A prisão real estava inexplicavelmente vazia. Nenhum som era audível por lá, a não ser as rajadas de vento que adentravam pelas janelas, produzindo assobios quando em contato com as grades de ferro, e os estalos provocados pelos beijos trocados entre Hoseok e Taehyung. O calor da tarde abafava o recinto, e Kim já se encontrava sem camisa, não por estar com segundas intenções, ainda, mas porque a quentura era realmente incômoda. Quando sentiram que já estavam ambos à beira de uma desidratação, pararam com o ato, mas não deixaram de permanecer um ao lado do outro. Hoseok, mesmo estando encarcerado, sentia-se seguro nos braços do amado, e sabia que juntos, poderiam enfrentar qualquer tribulação que os assolasse. Encostou sua cabeça no ombro alheio, recebendo um afago gostoso e sutil em seus cabelos de Taehyung, que também lhe deu um beijo no topo da sua cabeça.
- Tae, prometa-me que nunca mais arriscará tua vida desse jeito.
- Mas, Hyung...
- Nada de “mas”. – Interrompeu-o Jung, fingindo estar irritado, apesar de ter ficado realmente preocupado com o que o mais novo havia aprontado. – A estrada não é mais segura como antigamente, ainda mais durante a noite. Há lobos, coiotes, e outros tipos de predadores por lá, e se algo tivesse te acontecido...
Nessa hora, Tae levantou a cabeça do mais velho, segurando em seu queixo, e selou-lhe os lábios mais uma vez naquele dia, percorrendo a bochecha alheia com o seu polegar. Ele jamais se cansaria de fazer tal coisa, e sabia que Hoseok jamais deixaria de apreciar tal ação.
- Mas não aconteceu, meu amor. Estou aqui com você, não estou? Além disso, Channie e Sehun Hyung estavam comigo, eles também são fortes e habilidosos, e eu também não sou mais um adolescente inexperiente, quando estou com meu arco e minha aljava, adoto uma postura completamente diferente. – Falou Tae, orgulhoso de si mesmo, notando que Hoseok também o admirava, e isso era o suficiente para deixar Kim absorto em um mar de felicidade.
- Sabe, eu ainda não me acostumei com esse teu lado guerreiro, para mim, você sempre vai ser meu pequeno.
- Pois trate de se acostumar, viveremos muitas aventuras ainda, e começaremos assim que você for solto deste lugar horrendo.
- Isso se eu sair daqui e não for direto para a forca...- Hoseok ficou cabisbaixo. Agradecia o esforço de Taehyung em trazer Namjoon para cá, mas não sabia se seu irmão teria forças e habilidades necessárias para aplacar a decisão de Jin.
- Ei, ei, ei! – O mais novo deu um peteleco na testa do outro, que exclamou uma interjeição de dor. – E esse pessimismo aí? Pare de pensar bobagens, tenho certeza que Jin vai ouvir tudo o que Namjoon Hyung tem a dizer, ainda mais, Hobi, porque conversas faladas ao pé do ouvido, na cama, sempre geram bons resultados... – Os príncipes riram da malícia na voz do mais novo. Como era bom sorrirem juntos, suas vozes ecoando em uníssono e em perfeita harmonia. O mais velho, não aguentando mais ficar tanto tempo sem o toque dos lábios do mais novo, derrubou-o no chão, ficando por cima dele, que se surpreendeu pela iniciativa repentina do mais velho.
- É por isso que eu amo você, TaeTae. Por debaixo dessa tua carinha inocente e linda, existe um leão sedento por prazer e cheio de luxúria.
- Prazer esse que só você pode me dar, Hobie. – Cansado de joguinhos, Kim puxou Jung pela nuca, mordendo-lhe o lóbulo da orelha esquerda, descendo logo em seguida sua língua para o pescoço alheio, circulando aquele músculo molhado nos pontos mais sensíveis daquela pele macia, e Hoseok, já cedendo aos encantos do mais novo, soltou um gemido baixo e arrastado, movimentando sua cabeça de modo a fazer com que sua boca encontrasse a do amado, que assim que sentiram o toque uma da outra, encaixaram-se apressadamente, com suas línguas brigando pelos espaços e cantos que exploravam dentro de ambos. Mesmo com o corpo ainda coberto por alguns hematomas, Jung deixou a vergonha de lado, e também retirou a camisa de tecido fino que estava usando, dando a Taehyung uma visão plena e abençoada de seu peitoral definido e bem trabalhado. Ao ver tal cena, que o levava à perdição, o mais novo não se conteve, e lambeu os lábios já úmidos pela saliva alheia, tentando esconder de forma falha todo o fulgor das flâmulas ardentes que brotavam em seu interior; Hoseok tinha razão, pensou Kim, ele era mesmo um leão, ávido por saciar seus desejos sexuais, e ele iria beber até sentir-se cheio da fonte de prazer fogoso que emanava de seu hyung. De repente, escutaram um ranger de portas, e uma fechadura ser aberta, e logo se recompuseram, levantando-se e tentando vestir suas camisas. Tae conseguiu, já Hoseok se atrapalhou, e continuou com o tórax descoberto. Ajeitaram os cabelos bem a tempo dos guardas reais chegarem, destrancarem a cela, e com atitudes rudes, puxarem Hoseok pelo braço, que estava atônito com tamanha violência.
- O QUE ESTÁ ACONTECENDO AQUI? – Gritou furioso Taehyung. – O que pensam que estão fazendo?
- Desculpe, príncipe Taehyung, mas estamos apenas cumprindo ordens do rei Seokjin.
- Quê? Expliquem essa história direito, para onde o estão levando? – Enquanto Kim falava, Hoseok tentava se soltar dos braços que lhe arrochavam, sendo em vão todo o seu esforço.
- O rei mandou levar o prisioneiro Jung Hoseok para a forca. – Disse simplista um dos guardas.
Tanto Hoseok quanto Taehyung ficaram em choque, realmente a vinda de Namjoon só tinha sido um gasto de energias desnecessário, pois pelo visto, Jin não mudou de ideia em relação a Hoseok. Os guardas começaram a arrastar o cárcere para fora da prisão, sendo acompanhados por Kim, que ainda não conseguia acreditar que essa tinha sido verdadeiramente uma ordem de seu querido irmão. “Será que o peso da coroa já fez com que seu cérebro diminuísse e perdesse uma parte de seu raciocínio?” Pensava amargurado Tae.
- Por favor, escutem-me, este homem é inocente, soltem-no, ele não tem culpa de nada. – Taehyung tentou argumentar pela última vez, já sentindo os olhos preenchidos por lágrimas.
- Acho que os sentimentos de Vossa Alteza estão o impedindo de enxergar a verdade. Lamento, senhor, mas temos ordens a obedecer. – E saíram em direção ao local derradeiro, com Hoseok ainda olhando desolado, mas conformado com seu destino, para o amado, que não aguentando o sofrimento e a revolta, caiu no chão aos prantos, nunca sentiu tanta dor como esta, nem mesmo quando sua mãe e Mok haviam morrido, afinal aquele não era apenas Hoseok, mas sim metade do corpo e da alma de Taehyung. Continuava tentando encontrar mais uma forma de livrar seu amor da morte iminente, quando percebeu uma mão branca estendida em sua direção, e olhando para cima, notou que Yoongi estava na sua frente, oferecendo-lhe um olhar que transmitia paz. Sem pensar duas vezes, segurou na mão de Min, e abraçou o amigo, chorando profusamente em seu ombro. Yoongi não se importou em o quanto sua roupa se molharia com aquele rio que transbordava de Tae, só queria consolar o mais novo e ajudá-lo a resgatar Hoseok.
- Es...stá doendo t...tanto, Hyung...- Tae falava com muita dificuldade, e Min alisava seus cabelos gentilmente.
- Eu sei, meu querido, eu sei, mas enxugue essas lágrimas e levante a cabeça, afinal você ainda quer livrar Hoseok dessa, não é mesmo?
- Sim, Yoongi, é tudo o que mais quero, por favor, ajude-me a salvar o meu amor. – Implorou Kim, um pouco mais calmo depois das palavras do mais velho.
- É por isso que estou aqui, Tae, eu ainda tenho umas cartas na manga. Mas diga-me, por acaso você não estaria aí com seu arco e suas flechas, não é? – Indagou Min.
- Minhas armas estão no meu quarto, mas podemos passar lá e pegá-las, mas por que, Hyung? – Taehyung estava cada vez mais confuso.
- Então, vamos correndo até lá, temos uma vida para salvar e outra para condenar...
X ----- X
Tambores já rufavam ali por perto. Muitos servos e nobres já se reuniam no local onde a forca se encontrava, no pátio ao lado do castelo. Hoseok andava a passos lentos, não porque queria adiar sua morte, mas porque queria gravar aquele cenário na mente até o último momento. Viu os rostos das pessoas olhando para si; uns aplaudiam a decisão justa do rei Jin, outros rezavam para que ele tivesse uma partida rápida, e outros apenas dirigiam-lhe olhares penosos, como se quisessem passar a ele uma calmaria que ele sabia ser impossível sentir naquele momento. Em pé em uma das extremidades, Jung pôde perceber Kwang ao lado de Jae-Hwa, e uma fúria sem igual percorreu em suas veias: o outro príncipe olhava-o com um ar de satisfação, com um sorriso cínico no rosto, e Hoseok fez uma nota mental para lembrar-se de voltar à Terra como fantasma, só para arrastar a alma podre do outro para as profundezas do inferno. A princesa estava com o rosto impassível, contudo poderia parecer ilusão, mas ele achou que viu uma lágrima grossa cair por uma de suas bochechas, e Hoseok teve pena da pobre princesa, fadada a um casamento infeliz e perigoso com Kwang. Jin estava sentado em um trono improvisado, ao centro da multidão, com rosto e olhar inexpressivos; por mais que ele tenha sido o responsável por sua prisão, Jung não nutria ódio ou rancor pelo mais velho, pelo contrário, admirava sua inteligência, e desejava que ele reinasse por muitos anos com justiça e sabedoria. Poucos minutos depois, Namjoon apareceu ao lado do rei, com os cabelos ainda desgrenhados e as roupas um pouco amassadas, e Hoseok só não riu da aparência do irmão porque o momento não lhe era oportuno. Escutou sua voz ainda rouca e esganiçada dizendo:
- Hyung, o que está fazendo?
- Desculpe, Namjoon, mas foi necessário. – Jin respondeu sem se abalar.
- Como você pôde? Depois de tudo... Você mentiu para mim! – Namjoon, apesar da raiva, derramava lágrimas incessantes.
- Mais uma vez, foi necessário, e isso também: segurem o príncipe Namjoon! – Depois da ordem de Jin, dois brutamontes surgiram do nada e seguraram o Jung mais velho pelos braços, que estava inconformado com as atitudes de seu amado. Hoseok entristeceu-se com o que estava causando ao seu hyung.
“Desista dessa luta, Hyung. Eu mesmo já desisti...”. Como que lendo seus pensamentos, os olhares dos irmãos Jung se encontraram, e o mais novo sorriu minimamente para o mais velho, que tomado por impotência, ajoelhou-se, rendido, e chorou pelo irmão perdido.
Subindo as escadas de onde se encontrava o instrumento que causaria sua passagem para a próxima vida, Hoseok começou a lembrar de seu pai, que sempre quis reencontrar seu amigo Chung-Ho, mas que agora não seria mais possível; sua mãe, tão carinhosa e amorosa consigo, que mesmo ele já sendo um homem feito, toda a noite fazia cafuné em seus cabelos e o colocava para dormir; em sua pequenina irmã, tão pura e preciosa para este mundo cruel, que mesmo tão nova, já entendia de assuntos que nem mesmo alguns adultos eram capazes de compreender; e por último, mas não menos importante, lembrou da razão pela qual ele atravessou os reinos para chegar até Saja, o motivo que o fazia acordar todos os dias, o homem que lhe mostrou o significado de uma vida completa, repleta de alegria.
Taehyung.
Hoseok ficou triste ao perceber que seu amado não estava naquele pátio, mas a sensação de alívio foi maior, e enquanto o carrasco colocava a corda ao redor de seu pescoço, agradeceu por seu menino não estar ali presente, pois ele não queria que a última lembrança de Taehyung sua fosse dele se debatendo na corda, como um peixe fora d’água, lutando por sua vida e buscando resquícios de ar para oxigenar seu corpo. O nó foi apertado mais forte, e Hoseok grunhiu com o incômodo que estava sentindo.
- Quais são suas últimas palavras, moleque? – Mas o príncipe permaneceu mudo, com o olhar petrificado para o horizonte infinito, comovido pela beleza estampada no céu.
“Tae, obrigado por ter sido meu...” E fechou os olhos, abraçando a morte como uma velha amiga.
- Pode puxar. – Sentenciou Jin, e o braço do carrasco foi de encontro à alavanca que puxava o fundo no qual Hoseok estava. Mas como em um passe de mágica, ouviram-se zunidos surdos de duas flechas certeiras, seguidos de um grito agudo de dor, e Hoseok abriu os olhos para entender o que estava acontecendo, indo de encontro ao chão também. Atordoado com a situação, e com o falatório espantado das pessoas, ele olhou para trás e viu a mão do carrasco presa à alavanca por uma das flechas, e percebeu que sua corda tinha sido cortada pela outra flecha, e reconheceu aquele instrumento imediatamente. Virando a cabeça para frente, apenas para confirmar o que já sabia, viu Taehyung correndo ao seu encontro, e subindo apressadamente o palanque de madeira, retirou rapidamente o laço que restava no pescoço do amado, abraçando-o apertado, e só agora Hoseok percebeu que estava com medo e tremendo, e sentindo-se finalmente seguro nos braços de Tae, chorou aliviado e agradecido, afinal seu menino havia realmente cumprido a sua promessa em salvá-lo.
Yoongi estava logo mais atrás, parando no meio do pátio, brandindo suas mãos, que continham diversos papéis, até então desconhecidos.
- PAREM COM A EXECUÇÃO! ESTE HOMEM É INOCENTE DE TUDO O QUE LHE FOI ACUSADO! – Yoongi falou a plenos pulmões, e ele percebeu que Kwang olhava-o amedrontado, fazendo-lhe sinais silenciosos de que não fizesse o que estava prestes a fazer. Ele ignorou os apelos surdos do irmão e continuou:
- Rei Jin, Jung Hoseok não matou vosso pai, e nunca faria mal algum para nenhum membro de sua família.
- E com que audácia você me aparece aqui, atrapalhando o veredito que eu ordenei, hein, Min Yoongi? – Jin estava com o orgulho ferido. – Por acaso tem provas do que está dizendo?
- Na verdade, tenho sim, senhor. – E aproximando-se do rei, entregou-lhe os papéis que estava segurando, e Jin notou que eram cartas, trocadas entre Kwang e seu pai, Kang-Dae. – Essas correspondências, dirigidas de meu pai para meu irmão comprovam que tudo não passou de um plano arquitetado, e envergonho-me profundamente em dizer, por ele, o rei de Nun, para assassinar o falecido rei de Saja, o nobre Chung-Ho. Kwang, aproveitando-se da visita de Hoseok a este reino, usou-o como bode expiatório, para que continuasse, assim, o desentendimento entre as famílias Kim e Jung, e por pouco, eles não foram bem sucedidos. – Yoongi virou para trás, na direção onde Tae estava, piscando-lhe em cumplicidade, recebendo um sorriso solidário do amigo. Voltando-se para frente, viu o rosto perplexo de Jae-Hwa, e por mais que quisesse jogar na cara da princesa que ele esteve certo o tempo todo, apiedou-se da expressão tristonha em seu semblante.
Depois de averiguar as folhas entregues por Yoongi, Jin teve um acesso de ira, e cheio de vergonha pelo erro cometido, mas também extremamente decidido de seus próximos passos, bradou:
- PRENDAM MIN KWANG, AGORA! – E os guardas que antes prendiam Namjoon, soltaram-no e prontamente atenderam à ordem de seu rei, mas o traidor já não se encontrava mais entre eles, e começou a caçada mortal na busca do verdadeiro culpado. A multidão começou a se dispersar, voltando aos seus afazeres; Yoongi caminhou na direção de Tae e Hoseok, ganhando um abraço fraterno de Jung.
- Obrigado, meu amigo! – Foi tudo o que Hoseok conseguiu dizer, estando tão emotivo como estava.
- Não fiz mais que minha obrigação. Jamais me perdoaria se deixasse um inocente morrer no lugar de um assassino. – E despedindo-se de Tae também com um abraço, dirigiu-se para dentro do palácio, seu dever já estava cumprindo.
Felizes e cansados por conta de toda a emoção que tiveram naquele dia, afundaram-se novamente nos braços um do outro, sentindo um calor perpassar de um corpo ao outro. E esperançosos com a nova perspectiva de mais uma chance que a vida estava lhes dando para viverem abertamente seu amor, beijaram-se calmamente, transmitindo a felicidade e o carinho que estavam sentindo, envolvidos por uma nova brisa no ar, a certeza de que a partir de agora, tudo ficaria bem, porque finalmente nada mais poderia os separar.
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