Acordo com meu alarme as 6h da manhã, bem que eu podia ter recebido uns dias em casa.
Bufo, me levanto, faço Ioga pra acordar meu corpo, tento pelo menos, mas algumas posições não consigo fazer pela dor na cintura, então sigo pra tomar um banho.
Assim que eu saio do banheiro sigo em direção ao meu closet, abro a primeira gaveta da cômoda buscando no automático o meu cinto...
Levo as mãos ao rosto, pode parecer drama, mas depois de 2 anos colocando toda a sua confiança, beleza, auto estima e principalmente segurança em um objeto, é difícil se ver sem ele.
Sem muitas escolhas, acabei pegando uma calça bege, uma bota preta, uma camisa com gola amarela e pra não mostrar meu corpo acabei recorrendo a última gaveta do meu guarda-roupa, que eu não abria a 1 ano e meio.
Nessa gaveta estavam meus moletons largos, que eu usava antes da cinta pra esconder meu corpo, peguei um bege e amarelo que combinava com minha roupa, como era largo iria me ajudar a lidar com a falta da cinta, pelo menos até eu me resolver comigo mesmo.
Assim que terminei de arrumar meu cabelo, peguei o celular , esperava que Ramon tivesse me respondido, mas ele não tinha nem visualizado minha mensagem ainda.
Desci pro andar de baixo afim de ver meus pais e receber minha carona pra escola, assim que cheguei na escada meu pai estava subindo.
- Bom dia atraziudo, já ia te buscar, vai se atrasar pra escola... vamos? – Meu pai pergunta voltando pela escada em direção a sala e eu concordo com um aceno de cabeça.
Desci e segui pro carro junto com meu pai, minha mãe já estava no mesmo sentada no banco do motorista, sentei no banco de trás e seguimos ouvindo Glória Groove.
Minha mãe gostava de muitos estilos musicais, mas no carro ela sempre dizia que “música animada é o melhor, principalmente pela manhã, pra dar ânimo!” e eu concordo plenamente.
Chegando na escola dou um beijo nos meus pais e desço.
- Filho! – Minha mãe grita de dentro do carro e eu volto pra perto do mesmo – Você é lindo de qualquer jeito, okay? – Ela diz querendo me confortar, com certeza por notar a blusa larga depois de tanto tempo e o fato de querer esconder meu corpo, eu concordo com a cabeça.
- Qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, chama a gente no whats, okay? – Meu pai completa!
- Okay, eu amo vocês, amo muito, muito mesmo! Mais que qualquer coisa, vocês são tudo pra mim! – Me enfio dentro do carro pela janela do motorista, dando um beijo na minha mãe e meu pai se aproxima de mim pra receber um também, me despeço e sigo pro portão enquanto o carro segue a rua.
Sinto uma mão na minha nuca, fazendo carinho.
- Bom dia baby, como você está? – Não preciso nem me virar pra saber que é Paulo, ele para o meu lado e me olha.
- Bom dia lindo, eu tô bem! – Ele levanta uma sobrancelha em sinal de questionamento – É sério, eu tô bem!
Sinto uma mão do lado direito da minha cintura dando um leve aperto, faço uma careta e solto um gemido baixo por causa da leve dor que sinto.
- Desculpa, desculpa, desculpa! Eu esqueci que era desse lado! – Felipe diz tirando a mão da minha cintura e levantando ambas as mãos.
- Tudo bem... bom dia! – Digo.
- Bom dia! – Ele diz e da um beijo na minha Buchecha, por estarmos no portão alguns alunos olham a cena com certo estranhamento, mas Felipe olha de volta com clara raiva no olhar e é o suficiente pros olhares se desviarem.
- Caralho, mas o povo dessa escola é curioso, não pode ver nada! – Felipe diz com raiva.
- É que... Assim... vocês são um casal e isso tudo mundo já sabe, ai do nada vem vocês dos de melação comigo, até porque vocês nunca fizeram nada disso comigo em público!
- É porque antes a gente não tinha nada – Paulo me responde – Mas agora que a gente tá junto, eu tô pouco me fudendo pro povo dessa escola, só pelo fato da gente ser gay já vão falar da gente mesmo, então foda-se! – Ele diz e beija meu pescoço, eu abaixo a cabeça por ter ficado com as bochechas vermelhas e com uma puta vergonha.
Não é como se eu estivesse acostumado a ser tratado assim por eles em público.
- Mas e você brutamontes? Até você tá sendo fofo comigo! – Pergunto pra Felipe ainda olhando pra baixo.
- Pois é, tô tentando... quero ser melhor pra você e pro Paulo... não quero mais você reclamando sobre eu só querer você pra sexo e o Paulo dizendo que eu não sou carinhoso com ele.
- Olha só, um dia de mudança tô gostando! – Paulo diz enquanto ri – Vamos entrar, já vai bater o sinal.
Entramos e os meninos me levaram até minha sala, assim que chegamos na sala eu digo “tchau" esperando o mesmo dia dois, porém Paulo me da um beijo em uma das minhas bochecha e Felipe faz carrinho na outra, eles seguem para sua sala e eu entro na minha, percebo alguns olhares e vejo Ramon sentado no fundo da sala olhando na minha direção com cara de confuso.
Vejo um dos meninos comentar baixo para um outro que estava conversando com ele algo olhando em minha direção, mas não consigo entender o que era, olho pra ele com cara de nojo e antes que pra dizer algo.
- Caralho, mas vocês cuidam da vida dos outros em! puta que pariu! – Ramon diz pro menino sem nem tirar a cara do celular e o menino fica quieto, tem alguém nessa escola que o Ramon fala e a pessoa não obedece?
Me aproximo e sento no meu lugar ao seu lado, o olho por alguns momentos esperando ele olhar de volta mas ele não me olha, é assim que sei que ele ainda está com raiva de mim, ele meio que me ignora quando tá puto comigo!
Então pra confirmar minha teoria ele coloca os fones, agora sim sei que ele ainda esta com raiva, vou deixar pra falar com ele depois, a sós, agora aqui no meio da sala não é um bom momento, ainda mais se ele quiser brigar comigo por ter sido um babaca com ele.
As primeiras aulas - Português, matemática e geografia - passam rápido e o intervalo finalmente chega, passei as três aulas me pegando olhando pro Ramon enquanto ele continuava me ignorando, queria que ele pelo menos olhasse pra mim.
O sinal toca e o pessoal levanta pra sair, antes que eu possa falar com Ramon ele sai pela porta... Falo com ele depois!
Pego meus fones e sigo em direção a biblioteca, preciso deixar os livros que peguei semana passada e devia ter entregado ontem, mas como não vim vou tentar entregar hoje sem pagar multa.
Depois de 5 minutos explicando pra Sra. Eliana o motivo de eu não ter conseguido entregar antes, desço as escadas saindo do 4º andar e voltando pro térreo onde fica o refeitório, quando estou passando pelo terceiro andar onde fica minha sala, vejo o mesmo garoto que falou algo de mim mais cedo e o Ramon respondeu.
- Opa opa, ta com presa viadinho? - O idiota que eu nem sei o nome para na minha frente e bate com o seu peito contra o meu me empurrando pra trás, reviro os olhos.
- Da onde vocês saem? Meu Odin, de que buraco sai tanto idiota e porque vocês se preocupam tanto com o meu cu? Eu não terceirizo o trabalho não querido, não é o seu cu que eu dou, é o meu e quem tá comendo não tá reclamando! - Digo com deboche olhando as unhas.
- Essa sua raça é o lixo do mundo, vocês nem deviam existir nessa porra de mundo! Vocês acham normal essa porra que vocês fazem, não tem nem vergonha de fazer isso em público. - Ele diz dando alguns passos na minha direção.
- Tá, porque você odeia os gays? O que a gente muda na sua vida inútil? o que eu beijar outro cara muda na sua vida? - Pergunto o mais debochado possível.
Ele não responde mas continua seguindo em minha direção, então eu pego meu celular no meu bolso e abro o Instagram.
- Bom, eu tenho agora exatamente oitocentos e vinte e... - Olho meu perfil do insta - ...sete mil seguidos, que eu tenho certeza que adorariam ver um homofóbico ignorante batendo em mim, o que com certeza iria repercutir muito rápido pelos instas de fofoca por aí - viro meu celular pra ele mostrando a câmera do insta pronta pra fazer live - Sua família tem muito dinheiro? Espero que tenha muito, porque meus pais são advogados bem vingativos, mas você já deve saber disso, afinal Steve e Natasha Barnes são nomes conhecidos na mídia e eu tenho certeza que meus pais iam adorar tirar tudo que sua família tem, até não sobra nada! - Me viro e sigo em direção a escada, mas paro no topo da mesma, antes de descer - Tudo mesmo né, porque se sua família for igual você... – Dou uma risada sem humor - Sem dinheiro não sobra nada, porque inteligência pelo visto é zero - Dou um sorriso fofo pro pra ele - Bom almoço pra você!
Continuei descendo pro refeitório, assim que cheguei no mesmo vi que estavam Felipe, Paulo, Paty e Ramon sentados em uma mesa no canto do refeitório, segui até eles e sentei de frente pra Ramon, entre Paulo e Felipe, mal cheguei na mesa e já começou a enxurrada de questionamentos.
- Olha quem apareceu! Onde você está? – Paty diz sorrindo pra mim, sentada ao lado de Ramon, este que continua comendo sem me olhar.
- É, eu mandei mensagem, podia avisar a gente né? - Paulo diz com a boca cheia e eu o olho com um olhar de reprovação – Foi mal!
- Eu precisei ir na biblioteca e um menino idiota quis encher meu saco, porque aparentemente eu dar meu cu faz com que ele se sinta mal! Mas não é disso que eu quero falar... obrigado a todos vocês por terem se preocupado comigo, por terem passado a noite no hospital e obrigado por serem amigos tão bons... Ah e desculpa por eu ter sido um babaca com vocês, eu nem sempre sou um bom amigo...
- Quase nunca eu diria! – Ramon fala pela primeira vez ainda sem me olhar.
- Não precisa esculachar também né?! – Respiro fundo e penso nas próximas palavras, olho pra Ramon e tiro o seu celular de sua mão, o qual estava sendo dada atenção e assim que tiro ele me olha com uma cara bem feia que faria qualquer outro ficar com medo, mas eu conheço muito bem o Ramon e sei que ele não me faria nada – Presta atenção, eu to tentando agir como um ser humano.
- Pode falar, eu escuto com os ouvidos! – Ramon responde grosso, eu sei que mereço então engulo o veneno e a vontade de responder ele.
- Ramon... me desculpa okay? Eu fui um babaca com você e...
- Um puta babaca escroto!
- Eu posso terminar? Obrigado! Então... Eu fui um “puta babaca escroto" com você, você deixou seu algo importante que eu quero muito saber o que é pra ir me ver, passou a noite lá e ajudou meus pais a passarem por aquele momento e a primeira coisa que eu fiz foi ser irônico e grosso com você! Me desculpa, por favor! Eu amo você e a amizade que a gente construiu, não quero perder por ser um idiota!
- Tá, mas você precisa aprender a controla essa sua língua, cobra! E tem que deixar de ser mal agradecido!
Eu só concordo com a cabeça, sei que sou uma pessoa no mínimo "difícil de lidar" e Ramon é maravilhoso, é o único amigo que eu tenho a anos, somos amigos a 4 anos e é a amizade mais longa que eu já tive, eu reconheço que sou uma pessoa mimada e bem chata as vezes por isso amo o Ramon, por me aguentar todo esse tempo!
- Okay, eu não prometo que vou conseguir! Mas vou tentar... Eu amo você amigo! – Sorrio e Ramon sorri de volta pra mim, os sorrisos dele são raros, mas são lindos – Agora era o momento que você dizia “Eu também te amo amigo"!
- Que porra de ama o que! – Ele responde e todos na mesa riem! -Mas diz aí, você três de namorinho pelos corredores, o que tá rolando entre vocês? Assumiram esse... isso... É... isso aí que vocês têm!
- É um namoro Ramon e não, não assumimos porque não tem pra quem assumir, todo mundo sabe que a gente é gay, a gente só não esconde, a diferença é que antes a gente não namorava, mas agora namora! – Paulo explica pra Ramon.
- Tá todo mundo comentando sobre vocês, falando que vocês não tem vergonha, que tão traindo um ao outro com o Sebastian, que o Sebastian vai separar vocês... tudo fofoqueiro! – Paty diz.
- Tudo pau no cu! – Felipe diz alto para que as pessoas a nossa volta escutem.
- Tá! Tá! Mas vamos falar de coisa boa – Paty diz animada – Todos vão na minha festa sábado né?!
Não sei bem como fazer, porque preciso de repouso e acho que meus pais não vão ficar muito felizes de eu querer ir pra uma balada.
Como não sabia se conseguiria ir mas não queria perder a oportunidade de aproveitar com meus amigos e de comemorar o aniversário da Paty acabei tendo uma ideia.
- Gente o aniversário da Paty vai ser numa balada, vai estar cheio e vai ter gente de mais, a gente vai curtir a balada mas não vai se curtir muito, porque a gente não faz uma social para a gente aproveitar mais só a gente!
- Ah eu amei! – Paty diz animada.
- Mas aonde? – Felipe pergunta!
- Meus pais estão viajando e só voltam amanhã, se a gente for fazer hoje pode ser lá em casa, mas tem que ser hoje! – Ramon diz.
- Ótimo então, todo mundo as 20h no Ramon. – Eu digo.
O resto do dia passou tranquilamente, os meninos foram pra casa e almoçaram comigo, como meus pais estavam trabalhando e eu estava afastado do balé passaria o dia todo em casa sozinho, mas graças aos dois passei o dia deitado no colchão inflável na sala com ambos assistindo Steven Universo.
Chegamos na casa do Ramon as 20h13, Paty já estava lá mexendo no computador, procurando uma música enquanto passava por todo estilo possível, parando por fim em Anitta.
- Pink Money! – Gritei e Paty riu.
Segui até a cozinha e Ramon estava fazendo caipirinha atrás do balcão da cozinha.
- Tá com vergonha do seu corpo porque está sem aquele negócio lá que você usava? Faz um tempão que não te vejo de moletom! – Ele diz me olhando, provavelmente por eu estar com uma blusa de moletom pelo menos 5 números maior que eu, mas na verdade ela é do Paulo.
Mas não deixa de ser verdade o que ele diz, como não quero falar sobre isso, penso em algo pra falar.
- Bar man por um dia?! – Eu digo com ar de graça e me debruçou sobre o balcão.
- Ramon que horas os... – Gabriel entra na cozinha vindo do banheiro – ah, já chegaram!
Ele me olha claramente sem graça e eu olho pra ele sem entender o que ele está fazendo aqui e olho pra Ramon, esperando uma explicação.
- Interessante... o que ele está fazendo aqui? – Pergunto pra Ramon apontando pra Gabriel com desdém.
- Sebastian, não começa por favor, hoje é dia de se divertir okay? Aquela situação já foi é já tá resolvida okay? Vamos ficar de boa?
- É, foi mal por aquele dia... – Gabriel diz.
- Tanto faz! – Digo com desdem saindo da cozinha e voltando pra sala, Felipe não vai gostar muito também de ver Gabriel aqui, mal começou a festa e já tá tô sentindo o cheiro, cheiro da merda que vai dar.
Sento no sofá ao lado do Paulo que está montando o Narguilé, deito minha cabeça em seu ombro e fico observando Paty e Felipe que discutem sobre qual música é melhor pra deixar tocando.
Ramon entra na sala com Gabriel e segue deixando as bebidas na mesinha de centro, Gabriel fica parado ao lado da porta da cozinha.
Felipe olha pra mim, olha pra Gabriel e olha pra Ramon com raiva, Paulo olha pra Gabriel mas não tem nenhuma reação, ele é calmo de mais e só faria algo se precisasse, mas Felipe já fecha a cara.
Então a campainha toca e Paty segue pra atender.
- Quem é? – Ramon pergunta – todo mundo já tá aqui!
- Nem todo mundo – Paty responde abrindo a porta, então Thiago entra – Faltava o Thiago!
Thiago entra e encara Gabriel escorado na parede do outro lado do cômodo que o olha confuso, então os dois olham pra Ramon e o desespero é claro no rosto do mesmo.
O que tá acontecendo? E porque eu não tô sabendo?
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