[Aoi]
A aula passou rápido ou eu que me perdi nas lembranças por tempo demais? Essas memórias eram aquelas das quais não era nem para me lembrar, porém tinha alguma escolha?
Não, nenhuma, já que a minha própria mente pregava peças sem qualquer remorso de dor ou sofrimento. A verdade é que meu coração gostava de sofrer. Talvez seria ele um eterno masoquista?
No intervalo fomos para o refeitório e assim que todos já estavam na mesa, aproveitei para comentar sobre o festival do qual o Toshiya havia me falado.
– Ouvi dizer que teremos um festival de música no colégio.
– Sim! Já estou sabendo e seria uma boa ideia se a gente participasse já que todos aqui tocam algum tipo de instrumento – disse Ruki animadamente. Quando o assunto era música, ele sempre ficava contente.
– Kai, você faz música aqui, porque não nos disse nada? – perguntei. Eu achava que ele por ser tão próximo do Ruki e também por ser comunicativo, nos avisaria de algo tão divertido.
– É que eu esqueci. Me perdoe, Aoi. É que aconteceu tanta coisa esses dias – respondeu ele um tanto sem graça. Eu sabia que ele tinha passado por bastante coisa e sabia que levaria um tempo para se recompor.
– É tanta coisa mesmo, inclusive tempo para namorar – respondeu Reita o deixando todo desconfortável e envergonhado.
– Reita, por favor não comece – respondi já me sentindo cansado daquela história. Era agora mesmo que o Reita queria mostrar seu ciumes pelo meu pequeno irmão? Eles brigavam desde sempre? Sim, mas ainda assim era um tipo de ciúmes o que eu estava vendo por parte do Reita. Ninguém tiraria isso da minha cabeça.
– Vamos formar uma banda então? Na verdade acredito que teremos mais de uma porque somos um grupo grande – disse Ruki analisando a todos que se mantinham sentados no refeitório – nas minhas contas, uma banda vai precisar de um baixista.
– Ruki, a gente não precisa de um baixista, o Reita toca bem.
Ruki olhou para mim e depois revirou os olhos com uma cara de, fala sério que é isso mesmo? Reita na banda?
– O Reita fica na banda então. E quem é o outro guitarrista? Miyavi, você quer participar?
– Não! Ele não...outra pessoa vai tocar como guitarrista – disse Ruki.
– Quem? – perguntei. Não era todo mundo do grupo que tocava guitarra, então saber quem é essa pessoa era essencial para começar a montar as coisas na minha cabeça.
– Em breve você saberá – respondeu Ruki sem muito alarde. Aposto que esse pestinha tá aprontando alguma. Ou será que era ele o guitarrista? Mas ele toca piano e não guitarra – também vou participar desse festival.
– Ahhh, o Ruki vai trazer o pianinho de brinquedo que ele tem no quarto pra tocar aqui no meio de todo mundo? Essa eu quero ver – disse Reita todo desdenhoso, louco para caçar confusão.
- Seu…- murmurou Ruki já se levantando e eu vi que logo iniciariam aquelas briguinhas infantis que eu já estava farto.
– Psssst, dá pra parar vocês dois! Vocês são muito implicantes, credo – respondi bravo. Alguém precisava dar um basta nesta situação toda daqueles dois. Já passou da hora de crescerem e virarem gente de verdade.
– Vou cantar e tocar sozinho – respondeu Miyavi – já tenho algumas músicas que posso apresentar.
– Eu vou cantar com vocês, então – disse Kyo animado batendo as duas mãos – Mas a gente precisa de um baterista, né? Eu posso falar com um conhecido meu que toca, ele é da minha sala.
– O Kai – disse Miyavi – O Kai toca bateria.
– O que? – todos perguntaram de uma vez, com um misto de curiosidade e confusão na voz. Ele olhava incrédulo para o Miyavi como se o repreendesse com o olhar por ter aberto o bico sobre o assunto.
– É, eu aprendi um pouco. Dá para o gasto – respondeu Kai todo envergonhado.
Percebi que o Kai e o Ruki cochichavam e então o Ruki disse que a banda estava completa. Então ficaria faltando o Ruki, Yomi, Mizuki, Kamijo e Kaya para resolverem.
Ruki disse que daria um jeito de se apresentar, já Yomi não queria aparecer, mas vamos dar um jeitinho dele participar sim, ele canta muito bem. Kamijo e Kaya resolveram fazer um dueto. Mizuki disse que não iria participar, já que não faz nenhum instrumento na escola e sim dança.
Assim que vi o Toshiya na sala, lembrei da sua proposta, então nada mais justo que falar com ele sobre a minha decisão. Ele ouviu com calma, e não pareceu nenhum pouco aborrecido, pelo contrário, me desejou boa sorte dizendo que eu iria precisar.
Agora ele estava me vendo como um rival, era isso? Estamos participando mais pela diversão do que para mostrar ser melhor que outra pessoa.
Kamijo estava empolgado por participar com Kaya e disse já ter escolhido a música perfeita para os dois, mas que não ia me dizer alegando ser surpresa.
Conversamos também sobre uma reunião da banda para acertar os detalhes e marcamos um ensaio no estúdio dos meus pais já que lá tínhamos todos os equipamentos à nossa disposição.
Parecíamos duas crianças empolgadas ao saber que iria ao parque no final de semana e não foi novidade alguma que o professor tenha pedido silêncio mais de uma vez.
Logo que nos dirigimos para a saída da escola, vi o Ruki e a Mizuki falando com o Kouyou, parecendo bastante entusiasmados. O que será que eles estavam falando? Em um determinado momento senti os olhos do Kouyou em mim e logo ele desviou como sempre fazia, como se arrependesse ter der sequer me olhado.
Vi Reita de longe olhando eles sem nem piscar. Ele tinha algo de diferente no olhar e foi depois daquele dia que discutimos na rua, quando o deixei voltar pra casa sozinho que ele ficou assim.
Reita parecia desatento, até mesmo no mundo da lua como os outros costumam dizer. Sem contar que raramente conversava, a não ser quando Ruki estava junto pois não perdia uma oportunidade de tirar meu irmão do sério.
– Reita, o que faz aí sozinho?
Ele não parecia me ouvir e muito menos notar a minha presença.
– Terra chamando Marte! Reeita! Oi? – diz aumentando a voz e passei a mão na frente de seu rosto para chamar atenção e depois de piscar algumas vezes, perguntou o que foi – o que há com você? Tá estranho.
– Estou pensando sobre o que eles estariam conversando. O Ruki falou com a Mizuki e depois foram falar com o Kou. Você tem ideia do que pode ser?
– Isso parece bem suspeito mesmo, né? Aí vem eles, vamos perguntar.
Ruki parecia feliz vindo ao nosso encontro mas o sorriso morreu quando viu Reita ao meu lado. Será que isso nunca ia mudar?
O Reita mesmo me tirando do sério algumas vezes, era meu melhor amigo, queria que eles se entendessem ou pelo menos se respeitassem como pessoa, já que pedi qualquer aproximação fosse demais.
– O que vocês tanto conversam, Ruki?
– Sobre o festival, oras. Não se fala em outra coisa nesse colégio. E bom, o dia da apresentação da peça está próxima então eu o convidei para assistir – respondeu Ruki dando de ombros – não é porque não fala mais com ele Aoi, que tenho que fazer o mesmo.
De certa forma, ele estava certo. A minha relação com o Kou jamais voltaria, sequer existia possibilidade de perdão, porém não podia proibir a aproximação dos dois. Seria egoísmo da minha parte.
– Claro, você nunca perde uma oportunidade, não é mesmo? – perguntou Reita claramente com a intenção de tirar meu irmão do sério. Esse Reita não aprende mesmo, será que nunca vai crescer?
– E você tá fazendo o que aqui? Ninguém sequer te chamou na conversa, ele tava falando comigo – respondeu Ruki.
– Pivete! Você...
Nem morto que vou ficar aqui ouvindo o chilique desses dois. Tenho mais o que fazer.
– Pssssst. Chega vocês dois! Kami-sama, o que há com vocês dois? Estão cada dia mais insuportáveis!
– Ele que não perde a oportunidade de me desmoralizar na frente das pessoas e você Aoi-fofoquito deveria ter dito a verdade para ele ao invés de deixar chegar nesse estado. Pra mim já deu, eu vou sozinho pra casa – respondeu Ruki saindo andando em direção ao corredor dois.
– O que ele quis dizer com isso? – perguntou Mizuki.
– Que entre ele e o Kai não há nada. Eles são só amigos. Tudo não passou de um mal entendido e já foi esclarecido – respondi.
Reita parecia confuso, balançando a cabeça várias vezes como se afastasse os pensamentos. E em um impulso saiu correndo na direção do corredor, na tentativa de encontrar Ruki.
– O que ele vai fazer? – perguntou ela preocupada.
– Espero que se entendam e parem com essas briguinhas bobas. Já estou cansado do mimimi desses dois.
[Ruki]
Eu não tinha ido me esconder no banheiro. Só precisava me acalmar porque aquela múmia me tirava do sério de tal forma, com a mesma intensidade que tirava meu sono desde aquele dia no vestiário.
Se eu fechasse meus olhos, mesmo com o passar dos dias ainda conseguia sentir seus braços a me envolver daquela forma bruta que sem ter qualquer oportunidade de escolha, experimentei e de certa forma havia gostado muito, pra não dizer demais. Reita porque você não me deixa em paz?
De frente para o espelho e colocando a mochila ao lado na pia, abri a torneira a fim de lavar o rosto e seguir adiante na minha caminhada até em casa quando fui surpreendido por ele.
– Aí está você! Fugindo para que? Só os fracos se escondem, mas também o que dá pra esperar de um pirralho como você? – disse Reita. O que ele faz aqui? Cadê o sossego que eu tanto almejo? Alguém me ajuda porque não tenho mais paciência pra aturar esse cara hoje.
– O que você quer agora? Dá pra me deixar em paz?
– É verdade o que o Aoi falou?
– Não sei o que ele disse mas deve ser já que o meu irmão se comporta como o dono absoluto da verdade – respondi rispidamente. O Aoi estava passando dos limites se acha que pode sair por aí contando sobre a minha vida para as pessoas e ainda mais para ele.
– E você completamente mal educado como sempre – respondeu se curvando para que seu rosto ficasse da mesma altura que a minha. Por que tão perto? Ai aiiii isso não é bom!
– Não é da sua conta o que faço ou deixo de fazer. O pior dia da minha vida sem dúvidas foi o dia que te conheci. Perdi a minha paz!
– E a pior coisa foi ter beijado você. Você não sabe o quanto me arrependo por isso.
Como é que ele se propõe a ser tão baixo falando assim comigo? Me beijar foi a pior coisa da vida dele? Meu coração batia tão rápido, me senti tremer da cabeça aos pés.
Melhor ele achar isso mesmo, assim posso torturar ele mais com essa notícia.
Aproveitei a sua aproximação e o beijei, agarrei em seus cabelos para que não se afastasse de mim e com a outra mão segurei seu blazer com força.
Ele não tinha se movido um centímetro sequer, mas foi só passar a língua em seu lábio inferior para que ele perdesse o controle comigo, tomando meus lábios um tanto afoito. De uma vez ele agarrou minha cintura me sentando na pia enorme de mármore me fazendo arfar.
Não podia negar que esse miserável beijava bem demais e nem percebi quando ele tirou meu blazer e desfez o nó da minha gravata. Agarrado a minha cintura prensando seu corpo contra o meu, senti ele duro. Ele estava assim por minha causa?
Foi involuntário gemer baixo ao perceber o que ele era capaz de fazer também com o meu corpo. Meu corpo queimava com cada toque dele e isso era muito bom, melhor que os meus sonhos com ele a noite. Sim, eu não deixava de sonhar com ele uma só noite e isso estava me deixando maluco.
Reita mordeu meu queixo e dei espaço para que ele maculasse meu pescoço com beijos e chupões. Ele gemia arrastado contra a minha pele quando eu me esfregava contra o seu membro, eu tentei tirar seu blazer que logo caiu no chão e nem ele ou eu nos importamos com isso. O puxei pela gravata o beijando novamente.
Nenhum dos dois estavam atentos sobre onde estávamos e o que de fato permanecemos fazendo, assim que fomos pegos desprevenidos por uma voz que ecoou pelo ambiente e nos afastamos rapidamente.
– Olha só o que temos aqui. Se não é o baixinho encrenqueiro e o enfaixado. É assim que funciona a relação de vocês? Ficam se agarrando no banheiro do colégio e na frente dos amiguinhos fingem que se odeiam? Hmmm....que absurdo fazer todos de bobos assim! Isso não é coisa que se faça – disse ele achando graça da situação.
O que eu menos precisava nesse momento era desse cara aqui no banheiro quando eu estava aos beijos com o loiro enfaixado. Será que não podia ter um pingo de sossego nessa vida? Era pedir demais?
– O que você quer, Toshiya? – disse Reita por entre os dentes, se afastando de mim completamente sem graça de ter sido pego em um momento como aquele. Pelo menos não era só eu que estava nessa situação.
– Agora não quero nada...mas nunca se sabe, não é mesmo?
Era só o que me faltava...os marginais do colégio sabendo do meu beijo com o Reita. Quando penso que não podia piorar…
“Para...que você não ouça mais tristezas.
Para que você possa se tornar surda a isso..
Eu espero você não acabe se quebrando.”
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