“É um adeus à quem amei
Foi apenas brigas de todos os dias
Desde já, não irei mais sozinho
não chorarei mais...”
[Aoi]
Foi muito difícil pensar em uma fantasia então achei válido pedir ajuda ao Ruki para conseguir uma roupa decente para que a gente se apresentasse e é claro que me pediu que confiasse nele pois no dia saberia a roupa que usarei, assim não tive outra escolha a não ser aceitar sua proposta.
De fato não tinha cabeça para pensar nisso e com a aproximação do dia da apresentação, me sentia ansioso por pensar que seria minha primeira apresentação no colégio e na frente de tantas pessoas.
Confesso que não estava à vontade para me fantasiar porém a escola voltou atrás deixando que as fantasias fossem usadas no Halloween e optando por um simples baile de máscaras.
Por mais que meus amigos achassem a ideia interessante se nós todos tocássemos fantasiados, deixaríamos essa opção para uma outra ocasião em que pudéssemos trabalhar na roupa de todos com um só conceito.
Nosso grupo estava bastante abalado com a discussão do Kyo e Yomi e mais ansiosos ainda depois que Kyo apareceu no dia seguinte ao lado dos novatos. Toshiya parecia radiante ao ter um novo acompanhante para ir e vir quando ele bem entendesse pelos corredores do colégio.
No refeitório todos olhavam da nossa mesa para a deles tentando decifrar a razão pela qual não estava mais ao nosso lado como sempre foi. Miyavi e Kamijo até tentaram falar com ele mas sem sucesso pois ainda se encontrava bastante arredio.
Dava para ver como estava tendo crises nervosas pelos machucados nos braços e pescoço. Ele sempre se machucava quando éramos crianças arranhando ou mordendo como forma de fugir dos problemas ou de raiva mesmo. Esse distúrbio já tinha passado, mas ver que voltara me deixava bastante triste.
Chegado o dia da apresentação e em casa todos pareciam eufóricos. Meu pai hide gostou da ideia do baile de máscara e até aproveitou a deixa para nos contar que anos atrás, no início da banda X Japan, fizeram uma festa a fantasia para o lançamento do álbum novo. E Yoshiki o beijou, dando início ao romance dos dois. Claro que antes hide roubou um beijo dele mas o foco era Yoshiki aceitá-lo e isso aconteceu durante essa festa.
Falando em Yoshiki, ele se permitiu desmarcar todos os compromissos da banda para que todos os pais estivessem presentes no festival. Sabia bem que eles chamariam mais atenção do que qualquer aluno ali presente, por mais que fosse a melhor máscara do mundo não se equipara aos membros do X Japan no colégio.
– Você está tão lindo, Yuu – disse Yoshiki sorridente – você vai ser o mais lindo da festa, meu filho.
– Eiiii! E eu? – gritou Ruki no andar de cima – eu não conto nada por aqui. Perdi o meu valor, mesmo.
– Não exagere, filho. Como posso dizer algo se nem vi você ainda? – respondeu meu pai que ainda estava tentando me ajudar com os sapatos.
– Já estamos descendo. Um minutinho só – respondeu hide. Tinha ficado a cargo de cada um ajudar um de nós a se vestir e a maquiar. Tenho certeza que o Ruki deve estar muito bonito porque se tratando de roupas e detalhes, meu pai hide era sem igual.
– Tenshi*, como você está lindo! – exclamou Yoshiki ao ver Ruki e o marido descendo as escadas – vocês vão chamar atenção por onde passarem. Todas as garotas vão brigar para dançar com vocês.
Chegava a ser engraçado ele dizer isso se quem vai chamar atenção lá serão eles. Ruki vestia um terninho de veludo vermelho com detalhes em preto. Usou um tonalizante no cabelo deixando a metade dos cabelos na cor vermelha, enquanto que o restante continuava o mesmo castanho de sempre. Colocou lentes de contato cinza, maquiagem escura na área dos olhos e uma máscara também na cor preta. Alguns acessórios e um sapato preto com salto fecharam o look perfeito do meu pequeno irmãozinho.
– Estou lindo, pode falar, nii-san* – disse ele sorrindo me fazendo revirar os olhos – e você tá um arraso!
– Estaria muito melhor sem isso. Isso é demais! – respondi e todos começaram a falar que eu reclamava demais pois a roupa combinava comigo. Enquanto o Ruki estava com todas as partes do terninho vermelho, Yoshiki me vestiu com uma calça de couro preta, coturno da mesma cor e um blazer preto, com somente um botão fechando. Eu me sentia nu sem a camisa de dentro.
Chegamos na festa e como imaginei, a cada dez segundos nós éramos parados por alguém pedindo um autógrafo ou fotos com os nossos pais. Eu achava incrível como eles se comportavam em público porque não era novidade nenhuma que haviam se casado, mesmo o Japão ainda sendo um pouco reservado sobre casamentos do mesmo sexo. Os fãs não pareciam se importar e cá entre nós...ninguém se importava com isso.
O diretor estava no portão cumprimentando os pais, os alunos e seus olhos brilharam ao ver pessoas importantes nas dependências do colégio. Foi uma luta conseguirmos entrar porque ele não deixava de elogiar o trabalho deles ignorando Ruki e eu totalmente, como se não fossemos nós que estudávamos ali.
Ao longe pude notar alguns rostos conhecidos pela minha família. Em frente ao palco se encontravam Toshi e Melissa, Gackt e Mana-sama, Atsushi e Imai, nossos amigos Kaya, Kamijo e também ele, Kouyou estava lá interagindo com os convidados.
Kaya estava vestida como uma boneca de porcelana. Usava um vestido rosa bebê com rendas na cor branca. Sua máscara era toda rendada também na cor branca e com detalhes em pérolas. Kamijo vestia uma roupa luxuosa, peça que lembrava as roupas chiques de reis dos anos de 1800, com detalhes em dourado dando a ideia de riqueza e sofisticação. Os dois faziam uma combinação perfeita!
Kouyou estava de costas para mim e só podia ver o terno azul claro muito bonito, acentuando suas coxas fartas e assim que nos aproximamos, então se virou. Eu esqueci até de respirar, falar ou até piscar. Sua máscara era branca tampando a metade do rosto, dando destaque para os lábios em forma de eme. Os fios dourados repicados para todos os lados dava um charme a mais para o look e de fato ele estava muito bonito. Parecia até um anjo.
Ele me encarava com curiosidade e foi Yoshiki quem nos tirou daquele mundinho ao conferir nossas fantasias.
– Nem se tivessem combinado as roupas, teria ficado tão perfeito – disse sorrindo. Agora que ele havia mencionado isso, entendi o que queria dizer. A minha máscara negra também tampava somente a metade do rosto e, juntando os dois lados, formava o Yin-yang.
Todos os adultos emendaram uma conversa atrás da outra enquanto Kaya e Kamijo tentavam conversar com Kouyou, Ruki e eu. Lógico que fiquei extremamente sem graça, tanto por estar próximo dele, quanto por chamar atenção pela minha roupa. Pssssst, onde estava com a cabeça quando aceitei sair de casa quase pelado?
Ruki conversava com Kouyou como se não tivesse ocorrido nada entre eles. Como se não o tivesse beijado alguns dias atrás.
Pata e Maru chegaram com Kai que usava uma máscara Oni e em seguida chegaram Yomi, ao lado dos pais Hyde e Yasu. Yomi usava uma máscara de raposa azul com branca muito fofinha, calça jeans preta cheia de bolsos e uma camiseta com detalhes em vermelho.
Miyavi chegou com o pai, o Sugizo e com uma moça muito bonita que não conheço, mas percebi que era acompanhante do Miyavi pela forma que ela agia com ele. Percebi que o Kai estava estranho depois que eles chegaram e o Ruki parecia quase avançar em cima dos dois.
Seria ele o amor não correspondido que havia me confidenciado? Ele usava uma máscara Kitsune e o cabelo colorido espetado para todos os lados. Usava uma calça e um blazer branco, deixando em evidência as tatuagens que marcavam sua pele. Eu nem sabia que ele já tinha todas essas tatuagens.
Reita e Mizuki não demoraram a chegar. Reita usava uma coisa de couro tampando o rosto, ou parte dele que eu mesmo não sabia explicar o que era, mas que segundo ele, era uma máscara que ele mesmo fez. Para outras pessoas parece até estranho mas não para mim, aquilo combinava com ele e sem contar que tampava a cicatriz que ele tanto detestava.
O cabelo loiro arrepiado para todos os lados contrastava com a roupa toda preta que ele usava. Ele parecia ter dificuldades em respirar depois de um tempo encarando o meu irmão que insistia em fingir que ele nem existia, e que agora falava com Kai animadamente. Eu não poderia repreendê-lo por isso, de fato o Ruki estava espetacular e chamava atenção de todos sem o menor esforço.
Mizuki vinha logo atrás acompanhada dos pais Lena e Heart. Mizuki usava um vestido amarelo muito elegante, uma coroa de girassóis e uma máscara discreta toda rendada em tons de dourado envelhecido.
Ela estava muito bonita, e podia dizer até que era a aluna mais bonita a chegar. Uma verdadeira princesa! Ela não ficou ali por muito tempo, dizendo que precisava encontrar o seu par que até o momento ninguém sabia de quem se tratava. Isso era de fato um verdadeiro mistério.
Ficamos todos por ali conversando até que Kai perguntou onde estava o Kyo que ainda não havia chegado e naquele momento senti um pressentimento ruim, como se algo ruim fosse acontecer e ele estava envolvido.
Hide disse que ligaria para o nosso tio Hiro-san para saber dele, vendo como nós estávamos agitados pela falta do rapaz. Não demorou para o primeiro problema surgir, Toshiya. Ele estava usando uma Yukata negra, os cabelos escuros arrepiados e nas mãos carregava uma máscara Hannya prateada.
Ele não perdeu a oportunidade de chamar a atenção de todos ao chegar e fez questão de cumprimentar todos os pais alegando ser muito fã de todos ali presentes e pelo jeito que falava com eles parecia sim os conhecer, saber o que cada um fazia na banda.
Por essa eu não esperava e ia além, ele não tirava os olhos de mim e em seguida olhava para o Kouyou me deixando extremamente constrangido. O que ele esperava encontrar em nós dois eu não sabia, não tinha ficado claro mas às vezes eu tinha a impressão que ele agia assim só para me provocar. Eu me pegava pensando até que ponto ele sabe da minha relação com o Kouyou se hoje não somos mais tão próximos.
– Ruki, você está elegante. Onde está o seu par? – perguntou ele.
– O Kai é o meu par hoje – respondeu meu irmão secamente.
– Entendi. Então você trouxe seu melhor amigo sem deixar que outra pessoa o convidasse – Toshiya dizia isso com um certo desdém e todos estavam incomodados com sua presença – ah é, esqueci. O tatuado até poderia ter te convidado se você quisesse, Kai, mas seu amigo aqui não deixou. Eles estavam pelos cantos do colégio falando de você ou não sabia disso?
Kai parecia surpreso e olhava para meu irmão sem entender o que estava acontecendo. Na verdade ninguém entendia nada, porém o meu irmão parecia saber muito bem do que ele dizia porque olhou para Miyavi que logo se afastou para junto da moça loira que veio com ele.
– Do que ele ‘tá falando, Ruki?
– Eu posso explicar, Kai.
– Estou esperando por isso – respondeu ele e em seguida se afastaram para conversarem. O que será que estava acontecendo? Toshiya parecia sentir-se satisfeito em constranger as pessoas.
– Morenoso, você está tão...perfeito! – disse ele ao se aproximar de mim.
– Obrigada, Toshiya. Você também está muito bem vestido – respondi um tanto sem graça, afinal de contas, meus pais estavam aqui também e eu não era bom com elogios.
– Não mais que você. E sabe do que mais? – perguntou ele se aproximando ainda mais. O que esse cara tá pensando? Quando ele levantou o braço, eu achei que ele fosse tirar algo que estava no meu cabelo ou algo do tipo mas não que enfiaria a mão dentro do meu blazer – você está uma delícia com essa roupa. Eu poderia aproveitar de cada cantinho seu se tivesse aceitado o meu convite para vir comigo, então só me resta ficar na vontade.
Ele disse isso tão baixo que mal pude ouvir, só consegui porque estava muito próximo mesmo, tão próximo que alguém de fora juraria que iriamos nos beijar a qualquer momento.
Eu nem conseguia me mexer de tão nervoso mas nada o teria parado pois tudo ocorreu muito rapidamente. Toshiya deu um passo para trás sorrindo de lado e em seguida chamou por Kou e eles se afastaram do grupo. Notei que todos me olhavam com certa curiosidade e eu queria desmaiar só de pensar o que poderia estar passando na cabeça deles. Porque o Toshiya fazia isso comigo? Porque?
Yoshiki que não é bobo nem nada veio falar comigo, já entendendo que algo não estava bem e ele que era quase como uma mãe para mim, sabia...me conhecia como deve ser uma mãe a conhecer seu filho. Mesmo que eu seja adotado, ele sempre me tratou como se fosse ele quem tivesse me dado a vida e eu era muito grato por isso.
– Filho, quem é esse garoto que estava falando com você e porque ele saiu com o Uru-chan? – perguntou.
– Por favor, não o chame assim, não na minha frente – ponderei por uns instantes tentando me acalmar ao ouvir falar do Kouyou com tanto carinho e prossegui – aquele é o Toshiya, um novato da minha sala.
– Eu não sei não meu Yuu, mas eu tive um mal pressentimento com relação a esse garoto. Vocês são amigos?
– Ele não é meu amigo, mas tenta sempre que pode se aproximar. Eu acho que ele está interessado em mim – respondi sem graça, a voz mal saindo. Eu estava com vergonha de falar disso com ele já que não falava sobre isso com ninguém.
– Então porque ele estava com o Uru...quer dizer com o Kouyou e não com você?
A resposta era fácil, eu não queria vir nesse baile e por isso ele chamou ele, mas não diria com essas palavras para não magoá-lo. Afinal de contas, não estava falando com qualquer pessoa.
– Não aceitei o seu convite de ir ao baile então ele convidou o Kouyou, que aceitou. Desculpa, mas não quero falar disso.
– Tudo bem, mas quer um conselho? Faz isso não – disse ele me deixando confuso. Do que estava falando? – Na próxima vez convide o Kouyou para ir ao baile, não fique esperando as pessoas chegarem até você. Lute pelo que quer, meu filho. Se seu pai não tivesse se esforçado tanto, não estaríamos juntos a tanto tempo. Eu não queria dar o braço a torcer, foi ele a insistir e a me conquistar. Converse com ele, sei que gosta muito de você.
– Psssst, por favor! Nós dois não somos como vocês, as coisas não são o que parece e eu não quero falar sobre isso. Já disse…– respondi fazendo uma carranca e cruzando os braços para demonstrar a minha irritação que no fim funcionou.
Yoshiki se afastou, voltando a falar com os amigos. Não queria ser rude com ele, porém não gosto de falar do Kouyou e muito menos para os meus pais. Por ele eu já estava casado com o Kouyou desde que vim morar com eles. Yoshiki e hide são padrinhos dele, Yoshiki o adora e foi ele mesmo quem deu o apelido de Uruha logo que nasceu.
Hide veio até nós dizendo que Kyo já havia chegado e que em breve estaria com a gente pois já tinha saído de casa a bastante tempo. Como as apresentações eram em ordem alfabética, teríamos tempo para encontrá-lo. Não demorou muito para que iniciassem as apresentações e todos os adultos tomaram seus lugares. Ficamos mais próximos do palco para nos organizar.
Duas bandas haviam se apresentado e eram boas. Se continuasse assim nós seríamos os piores. Anunciaram a terceira banda, a Dir en Grey a tocar Yokan e não fazíamos a menor ideia de quem eram até que notei a máscara conhecida no rosto de um deles, era a mesma máscara prateada que vi nas mãos do Toshiya. Analisando agora, todos usavam a mesma vestimenta e uma máscara Hannya, porém de personagens tradicionais diferentes simbolizando os sentimentos como paixão, ciúme e ódio.
“Até hoje, eu brinco com você, você não percebe nada
Um amor que congela à -180C
Você silencioso, um amor silencioso, sentimentos agradáveis silenciosos
Eu silencioso, um amor silencioso, cicatrizes silenciosas”
(Yokan)
Assim que a música começou, ouvi aquela voz. Olhei para os lados e todos estavam de boca aberta...eles reconheceram a voz assim como eu. Kyo estava cantando com a banda do Toshiya. E agora? Ele não pode cantar em duas bandas diferentes.
– Essa voz é a do Kyo. Aquele moleque é um traidor – disse Reita nervoso.
– Calma, Reita. Deve haver uma explicação. Tem que ter uma – respondi sem ter muita convicção do que dizia. Será que havia mesmo uma explicação para isso? Ele ter ficado chateado com a gente e querer um espaço, tudo bem, agora daí ir para outra banda sem dizer nada pra nós foi demais.
Olhei para o Yomi que já estava próximo dos rapazes da sua banda e ele parecia desesperado ao olhar no palco e ver o Kyo ali em cima. Ele parecia que a qualquer momento iria desabar no choro. Miyavi foi até ele, os dois conversaram e ele se acalmou. Depois das apresentações a gente precisava conversar com ele e tentar entender o que estava acontecendo. Tem que haver uma razão pra tudo isso.
– Aoi, como vamos fazer? A gente não pode se apresentar sem um vocalista. E ninguém de nós é bom o bastante para tomar os vocais assim sem ensaio – disse Reita.
– Pssssst, Reita! Já falei pra ficar calmo, cara. Tem que ter uma solução, a gente só precisa pensar um pouco.
– Eu tenho a solução – disse Kai. Ele parecia bastante sério e decidido. Nunca tinha visto ele assim. Será que foi por causa da discussão com meu irmão?
– Qual seria, Kai-kun? Espero que seja ótima porque senão...não quero pensar na vergonha que vou passar com todo mundo aqui – respondeu Reita. Hoje ele estava de péssimo humor, credo.
– Ruki vai cantar para nós – disse Kai. Meu irmão arregalou os olhos e foi até ele pegando em seu braço.
– Kami! Kai, não faz isso. Por favor – choramingou meu irmão mais novo.
– Você me deve isso, Ruki. Se cantar essa noite eu te perdoo – disse ele e meu irmão abaixou a cabeça resignado – então está decidido. Ruki é o novo vocalista.
– E quem decide isso? Não ouvi ninguém dizer que queria ele cantando para nós. Ele...nem sabe cantar – disse Reita.
– Eu decidi pois sou o líder. Alguém tem alguma objeção? – perguntou Kai e ninguém foi capaz de responder que não. Desde quando aquele cara era tão decidido assim? – e outra, Reita...não diga sobre o que você não sabe. Eu sei o que estou fazendo.
Ninguém foi capaz de contrariá-lo. Só nos restava aceitar já que foi o Kai e o Ruki que nos procuraram para formar a banda assim sendo, nada mais justo que eles decidissem o que fazer com ela.
Kaya e Kamijo performaram Node of Scherzo e toda a plateia amou. Eles cantavam com tanto requinte, era tão diferente e bonito ao mesmo tempo. Todos sentiram essa aura de amor e guerra que tem na letra, a interpretação dos dois só realçou isso.
“Transcedo esse tempo naturalmente
Desde esse amor quente
e toda essa tristeza
Todo esse fardo
Estou cheio da eternidade (...)
Nós estamos transformando essa era
Mais como uma rosa com toda a sua força do que com seu encanto”
(Node of Scherzo)
Depois foi a vez do Miyavi se apresentar com um violão muito diferente e bastante colorido.
– Um dia alguém disse que esse violão não era vendido porque a pessoa certa ainda ia aparecer e a verdade é que ela já apareceu. Essa música é para você – disse ele antes de iniciar a canção.
Ele cantou a música Please please please, de sua autoria e como sempre, sua performance era única. Seus olhos sempre estavam em alguém embaixo do palco, apesar que a moça bonita que veio com ele parecia bastante satisfeita com a apresentação, certamente era dela que ele estava falando.
“Eu sei, eu sei que eu sou estúpido
Então, deixe-me ser uma menina estúpida
apenas um pouco mais, um pouco mais (...)
Ei querida 'Por favor, por favor não deixe-me, por favor”
(Please please please)
Chegara a vez da banda do Yomi se apresentar e escolheram o nome Naitomea como nome da banda e até que gostei. Apesar de mais jovem, o Yomi cantou muito bem a canção Travel. Ele parecia nenhum pouco confortável com o palco e muito menos da presença do Kyo ali o observando ao lado. Foi o único momento que vi o Kyo sem a máscara.
“Se a dor for sentida posso voltar a ser eu mesmo
Minhas lágrimas irão me tornar capaz de andar com os próprios pés (...)
Os fortes sentimentos do fim da viagem ainda não se revelam
Pelo menos até que possamos acreditar em caminharmos juntos”
(Travel)
Mais uma banda se apresentou e é chegada a nossa vez. Meu coração batia muito forte. Todos ali pareciam estar na mesma situação, aparentemente bastante ansiosos em se apresentar.
Ruki estava bem afastado de todos e eu sabia o que isso significava. Sempre que se isolava era porque estava chateado com alguma coisa. Fui até ele para tentar acalmá-lo, o que pareceu funcionar.
– Taka, tá tudo bem? – fui com calma porque sabia como era arredio às vezes. Não queiram ver esse aquariano nervoso. É um inferno na terra!
– Sim, Aoi. Eu só tenho medo de não agradar. Nem ensaiei e nem sei se sou capaz de cantar na frente de muitas pessoas – respondeu o mais novo. Eu sabia em partes o que ele estava sentindo. Eu estava com medo de falhar na frente da nossa família. Pareciam que todos aguardavam os filhos da família X Japan se apresentarem e isso deixava as borboletas no meu estômago ainda mais agitadas.
– Você não tem que agradar ninguém. Isso é como uma brincadeira em família, veja desse jeito. Nós não precisamos ganhar nada e nem ser os melhores, afinal de contas tem espaços para todos nesse mundo. Eu sei que você consegue – respondi e ele me olhava como se tentasse memorizar tudo que eu dizia. Apertei sua mão demonstrando que estava ali por ele e pareceu relaxar.
Nos unimos ao lado do palco e o Kai foi quem disse as palavras certas para nos encorajar a pisar naquele palco e a fazer diferente.
– Sei que tudo foi de última hora e é nossa primeira apresentação, mas quero que saibam que acima de tudo nós somos uma família. Independente dos desentendimentos e contratempos...nós seremos um só naquele palco. A partir de agora nós somos o The GazettE. Então vamos lá! – disse ele estendendo a mão para o centro da roda e não foi difícil fazer todos colocarem a mão ali e nos olhar com sorrisos atenciosos
Por um momento me lembrei de quando nós éramos crianças e nossos pais nos levavam para o show deles nas férias. Os shows no Tokyo Dome eram sempre os mais lendários e eu sempre brincava dizendo que um dia nós encheríamos um estádio também. Acho que hoje é o primeiro passo para algo assim.
Subimos e todos bateram palma. Houveram gritinhos histéricos na plateia e eu nem precisava procurar para saber de onde vinha. As tias brasileiras não iam deixar esse momento passar em branco sem gritar que éramos lindos e talentosos. A plateia brasileira é a mais contagiante do mundo e todos sabem disso.
Começamos a tocar Wakaremichi. Todo mundo tocava praticamente de boca aberta para o meu irmão já que nem nós sabíamos do seu talento como vocalista.
“Dia 8 de julho, aniversário de 3 meses
Será que se lembra? (...)
Vou mudar você que tanto amo por um pensamento importante
Triste como se eu fosse morrer...
Sua voz não sai da minha cabeça”
(Wakaremichi)
Kami, meu irmão Takanori canta muito bem! Como nunca tinha prestado atenção nisso? Tá certo que ele não gostava de ensaiar os instrumentos com outras pessoas por perto, mas ainda assim o via no piano ou tocando violão no quarto mas daí a cantar? Foi uma surpresa incrível.
Por um momento deixei de ouvir o baixo. Reita olhava embasbacado para o Ruki até que fui parar na sua frente chamando atenção e foi então que voltou a tocar novamente. Porque só agora ele havia parado? O que está acontecendo com o meu melhor amigo?
No momento do solo, Kouyou veio do meu lado para tocarmos juntos e foi impossível nossos olhares não se cruzarem. Ele estava tão bonito e tocando assim, com perfeição ...era impossível não olhar para ele.
Eu o via quando criança tocando piano e achava que aquilo combinava muito com ele pois sempre foi delicado mas jamais o imaginei tocando guitarra. Mesmo que um dia ele tenha me pedido por isso.
“– Aoiii, um dia eu quero tocar igual você, sabia? – perguntou Uru-chan fazendo aquele biquinho que eu amava. Ele sabia que isso me desmontava por completo.
– Uru-chan, eu não toco bem. Você precisa pedir ajuda de quem sabe – respondi passando a mão pelos seus cabelos enquanto ele ainda tinha a cabeça apoiada no meu colo, deitado no sofá.
– Não fala assim. Você toca bem e quero que me ensine para eu tocar com você. Por favor...por favor – pediu ele levantando o corpo segurando minha mão.
– Espera eu melhorar e prometo que te ensino, tá bom? Continue com as aulas de piano porque eu amo ver você tocar.
– Tá bom! Arigatou, Aoi-chan – disse ele me abraçando. Como eu amava esses momentos com ele. É como se o tempo parasse só para nós e eu queria que fosse real. Será que ele também gostava de mim?”
A apresentação foi incrível! A movimentação de todos no palco, as habilidades do Kai na bateria, a interação do meu irmão com o público, os riffs de baixo do Reita, os solos melódicos do Kouyou. Parecia até magia...como se estivéssemos conectados por algo ainda maior do que todos viam.
Encerramos a apresentação e ao descer do palco, nossos amigos vieram nos felicitar dizendo que estávamos melhores do que nos ensaios e não pude deixar de pensar que estavam exagerando, mesmo sentindo ainda aquela aura acolhedora que o palco proporcionou. Eu não senti medo porque sabia que não estava sozinho, eles estavam lá comigo e isso me importava muito.
Até o Toshiya veio falar com a gente, elogiando a letra da música e também o vocal.
– Tsc…você tinha dito que não cantava, baixinho – disse ele.
– E eu não canto – respondeu rispidamente parecendo não se sentir confortável na presença dele e sinceramente? Acho que ninguém se sentia.
– Não é o que parece. Que outros segredos você esconde, querido? – perguntou ironicamente e meu irmão não deixou barato.
– O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta!
Toshiya riu e antes de sair não deixou de me elogiar dizendo que eu tinha sido espetacular no palco e que conseguia ser ainda mais provocante lá em cima. Isso me deixou com muita vergonha mas me fez lembrar de algo mais.
“Foi quando nossos lábios se tocaram em um selar demorado que percebi o quão rápido meu coração batia. Toshiya mordeu meu lábio inferior e na hora senti meu corpo todo incendiar, minha destra foi para sua nuca e então aprofundamos o ósculo. Demorei um pouco para pegar o ritmo do beijo, um tanto afoito enquanto que sua língua permanecia dançando com a minha de forma lenta e intensa mandando descargas de prazer por todo meu corpo e sim, aquilo era muito bom.”
Ele já havia me beijado e se comportava como se nada tivesse acontecido. Aquele dia ainda era bastante confuso na minha cabeça mas me lembro que o beijei, e gostei. Gostei muito no momento, mas agora olhando para ele se insinuando para mim desse jeito e o Kouyou tão próximo só me fazia pensar que não foi uma boa ideia até porque Toshiya parecia querer ter liberdades comigo na frente de outras pessoas das quais nunca havia dado a ninguém.
E se Yoshiki estiver certo? Será que deveria ter convidado Kouyou para o baile? Eu o teria perdoado? Sua presença seria suficiente para acalmar meu coração? Não tinha as respostas mas talvez...só talvez eu devesse mudar as coisas um pouco. Tentar ser aberto às possibilidades.
Toshiya se afastou indo de encontro aos amigos pois já iriam anunciar o resultado do festival. Mas antes todos teriam uma surpresa e que surpresa pois vi meus pais e tios levantarem e subirem ao palco para tocar e todos foram à loucura. O diretor parecia que iria explodir de alegria a qualquer momento.
Eles tocaram Rusty Nail e X e foi muito bom. Fazia tempo que não participavamos assim de alguma apresentação deles e ver que mesmo com o passar dos anos eles pareciam os mesmos no palco me deixava bastante animado e não era só eu.
Todos estavam felizes por essa oportunidade única, até porque não é todo dia que uma banda famosa toca para jovens estudantes em um colégio. Com certeza o diretor usaria isso como referência na hora de conseguir novos alunos.
Yoshiki falou para todos que se sentia muito feliz por ser convidado para aquele momento em especial, ainda mais por ser pai de alunos e que tinha uma surpresa. Como tiveram solos e duetos no festival, nada mais justo que existam essas categorias e que ele daria a honra dos ganhadores de gravar na sua tão popular gravadora, a Extasy Records.
Na categoria Solo, quem venceu foi Miyavi. Kaya e Kamijo dividiram o primeiro lugar na categoria dueto. Ficamos muito felizes por eles, foram incríveis e já esperava que a disputa seria bem acirrada. Foram aplaudidos quando subiram ao palco para receber o prêmio.
Foi uma festa saber que Naitomea havia conquistado o terceiro lugar na categoria de bandas, dando espaço para Dir en Grey o posto de segundo lugar. Todos ficaram eufóricos quando anunciaram The GazettE como ganhadores do primeiro lugar.
– É com grande honra que os vencedores das categorias abram o baile, não acham? Que tal se vocês cantarem mais uma? – perguntou o Diretor animadamente, não perdendo a chance de ter a banda X no palco, por mais um tempo. O diretor sabia que era uma oportunidade valiosa ter essa oportunidade.
– Nero-san. Se me permite um palpite – disse Yoshiki e o diretor acenou para que continuasse. Tinha certeza que aceitaria qualquer coisa que ele pedisse – Seria melhor se eles abrissem o baile dançando entre eles. Acho que seria mais interessante. Nós tocaremos algumas músicas. Vamos lá rapazes.
Eu não acreditava que ele estava fazendo isso comigo. Primeiro que não sei dançar e segundo que do meu pai podia se esperar qualquer coisa. Kaya e Kamijo logo tomaram seus lugares na pista com aquela cara de apaixonados que amolecem o coração de qualquer um.
– Vocês não vão? – perguntou Yoshiki e todos nós nos entreolhamos pensando e agora? – então eu mesmo montarei os pares. Ele agarrou o pulso do meu irmão e após uma boa olhada em nós, se virou para Reita e o puxou colocando os dois um de frente para o outro. Seus rostos estavam vermelhos. Ruki olhava para baixo parecendo envergonhado de ter que dançar na frente de todo o colégio e eu compreendia bem porque estava quase acontecendo o mesmo comigo.
Eu pensei em chamar o Kai, mas assim que pensei na possibilidade, vi ele se aproximar do Miyavi e o tirar para dançar. Isso não estava acontecendo comigo. Não é possível!
– Uru-chan! Venha aqui, príncipe. Você vai dançar com o meu Yuu – Yoshiki pegou sua mão e colocou ele em frente a mim e estatuei no lugar sem saber o que fazer – Aí aí Yuu, eu vou ter que fazer tudo aqui mesmo? Essa mão você coloca aqui na cintura dele e com a outra mão você segura a mão dele. Uru-chan, você segura no ombro do Yuu. Se juntem mais – meu pai praticamente colou nossos corpos de uma vez e senti um choque percorrer todo meu corpo só com aquela aproximação.
De perto assim, Kouyou parecia ainda mais bonito. Os olhos amendoados arregalados e expressivos continuavam ali a me fitar. Ele parecia com dificuldades de respirar assim como eu e não o culpei por isso. Fazia tanto tempo. A mão dele continuava tão macia e leve como ainda lembrava e esse cheiro, isso era mesmo o que eu estava pensando? Malva. Ele cheirava malva.
Meu pai subiu ao palco e logo eles começaram a tocar Endless rain. Psssst, não podia ter sido outra música menos melódica do que essa? Eu tentava me mover com cuidado para tocar menos possível nele e não sei porque Kouyou não tirava os olhos do meu rosto. Eu tentava pensar em outra coisa que não fosse ele ali na minha frente mas era impossível. Principalmente quando ele apertava mais a minha mão a cada batida fazendo meu coração disparar mais e mais.
– Aoi...eu nunca quis me afastar de você. Eu só...queria ajudar a minha melhor amiga e tudo foi tão rápido, confuso – ele disse próximo no meu ouvido para que eu o entendesse mesmo com o som ao vivo – sei que pode ser muito tarde pra dizer isso, mas eu sinto muito.
Não sabia dizer se as palavras dele eram sinceras, porém quem sabe essa fosse a chance que temos para tentar nos acertar de vez? Não era mentira que ainda sentia algo por ele mesmo querendo enganar meu coração e sim, sentia a falta dele mais que tudo no mundo.
Eu queria dizer tudo isso a ele, mas as palavras não conseguiam sair da minha boca. Eu queria dizer sim pra ele e nos dar uma chance, porém sequer tive a oportunidade de alguns minutos a mais com ele pois assim que a música acabou já senti outros braços o puxar para longe dos meus.
Toshiya veio buscar o seu par do baile então Kou somente disse que sentia muito e então se afastou para junto do moreno.
Começou a tocar Forever love e ao olhar ao redor, outros casais foram formados e eu estava cercado de casais. Se tivesse convidado ele, seria nós a estarmos dançando por todo o colégio. Eu sou muito burro e orgulhoso. Pensei em esperar essa música terminar e pedir uma dança a ele então tentaria me declarar. Tentar porque quando se trata de sentimentos, sou um completo bobo.
Como conhecia bem aquela música que meus pais compuseram, procurei Kou pelo local e o encontrei. Por um momento tive um dejá vu ao ver ele de costas para mim como naquela festa. Assim que Toshiya me viu, cercou a cintura do loiro e tentou beijá-lo porém ele virou o rosto e então não teve outra alternativa senão deixar ser beijado no rosto.
Meu sangue ferveu naquele momento. Era assim que as coisas funcionavam para ele? Todos tinham que ficar aos seus pés? Brigar para ver quem levava a melhor? Assim que os alcancei, no primeiro momento o puxei dos braços do moreno com um pouco de força o puxando para mim.
– É assim que você gosta, Kouyou? Que as pessoas te agarrem em todos os lugares? – perguntei quase aos berros e ele arregalou os olhos tentando se soltar – Se for assim, também tenho direitos, não? Eu cheguei primeiro, não é?
Eu o agarrei, tentei beijá-lo mas forcei demais a situação e sabia bem disso porque eu parecia um animal enraivecido. Eu estava com muita raiva da situação e principalmente de vê-lo nos braços de outro. Não estava pronto para reviver esse momento tão terrível do meu passado. Eu queria acabar com aquela dor no meu peito e sabia que só poderia ser com ele, com o Kouyou.
Estava desesperado já. Ele não parecia deixar claro para as pessoas que não gostava daquele tipo de aproximação. Toshiya dava em cima de nós dois e isso ficou mais do que claro e eu sentia muito ciúmes de como todos conseguiam o que queriam com ele menos eu. Isso não era justo.
Kouyou tentava se desvencilhar do meu aperto, me empurrando para longe, balançava a cabeça de um lado para o outro se afastando do meu possível beijo e foi assim que conseguiu se afastar dos meus braços. O barulho que me fez parar e a todos ao redor porque no exato momento que a música acabou foi possível ouvir o tapa que eu levei dele.
Ele segurava a mão junto ao peito, chorando. Parecia arrependido da ação. Todos me olhavam tentando entender o que de fato tinha ocorrido ali. Toshiya sorria como de costume para qualquer situação fora do normal que o cercava e eu estava estatuado no lugar olhando para todos completamente envergonhado.
Eu precisava sair dali o mais rápido possível. Yuu, você é um idiota. É isso que você é! Você estragou tudo mais uma vez.
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