Além das estrelas: Memórias de um Jedi
Capítulo 1 – Inferno
20 anos atrás
O dia estava mais quente que o normal nas ruas de Tatooine, e ele sabia que uma tempestade de areia logo chegaria, e que aquilo não era bom.
Nunca teve medo, mas não gostava dos ruídos que o vento, misturado com a areia vermelha, faziam ao bater de encontro ao teto de sua pequena casa.
Odiava tudo aquilo e sabia que para sua mãe não era diferente.
Sabia que ela chorava muito, já havia visto, e seus olhos negros estavam sempre com machas vermelhas ao redor, maculando sua face.
Ela tentava fingir que estava tudo bem, mas a morte de seu pai e a partida de Itachi, seu irmão, a destruía dia após dia.
As contas haviam se acumulado e, assim, perderam tudo o que tinham.
Casa. Dignidade... E, até mesmo, a liberdade.
Para pagar parte do que deviam, um cruel comerciante os vendeu no mercado negro. Os vendeu como meras mercadorias baratas.
Sem direito de escolha, agora, eram escravos.
Nunca perdoaria o irmão por ter fugido!
Suspirou, continuando seu caminho de encontro à loja de sucata na qual trabalhava atualmente. Seu antigo dono a havia perdido em uma corrida de pods, mas não achava tão ruim trabalhar por ali. Afinal, tinha acesso gratuito a todas as peças que precisava e isso era o que mais o deixava feliz.
Sorriu amargamente ao encontrar o olhar conhecido de antigos companheiros.
Podia sentir seus olhares de escárnio sobre si, mas ainda não se abalou. Iria provar para eles o quão errados estavam ao subestimá-lo.
Já havia perdido várias corridas, mas ainda era um piloto. E dos bons.
— Maldição! Aquele pirralho está demorando mais que o normal — ouviu Jaffar praguejar e se apressou pela porta da loja.
Não podia irritar o novo patrão, ou então, ele poderia vendê-lo a qualquer momento.
— Que demora, menino.
— Me desculpe, senhor, mas... — começou tentando engolir todo seu orgulho Uchiha, mas logo foi interrompido.
— Não estou interessado em suas desculpas esfarrapadas, Sasuke. Apenas suma da minha frente. Tem várias peças para serem polidas lá nos fundos — gritou, dispensando-o com um breve movimento de mãos.
— Sim, senhor — balbuciou, correndo para os fundos da loja.
Sentia as lágrimas se acumulando no canto de seus olhos, mas se negava a chorar. Mesmo que odiasse aquele homem e aquele planeta, teria que ser forte por sua mãe. Ela precisava dele.
Engolindo o choro, sentou-se no chão, separando peça a peça para poli-las. Aquela tarefa era fácil, comparada com tudo que já tinha feito nos últimos três anos.
Sem nem sentir o tempo passar, já havia terminado metade de seu serviço, quando ouviu mais uma vez o grito de Jaffar:
— Venha aqui, moleque. Temos clientes!
Era fácil distinguir o ânimo nas palavras gritadas pelo homem em seu antigo dialeto do planeta.
— Já estou indo — berrou em resposta no mesmo idioma do homem, já adentrando pela porta de trás do lugar.
Seu corpo todo tremeu ao encontrar aqueles belíssimos olhos verdes.
Anjo. Ela só podia ser um anjo das histórias que ouvira dos pilotos.
Sem nem notar o estado do garoto, Jaffar apenas trocou poucas palavras com ele, que respondeu tudo automaticamente, mergulhado em seu estado de êxtase.
— Cuide de tudo por aqui, moleque — avisou Jaffar, saindo com o acompanhante da garota, tirando-o de seus devaneios.
Sem demora, Sasuke sentou-se na mesa de frente para a bela garota de olhos verdes.
Nunca antes esteve tão curioso sobre alguém. Ignorando toda a insegurança que existia dentro de si, perguntou:
— Você é um anjo?
— Como é? — sussurrou ela, corando ao arregalar os lindos olhos.
— Um anjo? Ouvi pilotos interestelares falarem de anjos. Anjos são as criaturas mais bonitas do universo e vivem nas luas de San digo. Eu acho...
— Você tão bonitinho... — a ouviu sussurrar, corando mais ainda.
Definitivamente, ela era um anjo.
— Onde vive? — disparou ela, mudando de assunto rapidamente.
— Aqui perto.
— E como sabe de todas essas coisas?
— Conversando com os mercadores e com os pilotos. Eu sou piloto também, sabe? Um dia vou ganhar várias corridas e ir embora desse planeta com minha mãe — confessou. Não entendia o porquê, mas não tinha vergonha, nem medo de falar sobre tudo com ela.
— Um piloto? Que legal! — sorriu.
—Sim — afirmou, orgulhoso.
— Há quanto tempo vive aqui? — A curiosidade brilhava misturada com o verde de seus olhos.
— Três anos — disse Sasuke, contrariado, mas prosseguiu ainda assim. — Fui vendido junto de minha mãe após a morte de meu pai.
— Você é um escravo?
— Não. Eu sou uma pessoa e me chamo Sasuke Uchiha — a raiva era palpável em sua voz.
— Desculpe. Eu não quis lhe ofender — apressou-se a garota. — Me chamo Sakura. Sou camareira da Rainha Haruno.
— Hm — balbuciou em resposta.
Não era como se estivesse bravo com ela, mas a mera menção daquela palavra o enfurecia.
— Vamos, Sakura — chamou o homem loiro com Jaffar às suas costas.
— Posso te garantir que somente eu tenho as peças que você procura — gritou para o homem.
— Tenho certeza que sim, senhor Jaffar. Obrigado — agradeceu passando pela porta da frente e levando Sakura e o outro homem esquisito, o qual Sasuke só foi notar naquele momento, junto de si.
Notou o quanto Jaffar parecia interessado naquelas pessoas e sua teoria só se confirmou quando ouviu suas palavras:
— Siga-os e me mantenha informado.
Sorrindo de canto, o moreno saiu pela porta.
Um sentimento bom se apoderava de si. Naquele momento não odiou mais Tatooine, pois, mesmo com todas as más lembranças que o planeta havia lhe dado, aquela, com toda certeza, seria uma boa.
Porque, mesmo sem entender, ele sabia que Sakura o libertaria daquele inferno. Afinal, ela era um anjo. Seu anjo...
~~~~
Dias atuais
A nave planava suavemente sobre as areias vermelhas daquele planeta que tanto conhecia.
Tatooine.
Fora ali que sua jornada havia começado e também fora ali onde a encontrara pela primeira vez. Ainda conseguia se lembrar de seu rosto perfeito e de seus belos olhos esmeralda.
Com certeza a corajosa rainha Haruno havia sido a mais bela mulher de toda a galáxia.
— Lorde Darth, a seu comando — ouviu um de seus soldados falar enquanto ainda contemplava o lugar onde havia perdido e ganhado muitas coisas.
“Você é tão bonitinho”
Um arrepio doloroso correu por todo seu corpo.
Ah, como ainda doía!
Já haviam se passado mais de dezesseis anos, mas nada havia mudado. As memórias ainda o enfraqueciam.
Talvez devesse acabar com elas, mas não conseguia. Ainda não...
— Destrua tudo.
Aquele seria o primeiro passo.
Talvez devesse começar pelo mais fácil. Não fraquejaria mais diante daquelas memórias. Já estava no inferno mesmo.
~~~~
— Mais uma vez, Sarada — a voz grave de seu mestre ecoava por todo o cômodo.
Já sentia todo seu corpo cansado pelos incontáveis exercícios do dia, mas não ousaria reclamar. Sabia de todo o mal que o lado negro estava causando e precisava ser forte.
Pessoas estavam sofrendo em toda a galáxia. Planetas inteiros estavam sendo reduzidos a pó.
Ela não podia se dar ao luxo de descansar mais que o necessário.
— Não se desconcentre!
Respirou fundo, passando todo o peço de seu corpo para a perna direita, chutando o ar. Repetiu esse mesmo movimento uma dúzia de vezes, mas foi obrigada a parar mais uma vez.
Mesmo não querendo admitir, seu corpo não aguentaria mais nada. Precisava descansar!
— Sarada...
— Você não acha que está pegando pesado demais com ela, Naruto-kun? — uma voz meiga soou no ambiente, o repreendendo.
— Ela precisa estar preparada, Hinata — respondeu ele, sem nem mesmo olhar na direção da esposa. — Você não está sentindo? O lado negro está se movendo. Não podemos ficar para trás.
— Mas...
— Já chega — rebateu, silenciando-a. — Prossiga, Sarada.
Observando as costas da mulher se afastando, ela voltou com dificuldade para seus exercícios.
Pode ver de relance seus belos olhos perolados envoltos em lágrimas. Tentou sentir pena, mas não conseguiu, afinal, vê-la chorar não era novidade nenhuma para a garota, assim como para seu mestre, que parecia compenetrado em seu treinamento.
Ambos sabiam que a morena sofria, mas, por quê? Essa já era outra questão para a qual Sarada não tinha resposta.
Talvez fosse pela perda de alguém? Só talvez. Sabia que os dois já haviam passado por muitas situações desgastantes. Conhecia parte da história dos Jedi, assim como do seu passado.
Sua mãe havia sido uma heroína e iria honrar sua morte, mesmo que para isso tivesse que viver no inferno em que vivia.
Ah, sim. Aquilo era um inferno, não por causa de seus mentores, mas por tudo o que estava acontecendo.
A Força precisava encontrar o equilíbrio e ela seria parte disso.
~~~~
Ela penteava levemente os fios de seus cabelos com as mãos.
Sabia que eles estavam mais curtos do que estavam na hora em que foi dormir.
Alguém havia entrado ali e os cortado, mas quem?
Por que ainda a mantinham viva?
Já haviam se passado anos, disso tinha certeza, mas nunca ninguém havia aparecido ali — enquanto estava acordada —, para torturá-la ou matá-la.
A única vez que pensou ver alguém, foi quando a mudaram de “quarto”. Já não vivia mais na úmida escuridão do calabouço e sim em uma antiga suíte sem luz elétrica.
Durante todo esse tempo, várias vezes já esteve à beira da loucura, mas conseguia se manter firme.
As noites já não estavam mais tão escuras.
Sempre encontrava comida e roupas limpas ao amanhecer.
Parecia estar sendo criada para o abate ou como um trunfo para o futuro, mas nada daquilo realmente importava.
Somente o tempo perdido lhe tirava o fôlego.
Como será que estavam? Como era a cor de seus olhos? Seus cabelos?
Não conseguia se lembrar.
Deus, não conseguia se lembrar dos rostos de seus próprios filhos!
Aquilo só podia ser o inferno!
Viver uma vida sem realmente viver, aquilo não podia ser chamado de vida.
Seus olhos pinicavam, sabia que lágrimas escorriam por sua face, mas não se importou em secá-las. Só queria morrer e acabar logo com aquele sofrimento, mas era covarde demais para tirar a própria vida.
“Você é um anjo?”
Ouviu uma voz sussurrante soar ao seu lado.
Só podia estar ficando louca. Sim, essa era a única explicação para ouvir vozes.
Levantou da cama em um pulo, precisava acabar logo com aquilo.
“Não desista. A hora está para chegar, então, viva e espere mais um pouco…” — ouviu novamente, perdendo o ar.
Em um segundo tudo ficou preto e ela nem mesmo sentiu quando seu corpo alcançou o chão.
Tudo à sua volta era escuridão.
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