Paixão cruel desenfreada.
Te trago mil rosas roubadas.
Para desculpar minhas mentiras,
Minhas mancadas.Cazuza
Esse inferno de homem aparece do nada na minha vida novamente. Como pode o destino ser tão cruel e metódico em me encurralar. Foram anos me mantendo longe, e principalmente mantendo minhas filhas longe dele, do nada ele aparece na minha casa, no meu local de trabalho e onde minhas meninas vivem, mas que desgraça.
Noah longe por alguns dias, Zara doente e essa maldita produção que seguirá nosso trabalho e família por um mês inteiro. Nesse momento não tenho cabeça para montar um esquema de distância dele, Zara está doente, com febre e estou dedicada aos cuidados com ela, além de continuar trabalhando.
Logo no segundo dia Adam invade meu espaço na estufa de flores, querendo um momento para conversar, consegui adiar, mas sei que em algum momento será inadiável, não vou conseguir me afastar ou esconder as meninas para sempre. Pela primeira vez na vida não sabia o que fazer, além de me afastar.
Os dias passaram rápido, muito trabalho e Zara com febre, sem aulas de férias claro que minha Olivia tinha todo o direito e liberdade de brincar pela embaixada. Sei que ela sempre brincava e conversava com o Filippe, mas certa manhã ela estava mais animada e feliz, me disse que fez um novo amigo, mas não me falou muito mais sobre, achei que seria mais um dos funcionários da embaixada que eram muito amorosos com as meninas.
Olivia e Zara sempre tomavam café da manhã comigo, era nosso momento, quase sempre gostavam de se sentar no chão e fazer uma espécie de pique nique. E eu amava demais esses momento, mas com Zara com a garganta inflamada tomamos café no quarto.
Zara melhor, ambas tinham permissão para brincar nos jardins, Olivia não desgrudava do skate e Zara de seu Lego e ursinho. Vi de longe que elas conversavam com Filippe, então fiquei despreocupada e continuei a vídeo conferencia que estava envolvida.
Elas estavam animadas, cochichavam pelos cantos, provavelmente aprontando algo. Eu já havia orientado a não irem atrapalhar a sala de reuniões onde nossos visitantes estavam trabalhando em um filme, geralmente elas são obedientes, mas estava com uma pulga atrás da orelha e desconfiada que estivessem aprontando algo.
Claro que negaram até o fim quando perguntei, mas não queria brigar com minhas meninas naquele momento, seguimos para tomar café da manhã e escolher a roupa que queriam usar no concerto de logo mais à noite.
Zara como sempre escolheu primeiro o laço de cabelo e depois um vestido que lembrava uma bailarina, todo delicado e rosa. Olivia sempre escolhia algo moderno que ficava entre o infantil delicado e street.
Essa noite tudo teria que ser perfeito. A cauda é mais que nobre e esse dinheiro ajudará muitas mulheres e crianças.
Noah estava em casa, sua agenda estava sem muitos compromissos, já havia retornado de sua viagem diplomática, e estava pronto para ir conversar pela primeira vez com a equipe de produção. Ele seria acompanhado pelo ator principal nesse mês todo, e por uma ironia do destino era o Adam, eu não falei com o Noah sobre a presença do Adam em nossas vidas novamente.
-Vamos visitar a equipe de produção, eu ainda não os vi.
-Claro, vamos sim, mas creio que terá uma surpresa. E já estávamos descendo da ala privada, para a ala de serviços da embaixada, mas especificamente para a sala reservada para a produção do filme do Sr Jean.
Sempre que entravamos em algum lugar quando estávamos juntos Noah e eu, as pessoas nos olhavam com certa admiração ou surpresa. É engraçado como elas se ajeitam e arrumam a postura em nossa presença, o que é irônico já que nem eu nem o Noah nos incomodamos ou damos importância para pose dos outros em relação a nós. Não éramos da realeza, éramos relativamente jovens e estávamos ligados a trabalhos humanitários, afastar as pessoas da nossa presença nunca é nosso objetivo.
O furor que Noah causava por onde passava era notório, meu primo era um homem lindo, sempre cheiroso, e amável com quase todos. Ao entrarmos na sala às mulheres arregalaram os olhos e se agitaram o Sr Jean sempre me olhava com intensidade e parecia certa admiração, mas aquele olhar me incomodava franceses tem certo olhar intimidador.
E como previ, Noah se surpreendeu ao ver Adam Driver na sala. Ele me olhou com repreensão por não tê-lo avisado, eu conheço bem aquele olhar. Falou com Adam com um pouco de desprezo e saiu da sala me dando um olhar de “saia dessa sala comigo AGORA”
-Sério mesmo que você não me contou que Adam está naquela sala todos os dias, próximo o suficiente das meninas e de você!
-Noah se acalme.
-Me acalmar! Jura mesmo Alice, fizemos o impossível para esse homem não se aproximar das meninas e de você e fazer vocês sofrerem. Eu não quero te ver destruída novamente. Não suporto a ideia de ver você sofrendo como um cão novamente. E as meninas, se ele se atrever a se aproximar e fazê-las sofrer com aproximação e depois abandono eu não vou responder por mim.
-Calma Noah, não tem como ele se aproximar dela aqui na embaixada.
-Não estou tão certo disso. Olivia sempre consegue escapar e você sabe bem disso.
-Não acredito que eles possam se aproximar, novamente peço calma. Vamos nos focar no concerto de hoje à noite. Precisamos estar fortes e calmos, um evento beneficente conta com a nossa fortaleza e com nossa imagem de família. Não somos hipócritas e nem vamos começar a ser, mas calma e harmonia sempre tivemos mesmo nos momentos mais difíceis.
-Você tem razão.
-Só se prepare todos da produção inclusive Adam estará no concerto. Às meninas ficarão distante eu prometo.
Noah ficou agitado com a ideia do Adam acompanhá-lo por esse mês, ele não sabia se poderia se segurar sem falar algumas verdades na cara dele.
A noite caiu, o momento do evento chegou. Estávamos todos prontos, lindos e cheirosos, fomos em direção a Ópera da Bastilha. Orquestra pronta, faltavam 10 minutos e o primeiro sinal foi dado para tomarmos nossos assentos.
Claro que não queríamos causar agitação de fotógrafos e convidados, fomos os últimos a entrar o camarote, focados em admirar a orquestra, as meninas orientadas a se manterem com gestos simples e quietas o máximo possível.
E como sempre elas se comportaram como umas princesas, minhas princesas. Eu olhei para o camarote ao lado no momento da saída do camarote em direção ao salão anexo onde ocorreria o jantar e meus olhos cruzaram com o de um rapaz, lindo, bem vestido com um tipo de smoking moderno e vi naqueles olhos que conhecia bem a lembrança de um menino que amei e amo muito, mas que o destino nos afastou por um tempo.
-Alice?
-Tom? Ao olhar o todo vi Adam nos encarar e todos ao redor fazer o mesmo. Thomas estava ali na minha frente, um homem feito de mãos dadas ao uma menina linda e delicada.
Ele veio até mim par um abraço apertado e cheio de emoção pelas lembranças do nosso passado.
-Que saudades de você meu menino.
-Você me deixou.
-Nunca te deixei você sempre esteve aqui no meu coração.
Tom me abraçou forte, uma lagrima saiu de seus olhos e alguns repórteres começaram a perceber e se agitar.
Fomos para uma sala anexa e privada, onde pudemos conversar e pude ser apresentada para sua namorada, Melissa ou simplesmente Mel, como ela me disse.
Thomas percebeu as meninas curiosas, se aproximando.
-São minhas irmãs.
Juro que não sabia o que responder, não poderia confirmar aquilo com Adam ali, mas também não queira negar e confundí-lo.
-São Zara e Olivia, você as conheceu quando elas eram bebês.
Elas logo se aproximaram e sem explicação lógica já estavam mais grudados do que nunca, eram 3 pessoas inseparáveis, na verdade quatro porque Zara e Olivia já estavam grudadas na Mel da mesma forma. Era maravilhoso ver isso, mas preocupante da mesma forma, Adam não era burro e já estava mais que ciente da existência delas.
No meio de tudo isso vi Amy, tentando de todas as maneiras se aproximar de mim, mas os agentes foram orientados a não permitir, não estava preparada para perdoar ainda, o que ela e April me disseram em um momento que estava muito fragilizada, com a perda do meu pai e uma gravidez solo apesar de desejada não foi fácil de carregar, foi quase uma ameaça, e eu estava disposta a cumprir a risca a ordem de “não se aproxima mais da minha família, principalmente do meu irmão”
Deixei Tom, Mel, Zara e Olivia se relacionando e sentaram juntos para jantar, enquanto eu e o Noah íamos fazer um discurso de agradecimento aos convidados.
Ao retornar a minha mesa, fui recepcionada por uma loira bonita, parecia simpática, estava um pouco exagerada nos decotes e fendas, mas não podia dizer que era feia, era uma linda mulher, simpática, talvez um pouco inconveniente, mas simpática.
Nessa abordagem descobri que se tratava da noiva do Adam, vou confessar que isso me estremeceu um pouco, olhei para ele e parecia incomodado com aquela revelação. Ela se aproximou de Noah que me olhou confuso e me falou em hebraico.
-Quem é essa criatura exagerada e sem postura que não espera um momento para ser apresentada. Respondi em hebraico.
-É a noiva do senhor Driver. Ele olhou para ela de cima abaixo, olhou para o Adam, cochichou no meu ouvido (é impressionante o gosto dele por mulheres vulgares, se lembra da Mandy?) e deu um sorriso irônico.
Me desculpei com a Jodie, precisava me afastar e digerir aquela informação um pouco, precisava jogar uma água no rosto e me recompor. Sai em direção ao toalete.
Na volta fui puxada por uma mão e me assustei achando que poderia ser um atentado das tantas ameaças que recebemos quase que diariamente. Não, não era um terrorista, era ele Adam, me puxando para uma sala anexa ao banheiro.
-Você está maluco?
-Talvez, mas preciso falar com você e será hoje por bem ou por mal.
-Não será, se eu der um grito mínimo que for alguns agentes aparecem aqui prontos para atirar.
-Tudo bem, pode gritar, vamos, grite. Você sabe que não só agentes entrarão, a imprensa que está pronta e enlouquecida por um escândalo também entrará.
-Monstro.
-Sou, sou sim, mas mesmo sendo um monstro não fui eu que afastei aquelas meninas do verdadeiro pai.
-Do que você está falando?
-Não se faça de idiota Alice, sabe muito em que estou falando de Olivia e Zara.
-O que tem minhas filhas.
-Suas filhas! Alice, não faça isso. Você sabe muito bem que é quase impossível você negar que elas são minhas filhas.
-Não são você está em surto psicótico, só pode.
-Alice, eu vou entrar com processo de reconhecimento de paternidade.
-Hahaha fique a vontade, sabe muito bem a essa altura que tanto eu quanto minhas filhas temos imunidade diplomática e NADA nos obriga a cumprir qualquer lei, que não seja crime claro, sem nossa colaboração.
-Vou até o inferno reconhecer essa paternidade.
-Muito bem, fique a vontade, não são suas filhas como dito há alguns anos atrás em uma discussão que tivemos na América. Adam, não perca seu tempo, nem seu dinheiro em um processo que não terá fim, muito menos submeta duas crianças há uma queda de braço sem vencedores.
-Está tentando me convencer a desistir, pode esquecer, já desisti uma vez, não vou desistir dessa vez, quero fazer parte da vida delas. E se você insistir em não colaborar vou fazer uma coisa que odeio, mas sei que tem aversão a exposição a mídia, então vou envolver a imprensa nisso, será sujo, mas farei.
Ouvimos passos e uma aproximação.
-Adam, aqui não é o melhor lugar para discutirmos isso, calma, não faça nada do que possa se arrepender depois.
-Certo, vou te dar um tempo, na verdade quero conversar com você em outro local, sem tanta exposição como esse evento.
-Ok, mas amanhã eu e as meninas iremos para Canes talvez na volta.
-Sem problemas eu também irei, o festival vai começar e tenho filmes estreando por la, podemos nos falar no hotel. E será lá, não quero adiar mais isso.
Agora ouvimos batidas na porta, era Amy atrás do Adam.
-Mantenha sua cadela fiel, longe de mim, por favor.
-Desnecessário isso.
-Pode ser para você, mas não para mim que fui magoada. Sai em direção à porta.
-Alice, oi, gostaria de falar com você.
Olhei para aquela mulher, e ouvi aquela voz que da última vez que atravessou meus ouvidos foram timbres de ofensas e calúnias. Olhei de soslaio e a desprezei como nunca tinha feito com outro ser humano.
Fiquei o evento inteiro me sentindo mal por ter destratado a Amy, não se faz isso com outro ser humano, minha consciência estava me matando.
No jantar observei que Adam estava bebendo um pouco mais que de costume em eventos públicos, mas não convivo com ele há 8 anos, então o que conheço dessa homem? Nada. Sua noiva estava deslumbrada com o jantar e agora com a pista de dança com casais famosos e poderosos ela estava quase tendo uma sincope.
-Adam, vamos dançar?
-Não.
-Ah! Amor, vamos.
-Ele a olhou com um não estampado no rosto.
Noah, por pura diversão a convidou para o meio da pista de dança para dançar Frank Sinatra que estava tocando no momento.
Adam, ficou irritado nesse momento, não por sua noiva pelo jeito pouco lhe importava, mas porque sabia que o Noah estava se divertindo as suas custas. Ele estava um tanto alto, não pensou duas vezes, se levantou, agarrou meu braço e me arrastou para o meio da pista. Não poderia protestar, nem me desencilhar sem fazer um escândalo e chamar a atenção dos fotógrafos.
-Você está tentado provocar um escândalo?
-Não, só estou tirando uma mulher bonita para dançar.
-Então deveria ter tirado sua noiva que está linda essa noite.
-Para com isso, você sabe tanto quanto eu que ela é exagerada e no momento está se divertindo muito mais nas mãos do seu primo poderoso.
Não pude negar realmente ela estava com um sorriso de orelha a orelha.
-Você está belíssima hoje Alice.
-Pare.
-Sorria, os fotógrafos estão frenéticos. Você sabe que é a mulher mais bonita nesse jantar.
-Pare agora.
-Relaxa Alice, dance comigo de forma mais relaxada, eu sei muito bem que sabe dançar como ninguém.
-Você é um cretino.
-E você continua a usar esse perfume.
-E dai?
-E dai esse seu cheiro e esse perfume me deixam louco.
-Pare com isso agora.
-E se eu te beijar agora, será que esses fotógrafos vão à loucura?
-Não se atreva, eu juro que te dou um soco no meio dessa sua cara de pau.
-Hahaha, sei que é capaz, ouvi maravilhas sobre seu condicionamento físico e sua capacidade de lutar.
-Será que podemos continuar dançando de boca fechada.
-Eu posso calar minha boca te beijando. A música acabou, agradeci e sai daquela pista deixando Adam para trás. Fui até o toalete me recompor. Mas que diabos de homem infernal, não posso negar que sentir suas mãos na minha cintura fez algo dentro de mim estremecer, sentir seu cheiro mexeu com minha cabeça, ouvir sua voz próximo aos meus ouvidos me fez sentir um arrepio, eu precisava de água fria no rosto para me acalmar. Fiquei alguns minutos naquele toalete tentando colocar um pouco de juioz nos meus próprios pensamentos.
Ao sair estava decidida a pegar minhas filhas e ir embora. Novamente sem nenhuma criatividade fui puxada para um armário de vassouras apertado com uma luz fraca. Senti uma mão enorme segurando minha cintura e me empurrando contra a parede e me espremendo em um beijo quente.
Conhecia muito bem aqueles lábios, aquele perfume àquelas mãos bobas se atrevendo a descer da minha cintura para minha bunda e então ouvi.
-Eu nunca te esqueci, Alice.
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