"Leaving me broken, another time"
Park Jimin uniu as sobrancelhas ao encontrar seu melhor amigo sentado em uma das cadeiras distribuídas harmonicamente pela cafeteria da faculdade. O falso ruivo distribuía sorrisos para as pessoas que o cumprimentavam, os olhos formando dois adoráveis riscos e um fone de ouvido pendurado em sua orelha esquerda. A rotineira cena de um alegre e simpático Kim Taehyung dividindo a sua atenção entre o grande número de amigos que possuía não deveria ser estranha, porém a figura loira e cabisbaixa ao lado do rapaz definitivamente não pertencia àquela equação.
Min Yoongi. O estudante de fotografia.
— Aish... O que ele é, uma criança? — Jimin murmurou, o tom de voz irritado atraindo a atenção de Kim Namjoon.
Namjoon fechou os olhos em duas fendas, comprimindo os lábios em uma linha firme ao perceber como seu precioso amigo Taehyung se comportava ao lado do loirinho. Como se o Min fosse um bebê faminto, o ruivo cortava um pedaço do seu pudim, direcionando-o à boca do seu acompanhante e divertindo-se com as sua bochechas avermelhadas.
Aquela cena era, definitivamente, estranha.
— Ele está... — O moreno não conseguiu completar o seu questionamento, recusava-se a acreditar que seu melhor amigo estava alimentando um rapaz adulto.
— Não é estranho, hyung? — Jimin, entretanto, visualizava a cena com os olhos bem abertos e as sobrancelhas unidas.
— Definitivamente.
Alheio aos julgamentos dos seus amigos, Taehyung não se importava em dividir a sua sobremesa com seu hyung. Yoongi não se alimentava corretamente, afinal não possuía dinheiro o suficiente para comprar comida todos os dias, então o falso ruivo sentia-se a pessoa mais feliz do mundo alimentando-o.
— Não faça mais isso! — Yoongi estava irritado, temia pela vida social de Taehyung. Ser visto ao lado de alguém como ele era um problema, as pessoas o odiavam e costumavam desprezar a sua existência. Sendo assim, sentia-se ainda mais sujo todas as vezes que captava os olhares desagradáveis direcionados aos dois.
Não precisava ser alimentado diretamente na boca, possuía um corpo saudável – embora marcado e manchado em diferentes tons de vermelho, roxo, amarelo e verde –, porém seus últimos cortes foram profundos o suficiente para provocar dores intensas todas as vezes em que ele movimentava os braços. Taehyung, percebendo as caretas de dor que seu hyung fazia, disponibilizou-se a ajuda-lo em todos os sentidos em que o verbo se aplicasse.
— Você pense melhor antes de machucar a si mesmo, huh? — Arqueou uma das sobrancelhas, cortando um pedaço pequeno do pudim e comendo-o em seguida. Yoongi abaixou a cabeça, a vergonha dominando-o rapidamente. — Lembra quando eu disse que todos nós falhamos? Até mesmo as pessoas mais fortes cometem erros e precisam de ajuda às vezes, hyung. Não se culpe por se machucar, você não é fraco por ter recaído, mas todas as nossas ações tem consequências, lembre-se disso.
Yoongi surpreendeu-se mais uma vez, fitando o rapaz sorridente com olheiras abaixo dos olhos. Taehyung parecia possuía o dom de ajuda-lo com palavras, suas filosofias agiam como salva-vidas resgatando-o das fortes correntezas em que se afundava.
Jamais conseguiria agradecer pela existência de uma pessoa tão iluminada como aquele hippie.
— Está me encarando... — Taehyung riu.
— M-Me desculpe... — Os dois sabiam que aquele pedido referia-se aos recém-cortes que agora coloriam o braço do fotógrafo com tons vívidos de vermelho.
— Está tudo bem. Eu te disse que as recaídas iriam acontecer, mas isso não quer dizer que você fracassou ou que é fraco. — Dividiu o restante do pudim em dois, levando uma parte à própria boca e oferecendo o prato de isopor ao loiro. — Pode ficar com o último pedaço.
O sorriso exótico em formato quadricular de Taehyung provocou desregularidades nos batimentos cardíacos de Yoongi. O gesto fora tão bonito que o loiro sentiu o peito aquecer, agradecendo silenciosamente por ter uma pessoa incrível como o Kim por perto.
— Obrigado. — Yoongi sussurrou, pegando o garfo de plástico com dificuldade e levando a sobremesa aos lábios. Ignorou os olhos brilhantes do falso ruivo fixos em sua mastigação, concentrando-se em isolar as vozes dentro da sua mente e permanecer conectado com a realidade.
As suas companheiras auditivas usavam da sua recaída para feri-lo, relembrando-o do uso das lâminas durante a madrugada e zombando das esperanças e palavras bonitas que Taehyung dirigia a ele.
— Você me agradece comendo. — Taehyung o respondeu, ouvindo os barulhos que saltavam dos lábios do seu hyung com extrema felicidade. — Hoje n-
— Taehyung. — Namjoon interrompeu a fala do ruivo, acompanhado de um irritado e mal-humorado Park Jimin. As bochechas coradas do baixinho foram visualizadas por Yoongi, que se encolheu dentro das suas três camadas de roupas.
— Bom dia Namjoonie! — O tom de voz feliz do estudante de artes cênicas aumentou a ira que Jimin sentia.
— O que você está fazendo, hyung? — O mais baixo dos três o questionou, ignorando os olhares repreensivos que Namjoon lançava em sua direção. Os seus braços cruzados e sobrancelhas unidas chamaram a atenção de Taehyung, que sentiu os sinais de que algo ruim aconteceria. — Você agora é a omma dele? — Jimin ironizou, os lábios cheios curvados em um sorriso sarcástico.
— Jimin... — O tom de voz censurador de Namjoon preencheu o clima denso que dominava o ambiente, mas ele o ignorou. Os olhos de águia estavam fixos no rosto avermelhado de Min Yoongi, a ira presente em suas íris chicoteando o coração do loiro.
— Não, Namjoon hyung, não. — Respondeu, descruzando os braços e aproximando-se dos dois. — Eu fiquei calado durante todo esse tempo porque o Taehyung sempre me disse que todos precisamos de um amigo, mas eu não quero assistir ele te alimentando, levando os seus livros, pagando a sua comida, limpando o seu nariz, arrumando o seu cabelo e sendo o seu empregado pessoal em silêncio. Isso não é uma amizade, você está usando o meu amigo e eu-
— Park Jimin. — A voz grossa e extremamente gélida de Taehyung cortou o discurso raivoso do rapaz. Os olhos brilhavam, um poderoso sentimento preenchendo o seu globo ocular e os lábios unidos em uma linha firme, finalizando uma imagem assustadora que representava o quão irritado o falso ruivo estava. — Não sei por qual razão vocês não gostam do Yoongi hyung e sinceramente não quero saber, mas exijo que respeitem a minha relação com ele. Não estou pedindo que sejam amigos dele também, estou dizendo que ele merece respeito da mesma maneira que vocês, eu e qualquer outra pessoa. Ele não é inferior a ninguém. E não vou deixar de falar com ele só porque vocês não gostam dele. Entenderam?
A cena era incomum; Kim Taehyung, o sempre sorridente e simpático estudante de artes cênicas, popular entre os muitos círculos sociais, defendendo ferozmente o excluído e esquecido Min Yoongi, fotógrafo fracassado e desprezado por seus colegas de curso.
A discussão atraía olhares curiosos e os sussurros irritavam os tímpanos de Yoongi. O loiro estava explodindo; as vozes sádicas em sua mente mesclavam-se com as palavras ignorantes de Jimin e as opiniões que os observadores daquele acontecimento compartilhavam entre si por meio de murmúrios. Seu peito subia e descia conforme ele lutava para conseguir inalar oxigênio e os olhos opacos perdiam-se entre o rosto chocado e magoado do Park, o olhar superior e decepcionado de Kim Namjoon e as expressões faciais bem definidas de Taehyung. Sentia a dor em seu braço triplicar, o peso da culpa puxando-o para um buraco negro que começava a possuí-lo lentamente, começando pelos dedos dos pés e terminando nos fios descuidados do seu cabelo amarelado.
— T-Tae... — Jimin sussurrou, a tristeza tornando os seus traços mais suaves. As sobrancelhas estavam unidas, os lábios curvados para baixo e os olhos pequenos marejados. Em todos os anos em que se conheciam seu melhor amigo jamais fora tão duro com suas palavras.
— Vocês entenderam? — Taehyung repetiu a questão, os dentes unidos como o maxilar de um cão raivoso.
— Taehyung, não precisamos levar as coisas dessa maneira. — Namjoon se pronunciou, coçando a garganta após atrair a atenção dos outros três. — Você, Min Yoongi, acha certo tratar de maneira tão rude os seus melhores amigos?
Todos os olhos estavam fixos no rosto sem expressões de Yoongi.
— E-Eu nunca tive amigos, então n-não sei com-
— Pare de gaguejar! — Jimin exclamou, as mãos trêmulas. — Taehyung não consegue enxergar que você está destruindo tudo que ele ama, mas você vê, não vê? — Avançou dois passos, ignorando seus melhores amigos e focando completamente sua atenção no loiro. — Olha para ele, olha! Ele mal come porque divide a comida com você, não dorme porque está preocupado se você está dormindo, não consegue se concentrar nas aulas porque está ocupado demais pensando se você conseguiu apresentar um maldito seminário, n-
— Eu entendi. — Yoongi o interrompeu, seu tom de voz quebradiço imediatamente preocupando o falso ruivo.
Os três melhores amigos acompanharam o fotógrafo levantar da cadeira metálica, esconder as mãos dentro dos bolsos, fitar por longos segundos o rosto assustado da única pessoa que jamais desistiu dele e girar nos calcanhares, marchando para longe do trio e implorando mentalmente para qualquer divindade que existisse para que aquele hippie conseguisse se limpar após ser tocado pela sua sujeira.
— Yoongi hyung! — Taehyung gritou, imitando-o ao levantar da sua cadeira. — Vocês acham que eu estou cego, mas são vocês quem não enxergam que acabaram de destruir toda a evolução de uma pessoa por ciúmes. — As pálpebras do falso ruivo estavam preenchidas pelas lágrimas. — Eu sou melhor amigo de vocês e nada vai mudar isso, mas eu também sou o único amigo do Yoongi hyung e, de novo, nada vai mudar isso. Eu não vou desistir dele e não quero ver vocês agindo como se fossem pais de um adolescente delinquente. Sou amigo de quem eu quiser e o mínimo que deveriam fazer é respeitar a todos da mesma maneira que vocês gostam de ser respeitados.
O silêncio que engoliu o ambiente simbolizava que as palavras atropeladas que saltaram rapidamente dos lábios de Kim Taehyung penetravam os cérebros dos seus dois melhores amigos. Namjoon piscou algumas vezes, direcionando o seu olhar para um Park Jimin mergulhado em lágrimas e voltando a fitar o caminho que seu querido amigo de cabelos vermelhos havia percorrido ao seguir o loirinho cabisbaixo.
— Hoseok estava certo. — Namjoon referia-se a ligação com o Jung que ocorrera semanas antes, quando o fotógrafo o assegurou que Taehyung sabia o que estava fazendo.
O choro silencioso e sofrido de Jimin o tornava uma figura frágil, magoada e machucada. O estudante de artes cênicas lamentava-se, afinal aquela fora a primeira briga a sério que tivera com o melhor amigo e a culpa corroía o seu coração como ácido sulfúrico. Possuía consciência de que estava exagerando em suas palavras amargas, porém não conseguira se impedir de soltar tudo o que estava sufocando-o.
— Vem cá. — O mais velho dos dois puxou o menor pelos ombros, enterrando os dedos nos seus fios castanhos e mordendo o interior da boca. Precisava conversar com Taehyung o mais rápido possível, o falso ruivo possuía o direito de saber por que sua amizade com o Min era tão desagradável.
Namjoon finalmente falaria sobre o polêmico e complicado caso Min Yoongi.
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Min Yoongi sentia-se caindo lentamente em um poço escuro e sem vida. Caminhava com os olhos fixos nos próprios sapatos, as mãos trêmulas com as pontas dos dedos coçando estavam escondidas dentro dos bolsos do seu casaco escuro e a dor em sua costela retornava com total intensidade, complementando a sua desgraça silenciosa.
Ofegava, sua hiperventilação provocando um crescente incômodo em seus pulmões.
Os lábios molhados graças ao sangue que escorria por suas narinas estavam fechados, formando uma linha. Não se importava com a hemorragia nasal, sabia a razão do seu acontecimento e sabia também que ela só pararia quando as vozes dentro da sua mente terminassem a sua sessão de tortura.
“Você viu? Você sujou aquele rapaz.”
“Acreditou mesmo que estava sendo um bom amigo para ele?”
“Você nunca vai ter amigos porque você só estraga tudo que toca.”
“Você não merece ter amigos.” “Não merece nada além da dor.”
“Você deveria se matar, querido, dar um fim ao sofrimento de todos.”
Sim. Se matar. Ele deveria.
— Me matar... — Sussurrava, o tom de voz tão distante quanto os seus olhos. Estava preso dentro da própria doença novamente. — Eu deveria... — Piscava lentamente, sua respiração ofegante aumentando o fluxo de sangue que lambia a sua pele pálida e infectava a sua roupa com um forte cheiro metálico.
“Pule na frente daquele carro!”
— Sim. Pular... — Suas pupilas dilatadas denunciavam a quebra com a realidade.
Desviou o olhar para o asfalto, seu delírio mental impedindo-o de perceber que havia aberto os portões da faculdade e agora se encontrava na rua, perto de um ponto de ônibus e da faixa de pedestres que pintava o cinza absoluto com branco giz.
“Vá querido, acabe com isso.”
— Sim... Acabar... — Assemelhava-se a um zumbi digno de filmes de terror, hipnotizado por suas companheiras auditivas e distante da realidade.
Os primeiros passos em direção ao asfalto foram dados no exato momento em que Taehyung o alcançou e, em um pensamento surpreendentemente rápido, o segurou pelos cotovelos e o afastou do perigo antes que um carro o atingisse.
Estava a salvo mais uma vez.
Graças a Taehyung
O falso ruivo suava, o líquido quente lambendo a sua testa e traçando um caminho por sua bochecha. Apertava os braços contra a pele coberta por camadas de roupas de Yoongi, segurando-o no lugar enquanto o loiro sussurrava palavras desconexas e tinha toda a área abaixo do nariz manchada por um vermelho vívido.
Yoongi não lutava para se libertar, porém seus pés continuavam tentando levar o seu corpo até o asfalto e as palavras que Taehyung praticamente gritava aos seus ouvidos não possuíam efeito diante da doença que consumia a sua mente.
O fotógrafo estava inalcançável, sabotado por suas vozes e longe da realidade.
— Yoongi hyung, por favor, pare! — As lágrimas de Taehyung misturavam-se com o suor e tornavam o seu rosto uma confusão de líquidos e lábios trêmulos. — Por favor, me escute!
— Acabar... — O loiro sussurrou, seus olhos opacos visualizando a mulher que algum dia o chamara de filho o empurrando para longe ao vê-lo em meio a uma crise pela primeira vez. — Omma... — A voz estava manhosa, sofrida, a palavra saíra lentamente por seus lábios rachados.
“Se nem a sua mãe o quis, porque você acha que ainda tem salvação?”
“Ninguém nunca vai te amar, querido. Acabe com isso!”
— Yoongi! — Taehyung explodia em um choro desesperado, arrastando o corpo pesado e frágil do seu hyung para trás até que suas costas colidiram contra os muros da faculdade. Por extrema sorte poucas pessoas caminhavam por aquela calçada durante aquele horário, afinal os estudantes estariam em aulas e ninguém comentaria sobre os soluços altos que o falso ruivo soltava a cada sussurro que saía pelos lábios do homem em seus braços.
Estavam unidos, a cabeça vermelha de Taehyung apoiada nas costas magras e frágeis do loiro. Seus braços soltaram o cotovelo do fotógrafo e abraçaram a sua cintura, mantendo-o próximo e longe dos veículos que cruzavam aquele semáforo.
— Yoongi hyung, por favor... — Ele implorava, chorando como uma criança esquecida pela mãe em um estabelecimento desconhecido. Os olhos fechados em duas linhas, o suor e as lágrimas molhando o casaco escuro do outro. — Por favor, acorde... — Tossiu, o pulmão explodindo graças a corrida e ao esforço realizado naquele momento.
“Você precisa se matar, precisa parar de trazer dor as pessoas.”
Yoongi piscava lentamente, enxergando toda a sua terrível adolescência correr diante dos seus olhos, relembrando cada noite que passara acordado, demasiadamente assustado com as vozes que escutava para conseguir fechar os olhos, sentado no chão do banheiro com a cabeça presa entre as mãos.
“Nós nunca vamos embora.”
— Yoongi...
Aquele homem? Quem era aquele homem gentil que se aproximava dele com um pedaço de bolo?
— Yoongi... — Taehyung continuava implorando, desesperado. Não sabia como resgatá-lo da sua própria mente, sentia-se um completo inútil.
“Você é um desperdício de vida.”
O loiro sentia os lábios formigando, alguma coisa molhada e grudenta escorria até o seu queixo. O cheiro metálico era familiar e ele certamente já havia escutado aquela voz chorosa que soluçava e chamava-o pelo nome. Por que não conseguia pensar?
Duas mulheres comentavam sobre os corpos suados e estranhamente próximos escondidos ao lado do ponto de ônibus, porém não eram curiosas o suficiente para se aproximar, então continuaram o seu caminho sem interromper o momento inexplicável que ocorria a poucos metros de distância delas.
Taehyung subiu uma das mãos, encontrando os lábios entreabertos de Yoongi e arrastando os dedos por aquela região, tentando limpar o sangue que manchava o seu rosto bonito. Fungou algumas vezes, lutando contra o choro enquanto pensava em uma solução para aquela situação desesperadora. Quando os pés do fotógrafo finalmente pararam a sua caminhada suicida, o Kim desceu a mão até a sua cintura, mantendo-o paralisado dentro do seu abraço.
— Yoongi?
Entretanto, a mente do Min navegava entre os piores momentos da sua vida, mantendo-o longe do alcance da voz grossa do falso ruivo.
— Eu... Sim... — O loiro sussurrava, abrindo e fechando os olhos. Um cansaço inédito o atacou, tornando quase impossível o ato de permanecer em pé. Respirava com tranquilidade, o rosto sujo e as pálpebras inchadas. — Sono...
Taehyung sentiu uma dor aguda em suas pernas quando o corpo enfraquecido de Yoongi despencou contra o chão. Estavam sentados, o Kim com as pernas dobradas abaixo do corpo desacordado do seu hyung.
O falso ruivo fechou os olhos, contando mentalmente até cinco. Não sabia se preferia o Min acordado e desconectado da realidade ou desmaiado e perdido em sua inconsciência – as duas opções soavam como uma piada de humor duvidável e Taehyung encontrou-se soltando risadas nervosas ao perceber que a hemorragia nasal do outro teve um fim.
O que ele faria agora?
Soltou o corpo do loiro com uma das mãos, direcionando-a até o bolso traseiro e capturando o seu celular dentro da calça jeans após alguns segundos.
Um senhor com óculos de grau, terno e gravata e uma bem vestida mulher o acompanhando cruzaram a calçada, assustando-se com a imagem de um ensanguentado rapaz sendo abraçado parcialmente por outro que fungava e parecia ter chorado durante uma noite inteira.
— Com licença rapaz, você precisa de ajuda? — O homem questionou, aproximando-se dos dois com as sobrancelhas unidas.
— P-Preciso que me ajudem a leva-lo até o ponto de ônibus, senhor. — Taehyung gaguejou, digitando lentamente um pedido de socorro para Jung Hoseok e deixando o celular no chão frio após apertar o botão que enviaria a mensagem. — Por favor, ajudem-me.
A mulher segurou a maleta do seu marido e a bolsa marrom de Yoongi, desviando dos dois corpos no chão e deixando o espaço livre para que o homem conseguisse carregar o corpo magro e pálido do loiro até o local indicado por Taehyung, que limpava o próprio rosto com o tecido do seu moletom azul escuro.
— Obrigado. — Realizou uma reverência, pegando a bolsa de Yoongi das mãos da mulher e repetindo o ato. — Muito obrigado.
— O que aconteceu com ele? — Ela perguntou, olhando para o rapaz desmaiado deitado no banco com as sobrancelhas bem unidas. — Ele não parece bem...
— Ele-
— Taehyung! — Hoseok interrompeu, salvando-o de uma explicação. Ele não sabia como responder ao questionamento daquela desconhecida sem entregar os segredos do seu querido hyung. — Me desculpe, eu vim o mais rápido que eu consegui.
Os olhos do Jung arregalaram-se ao avistar a deplorável situação em que seu misterioso ex-companheiro de classe se encontrava. Engoliu em seco, aproximando-se do pequeno corpo desacordado do loirinho e tocando a sua bochecha com o dedo indicador.
— Ele está vivo, Hoseok. — Como se lesse a sua mente, Taehyung respondeu às suas perguntas silenciosas. O moreno o fitou com pânico visível em seu olhar, jamais imaginaria encontrar uma pessoa desmaiada com aquela assustadora quantidade de sangue pincelando sua pele quando leu a mensagem do ruivo.
O casal que ajudara o rapaz de cabelos vermelhos compartilhavam olhares significativos, ambos preocupados com o destino do loirinho desmaiado. Taehyung e Hoseok decidiam entre as duas únicas alternativas plausíveis: chamar uma ambulância ou levar Yoongi para o apartamento deles, esquecendo-se momentaneamente do homem de óculos e sua mulher de vestido preto como os fios do cabelo do Jung e pérolas enfeitando o pescoço.
— Vai ser melhor levarmos ele para um hospital, Taehyung.
— Yoongi hyung acabou de se recuperar de um acidente.
— Ele não está bem e nós não sabemos como cuidar de alguém como ele. — Hoseok apontou para o rosto ensanguentado do Min, seu tom de voz denunciando como estava desesperado.
— Precisamos limpar o-o sangue e-e... — O cérebro do falso ruivo ameaçava desligar. — Alimentá-lo e-e deixa-lo descansar. Eu vou chamar um táxi, por favor, cuide dele hyung.
Taehyung agradeceu o casal mais uma vez, acompanhando-os caminhar para longe do ponto de ônibus com olhares preocupados lançados por seus ombros. Respirou fundo, puxando alguns fios do seu cabelo vermelho como uma maçã madura antes de caminhar até o local onde havia segurado o corpo desmaiado de Yoongi, resgatando o seu celular e limpando-o antes de discar o número do táxi que costumava pedir com frequência.
Hoseok, por outro lado, tentava acordar o loiro. Soprava ar na direção do seu rosto e usava um pedaço da manga do seu próprio casaco de coloração amarronzada para remover o sangue da sua pele. Repassava em sua mente maneiras de acordar um ser humano de um desmaio, encontrando uma possível solução.
— Certo.
Enquanto Taehyung informava o endereço, o moreno retirava de dentro da sua mochila um pequeno frasco contendo um químico necessário para a revelação de negativos em preto em branco. Era um item indispensável em seu curso, sempre o incluía entre os seus muitos materiais.
— Vamos lá, respire. — Sussurrou, abrindo a tampa e direcionando-o até as narinas avermelhadas de Yoongi. O loiro continuava inconsciente. — Respire, respire! — Implorou, movendo o frasco em movimentos circulares na tentativa de forçar a entrada do cheiro forte às vias respiratórias do outro.
Taehyung uniu as sobrancelhas, abrindo um sorriso tranquilizador para uma senhora que fitava a cena durante um passeio com o seu cachorro. Aproximou-se dos dois amigos, encontrando Hoseok afastando e retornando um frasco branco com alguns dizeres do nariz vermelho de Min Yoongi.
— Hyung, o que você está fazendo?
— Acho que está dando certo, ele moveu as pálpebras. — Sorriu nervoso, uma gota de suor brilhando em sua pele.
Continuou os seus movimentos, segurando a cabeça loira de Yoongi e fitando o seu rosto desacordado com olhos de águia. Finalmente, após alguns minutos que se pareceram horas, ele abriu os olhos.
"You come on like a blood stained hurricane
Leave me alone, let me be this time"
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