【ONE ��☠️】
Não era uma surpresa para ninguém — principalmente para os Chapéus de Palha — que Zoro e Luffy tinham algo mais íntimo entre eles, um relacionamento às escondidas ou até mesmo uma simples troca de beijos de vez em quando, independente se alguém os estava observando ou não.
E, igualmente, não era uma surpresa para ninguém nos sete mares que o amor desses dois muitas vezes se acentuava na base de discussões e brigas de corpo a corpo, na maior parte do tempo partindo da incógnita de personalidade dos dois: Luffy era agitado demais, enquanto Zoro era uma pessoa que se irritava fácil demais com atitudes como as que o seu capitão investia todo santo dia.
Mas, por incrível que pareça, eles formavam uma boa dupla — e, consequentemente, um ótimo casal, na opinião dos seus parceiros. Além de derrotarem todos os inimigos que ousassem invadir o caminho do futuro Rei dos Piratas por conta da força de milhões que tinham. A troca de beijos que nunca esqueciam de fazer, sempre ao derrotar algum adversário forte, era cômica e animava os nervos do resto da tripulação, geralmente cansada da luta e com as esperanças de um final feliz quase perdidas.
E não era raro essas demonstrações de afeto que compartilhavam. Porém, não eram tão frequentes quanto as discussões pitorescas que esses dois engatavam.
Inclusive, neste mesmo momento, no Going Merry.
Era um dia quente em uma das partes da Grand Line que a tripulação se situava. Buscavam em algum canto daquela enorme planície de água salgada um lugar para se alojarem ou um inimigo para enfrentarem. Nami já havia lhes dito o caminho enquanto Robin se encarregava de guiar o navio para a direção informada pela ruiva, já que poderia usar seu poder do diabo, as inúmeras mãos, como vantagem na pilotagem do Merry.
No meio do calor do navio, o capitão estava sentado no meio da proa junto a Chopper e Usopp, o famoso trio de palhaços, como Sanji gostava de chamar. Não faziam nada de mais; Usopp observava a calmaria do mar, Chopper lia um livro de medicina qualquer e Luffy, como sempre, comia um pedaço médio de carne que havia pego escondido na cozinha, sem o Vinsmoke perceber.
Ele engoliu a última migalha da carne, em seguida, chupou os próprios dedos a fim de limpá-los. Por algum motivo, o gosto da carne fez o capitão se lembrar da última ilha em que estiveram e, mais precisamente, da última luta que ele e seu bando travaram, e, como recompensa por terem salvado a cidade das atrocidades que sofriam há muitos anos, ganharam um estoque enorme de alimentos e tesouros que poderiam ser trocados por qualquer outra mercadoria. Lembrando-se disso, veio à sua mente o momento em que estava lutando e sentiu seu braço se esticar com mais precisão contra as costelas do bárbaro maldito que enfrentara.
Por que não testar mais uma vez? Ele se perguntou, levantando o corpo do chão de madeira junto a um sorriso animado de orelha a orelha no rosto.
— Acho que meu braço consegue esticar mais longe agora! Querem ver?! – exclamou eufórico, atraindo a atenção dos outros dois citados anteriormente junto a si na proa.
— Duvido. — Usopp riu da ideia do capitão, mas estava interessado no que ele tinha a mostrar. — Lança a 'braba.
Dito isso, uma animação ainda maior subiu à cabeça do D. Monkey. Se não estivesse delirando pelo excesso de adrenalina que aquela luta de anteriormente havia lhe proporcionado, decerto seu braço havia ganhado alguma nova agilidade para se esticar.
Sendo assim, Luffy fez seu típico ataque — Gomu Gomu no Pistol —, jogando o braço maleável para trás, no objetivo de pegar impulso, e o deixando ir com a maior força que conseguia reunir para frente, cortando o ar de calmaria salgada do mar à frente deles. Realmente, havia mais precisão no movimento do braço do capitão, mas só ele percebia, pois o executava.
Quem via de fora não percebia a menor diferença. Por isso, Chopper e Usopp se entreolharam, preparando-se para falar alguma coisa que não fizesse a felicidade do capitão ser ferida.
Entretanto, nada tiveram tempo de comentar, pois mais um dos integrantes do bando entrou na cena, subindo as escadas de madeira enquanto coçava a cabeça e bocejava um pouco. Era Roronoa Zoro.
— O que vocês idiotas estão fazen-
O braço borrachudo de Luffy ricocheteou a cara de Roronoa em um estalo alto, o impedindo de finalizar o questionamento. Seu corpo foi lançado escada abaixo, causando um tremelique estrondoso por todo o navio, atraindo a atenção até mesmo de Robin, tão concentrada em sua tarefa.
Luffy, por sua vez, sequer percebeu que havia acertado alguém, tomado por uma esperança de que os outros presentes tivessem percebido a evolução em seu ataque. Entretanto, ao virar a cabeça, se deparou com Usopp e Chopper o observando de maneira incrédula.
— TU MATOU O ZORO, SEU CABEÇA OCA! — Usopp gritou, apontando para a escada que o espadachim havia caído e, consequentemente, para ele se levantando do chão com uma careta de raiva similar a um capeta emputecido.
— Ih, mané. — O D. Monkey riu com nervosismo, engolindo em seco e coçando a nuca com o peso do olhar mortífero de Zoro em si. — Matei não.
— Eu vou te fatiar em mil pedaços, seu paspalho! — o esverdeado exclamou, sacando uma de suas espadas e começando a correr atrás do capitão com fogo nos olhos e uma parte do rosto vermelha pelo soco que havia levado.
Luffy esticou seus braços e pernas e pulou para o convés, a fim de despistar Roronoa e com um mínimo sorriso animado escondido nos lábios.
— FOI SEM QUERER, ZORO!
De outra parte do navio, enquanto os dois perseguiam um ao outro em uma provocação desenfreada, Robin ria da cena com uma mão no queixo enquanto as outras prestavam a devida atenção no leme, nunca o parando de conduzir. Alguns instantes depois, uma figura ruiva e esbelta se juntou a si, observando também os dois paspalhos correndo atrás do outro junto a ameaças metafóricas.
— Esses dois não têm jeito, né? — Nami diz, sorrindo e balançando negativamente a cabeça.
— Daqui a pouco estão trocando beijos em algum canto do navio — Robin contradiz, já sabendo o final que aquela discussão teria, assim como todas as outras, que já haviam praticamente se tornado rotina. — É estranho, mas é a relação deles.
Alguns minutos nessa briga se passaram até ouvirem um estrondo vindo do convés. As duas viraram as cabeças para o lado, se deparando com Luffy em cima das costas do de cabelos verdes, dizendo algo em seu ouvido. Aparentemente, haviam cansado de correr, ou simplesmente haviam desistido.
Zoro ficou com as bochechas vermelhas, era perceptível até de longe, enquanto o D. Monkey soltava risadas baixas. Robin por um momento se perguntou o que o capitão havia dito para ele se encontrar assim, mas logo sorriu ao ver Luffy roubar um breve beijo dos lábios de Roronoa e sair correndo mais uma vez.
【TWO ��☠️】
Era noite no Going Merry.
Mais uma noite fria e entediante enquanto Luffy e seu bando velejavam pelos sete mares em busca de aventuras fugazes. Não havia nada para fazer no navio além de escutar as ondas do oceano se chocarem umas contra as outras.
Mas o capitão tinha lá suas outras maneiras de fazer o tempo passar mais rápido. A sua favorita envolvia Roronoa Zoro que, neste momento, se encontrava sentado no chão do convés, puxando um ronco pesado, como gostava de dizer. E era óbvio que o D. Monkey não iria deixar o de cabelos verdes ter uma noite de sono assim tão fácil quando o navio não tinha nada melhor para lhe distrair.
Luffy se aproximou dele, não hesitando em sentar em seu colo e começar a pensar em alguma maneira de acordá-lo — já que o simples fato de ter seu corpo em cima do dele não era o suficiente.
Usando o último vestígio de pensamento que ele tinha, começou a cutucar o rosto sereno do espadachim.
— Zoro. Zoro. Zoro — chamava-o, mas sem respostas. A cada chamado era um toque irritante em sua bochecha. — Espadachim Zoro. Ei. Acorda.
Luffy levou um leve susto ao ver um dos olhos de Roronoa se abrirem e, dentro deles, uma chama já muito acesa de uma raiva que apenas direcionava ao capitão, que era diferente das diversas que ele sentia pelas outras pessoas.
— Luffy, eu juro que se você encostar o dedo na minha cara mais uma mísera vez, você é um pirata morto — Zoro diz, prestes a ranger os dentes com seu tom de voz.
O capitão já havia conseguido acordar Zoro. Já havia ganhado o que queria.
Mas ele cutucou mais uma vez o rosto do outro só para provocar. E aquela era possivelmente sua sentença de morte.
Rindo alto do grunhido de raiva que Roronoa exclamou, o mais baixo esticou seus braços para longe e se arremessou para fora do colo do outro, não pensando duas vezes antes de começar a correr pelo navio, a fim não "ser cortado em mil pedaços" pelo espadachim que estava em seu encalço, o xingando de todas as maneiras possíveis.
Atrapalhar o sono de Roronoa Zoro era a mesma coisa que assinar seu próprio atestado de óbito. Já haviam acordado, àquela altura, todos do navio com a barulheira que faziam, mas já estavam acostumados e sabiam onde aquela briguinha boba iria parar, afinal de contas.
Luffy continuava correndo, agora dentro do navio. As tábuas rangiam em resposta ao seus chinelos contra a madeira do assoalho. Se deparou com a porta do seu quarto no meio do corredor e, não precisou pensar duas vezes, antes de se trancar dentro do cômodo, rindo alto ao ouvir as batidas incessantes de Zoro contra a porta.
— Ei, abre a porta, seu covarde de uma figa! — ele gritava. — Só não arrombo isso aqui porque o Usopp já 'tá de marcação comigo destruindo o Going Me-
Antes de poder terminar sua fala, a porta à sua frente se abriu e dela escapou a mão esticada de Luffy, que empurrou o corpo do espadachim para dentro do cômodo consigo e, assim, ecoou pelo corredor o som da porta sendo trancada por dentro e, depois, mais nada. Nenhum outro traço de briga.
Uma pequena rena observava toda essa cena ao fim do corredor, através da fresta da porta do seu quarto.
Por algum motivo que apenas Chopper parecia não compreender, sempre que os dois se trancavam em um quarto, a discussão que outrora estavam tendo, por maior que fosse, sempre acabava se tornando um silêncio incógnito e ensurdecedor. Isso se a rena não ousasse tentar escutar por detrás da porta.
Ainda tinha pequenos traumas e questionamentos quanto à vez em que fizera isso. Por conta dessa experiência, nunca mais tentou.
【THREE ��☠️】
Haviam a muito custo derrotado o inimigo na ilha de Divine Grain; um lugarzinho bem pacato em uma das partes do Sul da Grand Line em forma de grão de café. Parecia não passar de um palhaço louco que mais falava do que realmente fazia alguma coisa, mas há muito tempo vinha sequestrando as crianças da ilha e as assassinando com brinquedos e mágicas, então, bastou os Chapéus de Palha darem uma coça no sujeito para que ele caísse em ruína. Apesar do corpo velho, tinha força e poderes que deixaram Sanji e Usopp um pouco feridos, entretanto, conseguiram derrotar o palhaço que dizia se chamar Laugh em poucos minutos de insistência.
Ou, pelo menos, achavam que o haviam derrotado.
Como um bom palhaço, Laugh tinha uma última carta na manga e a tirou no momento quando percebeu que a única alternativa era fugir desse bando de piratas a fim de não morrer, e uma luz acendeu em sua cabeça.
Estralou os dedos.
O som mortífero ecoou por toda a ilha. Os cidadãos, que há pouco assistiam a derrota do palhaço, arregalaram os olhos e saíram correndo daquela área, como se já soubessem que algo ruim estava por vir, enquanto os membros dos Chapéus de Palha se entreolhavam, confusos, por sua vez.
Mas compartilharam dos mesmos olhos arregalados quando a ilha começou a tremer muito, como se todos os terremotos da Terra tivessem se reunido em um só lugar: ali, em Divine Grain.
Duas crateras se abriram no chão de grama verde que era a ilha. Luffy, Robin, Chopper, Nami, Sanji e até mesmo Usopp tiveram o reflexo perfeito para pularem para fora de onde elas se abriram, sentindo o calor das chamas do fogo abaixo de seus corpos, mesmo que de longe. Os seis saíram ilesos da brincadeira mortífera de Laugh.
Todos do bando, menos um.
Um dos Chapéus de Palha estava destinado a cair na ruína quente da cratera e queimar até a morte. Fazia parte do truque de mágica do palhaço.
Por isso, Zoro se desequilibrou. Por isso, todos os seus instintos, antes tão amplos e rápidos, pareceram ter sumido de uma hora para outra. Por isso, todos os anos treinando duro passaram pelos olhos do espadachim; todos jogados no lixo. Suas espadas foram deixadas de lado em uma parte da grama verdinha.
Esse sentimento de estar perto da morte fazia parte do truque do palhaço, afinal?
— Quero ver o seu amigo escapar vivo! — O palhaço ria alto, correndo para um local seguro. Ninguém mais prestava realmente atenção em suas palavras. — As crateras se fecharão em menos de cinco minutos! Nos vemos por aí!
O restante dos Chapéus de Palha, diante da ruína do parceiro, congelaram. A única coisa que conseguiram fazer foi arregalar os olhos e pender na cratera com a boca aberta na descrença de ver o espadachim ir fogo abaixo para a morte.
Todos menos Luffy, que nunca aceitaria que Zoro morresse bem ali, com tanto a fazerem juntos e separados ainda.
Cinco minutos é tempo mais que suficiente para salvar quem você ama.
Luffy não hesitou em correr na direção onde o esverdeado havia caído e se jogar junto no fogo, não pensou no que poderia acontecer depois, mas apenas focado em fazer o máximo para deixá-lo vivo. Nem que custasse sua própria vida.
Não deixaria ele morrer tão fácil assim.
Escutou os outros membros do seu bando gritarem para si, para ele não fazer isso, que era suicídio. Entretanto, já era tarde demais, e tampouco adiantava gritos ou qualquer sentença de vida ou morte.
Sentiu seu corpo queimar contra as pedras da cratera. Primeiro, apenas uma parte artificial de sua pele, por fora, como se alguém estivesse o beliscando. Seus dedos perderam um pouco os movimentos. O tronco repeliu as chamas. A nuca formigava.
Mas, depois, a queimação subiu para sua cabeça, dominou seus olhos, boca, sentiu o cheiro do fogo mais do que qualquer outra coisa. Porém, não só isso. Sentia raiva de Laugh por achar que os mataria tão fácil assim.
Sentia raiva daquele palhaço por ter tentado tirar seu amado de si. E desesperado por míseros segundos.
Quando se deu conta, seus pés bateram no chão da cratera. Não sentia mais nada àquela altura; tudo estava dormente por conta da temperatura elevada. A cabeça latejava e os olhos escorriam um líquido que o capitão não sabia dizer se era realmente lágrimas ou algo do tipo. Naquele momento, pouco importava.
Não foi difícil achar o corpo de Zoro imóvel, cuspindo sangue da boca, do nariz e das inúmeras queimaduras espalhadas pelo seu corpo. Mordia o lábio fortemente, nem ousava mexer um músculo do seu corpo para se livrar daquela situação. Talvez fosse outra parte do truque de Laugh, Luffy não sabia dizer, mas era inquestionável que Zoro, em seu juízo normal, nunca seria derrotado por simples chamas de fogo, que há tanto já havia enfrentado.
Viu-o arregalar os olhos quando percebeu sua presença, para sua feição logo em seguida ser dominada por raiva. Não aquela que ele esboçava quando estavam juntos no barco e o D. Monkey resolvia o incomodar, não aquela de quando ele não o deixava dormir, o acertava sem querer algum golpe ou roubava seu pedaço de carne do almoço. Era uma raiva tão quente quanto às chamas ao seu redor.
Luffy sabia o porquê desse sentimento em seu rosto.
Zoro estava com raiva por causa do mesmo calor, porque o capitão escolhera mais uma vez arriscar sua vida para salvar o espadachim. Porque ele poderia cair a qualquer minuto, mas preferia estar ali do que em um lugar seguro, na esperança de que pudesse voltar ao navio junto a Roronoa.
Zoro detestava essa parte de Luffy que se obrigava a dar sua vida pelas pessoas que amava. Por isso, ele sempre está enrascado, por isso, muitos o chamam por aí de suicida, sem amor pela vida.
Por mais que, amor pela vida, fosse o que ele mais tinha dentro do seu coração. Só não se comparava ao amor que tinha pelo seu bando, e, principalmente, pelo espadachim, do qual sempre compartilhara suas intimidades, seus medos e suas conquistas, como não fazia com mais ninguém.
Por conta disso, ignorou o olhar de raiva do outro. Não porque não se importava, mas sim, porque havia uma vida a salvar naquele momento.
Enrolou um de seus braços ao redor de todo o corpo de Zoro, sentindo o sangue pulsar e algumas bolhas de ferida, causadas pela alta temperatura, estourarem. Tinha que lhe tirar dali o mais rápido possível, caso contrário, seu estado pioraria e não haveria enfermeiro ou médico nos sete mares que o ajudaria.
Cinco minutos. Tinha muito menos de cinco minutos.
O fogo limitava grande parte dos seus movimentos, incluindo sua elasticidade. Isso não se comparava com o desejo que o capitão tinha de trazer Roronoa são e salvo para seu lar, ao seu lado. Então, esticou seu braço contrário o máximo que pôde, sentindo a grama e a pedra fria do topo da cratera em suas mãos. Se deu por vitorioso, assim juntando seu corpo ao do espadachim e levando seus pesos para cima.
Antes mesmo do corpo do mais alto ficar completamente debilitado pelas chamas, eles estavam na superfície; um baque de seus corpos feridos no chão e o grito de alívio do resto dos tripulantes, que àquele ponto estavam preocupados com o paradeiro dos dois amantes.
Quase no mesmo momento em que isso aconteceu, as crateras abertas no chão se fecharam em um grande estrondo, movendo mais uma vez toda a ilha. Haviam escapado por muito pouco.
Luffy não ligava para o quanto seu corpo doía naquele momento. A primeira coisa que fez foi virar Zoro na grama e o deixar de barriga para cima. Por um instante, achou que ele estava desacordado, mas não demorou muito para que ele tossisse sangue, inclinando o corpo para se sentar e não afogar no líquido vermelho e cítrico que queimava na garganta.
O capitão deu um grande suspiro de alívio por ter conseguido salvar Roronoa. Ele, por sua vez, virou os olhos para Luffy; a mesma raiva de antes, séria e alarmante, contida nos olhos escuros do outro.
– Você é um idiota sem cérebro, Luffy. — Cuspiu sangue. Chopper gritava consigo algo sobre ter que se manter deitado para ele poder tratar dos seus ferimentos, mas ele não parecia se importar. Apenas começou a aumentar o tom de voz, e todo o resto ficou quieto: — Poderia facilmente ter morrido quando se jogou no fogo! Foi praticamente suicídio!
O D. Monkey agarrou o pulso — em uma parte não ferida — do outro, o fazendo parar de falar. Apertou a região, contendo-se a não explodir. Zoro deveria entender que ele sempre faria isso até que não pudesse mais salvá-lo, e sabia muito bem que ele faria isso se estivesse no seu lugar.
Odiava ter discussões assim com ele. Odiava ter que levantar a voz. Odiava ter que contradizer algo que ele havia dito. Odiava aquele clima mórbido que destoava de todo o resto da relação dos dois, geralmente tão terna e calma.
Mas era preciso. Não só naquele momento, como em muitos outros. Relacionamentos eram feitos de discussões pitorescas. É um dos pilares que os sustentavam; suas diferenças, suas intervenções, seus pontos de vista.
– Pois, então, eu preferia ter morrido tentando salvar você do que te ver queimar em chamas e ficar parado — disse. Os outros, que assistiam de fora, não intervieram em nada, porém, tremeram com o raro tom sério que sobrepunha a voz do capitão, na maior parte do tempo tão elétrico, otimista e com um sorriso de orelha a orelha no rosto. E ele continuou: — Eu nunca te deixaria 'pra trás, Zoro, e você sabe muito bem disso.
Viu o esverdeado estremecer um pouco, apesar da face intacta em uma raiva insistente. Ele virou o rosto, limpando com a mão o sangue que escorria da sua boca e se levantando.
Avançou um pouco para a direção que sabia que o navio estava, chamando Chopper para segui-lo.
De costas, ele falou:
– A gente conversa sobre isso quando voltarmos 'pro navio, Monkey D. Luffy.
O capitão engoliu em seco, mas não questionou a fala de Zoro. Quando ele lhe chamava pelo nome inteiro, era porque a coisa estava feia para seu lado.
【FOUR ��☠️】
Era noite do mesmo dia.
O clima ameno reverberava as madeiras do Going Merry. Quase todos a dormir, fatigados pelo dia cheio que haviam outrora passado e desejando apenas esquecer os problemas que haviam enchido suas cabeças, menos duas silhuetas, que há muito não conseguiam pegar no sono sem a companhia da outra, e aquele elefante rosa no meio do quarto já estava os sufocando mais do que qualquer coisa existente.
Zoro e Luffy, o espadachim e o capitão que haviam brigado mais cedo.
O capitão estava sentado rente ao leme, sentindo as ondas do mar baterem nas laterais do navio e ouvindo o som ritmado que elas causavam. Tinha uma mão no queixo, pensativo quanto a discussão que tivera horas atrás com Roronoa, e sua cabeça não parava de clicar naquela tecla insistentemente.
Será que era a hora certa para acertarem as coisas? O capitão não aguentava mais aquilo entalado em sua garganta, o impedindo de aproveitar as estrelas daquela noite, bem como sempre fazia àquela hora, quando não estava deitado com Zoro em um sono profundo.
Se dando por vencido, Luffy levantou do chão e começou a andar em direção onde sabia que Zoro estaria: o quarto em que geralmente se trancavam para trocar beijos e palavras íntimas quase toda noite.
Bateu na porta, não demorando a escutar um "entra" rouco do outro lado da madeira. Abriu-a, se deparando com as costas que bem conhecia, enfaixadas pelo que pareciam ser algumas camadas de curativos. Zoro estava sentado na cama e, em suas mãos, uma de suas espadas; aquela que havia caído na grama quando se desequilibrou na cratera. Se Luffy o conhecia bem, o espadachim provavelmente se lamentava por ter sido tão fraco a ponto de ter caído nas peripécias de um palhaço.
Mas ele estava bem longe de ser fraco.
Roronoa virou seu rosto. O capitão percebeu os ferimentos ainda com sangue seco, como um corte fino na bochecha e um mais profundo acima de sua sobrancelha. Não eram queimaduras. Ele provavelmente os fez na queda na cratera, o choque de seu corpo contra o chão de pedra maciça. Chopper estava preocupado demais com as inúmeras queimaduras em seu corpo inteiro para dar atenção a breves arranhões no rosto, afinal. Nem se comparava.
Luffy engoliu em seco, percebendo que, mesmo com alguns machucados, o corpo e o rosto de Zoro não deixavam de serem lindos, principalmente à luz do luar que vinha da janela aberta do quarto. Cada traço era apaixonante aos olhos do capitão, que não deixou de sorrir com o vislumbre.
— Ainda 'tá doendo? — perguntou, apontando para as bandagens espalhadas pela dorsal do outro.
— Ah, bastante — ele respondeu, balançando a cabeça. Apenas por esse gesto, Luffy conseguiu perceber que Zoro estava encucado com sua presença ali no quarto. Se continha a falar alguma coisa, estava hesitante por algum motivo.
Provavelmente queria pedir desculpas a Luffy, mas não sabia como nem por onde começar.
Então o D. Monkey lhe ajudaria, porque conhecia-o bem demais para deixá-lo em uma enrascada dessas.
— Posso te ajudar a cuidar pelo menos dos ferimentos do rosto? — questionou o mais baixo, aproximando-se do outro, que estremeceu, porém, não deixou de assentir.
— Pode. Vem aqui.
Luffy não hesitou antes de procurar um kit de enfermagem — que Chopper insistia em deixar espalhados por todos os cômodos do navio, para quando precisassem — e, quando achou, em uma das gavetas da cômoda de madeira, sentou gentilmente no colo de Roronoa, ouvindo um suspiro sair de sua boca. E não era de dor, mas sim, de nervosismo pelos seus corpos e, principalmente rostos, estarem tão próximos naquele momento.
O capitão tampouco ligou.
Dois curativos e um lenço com álcool foram o suficiente para deixar o rosto do outro novinho em folha. Zoro quase não se mexeu nesse meio tempo, e Luffy fingiu não perceber os olhos dele fitados em seu rosto.
Quando estava prestes a anunciar que havia acabado com seus pequenos cuidados, sentiu as mãos firmes e calejadas de Roronoa apertarem sua cintura — como um toque nostálgico da primeira vez que haviam se beijado — e trazê-lo para perto, chocando seus lábios em um beijo de saudades, perdão e arrependimento. Sobretudo o medo de perder o moreno por uma discussão boba como a que tiveram mais cedo.
E isso era cômico para Luffy, pois nunca, em um milhão de anos, deixaria isso acontecer.
— Me desculpa ter gritado contigo — o esverdeado apressou-se a dizer quando se separaram do beijo, a face preocupada em como diria tudo que estava entalado na sua garganta. — Eu não precisava ter falado aquelas coisas, mas eu estava com raiva, ainda estou com raiva do que você fez, porque fiquei apavorado com a ideia de que você poderia muito bem ter morrido se jogando dentro daquela cratera. — Sentiu uma das mãos de Zoro saírem de sua cintura e apertarem sua palma da mão contra a dele, contrastando as temperaturas. — Você não é idiota, Luffy. Eu que falei sem pensar.
O moreno arregalou os olhos. Não era raro ouvir Roronoa pedir desculpas para si — mas ele preferia morrer do que pedir desculpas a qualquer outro do bando, bem como o orgulhoso que ele podia ser quando queria —, porém, nunca havia ouvido um tom tão profundo em sua voz desde a noite em que ele havia se declarado para si, pensamento este que lhe causou uma nostalgia sem igual.
— Eu sou bem idiota, 'pra falar a verdade — ele respondeu, rindo e fazendo o espadachim rir também. — Ei, não precisa se desculpar. Eu entendo porque você ficou assim, mas, independente do tamanho do sermão que você me daria depois que eu fizesse o que eu fiz, eu voltaria lá e faria tudo de novo, pois eu quero te proteger. Sabe que eu nunca te deixaria morrer tão fácil assim, Zoro.
— Eu sei. Te conheço mais do que qualquer um. — Dando aquela parte da conversa por terminada, o mais alto fez uma carinha de pidão para Luffy, que riu. — 'Tô perdoado?
— Claro que está, Zoro.
— Então, eu posso te roubar um beijo? — Um sorriso cheio de segundas intenções surgiu em seu rosto.
— Oras, quantos você quiser! — Luffy riu da malandragem do outro, o quanto ele conseguia ser descarado às vezes. — Só toma cuidado 'pra gente não avançar muito. Sabe, você 'tá todo machucado, tem que ficar quietinho e descansando.
— Não 'tô nem aí 'pra nenhum machucado.
Zoro juntou seus lábios com os do mais baixo antes dele conseguir responder, o prensando contra o colchão e assim seguiu-se a noite. O que antes havia sido uma briga séria e amedrontadora, resultou em uma madrugada cheia de beijos trocados.
E esse era o dilema dos dois: brigas, discussões ou quase mortes severas nunca abalariam o amor que nutriam pelo outro, aumentando todo dia ao acordarem e se depararem com o rosto de seu amado ao lado.
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