História 4 Amigos Fantasmas - Tomorrow X Together - Three

Algumas semanas se passaram desde que Huening Kai descobrira a verdade sobre os quatro fantasmas que agora faziam parte de sua vida. Não era apenas uma questão de eles aparecerem esporadicamente; eles estavam sempre por perto. No começo, a presença deles era um pouco perturbadora, mas com o passar do tempo, tornou-se algo natural. Agora, era comum Soobin, Yeonjun, Beomgyu e Taehyun acompanharem Kai em quase todas as partes de seu dia a dia.

Pela manhã, quando Kai se arrumava para a escola, Beomgyu frequentemente aparecia ao lado do espelho, observando com um sorriso divertido enquanto o garoto tentava arrumar o cabelo de forma decente. 

— Acho que está bom assim — Beomgyu comentava, como um crítico de moda fantasmagórico.

— Você acha? — Kai olhava de volta no espelho, tentando decidir se o penteado estava mesmo no ponto. 

— Sim, está ótimo. Só não esqueça de comer antes de sair — Soobin acrescentava, sempre mais responsável, embora um fantasma.

Durante o caminho para a escola, Soobin e Taehyun ficavam próximos de Kai, quase como se fossem seus guardiões silenciosos. Eles não podiam ser vistos ou ouvidos por mais ninguém, mas Kai sentia o peso de suas presenças, às vezes de maneira reconfortante. Era como se estivesse sendo protegido o tempo todo. 

No entanto, nos corredores da escola, onde a vida continuava normalmente para todos, apenas Huening Kai sabia o que estava acontecendo ao seu redor. Yeonjun, o mais brincalhão e ousado, gostava de zombar dos colegas de classe de Kai, fazendo comentários sarcásticos que só Kai podia ouvir. Ele se esforçava para não rir em público, o que resultava em situações estranhas.

— Esse cara definitivamente não estudou para o teste — Yeonjun cochichava no ouvido de Kai enquanto eles passavam por um grupo de alunos. — Olha só a cara de desespero.

— Yeonjun, você vai me fazer rir — Kai sussurrava de volta, tentando manter a compostura.

— E qual o problema nisso? — Yeonjun retrucava com um sorriso travesso. — Todo mundo precisa de uma boa risada de vez em quando.

— O problema e que vão me achar louco - diz baixinho observando se alguém não via a boca dele se mexer.

— Mas nesse mundo todo mundo e maluco, só não sabem.

E assim os dias se passavam. A rotina de Huening Kai continuava relativamente normal, com aulas, trabalhos e momentos de lazer, mas tudo era intensificado pela presença constante de seus novos companheiros sobrenaturais. Em casa, quando as tardes eram mais tranquilas, eles jogavam ou simplesmente conversavam. Mesmo sendo fantasmas, os garotos conseguiam encontrar maneiras de se divertir, e isso tornava a convivência muito mais fácil para Kai.

Mas, à medida que os dias passavam, algo começou a se desenrolar dentro da mente de Kai. Ele começou a perceber pequenas lembranças surgindo, fragmentos de memórias que ele não sabia que possuía. Pequenas peças de um quebra-cabeça que ele nunca havia tentado montar antes. Tudo começou com Soobin.

Numa tarde, depois da escola, Kai estava sentado em seu quarto, folheando o diário que pertencia aos garotos, enquanto Soobin estava ao seu lado, observando silenciosamente. A relação entre ele e Soobin era diferente das que ele tinha com os outros. Soobin sempre fora mais calado, mais reservado, mas também era o que mais se preocupava com Kai. Talvez por isso, sua presença fosse tão tranquilizadora. 

— Soobin... — Kai começou, fechando o diário e virando-se para o fantasma. — Tenho pensado muito ultimamente. Sobre vocês... e sobre mim.

Soobin ergueu uma sobrancelha, claramente intrigado.

— O que você quer dizer?

Kai suspirou, passando a mão pelos cabelos. Ele olhou pela janela, tentando organizar seus pensamentos. 

— É estranho, mas ultimamente tenho lembrado de coisas... de quando eu era pequeno. Pequenos flashes de memórias que parecem não fazer sentido. Eu lembro de brincar no quintal... e havia outra criança comigo. Eu não sabia quem era até alguns dias atrás, mas agora estou começando a achar que... — Ele fez uma pausa, olhando diretamente para Soobin. — ...essa criança era você.

Soobin permaneceu em silêncio por um momento, seus olhos suavizando com a compreensão. Ele sabia exatamente do que Kai estava falando. 

— Nós éramos vizinhos, não éramos? — Kai perguntou, a voz carregada de incerteza e, ao mesmo tempo, de uma necessidade urgente de entender.

Soobin assentiu lentamente. 

— Sim. Você era muito pequeno na época, provavelmente por isso não se lembra tão bem. Mas nós costumávamos brincar juntos. Você, às vezes, aparecia no quintal da minha casa, e eu ficava de olho em você quando sua mãe estava ocupada.

Kai ficou em silêncio por um momento, processando essa nova informação. As peças do quebra-cabeça estavam começando a se encaixar. Ele realmente tinha sido vizinho deles, e especialmente de Soobin. Havia uma pequena amizade ali, mesmo que ele fosse muito jovem para lembrar completamente.

— Isso explica por que eu sinto essa conexão com você — Kai disse finalmente, olhando para Soobin com uma mistura de nostalgia e surpresa. — Mesmo sem saber, eu estava ligado a vocês de alguma forma, desde o começo.

Soobin sorriu, um sorriso pequeno e melancólico. 

— Talvez seja por isso que conseguimos nos aproximar de você tão facilmente. Você já fazia parte de nossa história, Kai. Mesmo que não soubesse.

Os outros garotos estavam por perto, observando a interação com expressões contemplativas. Beomgyu, que normalmente era o mais extrovertido, também estava mais quieto naquele momento, como se sentisse o peso daquela revelação.

— Então... o que isso significa? — Kai perguntou, meio incerto. — Eu era apenas uma criança quando conheci vocês, praticamente nos afastamos quando cresci, não tinha ideia do que estava acontecendo com vocês. Como isso me conecta a tudo isso agora?

Yeonjun se aproximou, cruzando os braços enquanto olhava para Kai com seriedade. 

— Não sabemos exatamente, mas algo sobre o fato de você ter sido parte da nossa vida, mesmo que de maneira pequena, parece ser a chave. Você nos viu, você estava lá, e talvez seja isso que te deu o poder de nos libertar agora.

— E agora você é o único que pode nos ajudar a seguir em frente — acrescentou Taehyun, sua voz calma, mas carregada de significado.

Kai sentiu o peso da responsabilidade sobre seus ombros, mas também sabia que não podia simplesmente ignorar o que estava acontecendo. Ele havia se tornado uma parte essencial da história daqueles garotos, e agora, mais do que nunca, ele estava determinado a ajudá-los.

— Certo — Kai murmurou, respirando fundo. — Então, vamos continuar. Vamos descobrir o que está faltando nesse diário e como posso ajudar vocês a descansar de uma vez por todas.

O clima no quarto era mais pesado, mas também havia uma nova sensação de determinação. A amizade entre Kai e os fantasmas havia crescido ao longo das semanas, e agora, mais do que nunca, eles estavam unidos em um objetivo comum: descobrir a verdade e libertar as almas presas naquela casa.

Mas antes de voltarem ao trabalho sério, Beomgyu quebrou o silêncio com seu típico sorriso travesso. 

— Mas, por enquanto, que tal mais uma rodada daquele jogo?

Todos riram, e Kai balançou a cabeça com um sorriso.

— Ok, mais uma rodada. Depois, voltamos ao diário.

E assim, por mais que o mistério ainda estivesse por resolver, Huening Kai e seus amigos fantasmas aproveitaram mais uma tarde juntos, como amigos, deixando o peso de suas circunstâncias de lado por mais algumas horas.

o quarto de Huening Kai estava preenchido com o som de risadas e o som animado de um jogo de cartas. Beomgyu e Yeonjun estavam se provocando, Taehyun estava calmamente observando suas cartas, e Soobin estava ao lado de Kai, oferecendo dicas estratégicas. Eles estavam relaxados, aproveitando o momento, esquecendo temporariamente o peso que suas vidas – ou mortes – carregavam.

— Isso não é justo, você tem a vantagem de ver as cartas de todo mundo! — Yeonjun acusou Beomgyu, rindo.

— Ei, não tenho culpa de ser um gênio mesmo no além — Beomgyu respondeu com um sorriso travesso.

— Vocês dois são impossíveis — Taehyun murmurou, balançando a cabeça.

Kai apenas observava, rindo de como, apesar de serem fantasmas, os quatro continuavam com suas personalidades tão vibrantes. Mas, no meio dessa leveza, algo estranho começou a acontecer.

O diário que estava jogado sobre a cama começou a brilhar, uma luz suave e dourada emanando de suas páginas fechadas. No início, Kai e os fantasmas não perceberam, entretidos no jogo, mas quando o brilho se intensificou, todos pararam e olharam.

— O que está acontecendo? — Kai murmurou, os olhos arregalados enquanto o diário começava a se mover por conta própria.

De repente, com um som suave, as páginas começaram a virar sozinhas. Era como se uma força invisível estivesse abrindo o diário, folheando rapidamente até encontrar a página certa. Todos se aproximaram, surpresos e curiosos. Quando o diário finalmente parou, uma página em branco, que antes não mostrava nada, agora estava coberta de palavras brilhantes, escritas em uma caligrafia antiga e delicada.

— Isso é novo — Soobin murmurou, aproximando-se para ver melhor.

— O que está escrito? — Kai perguntou, aproximando-se também.

Taehyun se inclinou sobre o diário e começou a ler as palavras em voz alta:

— "Aqueles que caminham entre os vivos, sem descanso, precisam de laços de amor e verdade para encontrar o caminho de volta ao descanso eterno. Somente o coração de um amigo verdadeiro, com memórias compartilhadas e arrependimento selado, pode abrir a porta para sua libertação."

Todos ficaram em silêncio por um momento, absorvendo o significado daquelas palavras.

— "O coração de um amigo verdadeiro..." — Kai repetiu, sentindo um calafrio percorrer sua espinha. — Isso significa que... sou eu? Eu sou o amigo que pode libertar vocês?

— Faz sentido — Soobin disse calmamente, sua expressão séria, mas esperançosa. — Nós éramos amigos, mesmo que você fosse pequeno. E você é o único que consegue nos ver agora. Há uma conexão entre nós que nunca foi quebrada.

Beomgyu, geralmente tão brincalhão, parecia mais introspectivo do que o normal. — E também fala sobre arrependimento. Talvez precisemos enfrentar o que nos prende aqui, de alguma forma.

— Mas o que nos prende? — Taehyun perguntou, olhando para os outros.

Kai olhou para o diário, tentando juntar todas as peças. Ele sentia que a resposta estava ali, nas entrelinhas do que eles já tinham vivido, nas memórias compartilhadas que começavam a emergir aos poucos.

— Precisamos descobrir o que aconteceu no passado. Algo deve ter ocorrido que os manteve aqui, e talvez... eu tenha algo a ver com isso, mesmo sem saber — Kai disse, sua voz cheia de determinação.

— E parece que precisamos fazer isso juntos — Yeonjun completou, cruzando os braços, pensativo.

O brilho do diário começou a diminuir, mas a mensagem que ele havia revelado ainda ecoava nos corações de todos ali. O mistério estava mais perto de ser desvendado, mas com ele vinha o peso do que estava por vir.

— Seja o que for, não vamos deixar você sozinho nisso, Kai — Soobin disse, sua voz firme. — Estamos nisso juntos.

Kai assentiu, sentindo o peso do momento, mas também uma estranha paz. Sabia que, mesmo diante do desconhecido, não estava sozinho.

— Então vamos encontrar essas respostas — Kai disse, finalmente, com um sorriso de determinação. — E libertar vocês.

Eles voltaram a se reunir, o jogo esquecido por enquanto, enquanto começavam a discutir o próximo passo. As risadas foram substituídas por conversas sérias e planejamentos, mas a conexão entre eles, essa amizade verdadeira, era mais forte do que nunca.

O caminho para a verdade estava se revelando, e, com ele, a esperança de finalmente libertar as almas dos quatro amigos que haviam sido presos no limiar entre a vida e a morte por tanto tempo.