P.O.V RAMON
Eu não sei como, mas o Sebastian acabou me achando aqui em Bertioga e de verdade...Eu não estava esperando por isso...
Estou surpreso, pra ser bem sincero. Eu sabia que iriam ficar preocupados comigo, mas não sabia que alguém como o Sebastian viria atrás de mim.
Eu não era o único que havia mudado com o passar do tempo, o Sebastian também havia mudado muito, tinha um ego enorme agora, uma arrogância na fala e com certeza era um tanto quanto soberbo, mas ele está "desarmado", só estava sendo, ele mesmo atrás do seu "melhor amigo".
- Olha, primeiro de tudo, para com a porra de referências a cultura pop, isso é muito irritante. E ele não parece o Thor. - Noah me olha na mesma hora - Não que você seja feio, mas, o Thor, é o Thor né? - eu digo meio sem jeito.
- Sem problemas Ramon. - Noah responde sorridente.
- Me diz... Vocês transaram? - Sebastian pergunta na maior cara de pau.
- Quê?! Não! Ele só me ajudou e me trouxe pra cá. - eu respondo corado.
- Sei...- Sebastian ironiza.
- Você é o namorado do Ramon? - Noah pergunta.
- Não! - respondo bravo.
- Com certeza não, eu jamais namoraria alguém com essa blusa laranja horrível. Deus que me defenda disso. - Sebastian disse.
- A blusa é minha. - Noah franziu a testa.
- Uau...Bom nesse caso...A gente ignora...- Sebastian disse sorrindo.
- Jesus, como você é baixo...Meu Deus... - eu digo suspirando.
- Relaxa, tô só brincando. Vamos, temos que ir. - Sebastian fica sério.
- Sebastian...Eu não vou voltar...- Eu digo a ele.
- Como é? Eu vim até aqui sem avisar nada a ninguém, meus pais devem estar putos da vida, como Felipe e Paulo também devem estar, então, você tem que ir embora comigo. - Sebastian disse sério.
- Eu não vou voltar mais pra Capital, vou recomeçar uma vida aqui, ser quem eu sou de verdade. Não adianta eu voltar e fingir que nada aconteceu, ou me assumir e achar que vai ser igual ao filme Com Amor Simon, onde o garoto se assumi e tudo são flores. - Eu respondi.
- Achei que não usaríamos mais referências a cultura pop. - Sebastian ironizou.
- Sebastian, eu não vou. - eu disse, e vi a cara do Sebastian ficar com uma imensa expressão de raiva.
- Ok - ele suspirou - Eu não estou te dando opção, você vai embora comigo e pronto! O que você vai fazer aqui? Vender peixes na Orla? Se prostituir? Quer dizer, você nem terminou o colégio Ramon, acorda! - Sebastian disse bravo.
- Eu ainda não sei o que vou fazer, mas eu não quero voltar pra um lugar onde eu não sou bem vindo! - eu berrei.
- Lá é o seu lugar Ramon! E você precisa voltar! - Sebastian gritou.
- Ei! O Ramon só vai sair daqui se ele quiser! - Noah interviu entrando na minha frente, ficando cara a cara com o Sebastian.
- Você sabe que ele é menor de idade, não sabe? - Sebastian perguntou.
- Sei, e sei que vou assumir responsabilidades. - Noah respondeu.
- Cara, isso é fofo, sério. Fofo demais, porém você não conhece os pais do Ramon, eles irão chamar a polícia e é capaz de você ser indiciado por sequestro. - Sebastian disse a Noah, que se virou para a minha direção.
- Ramon...- ele disse com a voz baixa.
- Sebastian - eu suspirei - Você pode ir lá fora um pouco? - eu perguntei.
- Você tem 10 minutos. - Sebastian disse sério e saiu pela porta.
- Você precisa voltar, seu amigo está determinado. - Noah disse.
- É...eu sei... É como a conversa que tivemos...Preciso encarar tudo de frente, certo? - eu pergunto.
- Isso mesmo...Você é um garoto incrivel Ramon. - Noah me dizia olhando nos olhos, com aquele olhar matador, meu Deus, como a minha mente pode ter tantos pensamentos impuros com apenas um olhar?
- Você fez com que eu me sentisse incrível de novo...Eu agradeço muito Noah...Muito mesmo...Você salvou a minha vida...Eu nunca vou me esquecer disso...- eu digo sorrindo e quase sinto as lágrimas descerem pelo meu rosto.
- Isso não precisa ser um adeus...A gente ainda pode se ver de novo...Quer dizer...Se você quiser... - ele se aproxima de mim.
- Eu sempre vou querer ver você. - eu digo olhando para os seus lábios agora.
- Eu posso...? - ele pergunta e eu só faço que sim com a cabeça.
Era a permissão que Noah precisava...Sua mão direita me puxou pela cintura, e os nossos corpos se uniram, com a sua mão esquerda, ele segurou levemente a minha cabeça e os nossos lábios se encontram, as línguas dançaram em um ritmo quente e eu nem acreditava que estava beijando aquele homem maravilhoso, essa desse ser uma das poucas vezes que isso acontece na vida e eu estava feliz por estar vivendo aquilo.
Quando terminamos o beijo, eu peguei a minha mochila no quarto do Noah e ele me deu um papel com o número do seu telefone, que eu guardei na mochila, nos abraçamos e eu saí pela porta da frente, dando de cara com o Sebastian.
- Odin, vocês se beijaram. - ele fez cara de nojo.
- Não, não nos beijamos. Ele é hétero. - eu menti.
- Aham. Ramon os seus lábios são tão rosas, que quando alguém os beijam, ficam vermelhinhos, igual estão agora. - Sebastian me cutucou com o cotovelo.
- Cala a boca. Então, quando sai o próximo ônibus pra Chernobyl? - eu pergunto e Sebastian ri.
- Temos que ir pra Rodoviária, provavelmente a polícia já deve estar atrás de você, então, liga pro seus pais. - Sebastian me entregou o celular.
- Isso vai ser difícil...- eu digo discando para o número da minha mãe;
---------- Ligação On ----------
Mãe: Ramon! Finalmente! Você tá bem meu filho?!
Eu: Tô...Eu tô muito bem na verdade...
Mãe: Porque você fugiu Ramon?! Eu e seu pai estamos tão preocupados com você, volta pra casa meu filho.
Eu: Eu já estou voltando...Até a hora do almoço estou ai...
Mãe: Certo, eu e seu pai estaremos aqui te esperando, eu te amo meu filho.
Eu: Tchau mãe.
---------- Ligação Off ----------
- Ela disse "eu te amo?" - Sebastian perguntou.
- É...Disse...- eu respondo.
- É nesses momentos que você também diz, "eu também te amo". - Sebastian disse incrédulo.
- Não é o melhor momento e também não sei o que me espera... - eu digo a Sebastian.
- Relaxa, vai ficar tudo bem. - Sebastian segura a minha mão e sorri.
Caminhamos até a rodoviária e pegamos um ônibus de volta pra Capital.
Eu adiciono o Noah no meu WhatsApp e mando um "Oi, salva meu número ai", e ele responde com um "já tô com saudades de você".
- Você curtiu ele né? - Sebastian pergunta pra mim rindo.
- Talvez...Eu tô com tanta merda na cabeça agora que não consigo pensar nisso...Acha que meu pai vai me matar? - eu pergunto.
- Ele não seria louco! Quer que eu vá com você? - Sebastian pergunta preocupado.
- Não, já falaram por mim uma vez e...não foi legal. Deixa que eu mesmo faço isso. - Digo convicto.
Sebastian dá de ombros e fecha os olhos se acomodando na poltrona do ônibus.
Eu olhei o meu WhatsApp e haviam mensagens do Gabriel, Paty e Thiago, mas eu apaguei todas.
Eu queria ver o Gabriel, mas isso teria que ser pessoalmente.
A viagem demorou um pouco, mas logo estávamos de volta a grande e barulhenta Capital.
- Você vai ficar bem? - Sebastian perguntou quando descemos do ônibus.
- Vou, qualquer coisa te mando mensagem. Obrigado mesmo Sebastian, por não desistir de mim. - eu digo sorrindo.
- Eu só retribui o que você me fez no passado, quando eu precisei de alguém, você era o único que estava lá. - Sebastian disse com um largo sorriso e então eu me aproximei e abracei forte o meu amigo, em total gratidão por ele.
- Bom, eu já chamei o meu Uber, então, até mais SB. - eu digo sorrindo.
- Até Ramon. - ele sorri também e eu caminho até o lado de fora do Terminal.
O meu Uber não demora muito pra chegar, eu embarco e logo estou em casa.
Sinto o meu corpo ficar pesado quando atravesso o caminho até a porta de entrada.
- É tarde demais pra voltar a trás? - pergunto a mim mesmo.
Eu abro a imensa porta a minha frente e vejo meus pais e Júlia, sentados no sofá e a minha mãe é a primeira a vir correndo ao meu encontro;
- Ramon! - ela me abraçou.
- Oi mãe. - eu digo em seu abraço.
- Meu Deus, pra onde você foi meu filho?! - ela perguntou.
- Eu...Eu quis ir pra praia...- eu disse tentando mentir.
- E aí você deixa a todos nós preocupados Ramon? Você não tinha esse direito meu filho! - Meu pai berrou.
- Pai...Isso não faz a menor diferença pra você...E acho que nem pra mamãe...- Eu digo saindo do abraço dela.
- Do que você tá falando meu filho?! Amamos você! Estávamos preocupados até agora com você Ramon! - minha mãe gritou.
- É? E até onde vai a preocupação de vocês? - eu perguntei.
Julia permanecia imóvel no sofá, apenas observando tudo.
- Do que você está falando Ramon? - Meu pai se aproximou me encarando.
- Sabe porque eu quis ir embora daqui? Porque eu sou GAY! - Eu gritei. Eu finalmente gritei isso, meu Deus, parecia que alguém havia arrancado o mundo das minhas costas finalmente.
- O que você disse? - Meu pai me olhou sério.
- Roberto...- minha mãe disse baixo.
- Não, não Miriam. Eu quero ouvir direito o que esse merdinha disse. - Meu pai pegou em meu braço.
- Esse merdinha aqui, disse que é gay pai. G-A-Y (sim gente, eu soletrei) Gay! Viado, bicha, baitola, Biba. O que você achar mais convencional no seu dialeto machista e preconceituoso. - eu disse tirando o meu braço da mão dele.
- Eu só quero te fazer uma pergunta. Você já viu algum gay fazer sucesso na vida Ramon? - Meu pai perguntou pegando no meu maxilar.
- Ricky Martin, Sam Smith, Elton John, Ellen DeGeneres, Daniela Mercury entre tantos outros. - eu disse sorrindo e ele largou meu maxilar.
- Desses que você citou, algum é jogador de futebol igual a você Ramon? - ele voltou a apertar o meu braço com raiva.
- Você já ouviu falar em Thomas Hitzlsperger ? Alemão, defendeu até a seleção alemã em plena COPA DO MUNDO. E ele é o quê? GAY!! E um puta gay do caralho! - eu respondi tirando o meu braço da mão dele mais uma vez.
- E você viu ele virar um grande astro do futebol?! - meu pai perguntou gritando.
- Do que você tá falando?! Você tá achando o quê? Que eu vou ser a porra do Neymar? - eu dei uma gargalhada - Eu sou capitão de um time do colegial! Acorda pai! - assim que terminei de berrar, a mão dele acertou o meu rosto em cheio.
- Roberto! - minha mãe gritou.
- Você não grita comigo Ramon! Eu ainda sou o seu pai! - ele berrou apontando o dedo na minha cara e eu ainda sentia minha bochecha queimar.
- É, eu sei. Bom, agora vocês ja sabem o que eu sou. - eu peguei minha mochila no sofá.
- Ramon! Ainda não terminamos de conversar! - minha mãe gritou.
- Na verdade esse assunto acabou mãe. - eu respondi.
- Está proibido de qualquer garoto entrar nessa casa! - meu pai berrou e eu apenas ri.
Eu subi as escadas rindo, entrei no meu quarto, joguei a mochila em cima da cama e fui direto pro banho, eu precisava ver alguém ainda.
Era engraçado, eu havia acabado de levar um tapa na cara do meu pai, porém eu estava tão nem aí pra isso, que levar o tapa do "cachorro homofóbico", não mudou nada dentro de mim, quer dizer, meu pai me odeia desde que eu me entendo por gente.
Quando terminei o banho, me enxuguei, coloquei uma boa roupa, passei perfume e peguei meu celular.
Eu desci as escadas correndo e o meu pai gritou algo que eu fiz questão de não ouvir e bati a porta com tudo, eu me sentia livre.
Chamei um Uber e rapidamente cheguei ao endereço, apertei o interfone e logo aquele garoto de olhos castanhos, me olhou confuso e sorriu, correu até a minha direção, me abraçando com toda a sua força.
- Eu sinto muito Ramon! - Gabriel disse naquele abraço, que me fez sentir em paz como nenhum abraço nesse mundo.
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