As baias estavam na penumbra e vazias. Os animais estavam fora e o único som que preenchia o ar, junto com o cheiro de palha, eram os beijos que aconteciam entre Milo e Camus. A porta se abriu em total silêncio. Milo sentiu um arrepio de excitação e sorriu. De repente, na quase escuridão, Camus o puxou em direção à parede, pressionando-o à ela com o seu corpo.
– Creio que terei de dar um jeito nessa situação, senhor Milo... Mesmo que seja contra os meus princípios possuí-lo em um celeiro. – sussurrou Camus junto aos lábios do jovem.
– A mim não importa o lugar, Sua Graça, desde que eu esteja assim... em seus braços... – respondeu o jovem, ofegante.
O jovem encontrava-se dominado entre os braços e o corpo forte... E o duque puxou-o ainda para mais perto de si, afundando a mão entre os seus cabelos e lambendo os lábios carnudos, apossando-se, novamente, da língua quente que agora se entrelaçava na sua com volúpia e saudade.
Tocando-se e beijando-se com força e sofreguidão, ambos flutuavam na tênue linha entre o amor que sempre os levava a entrega prazerosa e o ato ousado em deixar-se levar pelo anseio selvagem de fazer amor de forma rápida e um tanto bruta. Por um momento, pararam e se encararam e, desta vez, um sorriso se abriu em ambas as bocas.
Milo sentiu seus pés serem erguidos do chão e gemeu quando as suas costas bateram com força na parede. Preso, entre a madeira úmida e o corpo quente e forte, o jovem se deixou despir da cintura para baixo, enquanto Camus abria os botões da calça, revelando uma ereção, extremamente, desperta e túrgida.
Ele enroscou as pernas nos quadris de Camus colando o corpo, ainda mais ao dele, fazendo-o sentir que também estava excitado. A cena incendiou o fogo que ardia nos dois e o ruivo penetrou-o com força e tão abrupto e profundo que Milo gritou. A dor se unindo ao desejo e, por fim, ao êxtase...
Camus saiu de dentro dele, ficando parado por um segundo. Olhou-o febril e desejoso, mas ainda tentando manter certo controle. Porém, quando viu os lábios rosados de Milo se entreabrirem em um gemido de prazer, mergulhou ainda mais fundo, tocando-o no ponto do prazer e fazendo-o gemer mais alto quando bateu, novamente, com as costas na parede.
Milo ofegou e agarrou-se a Camus... Precisava tanto sentir-se dessa forma, preenchido por completo, tanto no corpo, quanto na alma. Era assim que se sentia amado, na força do desejo de Camus, o corpo que o tomava profundamente e em todos os níveis...
Queria tudo, bem ali, sem limites, nos braços daquele homem que era o seu mestre, mas que também aprendera a amar e desejar com a mesma fome que a sua.
– E-Eu te amo... - gemeu no ouvido de Camus, fazendo-o investir com mais ímpeto para dentro de si.
Camus gemia e arremetia com violência, sentindo os dedos de Milo ora, cravarem-se em suas costas, ora enroscarem-se, em seus cabelos puxando-os com desvario.
Milo sentiu quando Camus retesou-se, o rosto transtornado, sentindo o clímax se aproximar, tentando controlar-se, mas não resistindo ao prazer de tomá-lo, profundamente. Gostava de sentir que tinha esse poder sobre aquele nobre que podia ser tão frio quando a neve do inverno, mas que, em seus braços, era como um vulcão.
– V-Vem...- gemeu o loiro. - Isso, m-me faz... gozar...! – gritou ao sentir o mergulho profundo do falo em seu corpo, tocando-o no ponto prazeroso que o levava a ver estrelas.
Totalmente entregue ao calor e prazer de sentir-se engolfado por Milo e por seus sussurros enlouquecidos, Camus estocou mais forte e rápido, afundando-se mais, enchendo-o com o seu prazer tão profunda e desesperadamente quanto podia. De sua garganta saiu um gemido alto e longo e ele sentiu seu tórax ser molhado pelo gozo de Milo que também chegava ao orgasmo.
Abraçados, tremeram, convulsos e se agarraram com força, as bocas se encontrando sem fôlego, o coração batendo violentamente por todos os poros.
Os dois ficaram abraçados, ofegantes e risonhos. O hálito quente misturando-se em mais um beijo...
Milo sentia a respiração quente de Camus em seu pescoço e se deixava resvalar para tocar os pés no chão. Também sentiu o sêmen escorrer por entre suas pernas, enquanto Camus também sentia sua roupa molhada.
Mais uma vez eles se olharam e o desejo febril agora cedia ao amor que os tinha unido desde a primeira vez...
– Eu fui... muito bruto? – perguntou Camus, tocando o rosto suado de Milo.
– Gosto quando Sua Graça esquece a polidez... – respondeu Milo sorrindo.
Camus também sorriu. Desde que Milo entrara em sua vida, descobrir que podia amá-lo e também desejá-lo com a mesma voracidade, era prazeroso e libertador... Resguardava a frieza para os assuntos da mente e deixava o coração falar mais alto na intimidade ardente que aquele jovem trouxera para a sua vida regrada.
Olhando naqueles olhos úmidos e únicos, beijou-o com uma paixão extasiante e uma ternura comovente, sentindo-o sorrir em meio ao ato.
– Acho que agora, nós dois não podemos montar. – disse Milo rindo e olhando para o próprio corpo e o de Camus.
– Vamos nos limpar na casinha dos fundos. – falou Camus passando o dedo indicador nos lábios carnudos do amante com um sorriso polido.
Milo mordeu o lábio inferior e sorriu malicioso.
– Casinha, é? E... Por acaso, tem uma cama por lá?
Camus se permitiu soltar uma rara gargalhada e então respondeu:
– Infelizmente, não. Mas se nos limparmos rápido, podemos chegar em casa e retomarmos esta lição especial.
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Saga olhava pela janela. A tênue luz da manhã infiltrava-se, através das cortinas transparentes e, pela primeira vez em dias, ele dormira bem e acordara sem a asfixiante sensação de estar possuído por outra pessoa.
Ele inspirou fundo e fechou os olhos... Nada. Nem mesmo um sussurrar malicioso. A paz que começava a sentir tornava-o mais forte e psicologicamente mais inteiro.
Shion o estava tratando com sessões de conversas e um remédio calmante que lhe cortava a ansiedade e o deixava pensar com mais clareza. A terapia aplicada ao seu caso viera de um grande conhecido do médico, um homem chamado Josef Breuer que tratava casos semelhantes ao seu em Viena e cujos estudos Shion tivera a oportunidade de acessar.
Aliado a isso, Kanon permanecia ao seu lado, assim como June e todos os amigos que considerava e, aos poucos, ele resgatava sua sanidade e trabalhava, dentro de si, a culpa originada pelos conceitos de proibido e perversão que povoavam sua mente e seu coração. No final de cada sessão, ele sentia que se apropriava dos sentimentos sem aquela carga pesada que fragmentava sua personalidade e acionava o seu lado mais sombrio.
– Bom dia! – disse June, valendo-se da intimidade que tinha com o dono da casa e entrando no quarto sem bater.
O rosto belo virou-se e sorriu.
– Bom dia.
– Sente-se melhor? – perguntou ela beijando-o no rosto.
– Bastante. Shion disse que já posso sair de casa.
– Ótimo, porque vim convidá-lo para um piquenique no parque. Vamos tomar sol e jogar conversa fora. Kanon está providenciando tudo.
– Teremos convidados?
– Aiolia vai nos acompanhar e disse que tem novidades. Depois... Deixe-me ver... Acho que uma jovem apadrinhada pelo conde Dohko também irá conosco.
– Aiolia com novidades? Será que ele está com alguém? – questionou Saga.
– Certamente. Creio que deixará de ser o solteirão do grupo. Esse papel recairá sobre mim. – falou June rindo.
Uma sombra perpassou o semblante de Saga.
– June, eu não quero mais que comprometa a sua vida para ser minha fachada. Vou ressarci-la por tudo o que fez por mim e libertá-la deste compromisso.
June franziu o cenho e, em seguida tomou a mão de Saga entre as suas.
– Ah, meu amigo... Não se culpe por isso. Tudo o que fiz foi por minha livre e espontânea vontade. Sempre gostei de ser livre e independente, algo que nessa sociedade machista é impossível e constrangedor. Talvez um dia isso mude, mas creia que ser sua amante me trouxe momentos imemoráveis e livrou-me do terror de um casamento arranjado. Deus me livre terminar como a Valery!
– Valery...? Ah, lembrei! É a viscondessa que acabou construindo uma trama sórdida e teve um final trágico. E os comparsas dela?
– Foram julgados e condenados a cumprir pena nas minas de carvão. Escaparam da forca ao terem confessado tudo e também porque Valery foi o cérebro por trás de tudo.
– Ela ficou mesmo tetraplégica?
– Sim, a única coisa que ela consegue é mexer os olhos. Está no sanatório público. Que fim degradante para uma mulher que era tão ambiciosa! Tem certas coisas que são até piores que morrer...
Assim que June terminou sua fala, Kanon entrou e sorriu para os dois.
– E então, preparados para a festa? – disse o gêmeo mais novo.
– Festa? – perguntaram Saga e June, ao mesmo tempo.
– Sim, este piquenique será tão memorável que já o considero uma festa. Muitas coisas serão reveladas, portanto, preparem seus corações. – falou Kanon sorrindo e Saga mergulhou naquele rosto tão igual ao seu, mas que conservava um frescor que nada parecia macular.
O gêmeo mais velho estendeu a mão na direção do irmão e Kanon, prontamente a tomou na sua. Os olhos se encontraram e, em seguida, um beijo longo e apaixonado foi trocado entre os dois.
– Estou pronto! – disse Saga, após apartar o beijo.
Kanon sorriu e June também.
– Então vista-se, sairemos em meia hora. – disse Kanon.
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Pandora deu um pequeno giro na frente do espelho. Seu vestido de noiva era belo e simples, todo feito de tafetá coberto por uma fina renda. A cor champanhe era realçada pelos seus cabelos negros e o modelo justo era fechado na frente com um profundo decote nas costas.
Dali há instantes, ele se casaria com Radamanthys em uma pequena capela anglicana numa cerimônia matinal simples, com poucos e seletos convidados.
Ela sorriu ao colocar o véu e pensou que nunca fora tão feliz em sua vida. Quando eu poderia imaginar sentir tanta felicidade... Pensou ela tomando o pequeno buquê de rosas brancas nas mãos.
Margaret entrou com um vestido cor de cobre, o sorriso estampado nos lábios finos. Estava penteada e maquiada como se fosse uma nobre e não conseguia deixar de sorrir.
– Ainda não acredito que serei sua dama de honra. – disse a criada.
– Você foi minha única amiga e quero-a ao meu lado nesse momento. – falou Pandora.
As duas riram e se abraçavam quando outra jovem bateu à porta e disse:
– O conde Dohko à espera, senhora.
Pandora inspirou fundo.
– Está na hora! – disse ela, excitada.
– Então vamos! – falou Margaret.
No saguão, Dohko esperava sua ex-mulher em um terno cinza-claro. Shion estava ao seu lado e ambos estavam bonitos e elegantes.
Quando Pandora os viu, sentiu-se grata por ter reconquistado a amizade daquele homem magnífico e sentia-se feliz, porque ele também encontrara o amor de sua vida. Pedira a ele para conduzi-la até o altar e isso tinha um significado muito especial. Ela já não era a mesma e o casamento do Radamanthys iniciava uma fase madura e feliz em sua vida.
Dohko sorriu quando ela desceu as escadas.
– Está magnífica, minha cara. E a senhorita Margaret, também. – disse ele.
Sorrindo, Pandora ofereceu o braço à Dohko e, Margaret foi conduzida por Shion.
– Cavalheiros... – disse ela e ambos andaram altivos e contentes até a carruagem.
Quando a marcha nupcial ecoou na capela, Pandora entrou com Dohko e uma felicidade sem igual tomou conta de si. Elegante e belo, Radamanthys a esperava, ansioso e, quando a viu, um sorriso se fez presente nos lábios e nos olhos.
A cerimônia de casamento, conduzida por um Reverendo jovem e bem disposto, foi curta, mas emocionante. Após as palavras que os consagrariam a uma vida em comum, Radamanthys colocou uma aliança de ouro e diamantes no dedo de Pandora e ela, uma aliança de ouro no dedo dele.
Os dois se olharam e Pandora estremeceu com o brilho intenso nos olhos dourados do esposo. O beijo veio delicado, porém cheio de promessas. E assim, ambos consolidaram o que ansiavam fazer desde a descoberta daquele sentimento profundo e transformador.
Entre os poucos convidados, estavam Minos e Hades que, a despeito de tudo que haviam vivenciado, mantiveram uma relação de amizade com os noivos e ali estavam como testemunhas das reviravoltas que a vida oferecia.
– Fico feliz por eles. – disse Minos com sinceridade.
– Eu também. – concordou Hades.
Discretamente, Minos tocou a mão do amante em uma carícia que retornou em um forte aperto na mão oferecida , junto de um olhar intenso.
– Ao sairmos daqui, tenho uma surpresa para você. – disse Hades.
O simples mencionar da palavra surpresa atiçou o jovem artista.
– Surpresa? Para mim?
– É, mas vai ter que esperar o término da cerimônia. – falou Hades divertindo-se com a ansiedade de Minos.
Assim que Pandora e Radamanthys deixaram a capela, sob uma chuva de pétalas de rosas, Hades puxou Minos pela mão e os dois foram até a carruagem que os aguardava. Dentro dela havia uma cesta com algo se mexendo. O jovem franziu o cenho antes de tomar a cesta nas mãos e abrir um sorriso largo ao ver o pequeno animalzinho peludo encarando-o com dois olhinhos negros e brilhantes.
– É um Yorkshire Terrier e veio do canil da própria rainha. Mandei que o trouxessem, uma hora atrás. – disse Hades com orgulho.
– Você o comprou para mim? Deve ter custado uma fortuna... – falou Minos pegando o bichinho e trazendo-o para o seu colo.
– Eu pagaria muito mais só para vê-lo sorrir desse jeito. – disse Hades e seus olhos faiscaram ao encontrar os de Minos.
O jovem sorriu ainda mais.
– Eu te amo, sabia?
Hades também sorriu.
– Bem, agora o coloque de volta. Ainda temos uma recepção para ir. Poderá usufruir da companhia dele quando formos para casa.
Minos acariciou a cabecinha peluda do cãozinho e colocou-o, novamente, dentro do cesto. Depois olhou para Hades e tudo o que sentia derramou-se naquela conexão visual que se estabeleceu entre os dois.
– Gostaria de te beijar agora... – murmurou ele, enquanto a carruagem era posta em movimento.
– Teremos muito tempo para isso e muito mais. Nosso navio sai amanhã e ficaremos, só nós dois, por meses... – disse Hades e Minos percebeu o calor no olhar dele.
A carruagem seguiu em frente, acompanhando os noivos que receberiam os convidados com um almoço festivo, tudo perfeitamente conspirando para que o clima alegre se espalhasse por vários lugares de Londres.
Perto dali, outra festa particular tinha espaço no parque St. James. A toalha estendida na grama estava coberta com bolos, frutas, pães e garrafas de champanhe e vinho. Até mesmo um toldo havia sido colocado para proteger a todos do sol.
Kanon, Saga e June recebiam Aiolia e Mu com muita alegria e descontração.
– Meus caros, Saga, Kanon e June, este é Mu, o qual vocês já conhecem como crupiê da famosa noite de jogos do Cabeça Cortada, mas que, aqui, desejo que o acolham como meu companheiro. É, eu sei... todos sempre me viram como hétero, mas acabei descobrindo que vivi, todo esse tempo, iludido. - um suspiro escapou dos lábios do leonino. - Mu revelou a minha verdadeira natureza e... Bem, é isso! – completou Aiolia.
June franziu o cenho, mas logo sorriu. Saga e Kanon nada disseram, apenas abraçaram o amigo em estreita cumplicidade.
– Seja bem-vindo, Mu. – disse ela, estendendo a mão.
Mu beijou-lhe a mão e agradeceu a acolhida. Em seguida, Saga iniciou uma conversa e todos desfrutaram de uma manhã agradável e descontraída, com direito a piadas e pequenas fofocas sobre o que vinha acontecendo na corte.
– Temos um jantar na casa de Camus esta noite. – disse Kanon, servindo-se de vinho.
– Eu sei, ele mandou avisar-me. – falou Aiolia cortando um pedaço de pão e oferecendo-o a Mu.
– Será que ele vai mesmo pedir a mão de Milo ao conde Dohko? – questionou June.
– Certamente que vai. Camus é um homem tradicional, minha cara, e gosta de tudo encaixadinho, nos mínimos detalhes. - respondeu Aiolia com malícia. - Depois disso, Milo parte para a universidade e só volta, após seis meses, quando o Natal chegar e a neve estiver cobrindo a paisagem. Vai ser duro, para ambos. – continuou o leonino.
– Aqueles dois se amam de um jeito que nada pode separá-los. Eu conheço Camus, ele dará um jeito. – disse Saga.
Mu escutava a conversa e sorria. Quando poderia imaginar estar ali, entre nobres tão simples e verdadeiros, com os quais poderia ser ele mesmo e assumir um relacionamento. Quando um brinde foi proposto, as cinco taças se encontraram e a descontração continuou tornando aquele momento único e memorável...
– Ao amor, senhores e senhorita! – brindou Aiolia, enquanto sorria e piscava na direção do homem que amava.
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Camus recebeu os amigos e o conde Dohko em um jantar, cuidadosamente preparado para a ocasião. Além de Saga, Kanon, June, Aiolia e Mu, Máscara da Morte e Afrodite também foram convidados a pedido de Milo que os considerava seus amigos.
Verena colocara todo o seu talento culinário em iguarias deliciosas que foram apreciadas com muito prazer. Pratos caseiros feitos, especialmente, para o gosto do jovem Milo que logo deixaria Londres para estudar, foram dispostos em forma de buffet e cada um teve a oportunidade de escolher conforme seu gosto pessoal.
Milo demonstrara tudo o que aprendera. Conversava baixo e, de vez em quando, ria baixinho, controlando-se para que Dohko presenciasse o que ele aprendera com Camus. No entanto, quando o duque anunciou o motivo do jantar, o jovem remexeu-se, inquieto, na mesa, tanta era a ansiedade que sentia.
– Conde Dohko, amigos aqui presentes, eu gostaria de agradecer a presença de todos vocês e anunciar a minha intenção de unir-me a Milo.
Dohko olhou para o afilhado, vendo em seus olhos a mesma paixão que ele também sentia por Shion. Milo estava radiante e era óbvio os progressos que tivera sob a tutela do duque. Quando poderia imaginar que seu filho por adoção tivesse a mesma opção que a sua... Viu-se pensando, enquanto ouvia a fala de Camus.
– Fico muito feliz que Milo tenha encontrado a felicidade ao lado de um homem tão íntegro como Sua Graça. Creio que estamos inaugurando uma nova era, senhores! Uma era onde a hipocrisia não terá mais lugar entre aqueles que tiverem a coragem de ir ao encontro da felicidade, custe ela o que custar! Eu proponho um brinde! – disse Dohko.
As taças se ergueram e os sorrisos brincaram nas bocas masculinas e femininas. Marin conversava com June e ambas já sentiam uma forte amizade nascer entre elas.
Camus olhou para Milo e o jovem não conseguia fechar a boca de tão contente. De repente, uma lista amarela passou correndo e foi até Milo, roçando o corpinho peludo como se o estivesse cumprimentando também.
– Senhora gata! Veio me dar os parabéns? – disse o jovem acariciando a cabecinha do animal.
Ela ronronou algo e, em seguida, assim como entrou, deixou a sala de jantar e disparou em direção à cozinha.
Todos riram e a noite seguiu permeada pelas comemorações...
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Era véspera de Natal e a neve caía em flocos, cobrindo a paisagem com uma espessa camada branca. Seis meses haviam se passado e a universidade de Cambridge encerrava o curso especial que habilitava seus alunos a gerenciar Haras de caráter internacional. Haveria uma pequena solenidade de formatura e depois, cada um rumaria ao seu destino.
Milo já havia saído várias vezes para a neve naquele dia. Camus prometera chegar para a solenidade e ele o esperava, ansioso, e cheio de saudade.
Durante todos aqueles meses, ele aprendera muita coisa e descobrira que fazia por intuição muito do que era ensinado na universidade. Houve momentos difíceis, mas havia perseverado em nome do amor e também desejava que Camus se orgulhasse por ter acreditado na sua capacidade.
Enquanto observava a linha do horizonte, o garanhão negro que costumava cuidar e com o qual praticava seus ensinamentos veio até Milo, empurrando a cabeça como se estivesse pedindo algo.
– Está com vontade de trotar na neve? – perguntou Milo acariciando o focinho do animal.
Como se entendesse a pergunta, o garanhão moveu a cabeça para cima e para baixo como se dissesse sim. Milo sorriu e agarrou-se a crina do animal, montando-o sem sela. Galopou a valer pela neve para aquietar o espírito de ambos, até chegar aos campos próximos da estrada.
Cavalgou até perceber que o sol já estava quase se pondo e então resolveu voltar ao haras da universidade. Antes de chegar, porém, olhou a neve branca e convidativa e lembrou-se da única memória que guardava de seu pai, quando ainda era pequeno. Ele gostava de jogar-se de costas na neve fofa e mexer os braços, de forma que o movimento criava os contornos de asas que ele dizia ser um chamariz para os anjos. Feche os olhos, Milo, e faça um pedido! Dizia ele.
Olhando a redor para ter certeza que estava sozinho, Milo desmontou e jogou-se de costas na neve e começou a agitar os braços, rindo alto de sua própria tolice. Venha logo, Camus! Venha! Pensava, enquanto desenhava asas na neve fria.
Ele ria tanto que não ouviu alguém se aproximando de si. Só quando viu uma sombra cobrindo seu rosto, ergueu a cabeça abruptamente. Sobressaltado, deparou com um par de botas, pernas fortes... um pesado sobretudo e, enfim... o rosto sorridente do duque.
– Camus! – exclamou ele, tratando de se levantar depressa.
– Ora, mas que surpresa... um anjo desenhando outro anjo na neve ou... um menino travesso recordando a infância? – a voz grave fazendo Milo estremecer de tanta felicidade.
– Pensei que não o veria, Sua Graça!– disse Milo fitando o belo rosto com alguns fios ruivos caindo sobre os olhos rubros.
– Eu disse que vinha. – falou o duque com uma incrível intensidade no olhar saudoso.
Os dois trocaram um olhar ardente. Fazia seis meses que só se viam em raros fins de semana. Agora isso mudaria e o passo mais importante seria dado. Milo iria viver com Camus em Village Mall e lá, criariam cavalos de raça e também um lar.
– Ora, me abrace! Senti tanto a sua falta... – disse Milo jogando-se em Camus e apertando-o com força.
– Está tudo pronto. Após a sua formatura, iremos para casa. A nossa casa. – falou Camus estreitando Milo junto a si.
A cerimônia transcorreu como todo e qualquer evento acadêmico. Os discursos longos fizeram Milo bocejar e ficar sonhando com a volta ao lar. Uma pequena recepção, seguida de uma apresentação fechou a solenidade e enfim, Milo e Camus voltaram para Londres para de lá seguir para Village Mall.
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Benson já os esperava com a mansão preparada para o Natal. A um canto do salão havia uma imensa árvore de Natal, assim como guirlandas naturais enfeitando o espaço acima da lareira e também as portas. Camus o cumprimentou e, em seguida, mostrou tudo à Milo. Os espaços amplos, a luminosidade, as janelas altas, o cheiro dos pinheiros adentrando a mansão e trazendo o frescor dos campos...
O jovem estava feliz, porém sentia falta de Jonas, de Verena e da senhora gata.
– O que foi? – perguntou Camus ao perceber o silêncio de Milo.
– É Natal e... bem, eu sinto falta de...
– Estão sentindo a nossa falta? – a voz alegre de Verena retumbou pelo amplo salão e Milo virou a cabeça percebendo que ela vinha de braços dados com Jonas e trazendo uma espécie de gaiola estranha que se mexia como se tivesse vida própria.
Milo sorriu e olhou para Camus que também sorria.
– Eu contratei novos empregados para a mansão em Londres e convidei Jonas e Verena para trabalhar aqui conosco. Achei que iria gostar. – disse o duque.
Como era da sua natureza, Milo correu para abraçar Verena e Jonas com o carinho que lhe era peculiar. Também tomou a senhora gata nos braços, achando-a um tanto gordinha. Assim que tocou no animal, ele sentiu...
– Senhora gata, a senhora está grávida de novo!
A gata fechou os olhos e miou,acha que é só você que gosta de se divertir?
Milo a acariciou com cuidado e quando soltou-a, ela correu feliz e bem à vontade pela mansão que fora o seu primeiro lar.
Verena e Jonas foram conduzidos ao quarto que ocupariam como recém-casados e Benson, embora surpreso com o desfecho dos amores do duque, sentia que aquela casa se tornara mais alegre e menos fria. Fazia muito tempo... Aliás, ele não tinha lembranças de tanto riso e movimento naquela mansão.
À noite, outros convidados juntaram-se à ceia de Natal. O Conde Dohko e Shion vieram festejar com Camus e Milo, assim como os amigos Aiolia, Mu, Saga, Kanon, June, Marin, Máscara da Morte e Afrodite.
Todos queriam saber das novidades da estada de Milo na universidade, assim como partilhar do rumo das relações estabelecidas entre os casais, ali presentes.
Saga e Kanon estavam juntos e felizes, morando na casa de campo e vindo à corte, somente para a temporada de ópera e recitais.
Aiolia e Mu estavam morando juntos e com uma viagem marcada para o Oriente, onde passariam mais de um ano viajando e explorando novas culturas.
June tornara-se a melhor amiga de Marin e juntas, deram o primeiro passo para mudar a visão das mulheres e lutar por direitos de opinião e voto. As "suffragettes", como ficaram conhecidas, tornaram-se as primeiras ativistas do feminismo em Londres e optaram por permanecer solteiras e donas do seu nariz.
Afrodite e Máscara da Morte se uniram, expandindo os negócios e oferecendo sociedade à Shina que transformou a Taberna Chance em uma franquia dos jogos que agora aconteciam, tanto no Cabeça Cortada, quanto no novo empreendimento que foi batizado com o nome de Chance de Ouro.
O grande salão foi tomado por cantos natalinos e a comemoração da primeira data passada em família e com os amigos foi permeada de muita animação e alegria. Os empregados sentaram-se à mesa e Camus organizou a distribuição dos presentes já encomendados para todos e com antecedência.
Milo sentia-se tão feliz que seus olhos ficaram úmidos. Camus percebeu e tocou no rosto que o enfeitiçava.
– O que foi? – perguntou ele.
– É que eu estou tão feliz... Eu nunca imaginei que pudesse ser assim. – o lábio inferior do loiro estremeceu. – Todas essas pessoas são como se fossem a minha família.
– Eu sei... E as considero minha, também.
– Você tornou tudo isso possível.. – disse Milo abraçando Camus.
– Não, você é que fez tudo isso acontecer. Se eu não o tivesse conhecido, ainda seria o duque solitário e apegado ao trabalho. Você trouxe alegria e amor para a minha vida, Milo. Tudo isso aqui é graças à você.
– Isso é um exagero, eu não fiz nada. Você organizou tudo. Até trouxe a senhora gata que vai encher a mansão de filhotes sapecas.
– Você irradia amor por todos os poros desse seu corpo. Sua própria alma é feita de amor, o que atrai a todos e os faz ser melhor. Você me fez melhor... – disse Camus, aproximando os lábios e beijando Milo sem se importar em estar na frente de todos.
Palmas e exclamações de entusiasmo se uniram ao ato, porém os dois só tinham olhos um para o outro.
Mais tarde, quando a festa terminou e os convidados foram encaminhados aos seus aposentos, Milo quis certificar-se que os cavalos estavam protegidos do frio. Depois que verificou todas as baias, atravessou a neve o mais depressa que pode e rumou para a mansão. Batendo os dentes, ainda aceitou uma xícara de café quente que Verena havia deixado sobre a mesa da cozinha.
– S-Senhora gata! E-Está frio p-prá caralho! – disse o loiro para a gata que estava sentada próxima ao fogão.
O animalzinho miou e olhou-o, pacientemente, beber o café. Depois, assim que Milo rumou para o quarto, ela o seguiu com agilidade, apesar da gravidez.
Sem bater, Milo entrou no quarto que dividia com o homem que amava, seguido da gata que já foi para a sua cama fofa e quente colocada próxima da lareira acesa.
As velas de um candelabro ainda estavam acesas no criado-mudo e Camus achava-se recostado nos travesseiros lendo um livro. As chamas oscilantes produzindo um brilho dourado em seus olhos castanho-avermelhados quando os dirigiu à porta.
– Deixe-me adivinhar... Você foi ao estábulo com todo esse frio.
– Eu sempre gosto de verificar, mas agora preciso, urgentemente, me aquecer ou vou ter hipotermia. – disse Milo num tom maroto, encaminhando-se devagar até a cama.
O duque deixou o livro de lado sem tirar os olhos do rosto e do corpo do amado, um ligeiro sorriso surgindo em seus lábios.
Num instante, Milo despiu-se e jogou-se embaixo das cobertas. Camus o abraçou e logo ambos estavam quentes e excitados. Os olhos azuis de Milo percorreram o rosto corado do duque e as carícias se tornaram íntimas e sôfregas. Quando Camus despiu-se e beijou o jovem com paixão e languidez, ouviu uma proposta que o fez estremecer:
– Seja meu essa noite, Sua Graça...
A voz de Milo estava rouca e, pela primeira vez, Camus percebeu não o jovem impulsivo, mas o homem que enfrentara muitas situações ao seu lado. O olhar, o toque, o corpo viril e forte que se deixava possuir...
– Milo... Eu...
O jovem sorriu.
– Eu amo quando me possui, mas eu também desejo sentir você...
Camus tocou o rosto belo. Hesitava, mas também não deixava de sentir curiosidade em saber como seria. Entregar-se sempre fora difícil, no entanto Milo já derrubara muitas barreiras e o elo existente entre eles ia além do desejo erótico. Era uma comunhão de almas, um laço que os uniria para sempre...
Ainda conectados pelo olhar, o duque nada disse, apenas tomou os lábios de Milo nos seus e puxou-o para junto de si, dando pleno acesso ao seu corpo.
Milo entendeu a mensagem e tornou-se o arauto do prazer do duque.
A lareira acesa não era a única responsável pelo calor que preenchia os espaços. O ardor dos corpos unia-se às chamas, enquanto pernas, braços, mãos e bocas se buscavam numa trilha frenética de gemidos e paixão explícita...
Excitado de modo insuportável, o falo de Milo pulsava de encontro às coxas fortes de Camus. O rosto do francês estava rubro e ele arfava, enquanto os dentes de Milo arranhavam e atiçavam os seus mamilos intumescidos.
– M-Milo... – gemeu Camus, quando as mãos habilidosas do jovem o acariciaram com força e intimidade.
Não conseguiu terminar a frase. Milo puxou-o pela nuca e empreendeu um beijo devorador e profundo. O corpo do loiro unia-se ao seu de um jeito faminto e a boca carnuda buscava a sua, mordiscando e lambendo, entrelaçando as línguas numa dança de ofegos e saliva que ensandeciam a pele, fazendo-a arder e molhar-se de suor...
– Não sabe o quanto, Camus... O quanto esperei por isso... – sussurrou Milo deixando a boca do duque, enquanto se abaixava e lambia toda a extensão do tórax que se arqueava abaixo de si.
Detendo-se no umbigo, Milo continuava degustando a pele alva, enquanto suas mãos fortes apertavam as nádegas roliças para depois descer ao interior das coxas e deixá-las prontas para sua língua ávida e quente.
O loiro sugou, mordiscou e lambeu com gosto o falo pulsante de Camus antes de colocá-lo na boca. O ruivo gemeu e arqueou o corpo, tomado por um desejo agudo e voraz. Entregar-se à Milo era um passo que, mesmo sendo algo inédito para si, fazia seu corpo pulsar e ansiar por ser preenchido. A aceitação do amor de Milo era capaz de fazê-lo perder o controle, de fazê-lo grunhir sem amarras ou pudores.
Sentindo a urgência do amante, Milo sugava o falo de Camus, enquanto preparava-o para a penetração espiralando seus dedos no interior dele, extraindo dos lábios bem desenhados, ofegos e gemidos cada vez mais altos.
Então, quando sentiu as mãos de Camus apertar seus ombros com desespero, Milo segurou-o pelos quadris e se pôs entre as coxas musculosas. Num único movimento, se encaixou na entrada pulsante e mergulhou fundo, enquanto sua boca buscava a de Camus e sorvia do hálito quente...
Camus ofegou e seus dedos seguraram Milo pela nuca. Seus olhos febris e a boca entreaberta fizeram Milo controlar-se ao máximo e esperar que ele se ajustasse à invasão antes de se mover.
Enquanto esperava, Milo desceu os lábios pelo pescoço de Camus, a ponta da língua surgindo e lambendo a pele que se arrepiava com aquele contato, as mãos estreitando-o para mais junto de si... O ruivo arfou e se remexeu, passando a língua nos lábios e desfazendo o último fio de controle que Milo tecera para si.
A firmeza apertada do corpo de Camus, somada ao fato que a entrega dele era por muito amor e confiança, fez Milo se enfiar dentro dele muitas e muitas vezes, estimulado pela pulsação do corpo que o acolhia e pelos gemidos de prazer que escapavam roucos.
Camus gemeu alto, quando se sentiu tocado no fundo do corpo, ao mesmo tempo em que os dentes alvos de Milo mordiscavam a curva do seu pescoço e ele se agarrava aos ombros do loiro, afundando os dedos na pele quente. A possessão prazerosa fazendo-os se agarrar um no outro, com loucura, tesão e desespero.
Os movimentos ficaram mais rápidos e veementes, ambos gemiam cada vez mais alto e os corpos se chocavam numa louca tentativa de fusão extrema, de possessão total...
Os quadris moviam-se no ritmo sôfrego que antevia os tremores do gozo, fazendo Camus sentir a masculinidade do amante apropriando-se das profundezas de seu corpo e, Milo, a acolhida do corpo quente que era mais uma, das muitas provas de amor que o duque lhe dera...
O suor cobria seus corpos, em minúsculas gotas, a respiração não tinha mais controle, anunciando que a loucura que os acometia estava próxima do clímax...
Camus fechou os olhos, sentindo seu corpo ser arremessado numa torrente de prazer e vibrar numa intensidade que o fez grunhir de forma profunda e gutural. O orgasmo irrompeu quente e abundante no tórax de Milo, enquanto ele estremecia convulso, contraindo-se em torno do membro ereto que estava mergulhado dentro de si.
Ao sentir-se engolido, Milo também gozou, envolvido pelo delicioso aperto da cavidade que o massageava, estreitando-se em torno de seu falo, enlouquecendo-o de um prazer delirante que o fez estocar mais fundo e derramar-se dentro do amado.
– Camus... – disse Milo ondulando os quadris e projetando-os para baixo, sentindo seu sêmen preenchendo o amante e buscando a boca entreaberta dele, para sorver os ofegos luxuriantes do orgasmo...
Sacudido por aquele clímax intenso e perturbador, Milo desabou sua cabeça sobre o corpo de Camus. O ruivo exalou o ar de forma rouca, acariciando-o nas costas e nos cabelos molhados de suor. Permaneceram unidos por um tempo, até Milo sair de dentro de Camus e ambos se abraçarem, beijando-se com ternura.
– Eu...Eu... não tenho... palavras, Camus. Puxa, isso foi... foi incrível. – disse Milo.
Camus sorriu e estreitou aquele contato, ainda ofegante e com o coração retumbando dentro do peito.
– Eu também não, Milo... A única coisa que me ocorre é que eu te amo... muito.
Os dois adormeceram sob o calor do fogo, saciados e em paz, enquanto lá fora a neve caía, lentamente, cobrindo a paisagem.
Village Mall entrava em outra fase, uma fase onde o amor construiria um futuro mais pleno e cheio de novas perspectivas.
Quando amanheceu, Camus abriu os olhos, tendo Milo agarrado a si. Acariciou os cabelos loiros e desalinhados e sorriu, lembrando-se da cena em que o encontrara brincando na neve.
É, Milo... você foi o anjo que me mostrou o significado real da felicidade e mudou, não só a minha vida, mas também todo um passado de medo e rejeição que pertenceu a toda uma geração da minha família. Obrigado, meu anjo, meu amor... Pensou o duque, enquanto olhava os primeiros raios de sol, abraçava Milo e aproveitava o amor e o aconchego com seu corpo e com o seu coração.
FIM
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