— Onde está o seu guarda? — Miteum perguntou, confuso por não vê-lo ao lado de Yoongi quando chegou no Palácio de Treinamento.
— Não estou interessado em saber — respondeu irritado, Miteum se dando conta de que o primeiro encontro deles não foi tão amigável.
Preferiu não falar mais sobre o guarda e se aproximou de Yoongi quando o viu sentar. Apontou para os papéis e explicou que tinham sido enviados hoje cedo pelo tenente da guarnição da ala sudoeste. Algumas cartas precisavam ser respondidas e enviadas imediatamente, e foi nisso que Yoongi focou sua atenção, não percebendo que o guarda havia entrado em sua tenda, e parado ao seu lado, após algum tempo.
Yoongi levantou a cabeça para falar com Miteum, mas notou a presença indesejada a seu lado e revirou os olhos, decidido a ignorá-lo o quanto pudesse.
— Miteum, leve isso para o Conselho. — Yoongi entregou alguns papéis assinados por ele e o homem os organizou, antes de deixar a tenda.
Vendo-se sozinho com seu guarda, Yoongi não soube o que fazer. Estava acostumado a estar sozinho ou com homens que tratariam de assuntos referente ao Império. Saber que tinha alguém do seu lado que permaneceria ali em silêncio, o deixava desconfortável.
Miteum voltou algum tempo depois, encontrando Taehyung em silêncio e Yoongi tenso sentado à mesa enquanto encarava seu armário. Achou aquela situação interessante, era a primeira vez que via o sobrinho precisar estar na presença de alguém a quem não poderia dar ordens. Estava curioso para saber como ele reagiria ao descobrir que Taehyung tinha poder para decidir por sua segurança como bem entendesse. Se fosse perigoso, Taehyung poderia decidir o que fazer sem consultar Yoongi. Também seria a primeira vez que o sobrinho teria alguém com tanto poder de decisão sobre sua vida quanto o Imperador.
[...]
— O general não deveria trancar a porta do quarto. — Taehyung forçou a entrada e o ouviu resmungar algo dentro do quarto. — É o meu trabalho, deixe-me entrar ou terei que arrombar a porta.
— Ouse tentar! — rebateu de dentro do quarto, os braços cruzados.
Taehyung suspirou e se preparou para o que estava por vir. Nunca pensou que o homem pudesse ter essa dualidade, Yoongi poderia ser o maior general que a Coreia conhecia, mas também era mimado e estava sempre na defensiva. Não conseguia lidar com ambos os lados e isso o deixava nervoso por não saber como poderia fazer seu trabalho sem irritá-lo. Era como se a irritação do general não fosse pela proteção oferecida, mas pela companhia constante. Desejava conversar com sua mãe, ela conseguiria acalmar Yoongi com facilidade e fazê-lo enxergar que, não importava se ele era o melhor general do país ou o adulto mais mimado que existia, ele estava em perigo e precisava ser protegido.
— Desculpe-me. — Taehyung forçou a porta até que ela cedeu e rompeu a tranca. A abriu com cuidado para que não danificasse ainda mais a madeira e entrou, podendo observar os punhos cerrados de Yoongi ao lado do corpo e seu rosto vermelho. Era uma cena da qual já se acostumara.
— Você passou por uma ordem minha — rosnou ao semicerrar os olhos em sua direção.
— As únicas ordens que sigo são as de Vossa Majestade. — Taehyung se explicou, querendo evitar uma discussão. Contudo, ao ver tanta raiva contida em seu olhar, soube que Yoongi não mudaria sua forma de tratamento. Era explícito o quão indesejado era, conseguia sentir isso principalmente quando se aproximava e via-o recuar alguns passos.
Yoongi grunhiu por saber que não poderia tomar uma atitude drástica, porque isso seria confrontar o Imperador e acabaria sendo punido, mas não conseguiu controlar a frustração. Ignorou a presença do guarda e apagou as velas, indo para sua cama e deitando. Se fosse falar algo, com certeza não seriam palavras agradáveis de se ouvir. Fechou os olhos, mas não conseguiu dormir, completamente consciente de sua presença no cômodo e dos sentimentos estranhos que buscava reprimir toda vez que o guarda se aproximava demais.
[...]
— Sua raiva é direcionada ao Imperador. — Miteum comentou enquanto bebia chá. Estavam em casa em uma das raras ocasiões em que seu guarda não estava tentando ser sua sombra. — Não deveria tratar Taehyung desse jeito.
— Usando o primeiro nome dele, é? — O comentário sarcástico não passou despercebido pelo homem, mas preferiu manter o tom neutro e não ceder às investidas do sobrinho. Não queria discutir.
— Sim, e você também usaria se desse uma oportunidade a ele.
Yoongi não pode rebater, porque Taehyung apareceu na sala de estar tão silenciosamente que não teria percebido se não estivesse de frente para a entrada do cômodo. Pensou em fazer um comentário, mas Miteum o encarou, por isso se conformou em ajeitar a postura e ficar quieto. Ele ainda era seu tio e não iria desrespeitá-lo e, pelo visto, era o único a ser contra ter alguém o protegendo por tantas horas seguidas.
— Taehyung, gostaria de se juntar a nós? — Miteum perguntou de forma amigável e encarou o guarda que o olhou surpreso. O homem já o tinha convidado diversas vezes enquanto bebia sozinho, mas só aceitou recentemente. Tinha sido um momento agradável em que não precisava estar alerta nem vigilante. Conversou e contou um pouco de seu passado, sendo tratado de igual para igual pelo homem. Agora, entretanto, sentia-se tentado a negar o convite, Yoongi estava entre eles, afinal. — Venha, sente-se conosco.
Taehyung tentou parecer neutro para não expor sua hesitação e caminhou pesadamente até eles, sentando-se na posição de lótus e aceitando a xícara que lhe foi oferecida por Miteum. Levou-a aos lábios e encarou Yoongi sobre a xícara vendo-o desviar os olhos rapidamente ao ser flagrado o encarando. A expressão parecia raivosa, mas Taehyung notou as orelhas vermelhas e ficou surpreso. Será que era vergonha? Quase se permitiu sorrir, mas não iria dar motivo para que o outro deixasse o cômodo ou soltasse frases agressivas para si.
— Então, seus pais gostaram do presente? — O homem perguntou após beber alguns goles de seu chá.
— Eles agradeceram. Minha mãe pede desculpas por não poder presenteá-lo à altura. O arroz que enviou é de primeira qualidade. — Taehyung respondeu antes de sorrir, Yoongi o observando disfarçadamente. O sorriso que ele deu a seu tio causou-lhe um desconforto na barriga. Não gostou do que sentiu e se levantou, pedindo licença ao tio.
— Você fica. — Yoongi avisou, antes que Taehyung pudesse se levantar e acompanhá-lo. Apesar do tom de aviso, o guarda depositou a xícara com cuidado sobre a mesa e se levantou.
— Eu irei, general. — Segurou em sua adaga presa na cintura consciente demais da aproximação de Yoongi, mesmo que tenha sido movido pela raiva.
— Eu não preciso de proteção na minha casa — rebateu entredentes ao que o encarava; o rosto um pouco acima do seu.
— Eu não me importo com o que você acha sobre isso. Vou protegê-lo aonde quer que vá. — Taehyung respondeu, aliviado por não ter gaguejado. O cheiro de Yoongi alcançou seu nariz e o atingiu como um soco, a mão que segurava o cabo da adaga intensificando o aperto.
Yoongi o encarou por mais alguns segundos e se virou, caminhando a passos duros e pesados até seu quarto. Nas últimas semanas tem sentido a presença de Taehyung de um jeito que o confundia. O desconforto ainda estava ali, mas, o que tinha mudado?
— Sinto muito, senhor. — Taehyung se inclinou em respeito a Miteum e deixou o cômodo, indo atrás de Yoongi.
Miteum continuou onde estava, dessa vez, o indício de um sorriso podendo ser visto em seus lábios.
[...]
— O general poderia me treinar? — Taehyung perguntou em uma das noites em que precisou ir buscar Yoongi no Palácio de Treinamento. — Eu estava em constante treinamento no palácio, mas já faz semanas que não treino. Seria uma honra treinar com o general. — Curvou-se em um pedido mudo para que não fosse rejeitado, mas teve apenas o silêncio como resposta. Yoongi o encarou por alguns segundos quando Taehyung voltou à postura habitual, antes de desviar o olhar e entrar na carruagem, esperando que o guarda entrasse para que o cocheiro pudesse levá-los para casa.
O trajeto até a residência foi feito em silêncio, a aura que os envolvia era tensa. Taehyung pensou que tinha ultrapassado algum limite entre eles, mas não tinha certeza. O general não o provocava mais nem o atrapalhava em seu trabalho, apesar disso, a distância entre eles, continuou incômoda e desconfortável.
O solavanco que a carruagem deu antes de parar indicou que eles haviam chegado em casa. As mãos de Yoongi suavam, seu desejo de sair daquele cubículo o sufocando aos poucos. Os últimos dias o fizeram enxergar coisas que não deveria ter percebido. Não gostava da intimidade que Taehyung e Miteum pareciam ter, muito menos das reações de seu corpo quando ele se aproximava demais.
Taehyung desceu da carruagem e segurou a porta para que Yoongi pudesse descer. Ao fechá-la, o cocheiro movimentou a carruagem deixando-os sozinhos.
— Encontre-me no pátio em vinte minutos. — A voz soou firme e Yoongi se afastou, pretendendo trocar a veste formal para a de batalha.
Taehyung se apressou para ir até seu quarto no fundo da casa. Tinha um quarto só para si, porque era impossível estar com o general por todo o tempo, então quando ele estava com Miteum, Taehyung nem sempre acompanhava e usava as poucas horas para se alimentar e descansar. No Palácio de Treinamento também era desnecessário estar presente, mas o Imperador disse que enquanto ele estivesse acordado era para estar junto ao general, por isso trocou o turno no qual dormia. Cuidava de Yoongi do final da tarde ao amanhecer e Miteum o protegia no Palácio. Além disso, Yoongi era um general e estava preparado para imprevistos.
Deixou seu arco sobre a cama, mesmo que fosse sua arma preferida. De nada serviria em um combate direto. Ficou com a adaga, as facas menores que escondia nos bolsos da farda e pegou sua cimitarra, um tipo de arma importada da China. O contato frio da lâmina em sua mão era agradável, acostumou-se a apreciar as armas que utilizava para se defender e da adrenalina de um confronto. Nunca esteve em confronto direto com rebeldes, pois quando seu treinamento terminou surgiu a chance de fazer o treinamento especial para ser o guarda pessoal de Yoongi. Não precisou pensar muito para aceitar passar por mais um treinamento. Estando perto do general poderia protegê-lo do jeito que queria, algo impossível em um campo de batalha, em que o homem estaria na linha de frente.
Deixou o quarto e apressou os passos pelo corredor. O pátio ficava no fundo da mansão, a área aberta conectava-se com outras alocações da casa. Taehyung só estivera ali uma vez, quando Miteum apresentou os cômodos da casa para que ele se acostumar. Assim que deixou a mansão, desceu os poucos degraus e alcançou o pátio vazio. Pôde observar melhor a casinha do cocheiro e a do jardineiro, os materiais para cuidar do jardim que rodeava o pátio e uma locação que, segundo Miteum, apenas Yoongi podia entrar. O homem não comentou mais detalhes e ele não os pediu, aceitando a curiosidade que não seria saciada. Tentou imaginar o que Yoongi poderia fazer naquele cômodo aos fundos da casa, mas nada lhe veio à mente.
— Sabe usá-la? — Taehyung ouviu a pergunta atrás de si e franziu as sobrancelhas, virando-se com agilidade, a cimitarra deslizando no ar e cortando-o em direção a Yoongi. O general levantou sua espada curva de duas lâminas e impediu o golpe de acertar seu rosto. Sorriu ao encará-lo. — Vamos ver o que aprendeu.
Yoongi girou a espada, mas Taehyung foi mais rápido ao se esquivar dela. Precisaria prestar atenção ou acabaria se cortando em uma das extremidades. Ao notar os movimentos, percebeu que Yoongi já era habituado a usar aquele tipo de espada. Recuou alguns passos, tentando aprender a tática dele e ganhando tempo para tentar encontrar um jeito de vencê-lo.
— Vai precisar de mais que dois olhos para me acompanhar, Kim Taehyung. — Sorriu ao colocar a espada apoiada atrás de seu pescoço, em seu ombro e virou seu rosto para encarar a arma, seus longos dedos acariciando-a.
Taehyung avançou e o atacou diretamente, o impacto da cimitarra sendo absorvido pela espada do general. Ofegou pela força infligida, mas Yoongi parecia saber exatamente qual movimento iria fazer antes mesmo de se mover para executá-lo. Yoongi arrastou a espada pela cimitarra, o barulho de ferro atritado em ferro soando alto.
— O segredo está nos pés. — Yoongi deu dois passos para trás e passou a circular em torno do guarda, como se ele fosse uma presa prestes a ser abatida. Taehyung tentou acompanhar seus movimentos ao que alternava o olhar para os pés de Yoongi como ele falou, mas era difícil. Yoongi nunca fazia os movimentos que seus pés indicavam que faria.
Era estranho vê-lo sorrindo de forma tão cruel para si, como se ele estivesse prestes a matá-lo. Seu sorriso de canto era fascinante e amedrontador, mas aquilo o distraiu e ele perdeu o movimento seguinte, sua cimitarra indo ao chão com o golpe que o general deu. Taehyung puxou sua adaga da cintura a tempo de se defender, mas não conseguiu conter a força do golpe, a lâmina curva roçando sua bochecha. Sangue escorria do corte superficial.
Yoongi ficou surpreso por um momento, não tinha a intenção de machucá-lo, mas não imaginou que Taehyung não fosse deter seu golpe. A surpresa, porém, logo foi disfarçada quando viu que não tinha sido profundo. Taehyung roçou o dorso de sua mão no corte e senti-o molhado, o cheiro de sangue inundando seu olfato. Encarou Yoongi, sua expressão mudando.
Tentou acompanhar seus passos mais uma vez e quando avançou sobre o general, usou toda a força que tinha contra ele, ambas as armas indo ao chão a alguns metros deles. Sorrindo por ter conseguido desarmá-lo, Taehyung se aproximou para dominá-lo em seus braços. Yoongi percebeu sua intenção e fingiu não ter mais estratégias, esperando o corpo do guarda estar próximo o suficiente. Chutou-o com força na barriga, vendo-o cuspir sangue e recuar alguns passos. Yoongi não lhe deu tempo para se recuperar e contra-atacar, chutou-lhe as pernas lateralmente e o derrubou. Prendeu o corpo abaixo do seu e aproximou seu rosto do dele.
— Acho que já estivemos nessa posição antes. — Sorriu irônico ao puxar uma faca escondida sob a roupa e pressioná-la contra o pescoço do guarda que respirava entrecortado.
— Não, você não venceu. — Taehyung fez um pouco de força e Yoongi pôde sentir algo pontiagudo firme em sua cintura. — Você teria morrido antes de pensar em cortar meu pescoço.
Ambos respiravam ofegantes, mas Yoongi sabia que ele tinha outros motivos para respirar daquele jeito. Agora que a luta teve seu fim, ficou consciente do corpo de Taehyung sob o seu, das mãos do guarda pressionadas com firmeza em sua cintura e do desejo que aflorou em si ao desviar o olhar de seus olhos e encarar seus lábios cheios.
Encaravam-se em silêncio, o desejo refletido no olhar e no arfar. Taehyung se viu completamente rendido ao general que parecia inclinar-se contra si a cada respiração curta que dava. Quase podia sentir o gosto de seus lábios por tamanha proximidade e, de novo, seu cheiro delicioso foi sentido. Pressionou sua cintura trazendo-o mais para baixo, contra seu corpo, pela primeira vez em sua vida, desejando estar sem roupas com outra pessoa.
Soltou a faca que segurava e levou sua mão ao pescoço de Yoongi, sua pele se arrepiando pela carícia íntima. O polegar deslizou com lentidão pelos lábios finos, os olhos do general prestes a fechar. Taehyung o observava com certo fascínio, os olhos brilhantes ao captar cada expressão sua.
Yoongi nunca sentiu tanta vontade de ceder a toques e carícias como naquele momento. Sua pele estava sensível e seu corpo parecia sedento por mais toques, mas quando seus lábios foram tocados, voltou à realidade e tentou controlar tamanho desejo, forçando seus olhos a ficarem abertos e encarar o homem abaixo de si.
— O treino acabou — falou em voz alta, o desejo sendo ignorado e afugentado em seu íntimo. Nasceu para a guerra e se manteria nela, não tinha tempo para outras coisas.
Levantou-se rapidamente e nem se preocupou em pegar suas armas, desesperado para sair dali. Sabia o que aconteceria se tivesse permitido as carícias, suas orelhas vermelhas indicavam para quem quisesse ver o quão desnorteado e desejoso estava para ter seu guarda o tomando.
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