Abri meus olhos lentamente, a primeira imagem que vi foi das folhas secas manchadas com o meu sangue. Movi a cabeça e senti dor, notei que havia uma manta me cobrindo e uma pequena fogueira na minha frente. Quando tentei levantar senti uma dor horrenda próximo do quadril, tirei a manta e vi a gravidade do ferimento. Se eu não tratasse daquilo teria uma infecção das bravas.
– Oi. – escutei algo amassando as folhas.
– O que você fez comigo? – era pra eu estar morta.
– Nada. – Spencer colocou mais galhos na fogueira.
– Eu deveria estar morta.
Ele suspirou agachado em frente ao fogo.
– Você está? Não, então agradeça aos deuses. – vi que ele tinha uma faca na mão e esquentava a lâmina no fogo.
– Spencer o que você fez? – ele só poderia ter me mordido, não tinha outra explicação.
Spencer não respondeu e se levantou com a faca na mão, tentei recuar, mas ele logo se agachou e retirou a manta. Me lançou um olhar sério antes de encostar a faca no ferimento, eu imediatamente agarrei o braço dele e apertei com força deixando gemidos e gritos escaparem pela minha boca.
– Shhh... Alex vai atrair os zumbis. – ele retirou a faca.
Eu gemi e me mostrei ofegante.
– Não dá, isso dói muito. – minha voz saiu chorona.
– É cauterização, aprendi a fazer para casos como esse. – Spencer se aproximou da fogueira e voltou com um pano úmido, da onde ele arrumou aquilo eu não sabia. – Então você simplesmente ainda é você. Eu não te mordi. – limpou o ferimento e só então reparei que o sangramento tinha parado.
– Por que não me deixou morrer? – onde estava Andria?
– Eu nunca vou deixar você morrer. – puxou a manta para me cobri, o vento estava um pouco frio.
Quando ele se levantou e saiu andando senti que deveria dizer alguma coisa, mas o que? E como?
"Andria se estiver ainda aí, por favor, me ajuda a sair dessa. O que eu digo? Um obrigada?".
Sem resposta.
– Hã... Spencer... – ele parou e me encarou. – Obrigada.
– Não quero que agradeça. – então me deu as costas e se sentou na frente da fogueira.
Fiquei observando-o por um longo tempo antes de deitar a cabeça nas folhas e tentar dormir, Andria definitivamente desapareceu e isso estava me deixando incomodada. Acabei me acostumando com a presença dela, o silêncio na minha mente era tão estranho.
Mesmo com os olhos fechados consegui detectar quando a fogueira foi apagada, escutei os passos de Spencer, mas não dei atenção, se ele quisesse me matar já teria feito. Senti a manta ser retirada, abri meus olhos imediatamente e encarei Spencer.
– Calma, só queria ter certeza que o sangramento parou. – voltei a relaxar quando ele cobriu o ferimento novamente.
Na manhã seguinte aquilo ainda estaria doendo e mais propenso a infecções, mas estava grata por Spencer cuidar de mim, pelo menos James e meu pai não sofreriam por minha morte.
Foi então que senti o calor atrás de mim, Spencer havia se deitado a poucos centímetros do meu corpo. Seu braço me abraçou pela cintura, cuidadoso com o local ferido, eu quis tirá-lo dali, mas o calor que o corpo dele me proporcionava era muito bom.
Pude sentir a respiração forte em minha nuca o que fez eu me arrepiar. Senti que ele se aproximou mais deixando nossos corpos colados, o que poderia fazer? Não tinha como levantar estava ferida. Tinha como empurrá-lo, mas eu não queria.
Trai o Jay? É, infelizmente trai. Me deitei com Spencer, mesmo que não tenhamos transado, eu deixei que ele me tocasse, não fiz nada para afastá-lo. Eu e Jay não tínhamos nada assumido, mas estávamos começando, Spencer entrou no meio e agora Jay era corno.
O que eu diria a Jay? Que o trai com Spencer, o inimigo dele? Ou o modo como ele me tocou não é considerado traição? Eu e Jay não assumimos nada, então é traição?
Ah Andria cadê você quando eu preciso?
‡
Fiquei pensando até pegar no sono, e os zumbis? Por que eles não caíram? Foi então que descobri que tudo era uma armadilha dos “sangues sugas”...
Quando acordei Spencer ainda me abraçava e meu ferimento ainda doía, mas em compensação Andria tinha dado sinal de vida, ela disse que ficou quieta por causa da dor. Logo desapareceu de novo completamente puta comigo porque dormi com Spencer. Ah ótimo, eu precisava falar com ela sobre traição e é assim que me ajuda!
Tomei um susto quando olhei para cima e encontrei a cabeça de um cervo bem próximo do meu cabelo, horrorizada, levantei o tronco fazendo a dor de o ferimento me consumir. Spencer se remexeu e bocejou ainda com a mão em minha cintura.
– O que foi Alex? – eu teria achado o cabelo desarrumado dele muito sexy, mas não houve tempo para isso.
– Primeiro a sua mão sai daqui. – empurrei a mão dele sem sutileza.
Spencer riu debochado e ficou de barriga para cima com o braço sobre o abdômen.
– Isso não tem graça nenhuma. – levantei a camiseta para verificar o ferimento, ainda estava grave.
– Ah tem sim, e sabe... – ele se levantou e de repente ficou mudo.
– O gato comeu a sua língua Spencer? – rapidamente se agachou ao meu lado e tinha os olhos atentos.
– Cala a boca e escuta. – ele olhou ao redor. – Isso é um aviso. – indicou o cervo. – Está vendo os furos no pescoço, vampiros. Estamos na área deles.
Uma risada alcançou nossos ouvidos, Spencer rolou os olhos e se levantou ficando atento. Com esforço fiz o mesmo, precisava de ajuda? Sim, mas me recusava pedir a ele.
De repente um barulho alto de galhos quebrando revelou três homens sorrindo, eles não tinham nada parecido com vampiros. Seus olhos eram normais, suas mãos não possuíam garras e o tom de pele era até bronzeado.
– Ora, ora, ora, vejam quem resolveu aparecer. – o do meio, com certeza o líder quebrou o silêncio.
– Já estávamos de saída. – tomei a frente.
– Além de machucada possui atitude, gostei. – sorriu maliciosamente.
– O que trouxe para nós Spencer? – o da direta cruzou os braços.
– Eu não trouxe nada, como ela disse já estávamos de saída. – Spencer deu um passo para o lado e de repente um vulto passou por nós, quando vi o suposto líder estava cara a cara com Spencer.
– Não tenha pressa gracinha. – acariciou o rosto de Spencer e ele bufou recuando os passos.
Os outros riram e comecei notar que aqueles três queriam encrenca. Vampiros e lobisomens são inimigos históricos, Spencer pelo visto não era bem vindo no território, e ele não tinha como fazer nada, ele era o invasor ali.
– O que está fazendo aqui Spencer? – o líder quis saber.
– É, Spencer. – os outros dois se aproximaram repetindo o nome.
Um deles chegou perto de mim e começou me analisar dos pés a cabeça, percebi que ele sentia o cheiro do meu sangue, logo encontraria meu ferimento.
– Não toca nela. – Spencer o empurrou entrando na minha frente.
Fui puxada para o lado, o líder dos vampiros me abraçou por trás e levantou a barra de minha camiseta expondo minha ferida.
– Eu sabia que ela estava sangrando. – percebi que a voz dele mudou, comecei me remexer, mas ele era mais forte.
De repente escutei um rosnado, olhei para frente e Spencer arremessou um dos vampiros contra uma árvore, ele veio em minha direção e pulou. Tudo aconteceu muito rápido, quando percebi estava no chão com as patas de Spencer sobre mim e sua boca a poucos centímetros de meu rosto. O vampiro havia me jogado nas direção de Spencer.
– Ah Spencer o que é isso? Vai namorar justo agora? – os três riram.
Spencer me encarou antes de ir em direção dos três. Os vampiros pularam fazendo-o pular em círculos conforme o deixavam tonto. Eu recuei até o tronco de uma árvore e vi quando um dos vampiros pulou em cima de Spencer e apertou suas costelas, o grunhido de dor foi o suficiente para eu agir.
Retirei as roupas rapidamente e corri na direção dos três que riam de Spencer caído no chão já na forma humana, gemendo por suas costelas quebradas. Meu corpo cresceu, pulei contra um deles e abocanhei sua cabeça imediatamente, arranquei sem cautela e encarei os outros dois com um olhar assassino.
Arregalei os dentes e escutei Andria gritando completamente animada.
"Vai Alex, acaba com eles. Arranca a cabeça deles!".
Meus olhos viram Spencer encolhido, isso despertou um sentimento de ódio dentro de mim. Eu apenas caminhei o que fez os vampiros rapidamente fugirem, não entendi e nem queria entender, corri até Spencer conseguindo voltar a ser humana no caminho.
– Spencer? – toquei o ombro dele e o virei para mim.
– Tá tudo bem Alex. – a voz dele saiu como um murmuro.
Toquei a região das costelas dele e massageie suavemente fazendo-o soltar grunhidos e suspiros. Às vezes eu esquecia que Spencer era lobisomem e tinha a capacidade de cura, em poucos minutos ele estaria curado e me enchendo o saco.
O deixei quieto e fui me vestir, não poderia ficar pelada na frente dele. Quando vesti a calça senti o pingente dentro do bolso e a arma com a bala de prata, encarei Spencer e senti que aquela era a hora perfeita para matá-lo, mas não conseguia, não tinha coragem de matá-lo não depois de tudo que ele fez por mim. Se meu pai quisesse ele mesmo teria que matá-lo.
Retirei as roupas do vampiro morto e levei até Spencer. Joguei no chão e me sentei, igual índio, atrás dele, comecei a massagear as costelas de Spencer para abafar as dores.
"Vai deitar do lado dele e fazer carinho?". Senti um pouco de ciúmes na voz dela.
"Não começa Andria.".
"Alex sabe quem é o cara na sua frente? Ele quase matou o seu irmão, ele invadiu a sua comunidade, machucou pessoas...".
"E ele salvou a minha vida. Eu devo isso a ele.". Continuei com a massagem.
"Deixa ele aí Alex, vai encontrar seu pai e diga que Spencer está machucado.". Ela estava delirando?
"Para ele matá-lo?". Minha mão começou delineador a cicatriz nas costas de Spencer.
"É isso que nós duas queremos.".
"NÃO! É isso que você quer.".
"O que é Alex? Por que está defendendo ele agora? O Jay não é mais nada?".
"Eu não sei o que o Jay é Andria, e nem o que seu cunhado é.".
"Eu ainda o amo sabia?". Senti uma pontada no peito. "Eu amo o Benjamin, mas ainda amo o Spencer.".
"Essa sua relação com os irmãos não é problema meu Andria.". Por que senti raiva por ouvir aquilo? "Você fez a sua escolha...".
"E você já fez a sua?".
Era o Jay, claro que minha escolha era o Jay.
Fechei os olhos e empurrei Andria para trás do muro de concreto, eu não queria mais ouvir a voz dela, foda-se o que ela tinha a dizer. Amava Benjamin, mas ainda tinha sentimentos pelo irmão dele? Como alguém pode ser tão egoísta a esse ponto?
Então Andria enganava Benjamin, o traia com Spencer, mas ele não correspondia, porque Spencer pertencia à outra pessoa. Será que pensar em outro homem enquanto se está com outro é traição? Será que Andria traía Benjamin com Spencer porque não sabia quem amava de verdade?
Ah eu precisava ter aulas sobre traição, nunca fui traída e nunca trai ninguém, não sabia o verdadeiro sentido dessa palavra.
"Você NÃO traiu o Jay, Alex!". Como ela saiu? “Vocês não assumiram nada, então não é traição ficar com o Spencer, e outra você nem dormiu com ele.".
"Mas eu e o Jay estávamos começando ter algo.".
"E daí? Vocês assumiram? Não, então foi só uma ficada.". Andria suspirou. "Se quiser ficar com o Spencer, você pode sem ressentimento. O que aconteceu entre você e o Jay pode ter sido sério, mas como não assumiram não faz dele chifrudo.".
Suspirei voltando minha atenção para a massagem. Andria estava certa, eu e Jay não tínhamos nada, foi apenas sexo e alguns beijos isso não nos torna comprometidos.
"Mas se um dia você transar com o Spencer, por favor, me avise que eu preciso me ausentar o mais rápido possível, não ia aguentar ver você transando com o meu cunhado.". Esqueceu-se de mencionar que não ia aguentar ver o amor dela com outra.
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