— O que houve, pai? — questionou Puppet, só que em uma versão mais adolescente, vendo que o mais velho parecia esconder algo atrás de si, com um olhar tenebroso. — Pai? Tá tudo bem? O senhor tá me assustando…
Ambos estavam na sala de estar, lugar onde o progenitor escolheu pois segundo as palavras do homem, "é algo de extrema importância que eu tenho para falar com você" e isso a assustou por dentro. Pensou em milhões de coisas ao mesmo tempo, se tinha feito algo errado, se esqueceu de cumprir algum papel, enfim, tudo isso e muito mais se passou pela cabeça da morena. Puppet era uma garota esforçada e prestativa com seus deveres, então ficou receosa e ao mesmo tempo confusa pelo pedido do pai.
Depois de alguns segundos em um silêncio um tanto quanto estranho e perturbador, o olhar duro que tinha sobre a filha, de repente, muda para um olhar amoroso e um sorriso surge em seus lábios.
— Feliz aniversário, Charlotte. — A garota tem um semblante surpreso por alguns segundos, para depois substitui-lo em alegria e admiração por seu aniversário ter sido lembrado. Hoje era o aniversário de seus quinze anos. O maior estende, o que parecia ser um pingente de meia-lua cheio de diamantes e pedras preciosas, para a jovem. — Eu espero que você goste. Ele é muito especial, e foi produzido especialmente por mim.
Ele era dono de uma grande empresa, a empresa Emilie, sobrenome da família. Era uma empresa famosa por produzir jóias e diamantes de alta qualidade. Por isso, não teve muita dificuldade em produzir ele mesmo, um pingente de presente para a filha. A mencionada pega o objeto com todo o cuidado do mundo, observando cada detalhe e cada cantinho deste, e sente seus olhos lacrimejarem de tamanha emoção.
— Ele é lindo… — Olhou com ternura para o pai. — Muito obrigada, papai. Eu amei ele. — Com a ajuda deste, Puppet põe o pingente em seu pescoço, e passa a mão suavemente por ali, sentindo a textura do objeto.
— Eu fico feliz que você tenha gostado. — Sorriu amorosamente.
…
— O que… o que vocês querem?! — O mesmo homem questiona, só que mais agitado, para duas vozes desconhecidas.
— O mesmo de sempre. — A voz parecia irritada, e o tom aumentou ainda mais. — Queremos a grana, e dessa vez sem enrolações.
— Po-Por favor, tenham piedade… A nossa empresa está falindo, e eu não tenho muito...
Escutaram um estalo de um soco, e em seguida um baque enorme, como se fosse algo caindo. Ou melhor, alguém. Charlotte se permitia chorar de desespero em silêncio dentro do armário de hóspedes, só de pensar no que poderia acontecer com o seu pai, enquanto um garoto, aparentemente da sua idade e semelhante a ela, parecia estático e ainda mais pálido do que era.
— A grana. AGORA!
Ambos escutaram um som de passos distanciando-se, e então um silêncio perturbador veio. A curiosidade aumentou ainda mais nos dois, principalmente no jovem, que tinha a respiração compassada.
— O que será que tá acontecendo? — Questionou o caçula, Puppet suspirou pesadamente.
— Eu não sei… mas, eu tô com muito medo… — disse baixo, abraçando o próprio corpo. O caçula encarou a irmã abatida, vendo que ela tremia de medo enquanto a sua frase ecoava pela sua cabeça.
"Eu tô com muito medo"
"Eu tô com muito medo"
"Eu tô com muito medo"
Isso ecoou pela sua mente. E por um impulso, ele foi em sua direção e a abraçou fortemente, sussurrando no seu ouvido:
— Vai ficar tudo bem, Puppet — Chamou-a pelo apelido de infância. — Isso vai passar. Papai vai voltar, e tudo irá voltar ao normal. Eu prometo...
.
.
.
.
.
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(~...~)
— Senhorita?
Acabou saindo do seu — longo, diga-se de passagem — transe, voltando à realidade. Golden a encarava com uma sobrancelha erguida, e com um olhar curioso e indagador.
— Senhorita? Está tudo bem? — Percebendo que encarava demais o homem à sua frente, a mulher sente suas bochechas arderem fortemente pela vergonha.
— O-Oh, perdão… Sobre… O que você estava dizendo mesmo? — Coçou a nuca nervosamente.
— Eu estava perguntando sobre o seu braço. O que houve com ele? — indagou com um semblante preocupado, observando as marcas avermelhadas muito visíveis (que ela esqueceu de esconder) nos braços da mulher, esta que sentiu seu corpo gelar rapidamente ao se esquecer de esconder aquelas marcas.
— Eu… — Engoliu o seco. — Eu sinto muito, doutor, eu-… — O loiro fez um sinal com a mão, como se pedisse para falar.
— Não precisa me chamar de doutor se não quiser, apenas de Golden. — A moça assentiu com a cabeça. — Tudo bem se não quiser contar agora, não irei forçá-la. — Dessa vez, esta balança a cabeça de um lado para o outro, fazendo um "não" com a cabeça
— Tudo bem, dou- digo, Golden! — corrigiu-se ao ver o homem olhar para si. Suspirou, desviando o olhar para qualquer canto, antes de responder. — Acontece que eu não sei o que deu em mim ontem… Eu comecei a sentir algo muito esquisito dentro de mim, uma sensação estranha, no sentido ruim… Uma raiva tomou conta de mim, e… Aconteceu…
Não teve coragem de olhar nos olhos escuros do homem, portanto continuou: — Não sei o que foi isso, mas com certeza não gostei nem um pouco. Era algo que me incentivava a fazer isso, eu comecei a escutar vozes em minha cabeça para fazer e... — E sem que percebesse, lágrimas caíam de seus belos olhos. — Me senti tão podre e imprestável, que eu não consegui sequer voltar pra minha casa e rever a minha família. E eu nem sei se eles estão vivos! Eu poderia ter salvado eles, poderia ter feito tudo isso, mas adivinha só? Não consegui, eu sou tão… tão… repugnante e inútil…
E então desabou, o silêncio se instalou ali imediatamente, sendo que o único som que era escutado ali, era o choro da mulher, que chorava de forma desesperada, enquanto o doutor apenas a observava em silêncio. Alguns minutos se passaram, e logo a jovem se recompõe rapidamente, ficando envergonhada novamente enquanto limpava as suas lágrimas de forma rápida.
— De-Desculpe dout- digo, Golden… Desculpe! Eu não devia… não devia ter falado essas coisas… até porque eu não deveria te colocar nos meus problemas, isso é uma falta de consideração minha pelo pouco que o senhor e os outros estão fazendo por mim, e-...
— Senhorita. — A interrompeu, chamou-a em um tom doce, apesar do semblante sério. — O meu dever, como psiquiatra, é ajudá-la a resolver esses problemas. Não tem problema em demonstrar os seus sentimentos às vezes, pois até mesmo os super heróis choram. — Deu um sorriso amoroso para a outra. — Estou aqui para ajudá-la no que for preciso. — O coração da mulher se amolece com a fala, porém em questão de segundos, a insegurança volta novamente.
— Eu não sou um fardo... para o senhor? — Questionou receosa.
— De forma alguma — Respondeu sincero, e realmente não era. Por algum motivo, sentia-se confortável com sua paciente. Talvez seja pelo sentimento de compaixão que tinha por ela. — Não se preocupe com estas coisas. Iremos achar a sua família, e você não está sozinha okay? Iremos encontrá-los o mais rápido possível. Irei te ajudar. Eu prometo para você. — Sorriu tentando transmitir tranquilidade para a outra, e realmente consegue. Puppet sente seus olhos lacrimejarem.
"Eu prometo"
"Eu prometo"
"Eu prometo"
E como se fosse a palavra mágica, ela arregala os olhos, e parece se recordar de algo.
"— Feliz aniversário, Charlotte."
"Charlotte"
— Charlotte….
— Uh? O que disse? — perguntou confuso.
— Charlotte… — Olhou para Golden. — Agora eu me lembro… Enquanto o senhor falava, eu me recordo de que tinha escutado alguém me chamar por esse nome…
Golden arregala os olhos surpresos, por alguns segundos. Tudo isso deveria ser mera coincidência, né? Engoliu o seco discretamente.
— Será que você não está se confundindo com alguma outra coisa? — Olhou-a com um certo receio, a outra, entretanto, balança a cabeça de um lado para o outro.
— Não, eu lembro de alguém ter me chamado por esse nome.
— Certeza?
— Absoluta.
— Oh… — Pareceu pensar um pouco antes de prosseguir. — E você se lembra ou sabe quem é esse "alguém"?
Ah, agora essa pergunta a pegou desprevenida e se deu conta. Lembrava de alguém a chamar pelo nome, mas não se recordava quem. Abaixou a cabeça e respondeu baixo.
— Não, não me lembro…
— Hm… — Levantou-se e estendeu a mão para esta. — Vem comigo, quero te mostrar uma coisa. — Atraiu o olhar curioso e confuso da mulher, mas mesmo tendo uma certa desconfiança, segurou a mão do outro e levantou-se também, indo com ele.
— Para onde estamos indo? — Indagou curiosa.
— Você vai ver.
(~...~)
Ambos foram para um belo e extenso jardim que havia perto do hospital. Apesar da estação do inverno estar chegando, o dia estava bastante ensolarado. A mulher sentiu uma ótima sensação ao sair daquele quarto, na sua opinião, assustador. Um silêncio reinava sobre ambos, mas não era em um sentido ruim. Era até que confortável. Caminhava por aquele lugar tranquilamente com o loiro, às vezes encontrava algumas pessoas lendo um livro por ali, ou descansando em algum canto de árvore ou até mesmo encontrava crianças brincando ali. Olhou com compaixão e pena para todas elas, por apesar de jovens, estarem em um hospital psiquiátrico.
Balança a cabeça de um lado para o outro rapidamente, tentando afastar os maus pensamentos e a melancolia. Não queria ter uma crise na frente dele.
— Aqui é… muito bonito. — Quebrou o silêncio, observando cada cantinho do lugar.
— É sim, é muito lindo. — Concordou. Ambos sentaram-se em um banco que havia perto dali, e Golden vira-se para a de cabelos escuros. — Aqui é onde eu deixo transparecer todos os meus pensamentos, e uma paz toma conta de mim toda vez que venho para cá, me esquecendo de tudo à minha volta. Eu até diria que esse é o paraíso... — Fechou os olhos lentamente e suspirou. — Por que você não tenta?
A curiosidade tomou conta da de cabelos escuros rapidamente, que seguindo o conselho mencionado acima, fecha os seus olhos lentamente, e aos poucos, seus músculos — que não percebeu que estavam tensos — começaram a relaxar e sentiu uma ótima sensação que não conseguia descrever muito bem. Será que era a paz que ele dizia? Não sabia dizer, mas com certeza aquilo era muito bom.
— E aí? Como se sente?
— Você tinha razão… Esse lugar dá uma calmaria muito grande… — Sussurrou ainda de olhos fechados. — Me sinto em paz.
Passaram-se alguns longos minutos, ela lentamente abriu os seus olhos, e virando-se para o doutor, sentiu seu coração queimar de uma forma estranha ao observar o loiro ainda de olhos fechados, mas com um pequeno sorriso no rosto. Uma brisa do vento bate levemente nos seus rostos nesse momento, balançando de forma leve os seus cabelos. Puppet não admitiria isso, porém, percebeu que o loiro ficava ainda mais belo com aquele sorriso. Sentiu-se bem tendo aquela visão. Algo se remexia em seu interior, no bom sentido.
Porém teve essa sensação por alguns segundos, já que logo a consciência veio para si. Tudo bem que ele era bonito e charmoso, mas não precisava reparar tanto. Afinal, ele era apenas o "seu" médico, e nada mais! Ele estava ali para a ajudar a recuperar as memórias, e SÓ!
Tão focada em seus pensamentos, que não percebeu que o loiro havia aberto os olhos, e sentindo que ela o encarava, rolou as suas orbes escuras na direção desta, e de repente sentiu uma pequena conexão entre eles. Sentiu algo conectar-se ao olhar para as orbes tão escuras, tão inocentes e tão… atraentes.
Longos segundos se passaram, e ambos percebendo essa troca de olhares, viraram os seus rostos em lados opostos, um pouco sem jeito e envergonhados.
— Bo-Bom… Acho melhor voltarmos para o hospital, senhorita. Já está escurecendo. — Sem querer, Golden acabou gaguejando e amaldiçoou-se por isto. Nunca se sentiu tão nervoso na vida, qual será que deveria ser o seu problema? Talvez estivesse ficando louco! A outra assente com a cabeça, e eles voltam novamente para o grande edifício.
Golden Freddy fez questão de acompanhar a moça até a porta do quarto. A de cabelos escuros agradece ao doutor pela companhia e pela tarde, tendo um assentir como resposta.
— Podemos nos ver amanhã, senhorita? — Antes de retirar-se do local, virou-se para a dama com um sorriso no rosto.
— Podemos sim. — Olhou para o homem à sua frente. — E por favor… Me chame apenas de Charlotte. — Retribui o sorriso. O loiro parece surpreso por alguns segundos, porém, logo substitui a expressão de surpresa para um sorriso tranquilizador.
— Tudo bem, Charlotte.
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