Missões de pesquisa sempre eram necessárias após o domínio de um planeta. Quando se conquistava um mundo especialistas iam até área, para descobrir as condições, recolher as espécimes e estudar os elementos presentes no mesmo. E assim que a missão era dada como encerrada uma avaliação era feita, e era ela que denominava se o planeta valia a pena ser leiloado ou habitado por mais uma das colônias do império.
O poder de Freeza era tão surreal por todo o universo, que até grandes impérios se viam forçados a se tornarem aliados. E o caso dos Saiyajins era aquele. Por anos vários jovens saíam de Vegeta-sei e se uniam ao exercito de Freeza representando sua raça. E com Kakarotto não era diferente.
Em seus discursos, Rei Vegeta dizia ao povo que aquela aliança era motivo de grandes glórias. Que era uma honra para todo saiyajin trabalhar á serviço de Freeza.
O rapaz bufou só de lembrar. Honra? Grandes glórias? A verdade era apenas uma: Todos estavam fugindo do extermínio. E a única maneira de impedi-lo era se unindo aquele tirano que todos chamavam de imperador. Claro que aqueles pensamentos eram só do rapaz. Se dissesse isso provavelmente seria deposto de seu cargo na nave, talvez até castigado...
Afinal aquela missão de pesquisa estava sendo financiada pelo próprio Freeza!
Apesar do espaço parecer uma noite infinita, aquele horário devia ser madrugada em Vegeta-sei, Kakarotto pensava entre um bocejo e outro. Aquelas reuniões surpresas do conselho sempre acabavam com ele...
Ainda tinha uma pilha de papéis para organizar e entregar na central espacial, mas aquilo era de menos. Arquivos importantes como aquele, eram taxados como “A”, e sempre tinham uma data de entrega prevista. E por sorte, a central estava cerca de sete dias da nave. Teria tempo de sobra.
Só lhe faltava algo para completá-lo... Um nome. E apesar de parecer algo simples o saiyajin não tinha ideia do que nomear...
Pensou em usar uma palavra-chave, exclusiva para aquele documento. Mas precisava ser algo único... Algo que ficasse na memória. Suspirou cansado. Era hora de ir até a sala de reuniões.
Desceu pelo elevador, já com o destino em mente. A sala ficava logo abaixo, sendo quase imperceptível. Raramente a usavam.
Quando entrou viu que três já estavam ali, a espera do capitão. Pelo visto ele era o penúltimo representante de um setor à chegar. Sentou-se, cruzando as pernas. Os demais presentes conversavam banalidades...
Já ficava impaciente e sonolento, mexendo um dedo sobre a mesa, revelando sua inquietação. Tudo o que mais gostaria era de se jogar em sua cama.
Felizmente, antes que o rapaz desse uma cria, o capitão apareceu juntamente acompanhado de Raditz. Ele também era do conselho. Esse, se sentou na única cadeira vazia e o capitão em seu lugar de costume. Pelo canto do olho observou o irmão, mas ele felizmente não disse nada. Ele quase agradeceu a qualquer divindade...
E assim a reunião foi iniciada. As assembleias não costumavam ser longas, muito menos frequentes. Mas para o controle e ordem de uma tripulação, independente do número de indivíduos, sempre era exigido um quórum de liderança. Ao todo eram cinco líderes, fora o capitão, que era o principal responsável pela nave. Cada homem naquela sala representava seu setor.
Havia o representante do setor um, que era o responsável pelo sistema de navegação. O do setor quatro, responsável pela parte mecânica. O do três, Raditz aliás, responsável pelo armamento e formações de tropa (Que eram importantes mesmo sendo uma missão de pesquisa, a segurança de uma tripulação devia ficar sempre em primeira mão!). O do cinco, responsável pela saúde. E o do dois, Kakarotto, o foco. Responsável pela realização da pesquisa.
Geralmente Kakarotto sempre ocupava um cargo de ajudante de enfermagem ou mecânico, afinal, era considerado um guerreiro de classe inferior...
Mas aquela missão finalmente o dera chances de conseguir um papel importante. Avaliação e estudo, sua especialidade! E apesar de saiyajins verem aquilo como uma maldição, para Freeza era um dom. Ele precisava de pessoas como Kakarotto para aquele tipo de trabalho.
Discutiram o básico, como coisas que precisavam ser feitas para o melhoramento da estadia da tripulação e problemas a serem solucionados. Claro, os problemas nunca acabavam. Viagens pelo espaço eram excitantes, mas perigosas. Sempre havia um problema que era resolvido, para depois outro aparecer, e assim por diante...
- E também não podemos nos esquecer da parada para inspeção da nave. - o capitão lembrou – Gálatus é o planeta em território do império mais próximo.
Kakarotto rolou os olhos quase que automaticamente. Changelings e saiyajins eram aliados à tanto tempo... E mesmo assim a inspeção de naves num planeta de Freeza era obrigatória. Achava aquilo um desacato, saiyajins eram leais!
- Chegaremos no planeta em doze horas. Até lá, descansem. Esta reunião está encerrada.
Cada homem se levantou, pronto para se retirar. Kakarotto fazia o mesmo até ser chamado pelo capitão. Virou-se no mesmo instante.
- Senhor? - indagou, respeitoso.
- Você fica encarregado de descer em terra firme. Precisamos repor equipamentos e colher mercadorias.
Ele deu um sorriso, acenando afirmativamente. Saídas sempre eram bem-vindas, principalmente depois de quase dois meses preso numa nave.
- Sim senhor.
E o rapaz se retirou. Algo ao menos havia valido à pena.
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A garota limpava restos de sementes de uma gaiola, enquanto tentava inutilmente fazer aquele papagaio calar a boca. Todo dia era daquele jeito, já estava ficando farta. Bufou irada. Por que ele não podia colaborar com o silêncio como todos os outros bichos? Da ultima vez que ele havia dado um escândalo Kakarotto aparecera de relance na porta do armazém dizendo que ia matar ambos se ela não o calasse. Sinceramente, ela não temia Kakarotto, mas era melhor apenas obedece-lo.
Quando terminou, bateu as mãos uma na outra, mesmo sabendo que ia precisar lavá-las por fim. Se virou para pegar o saco de sementes e colocar no lugar quando se deparou com o rapaz. Deu uma leve estremecida, mas logo se acalmou. Ele sempre aparecia de surpresa!
- Você se assusta muito fácil. - disse entediado, encostado em uma estante.
Ela não falou nada, apenas fez o que devia. Arrastou o grande saco segurando firmemente a abertura. Um descuido e todas aqueles sementes cairiam no chão, a dando mais trabalho.
- Você podia parar de aparecer de repente. Eu ia agradecer. - falou.
- Aí não ia ter graça. - ele deu de ombros e se aproximou.
Ela sorriu e o olhou, colocando uma mão na cintura. Era bom poder tratar alguém informalmente, sua autoestima melhorara um pouco.
- O que te trás aqui? - perguntou, com certeza havia uma razão pra ele estar ali. Nunca aparecia apenas para jogarem conversa fora.
- Escuta – foi direto – Estamos nos aproximando de Gálatus, um planeta comercial. Vamos fazer uma inspeção na nave e pegar algumas coisas.
- Uma inspeção?
- Sim, uma “vistoria de segurança”- não deixou de ironizar.
Ela acenou, entendendo.
- E dessa vez, eu fui convocado para ir até a cidade. E enquanto eu estiver fora você vai ficar aqui, com os outros.
- E...?
- E... Bem... - ele a encarou sério – É uma parada rápida. Mas mesmo assim... A maioria desses soldados não apoiam sua estadia aqui e... eles também não tem uma presença feminina há um tempo.
Ela se constrangeu, entendendo aonde ele queria chegar.
- As chances de algo acontecer quando eu estiver fora são pequenas, mas existem. É bom não ignorar. Aqui.
E ele tirou algo do bolso. Era uma espécie de pulseira. Era de um material resistente e escuro, e ao topo, havia um botão preto e discreto.
- O que é isso? - indagou. Analisando todos os detalhes daquilo.
- É um localizador. Se apertar este botão imediatamente meu scooter vai apitar e eu saberei sua localização exata.
- Ah, claro. - ela a colocou no mesmo instante.
- Ótimo. Agora separe pelo menos três destes animais. - falou batendo em uma das gaiolas.
Ela mais que depressa ergueu suas sobrancelhas, confusa.
- Por que?
- Você não tem ideia de quantos seres aparecem nas feiras de Gálatus. Se eu der sorte consigo vendê-los por um bom preço. Os ricos gostam de coisas exóticas.
Ela ficou indignada e não conseguiu se conter.
- O motivo da sua saída nem é esse! Você disse que os estudaria!
Ele riu grosseiramente, era raro vê-la daquele jeito.
- Eu vou estudar. Mas não incluí-los em minha pesquisa territorial. Eles são mais como... Um bônus. - disse com um ar convencido.
- Um bônus?! - falou indignada. - Isso é injusto!
Se preparava para falar mil coisas... Mas se viu obrigada a engolir sua fúria.
- Puff. - Suspirou entediado. - Não devia se sentir assim... Injustiças como essa vivem acontecendo. Se acostume. Está longe de casa. - e ele ia indo embora, mas se viu tentado a voltar - E só uma coisa, existe uma linguagem universal muito mais eficiente que palavras, se é que me entende. - e ele fez um movimento com os dedos, se referindo à dinheiro.
E ele lhe deu ás costas, a mandando deixá-los perto da rampa de saída. A garota suspirou, assim que se viu só novamente. O que a atormentava de fato agora não eram apenas os animais, e sim a linha de pensamento daquele rapaz. Seria ela um bônus também?
Bem, tinha obrigações à cumprir.
Pegou o gato meio marrom, o cachorro caramelo e o papagaio. Era triste ter de deixá-los... Sentiria falta até daquele papagaio insuportável. Suspirou tristonha. E assim se retirou do armazém.
A nave estava movimentada. Se preparavam para atingir a atmosfera do planeta. Ele viu Gálatus através do visor. Era enorme! Maior do que qualquer outra coisa que havia visto... Sua cor era meio arroxeada, com tons mais leves de lilás em algumas partes.
- Saia da frente! Está atrapalhando o caminho! - um homem barbado a empurrou grosseiramente pro lado, a tirando de devaneios.
- Desculpe... - falou baixo.
Mas ele foi embora sem prestar atenção em nada. Seria melhor sair de lá mesmo e voltar pra sua cela/quarto, como vinha apelidando.
Viu Kakarotto mais a frente conversando com alguns soldados. Ele não estava mais vestindo o velho macacão de sempre. Agora vestia um traje diferente. Uma armadura talvez, visto como parecia resistente. Cobria todas as partes vitais do corpo e era de um tom azul escuro. A única semelhança com o macacão costumeiro cinza, era o emblema real do lado esquerdo do peito. E em seu rosto, havia uma espécie de monóculos eletrônico... Pensou que fosse o scooter do qual falara. Gostaria de ver aquilo de perto um dia.
Podia-se dizer que ultimamente sua cela/quarto andava sendo mais um quarto do que uma cela, já que Kakarotto a deixava com mais liberdade nos últimos dias. Sem prendê-la o tempo todo.
Graças a suas tarefas diárias ela vinha aprendendo coisas novas, não apenas sobre a Terra, mas sobre o universo.
No momento se encontrava em sua cama, debruçada e lendo um livro. Um livro com histórias, adorava fazer aquilo nos tempos vagos.
Já havia lido sobre baleias brancas, monstros de lagos, de detetives com deduções extraordinárias...
Ela até gostava de se imaginar como uma detetive. Sua vida era um grande ninho de deduções! Se perguntava até as coisas mais bobas...
Qual devia ser sua comida favorita? Os lugares que costumava frequentar? Gostava de algo em particular? Teria irmãos? E no fim essas dúvidas sempre se tornavam angustiantes. Mesmo se um dia ela se lembrasse de toda a sua vida, tudo que viveria dali pra frente seria extremamente doloroso...
O universo era incrível. Sabia disso com toda a certeza... Mas nada era como um planeta que podia chamar de lar. Nisso ela fechou os olhos, tentando imaginar uma realidade alternativa, onde podia ser só uma jovem normal, livre para tomar as próprias decisões, preocupada com o futuro...
E aos poucos foi pegando no sono.
Estava andando apressada sobre uma calçada, desviando das pessoas. Estava atrasada! Esbarrou em um senhor e pediu breves desculpas, usando seu melhor sorriso.
Cruzou a rua após o sinal fechar. Uma bolsa delicada pendia em seu ombro e segurava alguns livros. Dobrou uma esquina e acabou batendo de frente com alguém.
O ato a fez derrubar as coisas do alguém com quem havia batido.
- Oh, me desculpe. - se abaixou mais que depressa
Enquanto ajudava aquele rapaz a recolher suas coisas, olhou bem para o rosto dele e o reconheceu no ato.
- Yamcha! - falou animada – Que surpresa te ver aqui!
- Sim, a correria nunca para.
Ele a ajudou a se levantar, segurando suas mãos, sorrindo intensamente. Seus cabelos eram longos e negros, o rosto jovial e másculo, o dando uma impressão simpática. Também era muito atraente.
Pareciam se conhecer bastante, visto como ele a acompanhara até a outra esquina, numa conversa animada.
- Preciso ir agora. - ela disse, próxima de um poste - Foi muito bom poder te ver.
- Eu também tenho que correr. - ele riu.
Ela se despediu dele com um beijo na bochecha, e ele devolveu o gesto, voltando a segurar sua mão. Deram um sorriso tímido um ao outro, no fundo não querendo ter de se separar dele.
- Até mais.
E se virou, se despedindo, tomando seu rumo novamente. Não pôde deixar de olhar pra trás, e ao fazer isso viu que ele ainda estava parado, a observando. Ergueu uma mão.
- Espero que possamos nos ver em breve de novo Bulma!
A garota abriu os olhos, e disse instintivamente.
- Bulma.
O nome tão familiar. Bulma. O repetiu várias vezes, e de repente um sorriso largo preencheu seu rosto. Bulma! Ela se chamava Bulma!
Se levantou mais que depressa, ansiosa para contar aquilo para Kakarotto, mesmo sem ter certeza se ele já teria voltado ou não. Pela primeira vez em dias se sentiu tão feliz, que quase sentiu lágrimas nos olhos.
E quando estava perto do laboratório um tremor muito forte atingiu a nave, a fazendo se escorar na parede. Arregalou os olhos assustada. Um terremoto?!
Todos os frascos e aparelhos do laboratório começaram a cair no chão, se partindo.
Com dificuldades andou até o corredor do laboratório, mas um forte estrondo ocorreu e o impacto a fez cair no chão. No mesmo instante sentiu uma dor aguda na palma da mão, e quando a olhou notou vários cacos de vidro alojados ali, com o sangue já escorrendo e deixando uma mancha... Se sentiu tentada a tirar, mas a coragem lhe faltou... O que estava acontecendo lá fora?
Então ouviu barulhos de tiros e gritarias. Seu coração se descompassou. Não era um terremoto... Era algo na nave...
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