O amor nasce de pequenas coisas, vive delas e por elas às vezes morre.
Lord Byron
Eu estava cego de ódio, decepcionado, iludido, frustrado e traído. Creio que coloquei Alice num pedestal de adoração e não fui capaz de ver o óbvio, ainda bem que meu amigo John me trouxe a luz para enxergar o que a paixão impediu. E claro que já começou a me encaminhar a trilha da recuperação da paixonite, me apresentou uma linda loira de pernas longas, alta, com cabelos curtos, olhos azuis. Bonita sim, chata e sem conteúdo? Muito, superficial e deixava escapar ser um tanto interesseira, mas dane-se não estava ali para fazê-la minha esposa, só uma transa de uma noite, mas até isso estava difícil de encarar, claro que compará-la sempre com a traidora era inevitável, não era elegante ou brilhante quanto Alice, mas f@*a-s@ ela, que morra ou experimente do seu próprio veneno, odeio essa mulher e tenho que afastar suas lembranças da minha mente. Minha véspera de natal foi regada a muito álcool, sexo bem mediano e muito cigarro. Meu peito doía, eu queria arrancar meu coração ou apagar minhas memórias dos últimos meses. Era devastador pensar em não tê-la e pior ainda pensar que não passei de mais um na sua cama, de saber que não fiz diferença nenhuma na vida dela, enquanto que para mim ela já era um grande amor.
Estava um pouco alto de uísque, já tinha dispensado à loira e estava pronto para pegar o avião e voltar para NY, passaria a madrugada no avião, mas tudo bem, pela manhã estaria em casa. Sei lá porque John estava muito animado, cheio de planos e cheio de adjetivos negativos quando se tratava de Alice.
-Ah Adam! Era claro que essa garota era uma golpista, provavelmente estava de olho no seu dinheiro ou queria um green card, sei lá, mas não vale a pena perder mais do seu tempo pensando nela ou dando ouvidos as suas mentiras.
-Talvez você tenha razão, mas talvez deva pelo menos ouvir o que ela tenha a dizer sobre o fato do colar estar na cama do Dermot.
-Sério cara! Você dará espaço para ser mais humilhado ainda? Claro que ela virá com um monte de mentiras, acho que você fará papel de bobo.
-É! Você tem razão. Bom, vou dar um basta em tudo e depois você finaliza as questões contratuais.
-Certo caro amigo. Lamento estar passando por tudo isso, me sinto em partes culpado já que fomos atrás dela na universidade para cuidar do Thomas.
-Você não tem culpa, desencana ninguém tem só a mentirosa traidora.
Estava quase tendo uma crise de ansiedade dentro daquele avião, eu queria gritar e sair destruindo tudo para aliviar minha raiva, mas nem fumar eu poderia, só me restou o álcool que graças à altitude fazia efeito mais rápido. Chegamos a NY com atraso, pois nosso voo proveniente de Londres teve que realizar uma parada em Madrid, meu humor estava pior ainda, mas enfim estava a caminho de casa, agora pela manhã Alice também chegaria a NY pelos recados que havia no meu celular, o que era ótimo, poderia colocar um fim nessa enganação logo pela manhã.
Cheguei em casa e Alice estava lá, linda, reluzente, com ar de felicidade que era quase irresistível, mas não poderia me entregar aos seus encantos, subi direto para meu quarto para tomar um banho e minimamente focar no que deveria fazer.
Desci depois de uns 20 minutos e ela estava lá sentada, conversando com o Ângelo com um sorriso encantador, ela me viu e veio atrás de mim no escritório.
Ela veio doce e gentil tentar me abraçar e tentar falar algo, mas não poderia dar brecha para nenhuma fraqueza minha em relação àquela mulher, não poderia esquecer a traição, a mentira, então desviei e fui sentar atrás da mesa do escritório e coloquei ali no centro da mesa a caixinha contendo seu colar. Queria ver a reação dela.
Ao abrir a caixinha ela fez um olhar de surpresa, mas feliz que havia enfim achado seu colar valioso.
- Como achou?
-Parece que você perdeu na cama de outro e não se lembrava. Fui rude e frio com aquela observação.
Ela me disse que estava louco, mais um monte de tentativa de justificação, eu já não ouvia muito bem, minha mente fervia, falei um monte de ofensas e levei uma bofetada no rosto. Ardia, mas nada doía mais que meu coração partido.
Continuei a desabafar toda a dor que sentia, e sabia que estava gritando já, ela parou, e toda a tentativa de se justificar cessou, congelou e só recebia impassível as minhas ofensas, observei que algumas lágrimas caiam, mas ela estava congelada, me irritei levantei da cadeira e dei um soco na mesa. Isso causou um susto grande em Alice, que deu um passo para trás se encolhendo, mas ela se desequilibrou após escorregar em um brinquedo do Moose, caiu com o braço tentando absorver o impacto e bateu a cabeça na queda. Eu até tentei segurá-la, mas não consegui Ângelo que provavelmente ouviu os gritos veio rapidamente ver o que havia acontecido seguido de John.
-O que você fez?
-Nada. Não toquei nela, estávamos discutindo sim, e ela escorregou no brinquedo do Moose e caiu, tentei segurá-la, mas não deu tempo. Alice meu amor, por favor, me responda. John já estava chamando o 911. Ela estava respirando e gemendo de leve, parecia com dor, o braço dela tinha um calombo visivelmente quebrado e muito sangue saindo do supercílio. Eu entrei em pânico com a possibilidade de perdê-la. Certamente a perdoaria de qualquer coisa, desde que aquilo não fosse grave, meu Deus.
-Estão demorando muito.
-Acalme-se Adam, já estão a caminho. Alice só desmaiou.
-Tem muito sangue aqui. Os paramédicos chegaram, John achou melhor eu me afastar e sair do escritório para não haver manchetes em sites de fofocas no dia seguinte para o nosso bem, tanto meu quanto de Alice. O que ele tinha razão ela odiava escândalos. Sai e fiquei dentro da sala ao lado do escritório aflito. Ia acompanhá-la ao hospital, mas Ângelo não me permitiu.
-É melhor você ficar aqui, não foi um bom momento entre vocês dois e Noah quando souber não vai ficar mais tão amigável com você. Isso pode causar certo desentendimento no hospital, e ele é o parente dela, ele terá direito de ficar com ela não você. Deixe tudo se acalmar Adam, certamente vocês poderão se acertar em breve.
-Certo, certo, você tem razão, mas, por favor, me mantenha informado. E com um aceno afirmativo Ângelo entrou na ambulância com ela. Ele já havia informado ao Noah que estavam indo ao hospital após um acidente.
Eu estava completamente tonto, desesperado, ansioso e me sentindo um merda por ter assustado alguém que amo não sendo capaz de realizar uma conversa civilizada. Meus sentimentos estavam confusos, minha mente em frangalhos, subi ao quarto que ela ocupava e chorei muito. Fui ao meu quarto e quebrei tudo, coloquei todo meu ódio quebrando tudo e só parei quando não tinha mais força e nada inteiro dentro daquele lugar.
Estava ansioso por noticias e sozinho, já que John saiu para sondar se alguém havia fotografado ou filmado algo.
Meu celular tocou e era o Ângelo com notícias.
-Oi como ela está?
-Na medida do possível ela está ótima, está consciente, levou 7 pontos no supercilio e quebrou o braço, mas nada com gravidade, só fará outros exames que não sei bem quais e está esperando o cardiologista dela. Fique calmo, ela está bem e está com o Noah.
-Obrigado Ângelo.
Fiquei um pouco mais aliviado, ela está bem isso é ótimo.
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Eu estava em choque. De infértil para grávida de gêmeos era um salto estratosférico.
Noah me olhava com espanto, ele sabia o quanto aquilo era um milagre.
Na nossa cultura judaica ter gêmeos era uma dádiva absoluta. No judaísmo, gêmeos são a união perfeita entre o céu e a Terra. Nossos patriarcas e matriarcas eram gêmeos, Esaú e Jacó, Lia e Raquel e os filhos das 12 tribos, cremos que D’us e Israel são gêmeos e unidos. Na Cabala, a constelação de gêmeos é citada e inclusive a Torá nos foi dada no mês dessa constelação. Em nossas lendas dizem que na destruição do templo sagrado de Salomão a constelação de gêmeos se partiu se dividindo em duas. Fui tirada do meu devaneio.
-Seus bebês estão ótimos. Pude ver em seu histórico médico que realizou um transplante recentemente, creio que irá precisar adequar seus imunossupressores. Seu cardiologista foi acionado.
-Obrigada doutor.
Ele saiu deixando Noah e eu sozinhos, como estávamos na Emergência estávamos em um box de observação com portas de vidro nos dando uma certa privacidade, não era um quarto, mas era o suficiente
-Minha amada, agora me conte tudo o que aconteceu afinal você saiu do seu apartamento, feliz e inteira e agora está triste e toda quebrada.
-Prometa que irá me ouvir até o final?
-Sim.
Contei todo o evento de fatos ocorridos na casa do Adam.
-Eu vou matar aquele astrozinho de merda. Quem ele pensa que é...
-Noah, não. Prometa-me que não fará nada com o Adam, conheço bem seu poder em destruir seus desafetos, mas não quero que se meta nisso. Prometa-me.
-Alice, mas ele não podia te tratar dessa forma.
-Sim, mas a prerrogativa da vendeta é minha e não sua. E outra coisa, não quero chamar atenção para essa gravidez. Não quero que ele saiba ainda. Preciso de um tempo para ele não associar que estou grávida dele, peço que não conte a ninguém e não faça absolutamente nada.
-Não é uma coisa que consiga se esconder por muito tempo Alice.
-Não precisa ser para sempre, só um tempo de separação para ele ter a dúvida razoável que é de outro e não dele.
-Como quiser Neshumele. Meu avô me chamava de Neshumele como um tratamento carinhoso, significa pequena centelha divina, nesse momento senti uma lágrima se formando, saudades. Agora tenho duas centelhas divinas em mim e isso será maior que qualquer coisa nessa vida.
Meu cardiologista entrou no espaço em que estávamos já com cara de espanto e preparado para uma bronca gigantesca.
-Boa noite
-Olá doutor, tudo bem?
-Não sei Alice, vamos descobrir agora certo?
-Ai não briga comigo, aconteceu não tomei cuidado e agora?
-Sempre te orientei que você não poderia engravidar antes do quinto ano pós-transplante?
-Sim
-Você também tem consciência que essa gravidez coloca sua vida em risco, em uma gravidez a sobrecarga do coração aumenta em 44% do fluxo sanguíneo e estou falando de uma gravidez de um único bebê, gêmeos fará seu organismo se esgotar e os bebês podem nascer com baixo peso por conta dos imunossupressores. Sem falar em aumento da pressão arterial aumento o risco de eclampsia às chances de você morrer são altas. Você quer prosseguir com essa gravidez?
-Sim é tudo que mais quero.
-Ok, então nos veremos a cada 15 dias, o pré- natal das mulheres é 1x por mês o seu será 2x no mínimo. Terei que adequar seus imunossupressores um dos que você toma é teratogênico. Você tinha um ponto focal de rejeição na biopsia do coração, vamos monitorar isso de forma mais intensa. Resumindo Alice, essa gravidez fará você viver no hospital nos próximos meses. Você é o pai? Apontou para o Noah.
-Não, sou o primo dela.
-Ótimo, você é muito alto, seriam bebês gigantes o que dificultaria a manutenção da gravidez.
Merda, o Adam é mais alto que o Noah, mas não vou focar nisso agora, vou viver um dia de cada vez e cumprir todas as determinações.
-É isso Alice, vamos readequar tudo, também será uma condição nova para toda a equipe, nunca tivemos uma grávida pós-transplante.
Com medicamentos ajustados, fiz um ecocardiograma, eletrocardiograma e fui liberada de alta, para retornar na semana seguinte para acompanhamento obstétrico e cardiológico.
Em casa, mais relaxada e com muitas informações para digerir fui para meu quarto descansar, peguei meu celular e haviam muitas ligações não atendidas do Adam, muitas mensagens, mas não li nada, ignorei, não conseguiria lidar com isso agora. Tomei um bom banho para tirar o sangue que ainda tinha nos meus cabelos e fui dormir o sono dos justos.
Acordei com Noah, me trazendo café da manhã.
-Vamos acordar e comer algo, agora você come por 3.
-Ai meus céus, agora tenho que aguentar você me paparicando.
-Sempre Alice, sempre.
Entre mimos e cuidados do Noah para comigo, passaram-se 3 semanas desde que descobri minha gravidez, agora estável com medicação ajustada e pré-natal em dia poderia lidar com as questões com o Adam. Ele respeitou meu silêncio, tudo bem que parte dessas semanas ele teve que realizar compromissos profissionais fora do país, mas estava decidia pelo menos ouvi-lo, mas não pessoalmente, minha barriga tinha aparecido de forma considerável, já estava na décima terceira semana o enjoo matinal já havia diminuído, mas o sono era incontrolável. Sentia sono o tempo todo e uma leve dor de dente me pegou bebês roubando o cálcio do meu corpo, agora era ir ao dentista.
A terapia do Tom já estava sendo transferida para Carol de qualquer forma, eles se adaptaram muito bem um ao outro, como foi um processo ele teve tempo de absorver a mudança, mas nos víamos por facetime todo o tempo. O recesso de fim de ano no colégio e na universidade já estava quase se encerrando e em alguns dias voltaria para sala de aula.
Eu e o Adam marcamos de nos falar pessoalmente e quem sabe nos acertaríamos, talvez fosse uma possibilidade. Ponderei todos os fatores e com nossas conversas por facetime conclui que seria salutar nossa conversa sobre tudo.
Eu precisava de uma rede de apoio então marquei essa conversa na casa da Emma já era sábado e os domingos na casa dela são calmos e facilitará a conversa. E tinha uma consulta nesse sábado a tarde. Me arrumei, quase nada estava me servindo, havia comprado calças novas maiores e ficaram ótimas, estava me sentindo incrível, meu cabelo estava lindo, minha pele incrível, meus peitos estavam um pouquinho maiores, e me sentia disposta para começar a comprar algumas coisinhas para meus bebês hoje e faria minha primeira reunião com arquiteta para projetar o quarto dos bebês. Nada me segura hoje, o dia será incrível estou sentindo.
Sai para ir a minha consulta, mas antes tomaria um suco na Emma, já que café não seria possível estava proibida de tomá-lo. Comecei a perceber que estava sendo seguida por duas pessoas, mas achei que fosse impressão, mas mesmo assim comecei a andar um pouco mais rápido. Quando cheguei ao café da Emma essas duas pessoas também entraram e se sentaram com mais duas que não paravam de me olhar, já estava sem jeito, e fui para uma mesa mais escondida. Os quatro vieram a minha mesa e começaram a fazer perguntas e a tirar fotos e a falar de fotos sem roupa. Eles com certeza estavam enganados, nunca tirei fotos sem roupa, nunca tirei fotos intimas com o Dermot. Eu não poderia estar mais errada pensando que se tratava da minha relação, construída pela mídia claro, com o Dermot, até ouvir na mesma frase fotos intima e Adam Driver.
Minha cabeça começou a doer, senti como se meu coração batesse na minha cabeça, parecia que ia vomitar, comecei a suar frio, e começaram a tirar fotos, me levantei para me esconder na cozinha e viram minha barriga.
-De quem é esse bebê do Adam Driver ou do Dermot Kennedy?
-Você está namorando quem?
-Você é acompanhante de luxo?
-A universidade de Nova Iorque sabe do seu trabalho extra?
Meu Deus, do que eles estão falando? Fotos íntimas? Não me lembro de ter tirado fotos íntimas. Foi quando caiu à ficha das fotos nos Hamptons eu me deixei fotografar pelo Adam, meu Deus.
Que canalha! Revenge porn, sério que ele seria tão baixo em expor essas fotos, quando achei que poderíamos fazer as pazes ele me expõe dessa maneira?
Tudo não passava de uma vingança para me expor e me ridicularizar. Meus céus a universidade!
Emma foi ao meu socorro e fui para o escritório do café e fiquei lá por um tempo para me acalmar. Precisava entender que tipo de foto estava na rede.
Dei uma busca no google e não foi difícil de achar quando se busca por Adam Driver. Eram piores do que eu pensava. Havia fotos de lingerie e fotos somente de calcinha abraçada ao Adam e algumas dormindo sem roupa. Eu estava ferrada.
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