Aquela senhora me levou para uma sala enorme e me fez sentar em uma das várias cadeiras ali. Era uma biblioteca a meu ver, porque havia vários livros, era muito bem decorada com quadros enormes, um lustre bem no centro além de vários sofás espalhados por todo o espaço, incrivelmente maravilhoso. Me entregou uma xícara de chá muito bem decorada com flores em tons de dourado e depois me apontou a bandeja com guloseimas que pareciam deliciosas.
-Criança se sirva você deve estar com fome.
Olhei para ela e depois para a bandeja, meu estômago reclamou então eu cedi a minha vontade de experimentar. Ela ficou me olhando, analisando cada gesto e movimento que eu fazia e aquilo me deixou envergonhada, nunca ninguém reparou em mim, principalmente fazendo coisas simples e bobas.
-Está delicioso. – Eu afirmei pegando outro, estava com tanta fome que comeria um boi facilmente.
-Eu também gosto, são os preferidos do meu neto.
Que interessante ela tinha um neto. Será que ele ainda era criança? Eu adoro crianças.
-Você pode me contar um pouco sobre você, a sua vida?
A senhora me parecia ser de confiança afinal havia me tratado bem deste o segundo que entrei em sua casa. Faria o que Mei me ensinou conquistaria a confiança de quem quer que fosse e talvez eu pudesse usar isso ao meu favor. Enfim decidi contar
-Nasci em Londres, fui abandonada por meus pais ainda bebê na porta de um bordel. A minha nova mãe Tsunade cuidou de mim, me educou e nunca me deixou ir no andar de cima, fui criada na cozinha e em um quartinho. Bordel pra mim era apenas uma casa de festa. Eu nunca fui uma prostituta. Um dia eu estava na rua e fui sequestrada, eu até hoje nem sei o motivo que levou aquele homem a fazer isso. Me levaram para Paris em um baú grande. Eu fui abusada por ele por várias noites, até não aguentar mais e ficar doente.
Eu não consegui terminar de contar. As lágrimas caiam sem piedade me fazendo ter soluços.
-Calma criança tudo ficará bem agora. Zabuza aquele miserável de uma figa. Eu não sabia da sua historia na verdade ele entrou em contato comigo me dizendo que tinha encontrado a mulher ideal pra ser minha governanta. Como eu viajo muito sempre preciso deixa alguém de confiança na casa e estava procurando há dias. Ele disse que você tinha uns 40 anos e estava muito doente, mas que eu não me arrependeria de gastar com sua vinda pra cá. Fui enganada, você é apenas uma criança.
-Se você o conhece então você é má como ele.
Eu consegui dizer entre um soluço e outro, estava me sentimento totalmente encurralada.
-Oh querida não pense isso de mim. Eu conheço a família dele á anos. Ele sempre foi um homem bom, parece que isso mudou. Confie em mim eu não te machucarei.
-Eu preciso voltar pra casa, se você é boa me ajuda.
O olhar dela ficou triste. Ele se aproximou sua cadeira da minha e segurou uma das minhas mãos. Era um toque quente e agradável. Ela me parecia mesmo confiável, uma senhora indefesa não podia fazer mal a alguém como eu. Ou podia?
-Eu gostaria muito de ajudar, mas não posso te mandar pra Londres, não agora. Os soldados nazistas estão por todos os lados, você seria capturada e morta.
A minha esperança foi pra água a baixo, mas eu parei e pensei. Ela estava mesmo disposta a me ajudar eu consegui perceber no seu olhar. Eu poderia ajudá-la e então quando tudo estivesse mais calmo eu partia rumo a Londres.
-A senhora precisa de uma empregada ainda?
Enxuguei as lágrimas e dei um sorriso singelo pra ela. Eu preciso pensar e usar o que eu tinha ao meu dispor.
-Eu posso ajudar a senhora. Creio que a senhora deve ter gastado muito comigo, eu fico aqui e ajudo com o que puder, quando as coisas se acalmarem sobre a guerra a senhora me deixa partir?
Eu pensei que ela falaria um não e me jogaria na sarjeta afinal eu era uma menina que não fazia ideia de como é ser uma empregada.
-Concordo deste que você deixe que eu pague pelos seus serviços. Nos primeiros meses você fica sem receber, mora aqui comigo e depois que eu ver que eu recuperei o dinheiro gasto com você eu começo a te pagar e você economiza o quanto puder e sim eu deixo você ir quando as noticias forem melhores sobre a guerra.
A minha felicidade foi ao extremo, eu queria pular cantar e gritar, mas apenas me joguei nos braços daquela senhora chorando muito. Eu estava a alguns passos da liberdade.
...
Eu estava feliz de poder ajudar, aquela senhora pagou para que cuidassem de mim, mesmo eu saindo da minha cidade e estando em um país totalmente desconhecido ela havia me salvado e graças aos céus eu estava em um lugar bom.
O nome dela era Chiyo eu precisava me acostumar. Ela me levou para um lugar no fundo da casa, era um pequeno quarto com cama e uma cômoda, além de um espaço onde era o banheiro. Era quente e agradável.
-Tem água quente e a caldeira da casa esquenta tudo ao seu redor. Você ficara bem. Vou sair mais tarde e ver se consigo alguma roupa pra você, presumo que você tenha poucas.
-Eles me deram só aquelas que eu trouxe na sacola.
-Entendo. Amanhã eu te falo tudo que você vai precisar fazer hoje você descansa tudo bem?
-Como a senhora quiser.
...
Espanha, 1 Setembro 1939
Eu já estava naquele lugar á algum tempo. Eu limpava toda a casa, o jardim, ajudava com a comida e estava sempre ajudando a senhora Chiyo, ela era uma senhora muito boa que sempre sentava comigo e conversava. Eu me sentia protegida com ela.
Hoje era o dia de ir as compras e eu estava com ela. As ruas estavam cheias e o barulho era ensurdecedor. Muitos homens conversavam ao mesmo tempo fazendo tudo ali parecer um verdadeiro caos.
-Isso não é normal, não em uma sexta ás quatro da tarde.
Chiyo falou para mim e eu fiquei meio perdida, não sabia o que falar para mim as ruas de Flee Stret eram sempre bem movimentadas. Uma senhora estava passando perto de nós e a senhora Chiyo á parou.
-Yuki o que está acontecendo? Tem muitos homens aqui.
-Foram se alistar caso precisem. Mas duvido que a Espanha entre nessa guerra.
Aquilo parecia uma loucura, insano pra mim. Uma guerra?
-Os boatos aumentaram?
-Quem dera fosse apenas boato. Hitler invadiu a Polônia e ninguém fala sobre outra coisa.
Meu corpo todo se arrepiou. Então o que antes eram apenas cogitações tinha mesmo se tornado real, era assustador.
-Todos? -Eu falei apontando para os homens ali e as duas senhoras me olharam sem dar muita importância.
Havia muitos jovens ali, talvez 16, 17 anos. Estavam eufóricos e eu via seus olhos brilharem.
-Nessa época de guerra todos querem ajudar e isso é bom. Os hospitais vão ficar lotados, creio que vão mandar corpos para todos os países.
Aquela conversa me deixava nauseada. Aqueles rapazes ainda eram crianças, alguns com a minha idade e pra mim a vida militar era para profissionais experientes e não para crianças. Meu coração ficou apertado com a possibilidade de Naruto se aventurar nessa historia.
-A ideia de uma guerra é perturbadora.
Enquanto as senhoras conversavam vários pensamentos vieram na minha cabeça, algo me dizia que muitos ali não voltariam mais.
-Que Deus coloque juízo na cabeça deles e do meu amigo Naruto. -Apenas falei olhando os olhos comemorarem um horror daquele.
Naruto
O treinamento estava sendo duro e eu me sentia exausto. Com o início da guerra a qualquer momento teríamos que entrar em confronto real e de certa forma algo dentro de mim me apavorava. Na choupana que eu ficava havia mais outros 21 homens, o lugar era pequeno, sujo e fedia muito. A comida era horrível e o treinamento pesado. Eu havia feito amizade com um rapaz chamado Gaara, ele era ruivo e eu comecei a chamá-lo de ferrugem, era o único ali dentro que eu conversava, os outros homens sempre ficavam nas suas camas e nunca esboçavam vontade de conversar ou fazer amizade. Um dia até ouvi que campo de treinamento militar não era parque para fazer amizades, mas eu creio que devemos formar alianças pois um dia essas serão bem-vindas em caso de algum perigo, e era isso que eu tentava fazer.
Tinha sido o dia do treinamento com fuzil e eu não me sai muito bem, na verdade fui chamado de imprestável por alguns soldados já experientes. Errei muito o alvo o que me custou várias flexões até eu sentir que meus braços já não aguentavam mais, então me faziam tomar banho em um lago de água extremamente sujo. Era tenebroso, mas eu precisava se forte. Alguns dos homens não aguentavam o treinamento e caiam pelos cantos quase mortos de exaustão.
O nosso dia era ocupado das 5 da manhã até as 7 da noite ou até mais. Tínhamos que correr com uma mochila muito pesada, fazer inspeções nos equipamentos, rastejar de barriga por dunas de areia molhada, além do treinamento com fuzil que era algo bem pesado e exaustivo. As vezes fazíamos isso tudo debaixo de chuva, e no meio do caminho muitos homens passavam mal com pneumonia. Era uma tortura a cada dia.
Eu me adaptava fácil a essas condições que éramos expostos, mas odeie o cote de cabelo. Eu estava com pouco menos de 2 cm de cabelo na cabeça e fiquei parecendo um rato pelado.
-Você não gostou muito do corte não foi?
Ferrugem interrompeu os meus pensamentos se sentando comigo do lado de fora da choupana.
-Ficou horrível não só o meu como o seu também.
-Eu sei, mas temos que obedecer. Já vão nos mandar pros campos de batalha.
-Muitos de nós não vão voltar isso me deixa aflito.
Eu olhava o céu estrelado, ao longe eu podia ver um clarão provavelmente algo acontecia em algum lugar.
-Vê lá?! - Apontei pro lugar mais claro na noite.
-Algum ataque está acontecendo.
-Daqui alguns dias seremos nós nesse clarão.
Um silêncio terrível se fez entre nós. Eu queria parecer forte e Gaara tentava a mesma coisa apesar de não da muito certo.
-Eu me pego pensando. Se os veteranos saíram da primeira guerra machucados imagina nós que somos um bando de fracote como diz o sargento.
-Seremos devastados.
Gaara disse aquilo o que me deixou mais pensativo. Era provável que nunca mais sentaríamos os dois tendo uma conversa daquele jeito.
Uma sirene alta ecoou por todo o acampamento e sabíamos que era chegada a hora de partir a hora de entrar em combate. Olhei pro Gaara estendendo a mão e apertando.
-Boa sorte amigo
-Boa sorte irmão. Estaremos bem
-Se Deus assim permitir.
Corremos para o campo principal para a formação. Começava ali o maior pesadelo que eu poderia viver.
...
Me colocaram na formação principal. Alguns homens deveriam se juntar ao nosso grupo e marcharíamos até um campo de instrução militar em algum lugar daquele território já desocupado. A marcha estava sendo tortuosa, as estradas eram esburacadas e as botas oferecidas para aquela jornada eram pesadas e desconfortáveis. Já podia sentir as bolhas se formando, mas isso era até bom comparado ao dos outros homens que tinham seus pés em carne viva. A chuva também não estava ajudando muito e era a segunda noite consecutiva que dormíamos no relento apenas sendo cobertos por uma capa de chuva. As roupas ficavam molhadas e com isso o peso também aumentava dificultando a caminhada.
Tínhamos parado para descansar, alguns comiam aquela comida horrível e eu só conseguia imaginar quando é que aquele pesadelo teria fim. Muitos homens tossiam muito e alguns tinham pneumonia, era tenebroso a situação em que nos encontrávamos e isso era só o começo.
O capitão Yamato tinha acabado de gritar que era para fazermos trincheiras largas e fundas. Não havia muito tempo então quando um superior mandava tínhamos que abandonar nosso momento de trégua e por as mãos na massa. Não Havaí como voltar atrás, só se algum ferimento grave acontecesse, mas te mesmo os mortos eram descartados e enterrados onde estávamos. Qualquer lugar tinha virado um cemitério.
Rezar e pedir a Deus era a única solução diante do pesadelo que nós estávamos vivendo. E ainda era só o começo.
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