[11 anos depois]
Lucy brandiu a espada acima de sua cabeça com habilidade, logo usando toda a sua força para desferir um golpe em seu oponente. Este que por sua vez conseguiu defender-se ao usar a sua própria espada para bloquear a da loira. Se Lucy estivesse digladiando com qualquer outra pessoa talvez ela conseguisse ganhar, mas não ganharia em uma luta contra o príncipe que de tudo sabia, inclusive esgrima.
O príncipe então revidou com maestria, brandindo a espada em direção a mulher em um movimento perigoso, a fazendo recuar, criando uma brecha para que ele pudesse golpear seu pulso com o cabo da espada, fazendo com que Lucy deixasse a sua cair no chão. A loira bufou e revirou os olhos, Natsu sempre a vencia em seus treinos de esgrima, queria ter pelo menos uma vitória para provar ao pai que ela podia se tornar a capitã dos soldados de Fiore.
— Você poderia me deixar ganhar pelo menos uma vez, Natsu — resmungou, se agachando e pegando a espada de madeira que usavam. — E ainda se diz meu melhor amigo.
— Se você não ganhar em uma luta justa, Jude nunca te deixará se tornar a capitã — respondeu sucinto. Estendeu a mão para que ela se levantasse e Lucy a aceitou de bom grado. — E mais, depois que Zeref assumir o trono ele pode te nomear como a capitã, um dos direitos dele é renovar o conselho de nobres e a guarda real.
— Você acha mesmo que Zeref me nomearia como a capitã da guarda real de Fiore? — perguntou, os olhos se arregalando de empolgação.
— Ele está entre você, a melhor esgrimista de toda Fiore, e Gray, graças às conexões dos Fullbuster com a família Marvel — explicou dando de ombros, como se a escolha entre eles dois fosse óbvia. E de fato era. Apesar de ser um grande lutador e ter boas conexões, Gray não tinha os conhecimentos necessários, já Lucy era uma excelente esgrimista e possuía tantos laços com outras famílias nobres quanto Gray, mas ser filha do atual capitão da guarda real, lhe dava uma vantagem, já que ela tinha passado toda a sua vida aprendendendo sobre o cargo.
— É melhor eu conversar com Mavis mesmo assim, ela pode ajudar o Zeref na escolha e se eu estiver em bons termos com ela talvez fale bem de mim. Fora o poder de declaração dela como rainha, ela pode escolher pelo menos um dos conselheiros, pode preferir escolher a chefe da guarda real — Lucy cruzou os braços, acreditando que sua ideia era ótima.
Mavis e Zeref tinham se casado a pouco mais de um ano, o casamento entre uma fada e o herdeiro da coroa estreitou os laços entre o povo mágico e Fiore, algumas pessoas até mesmo suspeitavam que o casamento era apenas para unir ainda mais Fiore a magia, já que os filhos de Zeref seriam mestiços e teriam capacidades mágicas, mas a verdade era que Zeref sempre fora apaixonado por Mavis, e em seu banquete de aniversário de 25 anos ele a pediu em noivado, e ela aceitou para a surpresa de toda a família real.
— Mavis já te adora, ela com toda certeza lhe escolhera para a guarda real, fora que você tem a mim para te indicar, afinal de contas ele não me escolheu para se tornar o seu futuro conselheiro real apenas por formalidades.
— Eu espero que você não mude de opinião até a coroação dele — resmungou cruzando os braços — Eu fiquei sabendo que você andou conversando com o filho dos Fullbuster pelo palácio na última visita dele.
— Você sabe que eu só tenho olhos para você, Lucy — brincou se aproximando da amiga. Então ele moveu uma mecha de cabelo que caía pelo rosto da loira.
— Você teria conseguido me conquistar com uma fala dessas se eu já não estivesse apaixonada — falou em um tom calmo, mas com um pouco de zombaria.
— Não se preocupe, não pretendo lhe roubar de sua condessa — o príncipe replicou usando o mesmo tom que ela tinha usado.
E então começaram a rir, como sempre faziam. Apesar de diversos boatos percorrerem pelo palácio e pela cidade, afirmando que o príncipe e a filha do duque Heartfilia eram amantes em segredo, a relação dos dois jovens adultos não passava de uma amizade, uma amizade íntima e profunda.
— Lucy, eu pretendo deixar Crocus por alguns dias, talvez semanas, antes que Zeref assuma a coroa — Natsu pronunciou as palavras com seriedade, mudando drasticamente seu tom de voz. A atenção de sua melhor amiga se voltou para ele, os olhos curiosos com as palavras. — Se eu esperar até a coroação e ele me colocar oficialmente como conselheiro, não vou poder deixar Fiore por tantos dias, pelo menos não até o novo conselho se reunir e debater todos os assuntos reais, mas eu prometo voltar antes da coroação, no mais tardar, eu voltarei na manhã da cerimonia.
— Você deveria avisar isso para o seu irmão, eu já estou acostumada com suas escapadas. — Lucy cruzou os braços, falava em tom sério assim como o amigo. — Se não pretende contar a Zeref ou seus pais, eu não serei a responsável por dar a notícia, mas antes de partir pelo menos envie uma carta avisando para que eu não fique preocupada.
Natsu sorriu, um sorriso sereno, em um misto de felicidade e tristeza. Ele entendia por que a sua melhor amiga lhe pediu para contar a Zeref ou seus pais sobre deixar o palácio, mas ele sabia que seus pais não o deixariam sair do castelo tão perto da cerimônia de coroação de seu irmão, era muito perigoso. Parte de Lucy queria impedir Natsu, mas sabia que se tentasse ele faria como fez da última vez que ela não lhe deixou escapar do palácio: iria sem lhe avisar, Lucy passaria dias ou semanas sem nenhuma notícia do melhor amigo e ficaria tão preocupada quando Arse e Cadmo. Lucy nunca mais queria sentir aquilo, então sempre pedia por cartas e notícias quando Natsu lhe contava das suas escapadas.
A loira então abriu os braços, chamando o amigo para um abraço e ele prontamente aceitou o gesto, envolvendo ela em seus braços. De forma carinhosa, Natsu beijou o topo da cabeça de sua melhor amiga, que apertou o abraço ao sentir o ato carinhoso.
— Agora eu tenho que ir, Cana me convidou para visitar a vinícola dela, e como fica um pouco distante da cidade, tenho que me encontrar com ela cedo.
— Tenho certeza que você e sua condessa vão apenas beber vinho nessa viagem — brincou o rapaz, com um sorriso zombeteiro no rosto. — Se divirta, e traga uma garrafa de vinho para mim quando voltar.
As bochechas de Lucy coraram com as insinuações de seu amigo, e este riu da expressão envergonhada da duquesa, normalmente era ela que fazia aquelas mesmas piadas quando o príncipe se envolvia com alguém, e agora que ela finalmente tinha começado um relacionamento com a condessa Cana Alberona, Natsu podia revidar as piadas.
— Também tenho que ir, tenho alguns projetos para finalizar — avisou o príncipe.
Quando Natsu e Lucy deixaram a pequena arena, onde os guardas reais treinavam, mas que era tão frequentada pelo príncipe e pela duquesa quanto pelos guardas, o sol já estava se pondo. Natsu caminhou calmamente pelos corredores do palácio, antes de voltar ao seu projeto precisava de um banho e novas roupas. Quando chegou ao seu quarto se despiu por completo, deixando em seu corpo apenas o amuleto de prata que ganhou da imperatriz das fadas. Quando entrou no enorme banheiro, a sua banheira já estava cheia e toalhas limpas lhe esperavam sobre sua borda larga. Provavelmente uma das várias servas do palácio tinha preparado o banho para quando o príncipe voltasse de suas práticas de esgrima com Lucy.
Se lavou rapidamente, tirando a sujeira que tinha se acumulado durante o dia e então adentrou na banheira, fazendo o nível da água se elevar. Estava exausto e a água quente ajudava seu corpo e sua mente a relaxar, e se tinha uma coisa que sua mente precisava naquele momento era relaxar. Junto de seus deveres como príncipe, ainda tinha o seu projeto pessoal, que pretendia terminar o quanto antes, mas tinha chegado a um ponto onde parecia impossível prosseguir.
O amuleto prateado flutuava pacificamente sob as águas calmas, Natsu o observava com cautela enquanto se perdia em pensamentos, em seu último encontro com Titânia a anos atrás, ele tinha perguntado porque ela tinha lhe dado um medalhão em seu batismo, a imperatriz das fadas se limitou a responder que aquele medalhão poderia lhe proteger até mesmo da fúria dos deuses, e como um príncipe de um reino tão poderoso, segurança nunca existia em excesso.
E foi então que um rompante criativo lhe atingiu. Se levantou tão rapidamente da banheira que a água subiu a ponto de transbordar, e consequentemente encharcar as toalhas que lhe esperavam na borda. Sua mente trabalhava a todo vapor enquanto o príncipe se secava com um dos roupões macios que tinham sido deixados sob uma pequena mesa próxima a porta. Finalmente tinha descoberto como finalizar o projeto que tinha trabalhado por meses, enquanto vestia uma roupa confortável para trabalhar no seu espaço ateliê, Natsu se perguntava como nunca tinha pensado naquilo antes, afinal de contas era uma de suas histórias favoritas, Zeref sempre lhe contava antes de dormir quando eram mais novos, e ainda dormiam no mesmo quarto.
“A milhares de anos, quando as fadas e os humanos ainda viviam em constante guerra, um deus, Mercphobia, o deus dos mares e da guerra, ofereceu se aliar aos humanos ou as fadas, contanto que eles lhe construíssem um templo magistral no centro do império de seus respectivos impérios, as fadas, leais a Grandeeney, negaram a ajuda do deus, mas os humanos concordaram com o pedido e construíram a Torre do Mar Espiral, assim que a torre ficou pronta, Mercphobia lançou sua ira as fadas, quebrando suas asas em pedaços, fazendo as perder a capacidade de voar e assim tendo uma enorme desvantagem na guerra.
Quando Grandeeney descobriu o que tinha acontecido com suas seguidoras, a rainha dos deuses mandou que elas costurassem os pedaços de suas asas com linha de ouro e que isto traria de volta a sua capacidade de voar, em agradecimento a rainha dos deuses, as fadas plantaram a árvore da vida e a nomearam de Gurandīne, o nome de sua divindade na língua sagrada das fadas.”
Natsu se lembrava que ainda existiam outros conflitos na história, como Mercphobia ser punido por Grandeeney e se tornando uma besta marinha por séculos, só voltando a sua forma de deus quando Elefseria, um poderoso mago e seguidor de Grandeeney, recebeu a tarefa de reverter a punição da rainha dos deuses, ele no entanto teve que pagar com sua vida para reverter um encantamento tão poderoso, depois que Elefseria perdeu a vida em uma missão, a deusa do destino lhe transformou em um poderoso e sábio dragão, que guarda até os dias de hoje a biblioteca de toda sabedoria. Mas a parte da história que lhe interessava era como as fadas recuperaram seu dom de voar: costurando suas asas com fios de ouro.
Assim que adentrou o seu ateliê teve a visão de sua mesa bagunçada, com diversos materiais espalhados e na parede um enorme par de asas, que era mais leve do que parecia. As asas alvas tinham sido feitas de plumagem e um tecido especial, encantado pelas fadas a pedido do príncipe, mas ainda assim as asas não tinham a capacidade de o fazer voar, mas Natsu tinha certeza que conseguiria fazê-las alçar vôo se as costurasse novamente, dessa vez com linha de ouro.
O príncipe então se concentrou em procurar pela pequena caixa de madeira entalhada que tinha ganhado a tantos anos atrás de Selene. Ele tinha escondido a caixa em seu atelier após a última carta que tinha recebido de Alvarez, normalmente as cartas que recebia mensalmente de alvarez eram cartas de sua querida professora, mas a três anos atrás tinha recebido uma carta da filha mais nova de Selene, uma carta lhe avisando do falecimento de sua mãe. Ele ficou de luto pela professora por meses, e ver a caixa sob a mesa de cabeceira todos os dias lhe causou tanto mal que ele teve que esconder o objeto entre as várias relíquias em seu ateliê.
Quando finalmente encontrou o objeto, incrivelmente limpo para algo que ficara esquecido por tanto tempo ali, seu coração estremeceu. Seu luto ainda não tinha se passado por completo, mas agora ele vinha acompanhado de memórias felizes. Passou suas mãos curiosas e nostálgicas sob os detalhes dos entalhes da madeira, seus olhos se inundaram, o príncipe não permitiu que nenhuma lágrima escorre, pelo contrário, ele sorriu por causa da alegria genuína que as lembranças de Selene lhe traziam.
Então abriu a pequena caixa e viu as linhas trocadas, principalmente a de ouro. Tocou a linha que precisaria e sentiu uma corrente elétrica percorrer seu corpo, ele conhecia bem a sensação, era uma descarga mágica que artefatos encantados liberavam. Ele colocou a linha sobre a mesa bagunçada e foi até a parede, pegando uma asa por vez e colocando uma de cada lado da linha encantada.
A muitos anos atras, Hakune tinha lhe ensinado um encantamento que as fadas usavam quando precisava curar seus corpos usando a magia de um artefato, era quase como se o encantamento tornasse a magia do artefato e em magia de luz, independe da natureza original do artefato, mais tarde Natsu tinha descoberto que aquele encantamento podia fundir dois artefatos, purificando ambos. E era com o segundo efeito do encantamento que Natsu contaria para fazer suas asas funcionarem.
— Mesmo nas profundezas da escuridão, a luz sempre nasce, pois até mesmo o mais escuro dos corações, um dia já foi iluminado com inocência e pureza. — o príncipe recitou uma primeira vez, incerto de que tinha o feito corretamente, mas quando a linha dourada se iluminou em sua frente suspirou aliviado.
E assim o príncipe seguiu, recitando e costurando noite adentro, enquanto ainda existia linha, o príncipe continuou a costurar, até que foi vencido pelo sono e adormeceu sob a sua mesa, com seu par de asas encantadas sob sua cabeça.
Na manhã seguinte acordou quando as cortinas grossas de seu ateliê descobriram a janela enorme, permitindo que luz adentrasse o cômodo e atrapalhasse o descanso do príncipe. Acordando de sobressalto, Natsu olhou na direção da janela, em um misto de surpresa e sonolência, pode ver sua amiga de baixa estatura e pouca idade lhe encarando com as mãos na cintura, Wendy Marvell não costumava visitar o ateliê de Natsu, apesar de ser uma das poucas a possuir uma chave.
— Esta atrasado para seus afazeres, Natsu — Wendy avisou, caminhando até o príncipe e se sentando num banco de madeira à sua frente. — Gray e eu passamos a manhã toda lhe esperando para darmos continuidade com o nosso projeto. Gray desistiu de esperar, mas eu sabia que você estaria na sua oficina, então vim lhe pegar. Tome um banho rápido, se troque e venha comigo, o rei Cadmo não vai ficar nada feliz se você não aparecer na reunião comigo e com Gray.
— Bom dia, Wendy — Natsu resmungou, se levantando da cadeira, os olhos da condessa Marvel então pairaram sobre o par de asas na mesa, ao perceber o olhar da amiga, Natsu sorriu convencido. — Finalmente terminei meu pequeno projeto particular.
— Conseguiu fazer elas voarem? — perguntou cética, mas não precisou de uma resposta do amigo, já que sua expressão deixou claro que ele ainda não tinha tentado.
— Vou tentar voar hoje à noite, eu lhe convidaria, mas você negou todas as outras vezes que pedi para você sair da sua casa à noite.
— Sabe que a tia Porlyusica não me deixa sair de casa à noite, com as próprias palavras dela: “A noite é muito perigosa para uma jovem nobre que se recusou a ter aulas de esgrima e artes marciais”.
— Você sabe que ela esta correta, certo? — o príncipe questionou, cruzando os braços, Wendy resmungou algo incompreensível, ela não tinha tido nenhuma aula de esgrima ou autodefesa pois não tinha tempo, desde a morte de seus pais tinha que controlar todos os negócios dos Marvel, e Porlyusica não podia ajudar, já que ela tinha sido deserdada pelos pais a muito tempo.
A conversa dos dois amigos não durou muito mais, Natsu saiu pela porta de madeira estreita que levava o príncipe até o seu quarto, Wendy pensou em o seguir, mas preferiu esperar do lado de fora do quarto, em respeito a privacidade de Natsu, que não demorou muito. Os dois amigos então seguiram até o salão de reunião onde se encontraram com Cadmo e Gray, Wendy se desculpou pela demora, assumindo a culpa por tal.
Com a ausência premeditada de Lucy, a reunião começou com dois, dos três herdeiros, do título de duque de Fiore. Natsu, Wendy e Gray, juntamente com Lucy e o apoio de Titânia, pretendiam fundar uma escola de magia, que ensinaria humanos sobre a arte druídica e procuraria por humanos com talentos e habilidades únicas para a magia. Natsu acreditava que aquele seria seu último ato como príncipe, já que após a coroação receberia o título de duque para assumir a chefia do conselho.
Após a reunião, Natsu foi à cidade acompanhado dos duques para descobrir a situação do prédio onde a escola seria fundada. A construção estava quase finalizada, deveria terminar próximo do final da semana seguinte, os alunos patrocinados por Natsu já tinham sido escolhidos a semanas, e estes estavam apenas esperando o início das aulas, o príncipe sentia que não deixaria nenhum afazer para trás quando partisse para uma última aventura secreta antes de se tornar um conselheiro.
Ao final da tarde, Gray e Natsu acompanharam Wendy até a mansão da família Marvel, unicamente para Porlyusica não se preocupar com sua querida sobrinha. No caminho de volta os dois rapazes mantiveram uma conversa amena, mas Natsu percebia que seu amigo de longa data deseja algo, e ele imaginava que era a posição de chefe da guarda, apesar de Zeref nunca ter dito oficialmente que Natsu se tornaria seu conselheiro, toda a nobreza de Fiore tinha certeza que isso aconteceria, e consequentemente bajulava o jovem príncipe em troca de favores.
Poucos eram os que não faziam aquilo, Gray não era um dos poucos.
A conversa com Gray insinuando sobre o cargo de chefe da guarda real foi exaustiva, tanto que o príncipe chegou a considerar dormir ao invés de testar suas asas, mas ao pensar nelas logo sua excitação tomou conta de seu corpo. Assim que entrou em seu quarto, localizado no segundo andar, Natsu se trocou rapidamente, vestindo roupas leves para não estragar as roupas caras que usou o dia todo. Entrou rapidamente no ateliê e, usando algo semelhante a suspensórios, vestiu as asas. Na noite anterior ainda tinha unido ambas as asas antes de adormecer, para quando fizesse o teste agora, tudo estivesse perfeito.
Natsu então caminhou até a sua varanda, respirou fundo e antes de saltar uma última vez recitou o encantamento, como se este fosse um mantra.
— Mesmo nas profundezas da escuridão, a luz sempre nasce, pois até mesmo o mais escuro dos corações, um dia já foi iluminado com inocência e pureza.
E então saltou.
Em meio ao ar, a corrente prateada de seu amuleto tocou a linha dourada, que ainda afetada pelo encantamento brilhou incandescentemente. A magia divina do amuleto de proteção se misturava ao encantamento e fazia o par de asas brilhar intensamente, a magia do amuleto corria pelos fios de ouro como se estes fossem um condutor potente. Antes que Natsu percebesse suas asas começaram a mudar, se misturando ao corpo do rapaz e de repente a sua velocidade de queda diminuiu, flutuando próximo ao solo o príncipe conseguia sentir as asas como se fossem uma extensão de seu corpo e diferente do que imaginava, voar era fácil, quase como respirar.
Natsu pousou no jardim com pouco equilíbrio, mas aquele era o menor de suas preocupações no momento, seu sorriso não cabia em seu rosto e o príncipe estava em puro êxtase. Sem nem mesmo pensar, o príncipe saltou novamente, voando alto no céu, rodopiando e tentando fazer movimentos complexos, a maioria deles falhava, mas Natsu estava tão extasiado que aquilo não lhe abalava.
Natsu voou alto, tão alto quanto quis, até que se lembrou de Lucy. Queria mostrar a sua conquista a ela, que sempre acreditara que ele conseguiria alcançar os céus, e agora ele tinha conseguido, talvez em uma forma que ela nem mesmo imaginava. Então planou baixo se aproximando da varanda de seu quarto com cuidado para não ser visto pelas outras diversas janelas. Adentrou o cômodo com as asas desajeitadas esbarrando nas decorações caras, fazendo o silêncio da noite se quebrar. Foi rapidamente até o enorme closet e pegou uma capa negra longa, imaginou que o pano escuro deixaria mais fácil a tarefa de se esconder no seu noturno, vestiu a peça de roupa, que mal cobria suas recém adquiridas asas brancas quando fechadas, então chegou a conclusão de que não seria muito útil, ou prático, voar vestindo a túnica, mas ainda assim decidiu a usar, acreditando que seria mais divertido ver a reação de surpresa de Lucy com as asas cobertas.
Cobriu os fios rosados com o capuz do manto e mais uma vez saltou de sua varanda, dessa vez suas asas bateram fortemente, empurrando o corpo do príncipe em direção ao céu. As asas se provaram mais resistentes do que o príncipe imaginava que seriam, o que o fez se questionar se aquilo se devia a algum dos encantamentos que as fadas colocaram nos materiais, ou se aquilo era alguma propriedade provinda dos fios de ouro, sem nem mesmo pensar na possibilidade de que as suas novas asas tinham se mesclado com a magia poderosa de seu medalhão.
Se guiando pelas construções da cidade, Natsu logo encontrou o caminho para o vinhedo, graças a velocidade em que voava o capuz negro já não mais cobria seus cabelos, que flutuavam livres. Logo a paisagem da cidade a noite foi substituída pelos campos agrícolas que cercavam os muros majestosos da cidade, antes de seguir seu caminho até a vinícola, o príncipe parou para observar a cidade, em uma vista totalmente diferente de tudo que ele já tinha visto antes, se tinha ficado hipnotizado pela beleza dos muros da cidade quando era criança, a vista daquela época não chegava nem aos pés da que ele via agora. E se pegar hipnotizado pela beleza de sua cidade uma vez mais fez Natsu se lembrar da razão de ele querer construir aquelas asas em primeiro lugar.
Ele queria poder observar todos os belos lugares do mundo, lugares que ele tinha visto em seus livros e tinha certeza que os desenhos e plantas arquitetônicas não chegavam nem perto da beleza real dos lugares. Ele queria conhecer todas as maravilhas do mundo, custe o que custasse.
Suspirando uma última vez, Natsu voltou a voar em direção às terras da condessa Alberona, e logo a paisagem dos campos foi substituído pela paisagem das árvores e suas copas majestosas, viu de longe também a pequena cabana que Igneel vivia e pensou se deveria visitar o idoso antes que ele falecesse assim como Selene. Continuando a voar, finalmente alcançou a vinícola, as terras cobertas de plantações de uva e outras videiras tomavam sua visão até a linha do horizonte, e no centro as duas mansões destinada a produção de vinho e estadia dos servos e da família Alberona, e periodicamente Lucy Heartfilia nos últimos meses.
Decidiu pousar entre as videiras e esconder suas asas sob a capa negra, percebeu que devido as suas vestes os servos de Cana provavelmente não lhe deixariam entrar, muito menos chamariam Lucy para que eles se vissem, afinal de contas a lua já estava alta no céu, anunciando que já deveria ser tarde demais para alguém aparecer na porta. Como conhecia a vinícola, já que ele próprio tinha passado algumas noites ali na ultima vez que escapou de seu afazeres reais, Natsu sabia bem qual quarto Cana costumava usar, e usou isso a seu favor, recolhendo pedrinhas pelo caminho enquanto se aproximava da varanda, sem alçar voo, o príncipe então começou a lançar as pedrinha em direção a porta de madeira da varanda.
Depois de três ou quatro a porta da varanda foi aberta em um movimento súbito, a pele brozeada e o cabelo castanho ondulado anunciaram que quem passava, irritada vale comentar, pela porta era a dona da vinícola e não a amiga de infância. A mulher olhou para baixo irada, e com razão, bateu os punhos fortemente no parapeito da varanda.
— Você é uma pessoa muito corajosa para me incomodar a essa hora da noite jogando pedras na minha varanda — vociferou, olhando a figura encapuzada de Natsu de cima a baixo. — Tire o capuz antes que você seja preso como um indigente! — continuou a proferir as palavras um tanto irritadas, acreditava que era um dos empregados que tinha sido demitido nas últimas semanas e insistia em voltar na vinícola em busca do emprego.
— Oh, me desculpe, Cana, acabei esquecendo do capuz — Natsu comentou, a condessa por sua vez se surpreendeu com a casualidade usada, apesar de se considerar próxima de seus empregados, eles sempre usavam honoríficos, mesmo quando a chamavam pelo primeiro nome. Foi então que ela viu as madeixas rosadas do príncipe, seus olhos se arregalaram e ela quase deixou escapar um grito de surpresa.
— Desculpe pela forma como te tratei, mas você me acordou no meio da noite — Cana se explicou rapidamente, cruzando os braços e lançando uma expressão confusa para o príncipe, que era um amigo íntimo e responsável por apresentá-la a Lucy.
— Não se preocupe, Cana, eu entendo a situação — respondeu com um sorriso calmo. — Se não estiver interrompendo nada, eu queria falar algo a Lucy.
— Acredite, se você estivesse atrapalhando algo eu seria presa por assinar um membro da nobreza — respondeu a condessa, se apoiando no parapeito e se inclinando para ver melhor o amigo. — Lucy, você tem uma visita! — avisou sem tirar os olhos do príncipe, se questionando por que ele estava ali.
A duquesa Heartfilia logo apareceu na varanda, seus olhos pousaram sob o príncipe e uma expressão de confusão surgiu em seu rosto. O roupão fino e quase transparente marcava as curvas de Lucy com delicadeza, os fios loiros da bela mulher pareciam prateados sob a luz da lua, e sua amada, a condessa Cana Alberona, parecia lhe devorar com os olhos. Acostumada com o olhar de desejo de Cana, Lucy apenas concentrou seu olhar no príncipe.
— O que faz aqui, Natsu? — perguntou confusa, e um tanto surpresa.
— Eu precisava conversar com você o quanto antes, e sei que você não voltará amanhã, então decidi eu mesmo vir até você — respondeu com um tom banal, a expressão de Lucy mudou, de confusão para aborrecimento, ele tinha feito uma viagem de horas, a cavalo provavelmente, por que queria conversar?
— Natsu você deveria ter vindo pela manhã, sabe como é perigoso atravessar a floresta a cavalo à noite. Você poderia ter sido roubado ou algo pior, fora que voltar é ainda mais difícil já que esta tão tarde, aliás, onde está o seu cavalo, não o vejo em lugar nenhum.
— Eu posso subir para conversarmos? — questionou o príncipe, se abraçando em uma tentativa de aquecer o próprio corpo.
— Vou pedir para uma de meus empregados abrir a porta, espere um instante Natsu — Cana respondeu por Lucy, endireitando a sua coluna, preparada para sair da varanda, mas foi impedida pela fala do príncipe.
— Não perturbe seus empregados a essa hora da noite, Cana, eu posso subir pela varanda.
— Não diga besteiras Natsu, você pode se machucar escalando-
A fala preocupada de Lucy foi cortada pelo movimento súbito de Natsu. Seus lábios se curvaram em um círculo perfeito, em um estado de pura surpresa, quando viu as asas alvas do príncipe se abrirem sob o véu da noite. Natsu então bateu suas asas uma vez mais, saindo do chão e alcançando a varanda rapidamente. Cana deu um passo para trás enquanto Lucy tropeçou no próprio pé e caiu no chão, ambas completamente surpresas.
— Você… conseguiu! — Lucy finalmente falou, quando sua surpresa rapidamente se tornou euforia. A loira saltou chão e em um movimento rapido agarrou o pescoço do melhor amigo. — Elas parecem tão reais! Quase como se fossem verdadeiras!
— Eu sabia que você era inteligente, e tinha talento para a alquimia, mas não sabia que era ao ponto de criar asas — Cana falou embasbacada.
— A maior parte disso se deve as fadas, Mavis pediu para que elas encantassem os materiais que usei com magias de vento e anulação de peso, mas acredito que devem ter feito mais algum encantamento que Mavis esqueceu de me contar. Eu só precisei juntar tudo em uma coisa só.
— Ainda assim é impressionante — replicou a condessa, tocando as penas, como se só acreditasse que aquilo era tocando-as.
— Imagino que a “conversa” que queria ter comigo era sobre sua partida? — A duquesa cruzou os braços ao perguntar, sua expressão ficou um tanto séria, sua namorada logo percebeu que o assunto era entre os dois e então entrou no quarto, ainda observando os dois dali. — Essa é sua última parada da noite antes de desaparecer sabe-se lá por quanto tempo?
— É aí que você se engana, Lucy, eu não vou partir hoje. E de fato essa é minha última parada, porque eu irei voltar ao palácio assim que terminarmos essa conversa — respondeu calmamente, seu sorriso largo estava em seus lábios, o que tranquilizava um pouco a mulher. — Só vou amanhã ao anoitecer, preciso preparar mantimentos e provisões… a nossa conversa era apenas sobre as asas, eu estava feliz por conseguir fazê-las, então queria mostrar para você o que eu consegui.
— Conhecendo você, não sei como não vai partir essa noite mesmo — comentou um tanto mais calma, e logo a gargalhada alta de Natsu inundou os ouvidos de Lucy.
— Se eu desaparecer essa noite, deixando meu quarto como deixei, Arse e Zeref vão ficar muito preocupados, e ainda pretendo escrever uma carta para ela. Uma certa pessoa me fez prometer que eu avisaria quando partisse e eu pretendo cumprir minha promessa, e não só avisar a ela, mas ao meu irmão e minha mãe, Cadmo com certeza cortaria fora as minhas asas caso eu contasse a ele. — Lucy sorriu ao escutar as palavras gentis do amigo, e então o abraçou mais uma vez, um abraço caloroso e repleto de saudade, como se ele estivesse partindo naquele momento.
— Venha me ver amanhã, irei preparar alguns mantimentos que você não pode conseguir se vai sair em segredo. — Lucy pediu, apertando o abraço e depositando um beijo casto no ombro do amigo. — Vou ficar preocupada, mas sei que você vai ficar bem, digo o mesmo pela rainha Arse, Zeref e até mesmo pelo rei Cadmo.
— Não se preocupe, enquanto eu tiver o medalhão de Titânia eu estarei protegido de qualquer mal que possa me atingir.
— Você se confia demais em uma magia tão antiga. Mas não importa, volte para o palácio, e certifique-se de que ninguém na cidade lhe veja, não crie comoções desnecessárias.
— Vejo você amanhã à noite — Natsu se despediu, e beijou o topo da cabeça da melhor amiga. Antes de alçar voo olhou para dentro do quarto e acenou para a condessa, que tentava não ouvir a conversa enquanto lia um livro, Cana retribuiu o gesto com um sorriso e o príncipe se foi.
Logo a duquesa adentrou no quarto, ainda com sua mente no seu melhor amigo, mas o abraço e beijo gentil de sua amada logo lhe trouxeram de volta para o momento. Cana entendia a relação de Natsu e Lucy, sabia que eles eram melhores amigos, e foram os primeiros amigos um do outro, mas às vezes sentia ciúmes do quão eles eram próximos, e do quanto Lucy se preocupava com ele. As duas se deitaram na cama confortável da condessa e o cansaço atingiu primeiro Cana, enquanto Lucy passou a noite em claro, se preocupando em antecipação pela “viagem” de Natsu.
Algo lhe fazia acreditar que ele demoraria muito mais tempo para voltar do que todas as outras vezes que fugiu do palácio.
Natsu voou tão rápido quanto conseguia, chegando no palacio mais rápido do que tinha voado até a vinícola. Quando adentrou o seu quarto e se deparou com a bagunça que tinha causado antes, o cansaço do dia logo lhe atingiu. Mas precisava arrumá-lo antes de dormir, para assim dedicar seu dia seguinte a escrever as cartas para sua mãe e irmão. Mas o verdadeiro problema não era arrumar o seu quarto, e sim esconder suas asas. Não sabia como, ou porque, suas asas e seu corpo tinham se mesclado, conseguia sentir a ligação entre sua pele, músculos e ossos junto do par de asas.
Decidiu então se despir por completo, o que fora uma tarefa ainda mais difícil e lhe custou uma de suas camisas mais confortáveis, já que esta não passaria pela asas, e além disso tinha se rasgado quando as asas se fundiram a ele. A última coisa ainda em seu corpo era o medalhão de Titânia, e por alguma razão, sua intuição lhe dizia para tirar ele também, pela primeira vez em toda sua vida, e assim ele o fez.
E foi surpreendido quando o par de asas não somente desapareceu, mas o medalhão ganhou detalhes em dourado e branco em seu pingente circular. Ficou surpreso com o acontecido e se questionou o que poderia ter causado aquela reação, mas não tinha os materiais necessários para examinar o medalhão por si só, se questionou se poderia pedir ajuda a Mavis em segredo no dia seguinte, mas a ideia logo se desfez em sua mente, por enquanto aquele seria um mistério que ele não resolveria.
Depois de se vestir novamente, e arrumar o quarto bagunçado, Natsu se pôs a dormir, deixando o medalhão sob a pequena mesa ao lado de sua cama. Estava exausto e extasiado ao mesmo tempo, precisava dormir mas sua empolgação não lhe permitia, e isto lhe fez dormir quase ao nascer do sol, quando o cansaço se fez maior.
[...]
Quando a noite seguinte chegou, Natsu estava pronto para partir em sua viagem, pensava em visitar as ruínas da Biblioteca Sagrada ao norte de Fiore, ou talvez passar alguns dias em uma das cidades do povo mágico, imaginando que entre eles as suas asas não seriam um problema, antes de partir trancou a porta de seu quarto e de sua oficina, prendeu as duas chaves a um cordão de prata e colocou em um envelope.
Como na noite anterior, Natsu vestia uma roupa confortável e prática para viagem, mas dessa vez tinha feito cortes largos nas costas da camisa e da capa, para assim conseguir tirar as peças de roupa sem rasgá-las ou tirar o medalhão. Na bolsa que levava consigo tinham alguns poucos mantimentos, que conseguira roubar da cozinha com ajuda de seus empregados, e roupas para pouco mais de três dias, sempre poderia parar em rios e lagos para se banhar e lavar suas roupas caso necessário.
Sem mais delongas, o príncipe colocou o medalhão sob o pescoço e suas asas surgiram de um feixe de luz dourada. Ele tinha passado o dia inteiro imaginando como o medalhão e as asas tinham criado aquela relação, mas tinha chegado a conclusão que o encantamento para fundir as asas aos fios de ouro tinha sido o que causou aquela reação, fundindo não só as asas, como também o medalhão e seu próprio corpo.
Com tudo necessário para a viagem já em sua bolsa, o príncipe se lançou pela varanda ao céu, passando rapidamente na mansão dos Marvel, para se despedir de sua amiga, que ficou embasbacada ao vê-lo voar. Wendy jurou sigilo, e argumentou que mesmo se contasse, ninguém acreditaria. Natsu concordou e agradeceu, avisando que deixaria seus afazeres para o projeto da escola de magia nas mãos dela, a deixando sob controle de metade dos investimentos.
E então desatou a voar até a vinícola, onde pegou seus mantimentos e entregou a Lucy as chaves, perguntando se caso ele precisasse de qualquer coisa e não pudesse conseguir pessoalmente, Lucy poderia pegar para ele no palácio, a duquesa aceitou sem pestanejar e se despediu uma última vez do melhor amigo, que logo a deixou a mansão dos Alberona para trás enquanto voava em direção ao norte de Fiore, onde faria sua primeira parada.
Os primeiros dias de viagem foram, ao contrário do que Natsu imaginava, os mais difíceis. Apesar de ter conseguido voar tão facilmente a princípio, ainda não sabia fazer grandes manobras e voar por longos períodos deixava seu corpo dolorido e asas exaustas, mas quando passou a entender os limites de suas capacidades tudo se resolveu. Quando parava perto de grandes cidades sempre fazia questão de escrever cartas para Lucy e Wendy, às vezes também escrevia para Zeref, em uma tentativa de amenizar as preocupações da família real. As primeiras semanas se passaram tão rápidas quanto possível e ao mesmo tempo tão prazerosas quanto Natsu podia desejar.
Passou três dias nas ruínas da Biblioteca Sagrada, lendo alguns dos livros que não puderam ser recuperados quando a biblioteca desabou anos atrás, estavam desgastados e muitos tinham perdido a tinta de suas palavras, e com ela o conhecimento de milhares de anos, tinha passado uma semana inteira próximo da fronteira de Fiore e Iceberg, conhecendo a famosa muralha que dividia os dois reinados. E assim suas viagens seguiram, cada dia descobrindo novas maravilhas e novos conhecimentos, parando em cidades e descobrindo novas culturas e dialetos e até mesmo passando tempos nas cidades do povo mágico, onde conhecia diversas fadas, metamorfos, ninfas e outros seres maravilhosos.
Quanto mais tempo passava se aventurando em lugares tão distintos, mais se aproximava a cerimônia de coroação de Zeref, por mais que Natsu quisesse estar lá por seu irmão, conhecer tantos lugares e aprender tantas coisas lhe fazia esquecer de seus deveres como realeza, a ponto de não mais se lembrar da coroação, pelo menos não até faltarem apenas trinta dias até ela, quando os boatos e convites da cerimônia foram espalhados por toda Fiore e aquele ser o assunto principal das fofocas.
O príncipe então decidiu que aquele era um bom momento para voltar ao palácio e cumprir seus deveres, agora que conhecia tantas novas culturas e coisas, poderia ajudar o reinado de seu irmão cada vez mais. Por estar distante de Crocus, imaginava que um dia inteiro de viagem seria o suficiente se fosse em linha reta, então se preparou para tal, juntando mantimentos o suficiente para não precisar pousar, o príncipe, que se escondia na floresta próxima a uma cidade, abriu suas asas e as deixou lhe levarem até o céu uma vez mais.
Voando além das nuvens, ele voou por todo um dia e quando a noite chegou, por mais cansado que estivesse o príncipe se recusou a pousar para descansar, já deveria estar próximo de Crocus, então continuou a voar noite adentro. Uma péssima escolha.
Seu cansaço era tanto ao ponto de Natsu adormecer em pleno voo, fazendo suas asas pararem de bater e o príncipe cair em queda livre. Sua consciência tentava se manter, mas era difícil combater o cansaço, acreditava que ali seria o seu fim, seu olhos se fecharam em um sono exausto, e dali em diante esperava não acordar antes de atingir o solo, afinal de contas se morresse dormindo pelo menos não sentiria dor.
Foi com esse pensamento, e a dificuldade de se manter consciente, que Natsu sentiu-se ser abraçado. Imaginou que aquele seria o abraço da morte, tentou abrir seus olhos para ver o que lhe segurava e viu diante de si longas asas negras e cabelos azulados, então sua consciência se foi por completo.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.