Inglaterra 1559
Minha Cara Prima,
Creio que esta carta chega com grande surpresa até você, mediante a atual situação em que nossas coroas se encontram. Sei que já deve estar ciente de que tive uma filha, Anna, e acredito que também saiba que utilizei os poderes dos Stuart para adiantar sua maturidade física a fim de proteger meu trono. Mas quero que saiba, querida Elizabeth, que esta guerra que travo não se trata mais de duas rainhas por um trono, mas sim de um fanático religioso visando destituir a nós duas do que temos direito concedido por Deus.
Por isso, querida Elizabeth, peço seu auxílio contra John Knox que tanto refuta a ideia de mulheres rainhas, ou em qualquer posição de poder sobre os homens. Precisamos contê-lo e suas investidas bárbaras que chegaram até minha filha, meu irmão James, em mim, e temo que em breve chegue em você. Em troca, declino meu direito por seu trono, para sempre! E espero que consigamos a paz.
Aguardo sua resposta. De sua prima que tanto lhe quer bem,
Mary Stuart.
Elizabeth abaixou a carta de caligrafia impecável e elegante que lia com extrema atenção. Estava sozinha em sua sala do trono desde que seu mensageiro real trouxe sua correspondência, pois sabia, ao ver o emblema gravado na cera que selava o envelope, que sua reação seria imprevisível, então mandou sair os servos que lhe serviam para ficar a sós com a primeira interação direta com sua prima e inimiga desde sempre.
Era a primeira prova de que a rainha dos escoceses não era apenas uma ideia fantasiosa de rivalidade que sempre lhe colocaram como ameaça a sua coroa, Elizabeth aprendeu desde cedo a odiar a aproximação de Mary Stuart consigo, visto que significaria perder seu trono. Afinal, já era ruim o bastante a infeliz fama de bastarda que carregava pela sua corte desde que seu pai, o falecido Henry Vlll cortou laços com o catolicismo e anulou seu casamento com sua mãe Ana Bolena. Claro, como se não pudesse piorar, ainda ordenou a decapitação de sua pobre mãe, de quem a jovem rainha Tudor detinha apenas vagas lembranças da despedida das duas antes da execução por ser uma criança na época do ocorrido.
Elizabeth não podia negar a surpresa que sentia mediante a naturalidade com que sua prima contava o processo de amadurecimento nada natural da filha para a idade adulta, algo que, exposto publicamente, obrigaria o vaticano tomar medidas nada favoráveis contra Mary Stuart e suas duas nações que regia. Visto que, uma coisa era um acordo selado entre clero e monarquia entre as quatro paredes do vaticano, outra coisa era a exposição ao público desse acordo com provas que seriam um grave risco contra o poder da igreja.
Obviamente o poder da dinastia escocesa não eram segredos entre a realeza, na verdade muitas já foram as investidas visando adquirir poderio semelhante, mas o boato de que somente um Stuart poderia utilizar tal vantagem diminuía os interessados a tomar a posse. Então será que a prima havia ficado distante de seu século? Elizabeth levantou tal questão, mas claro, era informação demais e muito arriscada para ser explicada em uma carta que poderia facilmente ser extraviada em tempos tão perigosos.
A rainha inglesa levanta-se de seu trono, deixando a sala ainda com a carta na mão e caminha por seu castelo de mármore branco. Estava uma estação do ano agradável na Inglaterra: O sol aparecia com regularidade, mas a brisa de inverno já se aproximava com ventos gélidos ao cair o crepúsculo ou nas primeiras horas do dia.
Os guardas ficavam ainda mais eretos quando sua rainha passava por eles, Elizabeth nunca conseguiu confiar plenamente em alguém ali no castelo além de seu amado Robert. Sabia, ou pressentia a reprovação nos olhos dos súditos devido a sua situação de nascença, seus entraves com países rivais, sua insatisfação com qualquer acordo de casamento vantajoso na visão de seus nobres, e principalmente seu gênero.
E por tamanhos impasses contra si vigorarem, que a carta de sua prima foi capaz de abalar tanto o emocional de Elizabeth. De fato, a proposta da rival não ser mais uma ameaça para seu reinado era muito tentadora, mas conter as investidas de um líder protestante? A maioria de seus nobres mais importantes eram protestantes! Ela própria era líder da igreja anglicana, a mais recente investida contra os dogmas católicos. Combater isso seria colocar uma corda em seu pescoço e pular do degrau. Mas, havia a questão de aliar-se com outra rainha que, mesmo usando a coroa de um país não tão importante no momento como é a Escócia, Mary Stuart também é rainha consorte da França, um país de poderio imenso para guerra, além de alianças importantes com a Espanha que Elizabeth Tudor ainda não havia conseguido obter para si. Além disso tudo, tratava-se de outra mulher com poder, essa aliança enfraqueceria as investidas contra os inimigos que visam lhe tirar do trono.
- Quem está querendo enganar Elizabeth? – A rainha suspirou para si enquanto apoiava-se em uma das colunas que davam acesso para seu jardim. – O que mais lhe aflige é finalmente ter um sinal de que sua prima importa-se com você, e mesmo assim pode ser uma jogada perigosa.
Os fios ruivos da rainha balançavam com a brisa do anoitecer chegando, achou mais prudente retornar para um ambiente fechado, mesmo que ali seus pensamentos pudessem circular de modo mais livre. Mary Stuart, no momento, era o mais próximo de uma família de sangue da rainha Inglesa, e ela que nunca tivera um afeto familiar, possuía uma parte sua - E não era a parte que usava uma coroa - Que ansiava essa aproximação mais do que tudo.
No caminho para seus aposentos, seu amado Robert Durdley vem de encontro à rainha, como se precentisse que sua amada precisava de um alento que apenas ele poderia fornecer.
- Soube que chegou uma carta diretamente de Mary. É verdade ou apenas fofoca dos nobres? – O homem abaixa os olhos para as mãos de Elizabeth e solta um murmúrio de contestação, a rainha lhe entrega o papel e aguarda Robert ler.
- O que acha? – Elizabeth pergunta.
- O que está pensando em fazer?
- Seria um passo decisivo Robert, além disso Mary deixou muitas lacunas em aberto. O que devemos esperar? Como ela sabe um modo de deter Knox? A filha dela se encaixa nisso como? – A rainha deu uma leve pausa, esperando ser interrompida pelo homem, mas ele continuou apenas a observando, pois ele sabia quando sua amada estava prestes a completar um raciocínio. - Eu mais me prejudicaria ou assinaria minha carta de suicídio? Como está a situação da Escócia, o que nossos espiões dizem?
- Um completo caos no último boletim que chegou, mas sem qualquer menção ao regente. O que acha que Mary quis dizer com atos de Knox contra James?
- Aquele homem horrendo é capaz de qualquer coisa, não? – Elizabeth voltou a olhar para a paisagem de seu jardim, a angústia de tomar uma decisão lhe consumia. Como mulher sabia muito bem que tirar o reverendo nada ético do caminho seria uma grande vantagem não só para ela ou Mary, mas qualquer rainha que as sucedessem, que poderiam reinar em segurança longe do ódio do influenciador mais poderoso no momento em que estavam.
- Acredito que já saiba o que fazer, querida. Mas, em todo caso, você é a rainha da nação mais poderosa em aspectos navais, não seria facilmente contida em uma batalha. Além disso... – O homem segura gentilmente as mãos da ruiva. – Creio que as intenções de Mary sejam verídicas, quando uma pessoa está com seus entes queridos em cheque, facilmente recorrem a intervenções antes vistas como impossíveis.
- Ela agora é mãe, mesmo que em uma situação diabólica. – Elizabeth fez uma expressão de devaneio, não se imaginava tendo filhos, muito menos interferindo em seu crescimento natural com feitiçaria. Desespero Robert havia falado? Com certeza as ações de sua prima teriam tido tal sentimento presente.
A imagem da rainha da Escócia completamente perdida surgiu na mente da rainha Tudor, agora com uma pequena empatia por Mary.
- Irei escrever para minha prima, mas creio que depois disso, minha segurança pessoal deva ser triplicada. - O homem que detinha todo seu coração assentiu, havia muito a temer, principalmente e relação a longevidade de Elizabeth, mas sua rainha sempre fora estrategista o suficiente para provar que era a pessoa certa para o trono inglês, ela não arriscaria isso se não tivesse muita certeza do que faria.
Ao menos era isso que Robert esperava.
França 1559
- Vocês fizeram o quê?
O rei Francis perguntava, achava que não havia compreendido bem o que sua esposa havia dito sobre contatar a rainha inglesa, e uma fúria subia em seu corpo o suficiente para deixar sua face vermelha.
- Não é uma ideia que já não havíamos debatido, Francis! – Mary diz com a voz branda, buscando que o marido não perca o discernimento com as palavras na frente da sua filha. Anna insistira em comunicar a outros a mensagem mandada à Elizabeth apenas se obtivesse alguma resposta. Mas os mensageiros do rei haviam adquirido a tão esperada carta antes mesmo que chegasse às mãos de Mary. Agora Anna presenciava um homem furioso.
- Declinou o trono inglês? - O rei balançava a carta com o emblema inglês gravado.
- Francis, do que adianta a cobiça por algo que seria mais um alvo sobre mim? John Knox foi capaz de ordenar o assassinato de nossa filha que tentamos ao máximo manter o segredo de sua localização, acha mesmo que esse homem medirá esforços para fazer o mesmo comigo? ou com Elizabeth, ou com, que Deus não permita, com Anna novamente?
- Querida, foi uma decisão perigosa, e nem pensou em me comunicar? Se Elizabeth estiver mal intencionada com apenas a carta que você mandou o vaticano poderia abrir uma investigação contra você. Além de ter provas de sua desistência da Inglaterra.– Francis deu uma pausa, seu tom era mais preocupado o que a beira de um surto, bem melhor do que Mary esperava que fosse sua reação. – E eu seria outro rei a declinar minha religião, pois eles não encostariam um dedo em você.
- Afinal, o que diz a carta de Elizabeth? – Anna pergunta, Francis revira o envelope que estava em suas mãos.
- Ainda não abri, imaginei que seria uma violação já que está endereçada a sua mãe. – O rei entrega o envelope para a esposa, que abre o lacre de cera vermelho com o brasão da dinastia Tudor e leu em voz alta:
Minha querida prima Mary,
Sua carta deveras me trouxe surpresa e outros sentimentos que apenas uma rainha ameaçada teria ao receber tamanha empatia de sua principal rival, ao menos era como via você.
Seu pedido é complicado para mim, como tenho certeza que pode imaginar, mas não deixei de notar o pedido de elo que me sugeriu para iniciar com você, principalmente quando retirou seu direito ao meu trono, o que... Não mentirei, causou-me imenso alívio.
Por isso, querida prima, aceito seu pedido, afinal, um inimigo em comum é o principal finalizador de finalidades, não?
Mas antes, tenho um pedido: Venha até mim, para que possamos esclarecer com o que vamos lidar, afinal, você não foi muito clara em sua carta e compreendo não ser seguro fazer tal planejamento a distância. Juro pela minha vida e minha coroa que não correrá perigo algum em solo inglês, traga a segurança que for para sentir-me melhor, mas precisamos muito desse encontro, digamos... estratégico.
Aguardo sua resposta, preferencialmente em sua forma física.
De sua prima e antiga rival,
Elizabeth Tudor
Anna respirou aliviada, o riso teria valido a pena, no fim das contas. Caso contrário, teria comprometido ainda mais a história europeia com banhos de sangue adicionais, inclusive o da mulher que lhe dera a vida.
- Não posso ir até a Inglaterra. – Mary diz desapontada, abaixando a folha de papel e olhando para seu marido e filha. – Não deixarei o castelo até obter notícias de James, a demora de Sebastian já está me deixando aflita, o que dirá me dirigir para tão longe...
O rei suspirou, não conseguiu disfarçar o alívio na resposta da esposa. O homem já havia deixado bem claro que Mary era seu mundo, e ver sua mulher indo para território incerto que até pouco tinha como principal inimigo de sua Nação poderia ser um novo método de tortura para Francis. Por isso Anna não pensou direito nos riscos com o que saiu da sua boca.
- Eu irei em seu lugar.
- Não, de jeito nenhum! – A rainha dos escoceses diz, usando pela primeira vez um tom autoritário com a filha. – Você não irá se arriscar de novo. Já foi tirada de mim antes, Anna, isso não irá se repetir!
- Mas Elizabeth mesmo disse que não estaremos em perigo na Inglaterra.
- Ela é rainha da Inglaterra, mesmo com essa jura de trégua a qualquer momento ela pode revogar sua decisão. – Mary diz enquanto balança a cabeça negativamente. – Não arriscarei mandar você para linha de fogo, agora que iniciou treinamento adequado para campos de batalha, nunca esteve em uma disputa diplomática, você com certeza não sairá da minha visão!
- Mary, por favor, não sou nenhuma criança. – Anna tenta usar o tom mais apaziguador que tem, além de estar muito surpresa pela reação de Mary que estava sendo tão gentil desde sua chegada no século 14. – Recusar esse pedido no momento em que estamos é jogar todo risco que corremos com a carta em nós mesmos. Vocês podem não compreender, mas eu sei que Elizabeth quer o que nós almejamos: Que uma mulher usando uma coroa não vire um alvo frente à corte ou o resto do mundo, coisa que não aconteceria se ela fosse um homem.
- Nossa filha tem razão, querida. – Francis fazia sua cara de “ escute-me, por favor” para Mary, que ainda se demonstrava aflita com a ideia. – E ela não iria desprotegida, os melhores homens iriam fazer sua guarda, mesmo que Bash não esteja aqui para isso, ele treinou bons homens, guerreiros confiáveis para ações especiais assim.
- Está aceitando isso sem ressalvas? - Mary estava irritada com a calma do marido.
- Mas não estaríamos com essa opção se não tivesse escrito para nossa inimiga. - Francis pontuou de modo direto. - Estou apenas sendo diplomata com as consequências.
Mary quanto mais pensava, mais cenários de risco para Anna vinham a todo instante na mente da rainha. Mas, a jovem a sua frente não era o pequeno bebê que dera a luz há algumas semanas, mesmo que o certo fosse ainda ser. Sua filha já se mostrava mais prudente e esperta do que qualquer pessoa, uma mistura curiosa de Catheryne e ela própria, tinha que admitir o bom trabalho que a sogra havia feito. A rainha sus rainha suspirou. Céus, que Elizabeth não mantenha minha filha prisioneira, pensou.
- Está bem, você parte em dois dias, o suficiente para que o mestre das armas nomeado por Sebastian lhe ensinem como se proteger de modo intensivo. – Anna sorriu, agradecendo o sacrifício que visivelmente a mulher fazia dentro de si. – Diga à minha prima todas suas previsões, e como acabaremos com esse John Konx, mas evite o tema da minha morte, sim?!
- Realmente, não seria favorável para nós. – Anna diz. O coração de Francis aperta com a lembrança de um futuro catastrófico do amor de sua vida. Elizabeth poderia já mostra-se colaborativa, mas caso se quer levantasse a voz para sua esposa, a inglesa poderia perder a cabeça pela espada do rei.
- Eu mesmo cuidarei de seu treinamento, querida. - Francis diz, sendo delfim da França durante sua juventude, fora ensinado pelos melhores soldados ao lado de Bash, na ausência do irmão ele era o mais qualificado para transmitir treinamentos militares. - Quem melhor que o rei para ensinar a lutar não é mesmo?
Mary sorriu mais aliviada, o marido estava se esforçando para que Anna fosse mais receptiva com ele, a princesa ainda não os havia chamado por "mãe e pai" mas a rainha da Escócia que o tempo que Francis e Anna passariam juntos seria o primeiro passo para que isso acontecesse, e sabia como esse momento lhe alegraria quando chegassem.
- Certo, então me transforme em um soldado, Majestade. - A jovem diz sem qualquer medo na fala, o que deixou seu pai orgulhoso.
- Falou como uma Valois, querida. - As palavras de Francis fizeram Anna sorrir, lembrando do último conselho que Catheryne lhe dera.
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A viagem da princesa foi organizada durante àquela mesma noite. Enquanto Anna dormia para acumular energia para as lições que teria nos próximos dias, os monarcas franceses se reuniram com a pequena tropa de homens experientes e suas damas de companhia, que receberam cartas do rei destinadas aos seus pais, informando o motivo da viagem e as boas questões de segurança. Assim os lordes Deveroux e Sade não o importunariam com olhares furiosos pelas filhas serem mandadas para a Inglaterra, ao menos não demostraram isso diretamente ao seu monarca.
Durante dois dias, Anna aprendeu o básico para se proteger com espadas em em caso de ser atacada desprevenida. As lições de montaria ficaram de lado e Francis não mediu esforços para ser o mais claro e preciso possível, não pegou leve com a princesa e Anna nem pretendia que isso acontecesse, ouvia e imitava o que o rei fazia, fora arremessada ao chão várias vezes até aprender a revidar corretamente, e ao fim do tempo disponível, a princesa da França e Escócia já se encontrava com treinamento decente, ao menos para saber como reagir.
Mary fez questão que as refeições da filha fossem acompanhadas por lorde Narcise com o quanto poderia revelar sobre a situação da França sem comprometer o país, mesmo o nobre achando a ideia ridícula, queria ao menos atenuar as consequências que esse encontro pavoroso forneceria. Além do homem, Greer, dama de companhia e uma grande amiga de Mary também participava dessas breves reuniões, por ter sido criada na corte, a mulher detinha de grande performance para contornar iminentes diálogos desagradáveis, o que também foi ensinado para a princesa. Anna sabia que todos ali estavam apreensivos com essa visita, então foi colaborativa o suficiente para não revidar comentários irônicos de Narcise.
Três dias seriam necessários para chegar em solo inglês, incluindo os caminhos pela estrada e mar aberto. O coração da rainha se apertava a cada hora, tanto por ainda não possuir nenhuma notícia de Sebastian sobre a Escócia e por sua única filha estar indo para território desconhecido novamente. As imagens de quando foi obrigada a dizer adeus para o pequeno bebê momentos depois de seu nascimento pairavam na mente preocupada de Mary Stuart. Francis a reconfortava e deixava a esposa anexar qualquer esquema extra de segurança para os soldados que acompanhariam a princesa, mesmo sua esposa não tendo tamanho preparo militar como ele próprio, mas sabia como era importante para sua rainha participar da segurança da princesa, a mente de sua mulher andava inquieta demais para ser contrariada.
- E a qualquer sinal de desavença, tirem a princesa de lá! – A rainha disse ao soldado que comandaria a tropa. Era um bom seguidor de Bash, e embora Francis não o conhecesse muito bem, já havia recebido ótimos resultados do serviço do soldado. – Podemos estar em trégua, mas não podemos arriscar se quer um fio de cabelo da princesa.
- Sim, Majestade. – O homem curvou-se para Mary. – Dou minha palavra que antes de qualquer ameaça chegue perto da princesa Anna, eu e meus homens interveremos sem misericórdia, nem que seja necessário da nossas vidas para isso.
- Deixe o navio a postos para zarpar a qualquer momento enquanto estiver lá. – Francis diz. – E faça contato discreto com nossos espiões ativos, por precaução, é claro.
O soldado assentiu, mal percebem o amanhecer do dia partida de Anna com tantas instruções que repassavam com os guardas, e com ele, a proximidade de um novo adeus para sua única filha.
Anna não pode deixar de notar a diferença na paisagem a sua frente com a França. O navio acabara de descer sua âncora em águas inglesas, como fora informada pelo capitão do navio Os servos descarregavam materiais para a estadia, haviam mais pertences de suas damas do que dela própria, afinal, por que trocar tanto de roupa em uma visita diplomática de poucos dias?
Aly era quem estava mais eufórica por deixar sua nação pela primeira vez e visitar o país ícone da moda de primavera. Afirmou estar entediada com as mesmas extravagâncias francesas a cada estação. Rosalie, por outro lado, mantinha-se o mais perto possível de sua princesa, tinha o olhar desconfiado com qualquer um que se aproximava, e fazia questão de manter Anna dentro do círculo de soldados.
Duas carruagens elegantes e com tapeçaria vermelha de emblema inglês foram mandadas para buscar a princesa e sua guarda. Mas cavalos franceses desciam do navio e os guardas do rei Francis também faziam a escolta da carruagem que levava Anna pela estrada, sendo seguidos por soldados ingleses, vestidos com roupas acolchoadas e perucas brancas, que com certeza causariam sérios problemas de higiene em quem os usava no verão.
O castelo foi entrando no campo de visão da princesa, que embora não externasse as mesmas reações que sua dama Aly, ficou impressionada com a grandeza e claridade das pinturas externas. Diferente do rochoso castelo dos pais, esse era o mais perto que se chegava das construções ainda existentes na contemporaneidade.
A tropa contornou a fonte de água que centralizava no jardim a frente do castelo, o veículo que carregava a princesa parou aos pés de uma escadaria com degraus enfeitados com desenhos marrons delicados e elegantes, pareciam ser flores e seus brotos. A porta da carruagem foi aberta, descendo primeiro suas damas, até que o guarda que Francis havia lhe apresentado como Philipe Lodge, o homem de confiança de Bash, estendeu a mão para Anna, que desceu da veículo, sua visão percorreu os degraus até o topo, encontrando uma mulher ruiva, vestindo um armado vestido vermelho, rodeada de guardas e pessoas com vestuários coloridos e curiosos.
A princesa aguardou, a mulher, que poderia imaginar ser a rainha da Inglaterra desceu as escadas, aproximando-se o suficiente da princesa para que Anna pudesse notar o verde limão de seus olhos.
- Posso nunca ter lhe visto, mas acredito que não é Mary Stuart. – A rainha diz com um sorriso atrevido.
- Não, Majestade. – Anna lembrou, graças aos céus de fazer a reverência. – Sou Anna de Valois.
- A filha de Mary. - A princesa tentou não ter sua voz falha com tamanha força que era a presença de Elizabeth e preocupação com sua decepção por não receber a pessoa quem esperava.
- Sim, Majestade. Por motivos de preocupação com seu irmão James, a rainha Mary não pode atender seu chamado, então estou aqui em seu lugar. – A mulher ruiva continuou encarando a jovem, mas com uma expressão que não transmitia ameaça. – Mas, se me permite dizer, tenho informações valiosas sobre nosso objetivo que a rainha dos escoceses não poderia lhe oferecer.
- Muito bem então. – Elizabeth sinalizou em aprovação. – Sou Elizabeth Tudor, minha querida, espero que nos entendamos, sim?!
- É o que mais desejo também, Majestade.
Anna queria gritar de euforia, mas conseguiu disfarçar bem. As pinturas históricas dos livros da escola não eram de jeito nenhum fiéis à beleza de Elizabeth. Ela estava de frente a uma figura histórica! Uma das rainhas mais poderosas que existiu estava em carne e osso bem na sua frente. E mesmo em tais circunstâncias, não poderia estar mais agradecida por essa viagem ao tempo, estava prestes a adentrar na realidade de Elizabeth Tudor e nenhum sentimento negativo poderia afastar a primeira empolgação verdadeira que sentiu desde que chegara.
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