - engatilhou a arma apontando para a cabeça do Uchiha.
─ Kizashi! - Mebuki arregalou os olhos juntamente de Sakura.
─ Tudo bem - respondeu Sasuke com seriedade. Deu alguns passos até estar com o cano da arma colado em seu peito - Pode me matar. Não é o que o senhor deseja? Livrar o mundo de mais um problema.
─ Exato - respondeu ríspido.
─ Sinto lhe dizer, mas, acabar com a minha existência não vai trazer as memórias de Sakura. Não vai cura-la, muito menos deixa-la feliz.
─ Você não sabe o que faz MINHA filha feliz! - elevou a arma até o meio da testa do Uchiha - Você é apenas um moleque metido a besta que acha que já viveu o suficiente e sabe tudo. Mas não sabe!
─ O senhor está certo - respirou fundo - Eu não sei - admitiu - Mas sabe o que sei? Sei que não posso fugir da culpa. Do arrependimento e do ódio que vocês... - olhou para Mebuki, logo voltou a olhar para Kizashi - Sentem por mim. Um pedido de desculpas não vai diminuir a agonia de vocês, nem mesmo mil. Mas eu sou humano, erro. Então, não vou mais admitir que me condenem como um monstro - determinou. Seus olhos brilhavam orgulhoso de si mesmo - Me mate... Mas saiba que morrerei com a consciência limpa.
Por alguns segundos sustentaram seus olhares meticulosos. Medo não existia ali, ambos brigavam de igual para igual.
─ Não quero te encontrar aqui quando eu voltar - abaixou a arma e saiu sem olhar para trás.
Sasuke continuou a observar a porta paralisado. Somente quando Mebuki tocou seu ombro que voltou a respirar.
─ O que isso significa? - estava confuso. Não havia morrido? Jurava que aquele seria seu fim.
─ Significa que antes de ir, vai tomar café conosco - o abraçou acariciando seus cabelos - Você é um bom menino. Jamais iria odia-lo - depositou um beijo sobre a topo dos fios negros e sorriu - Não demore para descer.
Assim que Mebuki saiu, Sasuke procurou por Sakura, mas ela já não se encontrava mais ali. Nos próximos minutos tomou um banho rápido e colocou suas roupas, agora secas, do dia anterior. Respirou fundo, bagunçou os cabelos molhados e sem hesitar desceu para tomar seu café. Kizashi não estava mais em casa, então, tudo que fez foi relaxar e tentar parar de sorrir quando seus olhos cruzavam com os esmeraldinos.
°°°
Sentada no sofá, Sakura olhava distraída para a televisão, sua mente encontrava-se ocupada pelas palavras do Uchiha mais novo, enquanto seus olhos fingiam assistir à um filme qualquer, do qual nem ao menos sabia o nome.
Sacudiu a cabeça de um lado para o outro na tentativa de clarear sua mente, quando um envelope branco chamou sua atenção. Aproximou-se do que parecia ser uma carta que permanecia no chão, próxima ao vão da porta.
De joelhos, observou o envelope. Não possuía endereço algum apenas seu nome escrito cuidadosamente a mão com uma caligrafia que lhe parecia desconhecida.
Com receio, abriu a carta retirando de dentro dela uma folha, que continha a mesma caligrafia. Lentamente, leu cada palavra com atenção.
Querida Sakura,
Você deve estar confusa por receber está carta, porém neste instante não poderei lhe contar os motivos que me levaram a escreve-la, assim como não direi quem sou eu. Peço que confie em mim, não pretendo magoa-la ou mentir para você, sou apenas um amigo que tem observado seu sofrimento e deseja ameniza-lo.
Não sei como é viver sem saber de seu passado, mas sou capaz de imaginar sua dor. Por isso estou aqui, sempre que possível enviarei cartas para você na tentativa de ajudá-la a se lembrar daquilo que seu cérebro insiste em esquecer.
Dentro deste envelope há uma surpresa para você, guarde-a com carinho e não se preocupe não entrei em seu quarto, estou a uma distância segura, eu jamais invadiria sua privacidade.
Com carinho,
Um amigo.
Espantada, permaneceu quieta por alguns minutos enquanto seu cérebro absorvia a informação que acabará de receber.
Quando foi capaz de se mover, investigou o envelope a procura de sua surpresa.
Ao encontrar o que procurava sentiu seu corpo congelar, era uma foto sua aninhada aos braços do Uchiha, um doce sorriso podia ser observado em seus lábios enquanto ambos dormiam.
Então Sasuke não havia mentido? Eles apenas dormiram? E por que ela quis... Sentiu um alívio, entretanto, durou poucos segundos. Sua mente passou a se perguntar: Como alguém havia conseguido aquela foto? E o que pretendiam fazer com ela? Será que o remetente misterioso era mesmo um amigo?
°°°
O local se encontrava completamente escuro, não havia nem mesmo uma única brecha de luz. Seus olhos vagaram por todo o cômodo ate que se acostumassem, por fim reconhecendo o quarto de hospedes. Após passar o dia todo em baixo dos cobertores tentando se recuperar da ressaca, o choro veio sem permissão durando por longas horas. Os soluços foram se tornando baixinhos até não restar mais lágrimas. Em nenhum momento seu marido se deu ao trabalho de procura-la, seus filhos bateram na porta diversas vezes e tudo o que fez foi responder com um fingido tom de empolgação que tudo estava bem.
Suas mãos tatearam o criado mudo a procura do celular, antes de verificar as horas um sorriso triste estampou seus lábios. Haviam vinte ligações perdidas de Itachi, oito de Ori, cinco de Kushina, algumas mensagens de lojas a qual era vip e outras duas que abriu imediatamente para ler.
"Nas próximas 24h darei o segundo passo. Esteja preparada! Fighting!! "
Ass: M.
"Mãe, não se preocupe. Estou vivo."
Ps:Casa dos Haruno.
Seu: U. Sasuke
Após fechar sua caixa de mensagem, depositou o aparelho de volta no lugar. Retrocedeu ao seu mundinho mórbido se encolhendo entre as cobertas. Seu casamento havia chego ao fim do poço, depois de tudo que passaram juntos,
lutaram e construíram, acabaria desta maneira? Tão medíocre, jogando sentimentos e a convivência de um pouco mais de 25 anos no lixo? Quão errada ela estava em querer o mesmo Fugaku que não média esforços para vê-la sorrir? - Egoísta! - Sua mente ralhou. Que tipo de mulher ela havia se tornado para que Fugaku a despreza-se de tal forma? -Mesquinha - Sua consciência voltou a atormenta-la.
Irritada, levantou-se jogando o cobertor para o lado oposto, colocou os pés para fora da cama sentindo o piso gélido. Buscou pelo hobby vinho vestindo-o com rapidez, precisava sair daquele quarto, respirar ar puro e ingerir algo que não fosse álcool. Abriu a porta em um solavanco perdendo o restante de coragem que havia a atingido. No mesmo corredor estava seu martírio, Fugaku, gravata um pouco frouxa, ombros caídos e olhos fundos, com toda certeza chegou mais cedo da empresa e se enfiou até àquele exato momento no escritório. Ela o conhecia tão bem que doía.
Ele ainda não tinha notado sua presença, contudo, quando a fez, seus olhos se cruzam pela primeira vez em meses, sustentaram a troca de olhares em uma conversa silenciosa. Havia tantos sentimentos naquele pequeno gesto, seus corpos imploravam por um contato maior, que não veio.
Quando Fugaku desceu seus olhos para suas vestimentas, o encanto se quebrou e o mundo real lhe alertou como um tapa na cara que não mais eram um casal. Não havia mais companheirismo ou qualquer afeto que resultasse no carinho que ainda sentiam um pelo outro. Naquele instante percebeu que deixaram de ser marido e mulher há muito tempo, restando apenas Fugaku e Mikoto.
─ Levantando tarde como sempre - afirmou - Ainda cheira a álcool barato - acrescentou ríspido - Que tipo de mãe quer ser agora para os meus filhos? Uma mere...
Ele não completou o que ia dizer, pois sabia que era apenas raiva momentânea.
No entanto, Mikoto compreendeu. Respirou fundo para não chorar. Meretriz, era exatamente o que ele achava que ela havia se tornado? Não! Isso não!
─ O que está acontecendo com você? - seus olhos suavizaram. Sentia pena e algo mais da mulher que se encontrava a sua frente.
─ Eu não me importo com a sua opinião - ela sempre se importaria - Não ligo para o que pensa - Não havia pessoa mais interessada em seus pensamentos do que ela - Eu... não o amo mais! - o amava de todo seu coração.
Fugaku arregalou os olhos perplexo, sem ao menos se mover deixou que a esposa passasse como um furacão ao seu lado. Sabia que ela correria para o jardim, choraria como uma criança e o odiaria. Sentiria raiva de si mesmo por ser a pior mentirosa e o ignoraria para não olhar em seus olhos outra vez.
Ele não a culparia desta vez, pois a pior das mentiras estavam em suas palavras.
°°°
Itachi observava o nascer do sol através da janela do avião, jamais imaginou que sua vida mudaria tanto em tão pouco tempo. Aquela viagem havia sido surpreendente.
Suspirou enquanto imaginava como sua mãe reagiria a surpresa que trazia consigo. Havia ligado para ela diversas vezes, na esperança de alerta-la para que não acabasse sofrendo um ataque do coração, porém tudo foi em vão. Nenhuma de suas ligações foi atendida. Tudo que lhe restará era torcer para que tudo desse certo, sem grandes danos.
Ao chegar em casa Itachi pediu para que um dos empregados chamasse seus pais. Caminhou em direção a sala, onde os esperaria. Acomodou-se no sofá e aguardou pacientemente até que ambos aparecesse.
Abraçou sua mãe e depositou um suave beijo em sua bochecha, notou que seus olhos encontravam-se levemente inchados, algo havia a feito chorar. Seu pai parecia incomodado, desconfortável em suas roupas. Enquanto observava os dois, concluiu que mais uma briga acabará de acontecer.
Pediu para ambos se sentarem. Limpou a garganta e iniciou o discurso que por tanto tempo ensaiará
─ Mãe... Pai...- respirou profundamente enquanto criava coragem - Vocês sabem que eu não sou um inconsequente como o Sasuke, por isso cada palavra e decisão tomada por mim foi pensada e analisada por horas a finco.
Olhou para seus pais que em silêncio o encorajaram a continuar.
─ Quando eu era mais jovem, ouvia vocês contarem estória sobre príncipes encantados e princesas, que viajavam e enfrentavam grandes perigos em busca do amor verdadeiro - sorriu - De inicio achei tudo aquilo uma bobeira, preferia até que vocês pulassem as partes românticas adiantando para as lutas com espadas - todos sorriram docemente ao se lembrar da cena - Com o tempo passei a acreditar em sua estórias, não porque eu fosse um iludido ou qualquer coisa do tipo, mas, porque eu tinha um exemplo de um grande amor, aqui em casa.
Mikoto e Fugaku olharam-se por alguns instantes, não precisavam de grandes esforço pra saber de quem seu filho falava.
─ Vocês foram o maior exemplo de amor e companheirismo que tive em minha vida. E se hoje estou aqui, é graças a vocês. O amor me visitou em minha ultima viagem, me enfeitiçou de uma maneira que, não sou mais capaz de viver... sem ela. Entendo que esteja cedo para uma decisão como essa. No entanto, vocês mesmo me ensinaram que o amor não tem explicação - respirou fundo e os encarou com o maior sorriso que poderia dar - Por isso estou aqui para anunciar meu noivado.
─ Você vai se casar?!- Mikoto não foi capaz de conter sua surpresa enquanto Fugaku permanecia paralisados.
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