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História Anne with an e- continuação da série - O que te inspira - História escrita por roalves - Spirit Fanfics e Histórias
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História Anne with an e- continuação da série - O que te inspira


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Caro, leitores, Este capítulo ficou um pouco tenso a princípio, mas creio que gostarão do final. Por favor me digam o que acharam.
Beijos.

Capítulo 46 - O que te inspira


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - O que te inspira

 

ANNE

Anne chegou em casa naquela quarta-feira abarrotada de livros. As aulas na faculdade já tinham começado há três meses e ela se sentia totalmente integrada naquele universo intelectual com o qual sonhara quando criança, mas que nunca realmente pensara que conseguiria alcançar.

Adorava todas as aulas, e todos os professores, e como não poderia deixar de ser, todos os professores a adoravam também, o que não era nenhuma novidade, já que desde os primeiros dias de aula Anne mostrara a que veio ao mundo.

Ela tinha um espírito de liderança nato, o que não passou despercebido aos professores, pois realizava qualquer atividade com empenho e dedicação, e inspirava outros a fazê-lo também.  Sua mente ágil e inteligente fazia de Anne a aluna dos sonhos de qualquer área docente, pois ela adorava discutir assuntos diversos e suas opiniões eram sempre apreciadas por seus colegas que a admiravam por suas colocações sempre espirituosas e coerentes.

Muitos se perguntavam de onde vinha tanta sabedoria? Aquilo era algo incomum em uma garota como ela, que vinha de um orfanato e fora criada em um lar adotivo.

Anne era uma daquelas pessoas que nasciam com instinto natural para vida, como uma esponja absorvendo tudo o que podiam em termos de sabedoria, pois o que lhes faltava de amor,  elas compensavam com o conhecimento, e no caso dela, sua condição de garota órfã a levara para o mundo do saber, talvez porque assim escapava de seu destino solitário e sem grandes esperanças  e se fortalecia por dentro para que assim pudesse enfrentar o mundo de peito aberto e sem medo, pois enquanto a ignorância matava o espírito com a falta de perspectiva,  sabedoria o enriquecida com um mundo de possibilidades e escolhas a fazer. Por isso, a faculdade para Anne era um lugar fascinante onde podia explorar suas capacidades ao máximo aguçando cada vez mais sua mente perspicaz e lógica.

Seu grande conhecimento em literatura a levará a alcançar voos mais alto. Fora convidada pela sua professora daquela matéria para ministrar aulas de reforço para os alunos do primeiro ano que tinham dificuldade nesta área, cargo que ela aceitou sem pensar duas vezes.

Sua paciência e imensa capacidade de transmitir entusiasmo para alunos que tinham pouco interesse em literatura, fez as aulas de Anne serem disputadas por alunos de outros anos que adoravam o jeito dramático e até teatral de Anne falar sobre autores e suas obras, o que também lhe rendera um convite para participar do grupo de teatro dentro da Faculdade, convite este que Anne ainda estava considerando, pois como andava muito ocupada, não tinha certeza se teria tempo para mais está empreitada.

No que dizia a vida acadêmica a de Anne era um sucesso, assim como sua vida amorosa. Ela literalmente andava nas nuvens, pois Gilbert vinha para casa todos  os fins de semana e os dois passavam juntos cada segundo. Eles faziam piqueniques, visitavam amigos, iam à praia quando o tempo permitia e inspecionavam juntos a construção da casa de ambos que estava a todo vapor. Sebastian fira encarregado de cuidar de todos os detalhes, e tanto Anne quanto. Gilbert estavam adorando acompanhar o passo a passo do trabalho.

A vida para Anne corria dessa maneira, rápida e vibrante, e depois que a tristeza da partida de Gilbert se transformara no êxtase da presença dele sempre ao seu lado, ela definitivamente não tinha mais do que reclamar. Cada encontro dos dois era regado de amor, paixão e desejo, eles viviam em constante estado de graça.  Cada vez que Gilbert chegava para passar o fim de semana com ela era uma felicidade para Anne, eles se amavam com o mesmo fogo da primeira vez e ela tinha certeza de que fazer amor com Gilbert sempre seria assim,     aquele encontro de almas, bem mais do que a fusão de seus corpos, aquela paz que tomava conta dos dois quando o fogo da paixão ia aos pouco  se acalmando, aquela certeza que ela tinha de que Gilbert era sua alma gêmea e a plenitude que encontrava nos braços dele e que a tornava uma mulher completa.

Assim que entrou pela porta da cozinha de Green Gables naquele dia, Marilla olhou para ela espantada e disse:

- Santo Deus, Anne. De onde veio tudo isso? Você assaltou uma biblioteca por acaso?

- São alguns livros que utilizo para dar aulas de literatura para os meus colegas da faculdade. A professora Martha me disse que eu podia ficar com eles, então resolvi trazê-lós para casa.- Anne disse, sentando-se na mesa da cozinha e suspirando aliviada enquanto massageava seus braços que estavam doloridos pelo esforço de carregar todos aqueles livros. Sorte a dela que um dos seus colegas morava perto de Green Gables e lhe oferecera uma carona, evitando que ela tivesse que pegar um ônibus cheio de gente, e depois andar mais um quilômetro até chegar em casa com aquele peso todo em seus braços.

- Bem, que bom para você, pelo menos, poderá preparar as aulas em casa, e não terá que sair de manhã tão cedo para ir para a Faculdade. – Marilla ponderou.

- É verdade, isso economizará um tempo enorme.- Anne concordou.

- Ah, antes que eu me esqueça. Diana esteve aqui de manhã   e me pediu para te dizer que ela te espera na casa dela amanhã à tarde.

- Ela disse do que se tratava? – Anne perguntou curiosa.

- Não, mas ela me pareceu muito animada, então deve ser mais alguma de suas ideias mirabolantes para diversão. – disse Marilla um tanto ranzinza.

- Irei na casa dela depois da Faculdade amanhã. Bem, vou para o meu quarto. Tenho alguns trabalhos para terminar.- Anne disse, se levantando da cadeira e pegando todos os livros para levar até seu quarto.

- Está bem, mas, não demore muito, pois logo será a hora do jantar. Você precisa se alimentar direito, anda muito magrinha ultimamente. E cuidado com a escada. – Marilla disse ao vê-la fazer malabarismo para conseguir carregar todos os livros de uma vez.

- Prometo não me atrasar para o jantar.- Anne respondeu subindo as escadas com cuidado.

Marilla tinha razão.  Ela precisava se alimentar melhor. Andara negligenciando as refeições quando Gilbert fora embora, pois a saudade dele a deixara sem apetite nenhum, e agora com a faculdade, estava correndo de lá para cá e sempre acabava comendo qualquer coisa, ou simplesmente pulava as refeições.

Gilbert chamara sua atenção para este fato, no último fim de semana que estivera com ela. 

- Anne, você sabe que te amo de qualquer jeito, mas, você precisa comer direito. Eu ando preocupado com você é não quero que caía doente.  Ê ótimo que você queira estudar e estar em dia com suas tarefas da faculdade, mas isso não quer dizer que precise deixar de se alimentar por causa disso.

- Você quer dizer que estou feia? – Ela dissera em um tom sério, mas por dentro ria divertida.

- De forma nenhuma. – Ele disse abraçando-a. – Você é sempre linda para mim.

- Não sei se acredito nisso.  Acho que não me acha mais atraente quanto antes. – Anne continuou provocadora

- Quer que eu te prove? - ele perguntará com os olhos brilhando.

- Ajudaria muito.- Anne respondeu já sentindo seu corpo se arrepiar enquanto Gilbert abriu o zíper do seu vestido, jogando-o ao chão.

Na hora seguinte ela deixou que Gilbert provasse com suas mãos e lábios o quanto a achava bela. Estavam no quarto dele, e Mary e Sebastian estavam no andar de baixo, e Anne teve que controlar seus suspiros e gemidos enquanto Gilbert a levava ao paraíso, pois receava que os dois pudessem escutar de onde estavam a celebração do amor que acontecia naquele lugar tão especial para ambos. O gosto do proibido tornara Anne e Gilbert mais ousados, e quando sua fome de amor terminara, eles se olharam cúmplices e sorriram um. para o outro mais apaixonados do que nunca.

A lembrança deste dia tão excitante para ambos fizera Anne se lembrar que naquele fim.de semana Gilbert não viria para casa. Ele estava em período de provas e por isso precisava estudar, e se viesse para Avonlea tendo Anne por perto isso seria a última coisa que faria.

Ela compreendia e não estava triste dessa vez, mas isso não a impedia de sentir saudades dele ou pensar em Gilbert cada minuto de seu dia. Precisava se ocupar com alguma coisa naquele fim de semana, ou ficaria maluca sem poder vê-lo.

No dia seguinte, ela foi para a faculdade como de costume, e ao retornar, ajudou Marilla com algumas tarefas em Green Gables, depois foi para a casa de Diana. Quando chegou lá, a amiga estava sentada na sala envolta em um emaranhado de papéis e uma lista enorme com nomes de pessoas, conhecidas e outras das quais Anne nunca ouvira falar.

- Nossa, Diana. O que é tudo isso? – Anne perguntou apontando para a papelada que jazia no chão.

- Ah, Anne, Ainda bem que chegou. – Diana parecia desesperada, e Anne sentou ao lado dela tentando descobrir o que a afligia.

- O que está acontecendo, Diana?

- Estou tentando preparar a lista de convidados para o meu casamento, mas não sei por onde começar. É tanta gente que estou ficando zonza. Por mim, eu faria apenas uma cerimônia íntima, mas minha mãe não aceitou. Você a conhece bem, adora ostentar sua posição social.

- Mas, ainda não é cedo para que você se preocupe com isso?

- Bem, o casamento será no próximo ano. E como Jerry agora está estudando Direito, meu pai quer oferecer um cargo para ele em sua firma. Na verdade, acho que ele está fazendo isso, porque tem medo que eu resolva ficar em Paris para sempre, o que não seria má ideia se eu pudesse fugir de tudo isso. – ela olhou ao seu redor desanimada com todo o trabalho que teria pela frente.

- E você resolveu ceder desta vez sem brigas e sem discussão?

- Eu até pensei em protestar, mas meu pai me pediu que levasse tudo isso da melhor maneira possível. Ele me disse que eu deveria compreender que como sou filha única, minha mãe sonha com um casamento de princesa para mim. Mas, você sabe que sou avessa a tudo isso, Preferia ter apenas meus amigos presentes, mas olha só para essa lista, é grande demais. Vou levar a vida toda para escrever o nome das pessoas em todos estes convites, e depois enviá-los.

- Foi por isso que me procurou ontem? Precisa da minha ajuda?

- Sim. Eu sei que deve estar ocupada com as coisas da faculdade, mas você é minha melhor amiga, e é a única pessoa para quem eu pediria este favor. Depois, podemos tomar chá e jogar conversa fora. O que acha? – ela sorriu para Anne esperançosa.

- É claro que pode contar comigo, pois sei que quando chegar a minha hora você também vai me ajudar. Afinal, para que servem os amigos?

- Mas, não vou te atrapalhar? Você não tem que estudar ou fazer alguma tarefa da faculdade?

- Fique tranquila. As minhas tarefas estão prontas e as provas somente ocorrerão daqui um mês. E além disso, nos deram duas semanas de folga, antes do início da preparação para os exames. Então eu sou toda sua pelo tempo que me quiser. – Anne disse em tom de brincadeira.

- Que alegria! Poderemos passar um tempo juntas como nos velhos tempos! – Diana falou animadíssima com a notícia.

- Sim, será ótimo. Agora acho melhor começarmos a trabalhar ou não terminaremos isso nunca.

Desta forma, passaram a tarde toda trabalhando nos convites e quando a noite chegou, já tinham todos os convites prontos. Diana levou Anne para a cozinha, e juntas prepararam um excelente chá de ervas que tomaram acompanhados de bolinhos de chuva.

- Que delícia! Faz tanto tempo que não provo um desses. – Diana disse apontando para os bolinhos. – Em Paris, Tia Josephine não aprecia muito este tipo de coisa. O chá é sempre preto ou de hortelã, e ela prefere brioche ao invés de bolinhos, pois diz que a massa é pesada demais para o seu estômago delicado. Você não faz ideia do quanto senti falta de tudo isso. Mas me conte quais são os seus planos para o fim de semana? – enquanto esperava pela resposta da amiga, Diana a serviu de mais uma xícara de chá.

- O Gilbert não virá este fim de semana por conta das provas da faculdade, então, não sei exatamente o que vou fazer com todo esse tempo livre.

- Ei, eu tive uma ideia. Por que você não o visita? – Diana perguntou.

- Em Nova Iorque? – Anne disse surpresa.

- É por que não? Gilbert vem para casa todos os fins de semana, então, por que não lhe faz uma surpresa e aparece na faculdade dele? – Diana estava cada vez mais animada com a ideia.

- Será que isso é uma boa ideia?; Gilbert não veio para Avonlea porque disse que aqui não conseguiria estudar comigo por perto. Será que não vou atrapalhar? - Anne ainda não tinha certeza que aquilo era uma boa ideia. E se Gilbert ficasse zangado com ela?

- Isso é bobagem, Anne. Tenho certeza de que ele vai adorar, do jeito que ele te ama você somente fará bem a ele.- Conforme Diana ia falando, Anne se convencia cada vez mais de que aquela era uma ótima ideia. Estar em Nova Iorque com Gilbert seria maravilhoso, quase como uma lua de mel. Poderia até ajudá-lo a estudar, pois era muito boa nisso.

- Você me convenceu, Diana, mas ainda tenho que falar com Marilla.- Anne disse decidida,

- E você precisa comprar as passagens. Você tem dinheiro para isso? Se quiser compro-as para você.

- Não se preocupe com isso. Eu tenho dinheiro sim. As aulas de reforço que dou na Faculdade são pagas, e tenho guardado cada centavo para uma possível eventualidade, mas se posso usar o dinheiro para me divertir com Gilbert é melhor ainda.

- Bem, então vamos brindar com chá, já que não temos vinho, a seu fim de semana com Gilbert Blythe em Nova Iorque regado com muito amor.- Diana disse na maior animação.

- Saúde! - Ambas gritaram juntas batendo as xícaras de chá uma na outra em um brinde imaginário. Conversaram ainda mais um pouco sobre o casamento de Diana e a viagem de Anne para Nova Iorque, Quando Anne chegou a Green Gables, já era tarde, mas Marilla ainda estava acordada tricotando em sua cadeira favorita na sala, e Matthew estava lendo um jornal.

- Como foi na casa de Diana? – Marilla perguntou assim que a viu.

-Tudo bem. Ela me pediu para ajudá-la com os convites de casamento que será realizado no próximo ano. A mãe dela quer convidar tantas pessoas que Diana está surtando.

- Eu imagino. A mãe de Diana sempre se importou com a opinião da sociedade daqui. Talvez pense que se fizer um casamento mais simples todos irão comentar negativamente sobre isso. – Marilla concluiu.

- Isso é bem típico da mãe de Diana. – Anne esperou um momento e então abordou Marilla sobre a viagem a Nova Iorque.

- Marilla, como o Gilbert não virá para casa este fim de semana, eu pensei em visitá-lo em Nova Iorque.  A Faculdade nos deu duas semanas de folga, e pensei em usar alguns dias para essa viagem. – ela esperou pela resposta de Marilla que olhava para ela com o semblante indecifrável.

- Uma moça sozinha viajando para Nova Iorque? Você acha prudente, Anne?

-  Bem, Marilla eu já fui a tantos lugares sozinha que não acho que esta viagem seja muito diferente das que já fiz, - Anne disse esperando convencer Marilla.

-  Deixe a Anne ir, Marilla. A menina já provou que sabe se virar muito bem sozinha. Além disso, estamos falando de Gilbert, não de um garoto qualquer. Ele e Anne são noivos e não vejo porque ela não possa visitá-lo.- Matthew disse piscando discretamente para Anne.

- Está bem, Anne, Se quer mesmo ir eu te dou autorização, mas, por favor tome cuidado. Você sabe como são as pessoas da cidade grande, não parecem confiáveis para mim.

- Obrigada, Marilla. – Anne deu um beijo em Marilla, outro em Matthew e subiu correndo para arrumar sua mala.

No dia seguinte, ela foi para a Faculdade de manhã, depois votou para casa. Arrumou-se, terminou de organizar sua mala e esperou ansiosamente pelo momento em que estaria finalmente com Gilbert. Matthew a levou até a estação e esperou até que Ame  embarcasse no trem acenando para ela vigorosamente e lhe desejando boa viagem.

Enquanto o trem corria em direção a Nova Iorque, Anne quase não podia conter sua excitação Era a primeira vez que viajava sozinha e isso a fazia se sentir muito adulta e independente. Além disso, a ideia de vir para uma metrópole tão grande quanto Nova Iorque a deixava muito animada, pois sentia que estava embarcando em uma aventura nova e execitante que fazia todo seu corpo se agitar em um êxtase puro e genuíno. E o melhor de tudo era que estaria dividindo com Gilbert mais aquela experiência, e aquilo para ela não tinha preço.

Chegou em Nova Iorque no sábado de manhã, e quando Anne se viu naquela cidade tão grande, se sentiu temerosa e exultante ao mesmo tempo. Para uma garota que sempre vivera em cidades pequenas, e que jamais fora muito longe além dos arredores de Avonlea, aquele lugar representava todos os sonhos que tivera na vida, e que jamais pensara que se tornariam reais, mas aquilo era verdade, ela estava ali naquele lugar incrível, e para que sua felicidade fosse completa somente faltava encontrar o seu amor. E assim, foi atrás de Gilbert no endereço que ele lhe dera. Como não conhecia nada por ali, ela teve que parar várias pessoas na rua para pedir informação, e descobriu que teria que pegar um táxi para chegar onde pretendia. Ela desceu em frente à um edifício simples, mas simpático. Subiu algumas escadas e finalmente encontrou o apartamento de Gilbert. Ela bateu de leve na porta, imaginando a surpresa do noivo quando a visse. Ninguém a atendeu imediatamente, e como a porta parecia somente estar encostada ela a abriu devagar, não querendo assustar Gilbert caso ele estivesse dormindo ou estudando.

Porém a cena que viu a atingiu onde doía mais, o seu coração.  Gilbert estava sentado na cama segurado a mão.de uma garota que tinha sua cabeça apoiada em seu ombro. Anne não queria acreditar, aquilo não podia estar acontecendo, seu pior pesadelo tinha se concretizado, Gilbert tinha outra garota em sua vida, e isso era intolerável e insuportável. Ele tinha mentido para ela. Dissera que não iria para Avonlea por que tinha que estudar, mas a verdade parecia outra. A dor a partiu ao meio, ela não conseguia respirar, as lágrimas transbordaram e inundaram seu rosto como um oceano em fúria. Sem querer ela derrubou a mala que carregava, que bateu no chão com um estrondo alto que ecoou em sua cabeça.  Gilbert olhou para trás assustado e a viu parada na porta olhando para ele sem ainda conseguir assimilar a cena que se desenrolava a sua frente. O rosto de Gilbert mudou de surpreso para assustado ao ver o rosto de Anne banhado em lágrimas. Ela não suportou mais ficar ali, precisava fugir, virou as costas e começou correr desesperada, com a voz de Gilbert em seus ouvidos gritando o seu nome. Nas mãos ela trazia um pacote das rosquinhas favoritas de Gilbert. Ela as jogou fora na primeira lata de lixo que encontrou e continuou a correr mais rápido e mais rápido, ignorando a voz de Gilbert que continuava a gritar seu nome. Ela não via por onde estava indo, somente queria continuar fugindo, mas de repente um baque surdo a fez parar, a dor a atingiu de lado e ela não enxergou mais nada, Anne se sentiu flutuar e em tão   mergulhou na escuridão.

.

GILBERT

 

Gilbert olhou para a quantidade de livros sobre sua escrivaninha de estudos e deu um longo suspiro. Tinha tanta coisa para estudar, e nem sabia por onde começar. Sua cabeça parecia tão vazia naquele dia, que não conseguia assimilar todos os nomes estranhos e complicados que faziam parte do sistema imunológico humano. Ele afastou os livros, se levantou e foi até uma pequena geladeira que tinha em seu quarto, encheu um copo com água gelada e tomou tudo em um só gole.

Assim que chegara em Nova Iorque, Gilbert procurara um lugar para morar. Ele tinha intenções de ficar em um hotel até que encontrasse um bom apartamento para alugar, mas ficara sabendo no primeiro dia de aula que os alunos de seu campus costumavam morar em uma República perto da Faculdade, pela facilidade de locomoção e também por ser mais barato que um apartamento convencional.  Um de seus colegas o levara até lá e Gilbert gostara imediatamente do local.

Era um lugar limpo e arejado, onde cada morador tinha seu próprio quarto e banheiro, podendo assim preservar sua privacidade. A cozinha era comunitária e cada pessoa fazia sua própria comida pois os inquilinos tinham horários diferentes de estudo e trabalho, portanto juntar todos mundo para o jantar ou almoço era quase impossível, a não ser nos finais de semana quando resolviam fazer alguma reunião informal, para que pudessem conhecer os novos moradores e também trocar ideias sobre seus respectivos cursos na faculdade.

Ele se mudara para lá no mesmo dia e não se arrependera. As pessoas que moravam ali eram muito simpáticas e solidárias, e sempre estavam dispostas a ajudar quem precisasse. Ninguém invadia o espaço de ninguém a não ser que fosse convidado, e se auxiliam mutuamente com as tarefas ou trabalhos da faculdade. Também organizavam grupos de estudos, e era muito divertido poder trocar ideias com pessoas de diferentes lugares e nacionalidade.

A faculdade provara ser para Gilbert tudo o que ele esperava. Era empolgante, exigente e desafiava sua mente de um jeito que nunca fora desafiado antes. Ele se adaptara em pouco tempo a rígida rotina de estudar por horas, e tão dedicação tivera bons frutos. Fora convidado para trabalhar no laboratório de seu campus. O trabalho era simples, mas bem remunerado, e ele ainda teria mais tempo de folga, o que permitia que ele fosse para Avonlea ver Anne todos os finais de semana.

Essa era a parte de sua vida acadêmica que mais apreciava. Poder ver sua garota todos os finais de semana e matar a saudade que sentia dela todos os dias. Anne estava em todos os lugares e em todas as coisas, bastava que se distraísse para que seu pensamento viajasse no tempo e no espaço, e trouxesse de volta para ele todos os seus momentos com ela. Ela vivia nele como uma moradora permanente que nunca o deixaria, era reconfortante ter a certeza de que toda vez que voltasse para casa, Anne estaria lá esperando por ele com seus olhos cheios de amor. 

Os momentos de amor entre os dois era cada vez mais preciosos, porque ele somente podia tê-la em seus braços uma vez por semana, e aquilo o deixava inquieto às vezes. Muitas vezes acordava no meio da noite procurando por Anne ao seu lado, e logo ficava frustrado por entender que ela não estava mais ao alcance de suas mãos todo o tempo. Sentia falta dela em seu dia a dia, pois além de ser sua noiva, ela também era sua melhor amiga. Sempre conseguira desabafar mais com ela do que com Muddy, e Anne também era sua maior incentivadora. Ele estava tendo que aprender a lidar com suas frustrações sozinho, e a insegurança que o atingia às vezes acerca da profissão que queria seguir e a respeito de si mesmo e isso não estava sendo uma tarefa fácil. Não podia mais invadir o quarto de Anne no meio da noite e amá-la até a exaustão, como não podia mais deitar em seu colo e falar das coisas que o atingiam de maneira negativa ou positiva, essa era a parte mais difícil de se estar em uma cidade grande, longe de casa e de seu amor.

Gilbert tinha uma foto de Anne que ela lhe dera dias antes de partir. Essa foto tinha sido tirada no Ano Novo, e nela Anne tinha o rosto lindo virado para a câmera enquanto seu cabelo magnífico era despenteado pela brisa do vento que soprava. Ele carregava essa foto para todos os lados, e olhava para ela vezes sem conta, pois Anne era sua inspiração nos dias mais difíceis e o sorriso dela imortalizado naquela fotografia tão simples, significava o mundo para ele. E por mais que se sentisse sozinho, ele sabia que Anne estava lá com ele a cada passo do caminho e isso bastava para confortar seu coração saudoso.

Na Faculdade sempre havia muitas festas, mas Gilbert quase nunca participava delas. Ele sempre tinha tanta coisa para estudar que achava perda de tempo se envolver nesse tipo de atividade mesmo que somente por diversão. Ele não tinha tempo para coisas frívolas, precisava se preparar para o futuro e não queria desperdiçar nenhum instante, mas um certo dia, um de seus amigos insistira tanto que ele resolver ceder somente daquela vez. Quando chegaram a festa já tinha começado e vários de seus amigos de curso circulavam por ali, lhe ofereceram cerveja, mas Gilbert não aceitou, preferindo tomar coca cola, e já estava na terceira garrafa, e sentindo um terrível tédio, cansado da música alta e das conversas sem conteúdo, quando Jonas, seu vizinho de quarto se aproximou e disse:

- Posso tem fazer uma pergunta um tanto quanto indiscreta? – Gilbert olhou para ele de maneira estranha e respondeu:

- Claro, sem problemas

- Você gosta de garotas? – Gilbert se surpreendeu com a pergunta e respondeu com outra pergunta:

- Que tipo de pergunta é essa?

- Cara, eu não consigo entender. As garotas mais gatas dessa festa estão te comendo com os olhos e você parece nem notá-las. O que me levou a acreditar que você talvez não tenha interesse nenhum em garotas. – Gilbert olhou para o rapaz divertido e disse:

- Eu gosto de garotas, Jonas, mas a razão de eu não estar interessado em nenhuma desta festa é que já tenho minha garota, e quando me formar vamos nos casar e constituir uma  família.

- Está louco, cara. Você e tão jovem e já está comprometido assim? Eu quero mesmo curtir a vida, e se alguma gatinha me der mole eu armo logo o meu bote. Não quero deixar passar nenhuma oportunidade interessante. – Gilbert sentiu certo pesar pelo amigo. Ele namorava Dora, uma garota muito bonita e simpática que estudava medicina junto com Gilbert. Dora era extremamente apaixonada por Jonas, e fazia de tudo para vê-lo feliz, mas Jonas parecia não perceber o quanto sua namorada era uma pessoa notável. Vivia saindo com outras garotas, e não se importava como Dora se sentiria caso descobrisse sobre sua infidelidade.

- Bem, se você conhecesse Anne, saberia porque estou comprometido com ela. Anne é a garota mais linda e incrível do mundo, não existe ninguém como ela.

- Nossa, vendo você falar assim, até parece que essa garota é a perfeição em pessoa.

- Ela é para mim. – Gilbert respondeu sorrindo com a imagem de Anne em sua cabeça.

- Você teria uma foto para eu ver se concordo com sua opinião? – Gilbert tirou a foto de Anne de sua carteira e mostrou para o amigo:

- Uau! Ela é mesmo linda, e ainda por cima é ruiva. Uma raridade por aqui. Nunca tive a oportunidade de sair com uma garota que tivesse cabelos ruivos, dizem que elas são uma loucura. – Gilbert não respondeu, não ia discutir sua vida amorosa em uma festa, e ainda por cima com um cara que não respeitava a namorada. Depois, daquilo ele desistiu das festas. Estava em melhor companhia com seus livros de anatomia.

Gilbert estava tão distraído em seus pensamentos que levou um susto ao ver Dora entrar em seu quarto com o rosto transfigurado pelo choro, e ela foi logo dizendo:

- Perdoe-me por entrar assim em seu quarto, mas você é a única pessoa que confio para me ajudar com o que estou sentido. – Gilbert e Dora tinham desenvolvido uma bonita amizade, eram parceiro de curso e laboratório, e eram eles que organizavam os grupos de estudo.

- Claro, Dora. Me conte o que aconteceu. – ele guiou a menina até sua cama e se sentaram nela lado a lado, enquanto ela contava que tinha pego Jonas com uma garota loira do curso de engenharia dele. Ao ouvir aquilo, Gilbert xingou o amigo mentalmente. Ele sabia que aquilo iria acontecer dia menos dia, e parece que finalmente o caldo tinha entornado de vez.

- Você sabia disso, Gilbert? – ela perguntou chorando.

- Acho que todo mundo sabia, mas ninguém teve coragem de te contar. E eu sou novo aqui e não quis meter na sua história com ele. – Gilbert tentou explicar, se sentindo péssimo pela expressão de decepção da menina.

- Quer dizer que a faculdade inteira sabe que ele me traía?  Meu Deus que vergonha. – ela disse, chorando mais ainda.

- Calma, Dora. Quem tem que sentir vergonha é ele, você não fez nada de errado. – ele pegou na mão da menina com carinho enquanto ela encostava a cabeça em seu ombro continuando a chorar, agora silenciosamente. De repente, ele ouviu um som de algo caindo perto da porta, se virou para ver o que era e deu de cara com Anne. Seu coração deu um pulo de alegria, o que durou menos de um minuto, pois o olhar que Anne lhe lançou era de pura mágoa, e então, ele percebeu o que ela estava pensando quando viu as lágrimas escorrendo pelo rosto dela. Ele levantou, pedindo licença a Dora, e ia falar com Anne, quando ela saiu correndo.

Gilbert correu atrás dela desesperado, não podia deixá-la ir coma ideia errada do que estava acontecendo ali em seu quarto. Ele gritava o nome dela, mas Anne parecia não ouvi-lo, corria feito louca no meio das pessoas que transitavam por ali, e o pior era que parecia que não prestava atenção para onde estava indo. Apreensivo, Gilbert a viu atravessar a rua correndo sem olhar para o carro que vinha em sua direção. Ele gritou mais alto o nome dela em sinal de alerta, mas viu com desespero crescente o carro atingir Anne em um lado do corpo e arremessá-la a poucos metros à frente.

- Não! - ele gritou a plenos pulmões, e correu para onde Anne estava deitada parecendo dolorosamente inerte. As pessoas se aglomeravam em volta dela, enquanto o motorista do carro que a atropelou pedia por socorro. Gilbert se ajoelhou ao lado dela, e pegou o seu pulso para sentir as batidas cardíacas que pareciam tão fraquinhas que seu coração se afundou dentro do peito.

- Anne, fala comigo. Por favor, amor, abra os olhos. Eu estou aqui, por favor, Anne, não me deixe, - ele falava e ás lágrimas escorriam, a única coisa que pensava era que não podia perdê-la, ela era sua vida e seu coração, sem ela ele também morreria, como uma rosa sem água, ele murcharia dia a dia.

- Por favor, senhor. Se afaste. Temos que levá-la para o hospital. – o socorro chegara finalmente, e tentavam afastar Gilbert que não largava a mão da menina, atrapalhando o trabalho dos enfermeiros em colocá-la na maca e transportarem-na até a emergência mais próxima.

- Me deixem ir com ela, por favor. Ela é minha noiva. – ele pedia desesperado.

- Está bem. – disse um enfermeiro penalizado com o seu estado ~Vamos logo, não podemos perder tempo. – ele disse para o motorista da ambulância.

Durante o percurso até o hospital, Gilbert não parava de falar com Anne, acariciando seu rosto com carinho, mas ela continuava desacordada e isso o preocupava em demasia.

Quando chegaram no hospital, eles levaram Anne para a sala de emergência. Gilbert quis ir junto, mas não deixaram, pedindo que ele ficasse na sala de espera aguardando por notícias. E todo o tempo em que permaneceu lá, Gilbert rezava baixinho pedindo que nada de grave acontecesse a Anne, e a todo momento ele desejava com todas as forças que ela recuperasse logo a consciência e voltasse para a segurança de seus braços.

 

 

 

 

 

 

GILBERT E ANNE

 

O tempo passava devagar naquele hospital onde Gilbert aguardava por notícias de Anne, Ele simplesmente não conseguia ficar parado, andava de um lado para outro, enquanto seu coração angustiado o deixava cada vez mais inquieto. Ele se lembrou da última vez em que estivera em um hospital como aquele e Anne estivera ao lado dele lhe dando força, deixando que seu amor chegasse até ele, acalmando seu tumulto interior e dando-lhe esperanças.

Porém, agora ele estava ali sozinho e se sentindo tão vazio. Precisava dela, precisava de seu abraço, precisava que ela lhe dissesse que tudo ia ficar bem, e que aquele medo terrível que ele estava sentindo em seu coração não passava de uma preocupação boba, e que tudo voltaria a ser o que era entre eles. Por que ela não o avisara que viria encontrá-lo? Ele poderia ter esperado por ela e evitado toda aquela situação terrível que se desenrolava agora. O que o atormentava era o olhar de decepção que vira nos olhos de Anne, antes de ela sair correndo pela rua feito louca sem dar-lhe chance para explicar. Gilbert odiava desapontá-la, preferia que fosse ele a se machucar do que Anne. Ela era preciosa demais para ele, e não sua vida se tornaria insuportável se algo acontecesse com ela.

Gilbert passou a mão pelos cabelos, tentando bloquear os pensamentos terríveis que povoavam sua mente, ele foi até a cafeteira expressa, e tomou um copo do café forte e amargo que era reposto de hora em hora por uma funcionária do hospital. Ele não gostava muito da bebida, mas naquele momento precisava da cafeína para mantê-lo alerta até que conseguisse ter alguma notícia de sua noiva.

- Gilbert! - ele ouviu alguém chamá-lo no corredor e ao se virar viu que era Dora e Jonas que chegavam para lhe fazer companhia. A garota tinha o rosto tenso, e parecia muito nervosa quando se aproximou dele.

- Gilbert, eu sinto muito. A culpa foi minha, eu não devia ter indo procurar você, - ela pegou na mão dele para lhe dar conforto.

- A culpa não foi sua. Eu jamais imaginei que Anne vesse para Nova Iorque me procurar. Ela não me disse nada. Foi tudo um grande mal intendido. - ele tentava aparentar uma calma que estava longe de sentir.

- Como ela está? – Jonas perguntou.

- Eu não sei, eu estou aqui esperando por notícias, mas até agora ninguém me disse nada, eu... – para o seu horror ele começou a chorar, não conseguia mais suportar a dor em seu coração. Dora o abraçou imediatamente tentando dar-lhe conforto.

- Ela vai ficar boa, Gilbert. Tenha fé. – ele não respondeu. Se deixou ficar assim por alguns minutos com a cabeça apoiada no ombro dela. Depois, os três amigos se sentaram nas poltronas da sala de espera e ficaram aguardando por notícias que nunca chegavam. Mesmo no estado de tensão em que se encontrava, Gilbert viu Jonas e Dora abraçados, e imaginou que eles haviam se acertado, ficou contente por eles, e esperava que Jonas conseguisse compreender um dia a grande mulher que tinha ao seu lado.

Finalmente o médico apareceu e Gilbert se levantou no mesmo instante e foi até ele, perguntando ansioso:

- Por favor, me diga como ela está.

- Ela está bem., pode ficar tranquilo. Foi apenas um grande susto. Por sorte a batida foi leve, e ela não quebrou nada, tendo apenas sofrido alguns arranhões. Como ela bateu a cabeça, achei melhor fazer alguns exames para descartar qualquer problema mais grave, mas felizmente está tudo bem.- o médico disse sorrindo.

- Posso vê-la? – Gilbert perguntou visivelmente aliviado.

- Claro. O quarto dela é o terceiro a esquerda.

- Obrigado, doutor. – Gilbert disse apertando a mão do médico calorosamente.

Gilbert encontrou o quarto de Anne sem dificuldades. Quando ele entrou e ela percebeu que era ele, imediatamente Anne virou o rosto para o lado, mostrando claramente que não queria falar com ele. Apesar da pontada que sentiu em seu coração por perceber que Anne continuava zangada com ele, Gilbert não desistiu, foi para perto dela, sentou-se ao lado da cama e pegou na mão de Anne acariciando-a com carinho.

- Anne, meu amor. Que bom que está bem. Você me deu um susto enorme, pensei que perderia você. – ela não respondeu e nem olhou para ele, Ela continuou fitando o vazio enquanto ele falava.

- Eu queria te dizer que o que você viu em meu quarto não é o que está pensando, Dora é uma amiga de sala que está passando por um problema sério com o namorado dela, e eu estava apenas aconselhando-a.- Anne não disse nada, mas olhou para ele com uma expressão séria. Gilbert mergulhou seu olhar naquela imensidão azul que era seu oceano particular, Poderia navegar horas por ele e nunca se cansar. Ele levantou a mão e acariciou a pele macia do rosto dela, Anne fechou os olhos por instante, e depois tornou a abri-los. Ela queria acreditar nele, mas algo dentro dela não permitia. Então ela abriu a boca e falou:

:- Quero ir para casa, Gilbert. – ele sentiu um baque dentro de si ao ouvir as palavras dela. Então, ela ainda duvidava e queria ficar longe dele. Era uma constatação terrível que acabava com ele.

- Temo que isso não será possível, amor. Você terá que ficar alguns dias em repouso, e só poderá ir para casa depois. Quer que eu avise, Marilla?  Acho que isso também vai te prejudicar na faculdade, não é?

- Por favor. Não diga nada a Marilla. Ela poderá se zangar comigo, e eu também não quero preocupa-la a toa. Quanto a minha faculdade, eles nos deram duas semanas de folga antes das provas, então, ficar aqui não me prejudicará em nada. – o tom de voz dela era neutro, sem a costumeira suavidade que ela costumava usar quando falava com ele. Gilbert entendeu que ela ainda deveria estar chocada com o acidente, e não deveria esperar que ela lhe demonstrasse todo o amor do mundo no momento, embora algo dentro dele lhe dissesse que havia alguma coisa errada. Ele resolveu deixá-la descansar, não conseguiria nada pressionando-a naquele momento. Gilbert conhecia Anne bem o suficiente para saber quando ela estava evitando um assunto.

- Vou deixá-la descansar, volto mais tarde. – ele se inclinou e beijou-a de leve nos lábios. Anne viu-o sair pela porta e sentiu uma angústia tomar conta dela. Queria pedir a ele que ficasse, mas se manteve em silêncio até que a porta se fechou atrás dele, e ela ficou sozinha com seus pensamentos. Uma lágrima solitária escorreu pelo canto de seus olhos, e ela a enxugou rapidamente. O que estava acontecendo com ela? Gilbert lhe explicara o que aconteceu, mas ela não conseguia acreditar que era verdade. Viu que ele ficara magoado por ela não confiar nele, mas não conseguia se sentir diferente. De repente, ouviu uma batida na porta, e teve esperanças que fosse ele que tivesse voltado, mas era uma moça bonita de cabelos longos e loiros entrou acompanhada de um rapaz igualmente atraente.

- Oi, eu sou Dora e esse é o meu namorado Jonas. Sei que provavelmente sou a última pessoa que você quer ver, mas eu precisava falar com você. O Gilbert não sabe que estou aqui, pois eu esperei que ele fosse embora para falar com você. – ela viu que Anne não estava entendendo o que ela estava dizendo, então tratou logo de explicar e acabar com aquele mal entendido.- Eu sou a garota que você viu no quarto de Gilbert hoje, Eu estava lá porque eu tive um problema pessoal com Jonas, e Gilbert estava tentando me ajudar. Juro que foi somente isso, você entendeu errado, se tivesse ficado mais um pouco nós poderíamos ter explicado o que estava acontecendo.

- Olha, Anne. Tudo o que posso dizer é que Gilbert realmente te ama. E posso afirmar isso com certeza, porque o Gilbert nunca participa das festas que damos na faculdade, alegando sempre que tem que estudar, mas outro dia de tanto eu insistir ele foi comigo. E confesso que nunca vi alguém tão pouco à vontade em uma festa quanto Gilbert. Eu até brinquei com ele, perguntando se ele gostava de garotas, pois havia muitas na festa que não tiravam os olhos dele. Foi então que ele riu, dizendo que ele já tinha uma garota e que não havia nenhuma garota no mundo igual a você. Ele me mostrou sua foto, e eu pela primeira vez entendi o que era estar apaixonado por alguém, ele te idolatra, menina – Anne sentiu uma grande emoção ao ouvir aquelas palavras dos amigos de Gilbert, mas continuou calada, não confiava em si mesma para falar naquele momento.

- Anne, isso é realmente verdade. Você sabia que ele carrega esta foto para todos os lados? Eu já o vi olhando e conversando com esta foto muitas vezes nos intervalos. No começo eu achava que era apenas uma mania dele, mas depois que ele me contou sobre vocês, eu entendi que essa é a maneira que ele encontrou para ter você por perto. E tem mais, quando temos prova ele coloca sua foto bem em cima da carteira, e quando eu o questionei sobre isso, Gilbert me disse que você dá sorte para ele desde que entrou na vida dele, e assim, ele se sente mais calmo e confiante para realizar os exames. Eu tenho que te dizer que nunca vi alguém amar tanto outra pessoa como Gilbert te ama. Confesso que tenho inveja do tipo de relacionamento que vocês têm, pois é algo tão raro e lindo de se ver. Quem dera eu ser amada dessa maneira por alguém um dia. – Anne percebeu que Dora disse aquilo sem olhar para o namorado que parecia pouco à vontade ao ouvir as palavras dela.

- Bem, nós já vamos. Espero que você se recupere logo, e volte a fazer Gilbert sorrir. Ele estava a ponto de enlouquecer sem notícias suas.- Dora disse. Então, Anne percebeu que tinha que dizer alguma coisa, pois ficara calada todos o tempo em que ela e o namorado falaram com ela.

- Dora e Jonas. Muito obrigada pela visita, e pelas palavras.

- Que isso, querida, foi um prazer. Eu não podia deixar as coisas mal explicadas entre vocês dois. Espero que façam as pazes logo. Agora nós vamos deixar você descansar. Até logo. – Dora disse, dando um beijo suave na bochecha de Anne.

- Até logo. – ela disse. e quando se viu sozinha deixou que as lágrimas que tinha reprimido até aquele momento rolassem pelo seu rosto. Estava envergonhada de seu comportamento, e mais ainda por não ter confiado em Gilbert. Ele devia estar muito magoado com ela e com razão. Ele nunca tinha mentido para ela, e ela não sabia porque tinha achado que ele não estava sendo sincero daquela vez. Por causa de sua impulsividade tinha causado toda aquela confusão, e ainda por cima, atrapalhara os estudos de Gilbert. Como ela era idiota e burra. Somente agora tinha compreendido que apesar de saber do amor que Gilbert tinha por ela, ela ainda temia perdê-lo para alguma garota cosmopolita, moderna e ousada. Não confiara o bastante nos sentimentos dele, e agora não sabia como consertar aquela situação. Podia dizer que estava arrependida de não ter confiado nele, mas e se Gilbert não quisesse mais saber dela? Teria que esperar e confiar que tudo se resolveria da melhor forma possível.

Na manhã seguinte Gilbert viera busca-la, pois o médico lhe dera alta, mas aconselhara alguns dias de repouso para uma recuperação completa. Ele parecia tão dolorosamente formal e distante dela que todas as palavras ensaiadas por ela durante a noite foram deixadas de lado. Ele a levou para o quarto dele na república e disse assim que chegaram lá.

- Você pode descansar aqui se quiser. Eu tenho que estudar, mas prometo que vou tentar não incomodá-la.- ela apenas assentiu com a cabeça. Se sentia tão emocionalmente arrasada pela frieza dele  que não tinha vontade nenhuma de falar. Gilbert se afastara dela e nada mais importava para ela.

Gilbert olhava para Anne e não conseguia aceitar que ela estivesse tão distante dele. Ele também fingira não notar que ela tirara do dedo a opala azul que ele lhe dera, pensando se aquilo significava que ela terminaria tudo com ele. Não, ele não podia aceitar perdê-la daquela maneira por causa de um incidente infeliz no qual ninguém tivera culpa. Gilbert precisava fazer tudo ficar bem novamente, e apagar aquela rachadura que surgira no relacionamento deles impedindo-o de alcançar Anne. Ele não era nada sem ela, e ele não sabia o que faria caso ela realmente não quisesse mais saber dele. Porém, ele decidiu que esperaria mais alguns dias para falar com ela definitivamente, pois Ane ainda parecia muito fragilizada e ele não queria piorar o seu estado pressionando-a emocionalmente.

Dois dias haviam se passado e eles continuavam na mesma situação. Naquela noite, Gilbert tentava estudar para uma prova difícil que teria no dia seguinte enquanto Anne dormia tranquilamente. Eles não estavam dividindo a mesma cama, porque Gilbert queria deixar que ela descansasse, e ele sabia que não resistiria e acabaria tocando-a e não queria forçá-la a nada sem seu consentimento, mas aquela distância física dela estava acabando com ele, atrapalhando sua concentração e deixando-o sexualmente frustrado. Precisava se concentrar, ou não teria um bom desempenho naquele exame tão importante para ele.

Anne acordou algumas horas depois, percebendo que o quarto estava em uma escuridão completa. Ela procurou por Gilbert e percebeu que ele estava sentado no sofá no qual vinha dormindo nos últimos dias, e parecia que tinha a cabeça entre as mãos. Anne sabia exatamente o que isso significava, pois quando Gilbert ficava assim era porque estava sofrendo de uma tremenda enxaqueca. causada por tensão emocional. Ela se levantou devagar e se aproximou do sofá.

- O que foi, Gilbert? Está com dor de cabeça? – ele se assustou um pouco ao ouvir a voz dela tão próxima dele, mas disse com a voz um pouco tensa:

- Não é nada, Anne. Volte a dormir.

- Deixe de ser teimoso e me deixe te ajudar. – ela disse se sentando ao lado dele e fazendo com que ele ficasse de costas para ela, e começou a massagear a nuca dele, suas mãos descendo pelas costas masculinas nuas, somente agora ela percebera que ele estava sem camisa, vestindo apenas a calça do pijama.

Gilbert tentava não se excitar com o toque suave de Anne em suas costas, resistindo bravamente cada vez que as mãos dela encontravam um ponto tenso em seus músculos e o massageava vigorosamente, mas quando os dedos dela alcançaram sua lombar, ele não resistiu mais, se virou para ela e a trouxe para seus braços, esmagando os lábios dela com os seus em um beijo apaixonado cheio de desejo. Anne se sentia da mesma maneira, pois assim que Gilbert a beijou ela já estava suspirando de paixão desejando- o mais do que nunca. Os dias de distanciamento entre os dois pararam de existir no momento em que Gilbert arrancou a camisola transparente dela, e cobriu o corpo de Anne com o seu. A saudade e o desejo que um sentia pelo outro era tão grande, que parecia que nem todos os beijos famintos que trocavam naquele momento eram suficientes para aplacar o fogo que queimava dentro deles.

Anne sentiu a língua de Gilbert deslizar pelo seu pescoço, alcançar o seu colo, passar pelos seus seios e descer cada vez mais. Ela retribuía cada carícia tocando-o com seus lábios, levando a loucura quando mordiscou a pele nua do peito dele. Gilbert a pegou no colo e a levou para cama, e quando a deitou entre os lençóis, ele contemplou por um momento a gloriosa nudez dela que o deixava completamente fora de si. Ele se deitou com ela e continuou a tocá-la cada vez mais ousadamente, e Anne achou que fosse se derreter naquela paixão que vinha dele e que a transportava para outro mundo, onde somente existia aquele amor que partilhavam e que nunca morreria. Alcançaram o ápice do prazer juntos, deixando que seus corpos se fundissem um no outro como se nunca mais fossem se separar.

Quando estavam mais calmos e serenos, deitados um nos braços do outro, Anne começou a falar:

- Gilbert, eu queria me desculpar pelo meu comportamento e por não ter confiado em você. Se você não quiser mais saber de mim, eu vou entender, mesmo sabendo que isso vai me destruir por dentro. – Gilbert colocou as mãos nos lábios dela, impedindo-a de continuar.

- Anne, o que você está dizendo? Como pode pensar que não quero mais saber de você? Eu te amo, sou completamente apaixonado por você, e não saberia o que fazer se não tivesse mais você na minha vida. Fiquei apavorado com a ideia de te perder. – ele afundou seu rosto nos cabelos dela, sentindo-lhe o aroma de flores tão conhecido e tão amado por ele invadir suas narinas, deixando-o maravilhado.

- Gilbert, você jamais vai me perder, mesmo quando te vi com aquela garota e tive a impressão errada, não pensei em deixá-lo. Você é parte de mim, Gilbert, é o meu coração, não posso e não quero viver sem você. De novo te peço t perdão pela minha idiotice, e juro que nunca mais vou duvidar de você.- ela o beijou com intensidade, deixando a ambos sem fôlego. Gilbert entrelaçou os dedos nos dela e disse:

- Sinto uma felicidade imensa ao ouvi-la falar isso. Confesso que quando vi a opala que te dei em cima do criado mudo do quarto, pensei que estava tudo perdido.

- Ah, Eu tirei porque meu dedo começou a inchar e estava doendo muito. – ela estendeu a mão para que ele pudesse ver a mão que sofrera alguns arranhões no acidente. – Prometo que voltarei a usá-lo assim que meu dedo voltar ao normal.

- Quanto mal intendido por nada. – Gilbert disse pensando alto, e beijando-lhe a mão com carinho

- Isso nunca mais vai acontecer, Gilbert. Prometo manter meu ciúme sob controle, E a sua dor de cabeça? Está melhor?

- Sim, passou completamente. Acho que estava com abstinência de seus carinhos. – ele disse enquanto a puxava para mais beijos. Assim que se separaram, Anne deitou sua cabeça no peito dele e disse:

- Sua amiga Dora foi me visitar no hospital, e fiquei sabendo algumas coisas interessantes a seu respeito aqui na faculdade.

- É mesmo? – ele perguntou intrigado.

- Sim. Me contaram que você costuma andar pelo intervalo conversando com minha foto e que quando faz prova usa essa mesma foto como talismã.- ela disse divertida.

- Dora e sua língua grande. Você deve estar me achando um comp0leto idiota. – ele disse se sentindo envergonhado.

- Pelo contrário. Acho sua atitude completamente adorável e irresistível assim como você.- ela deslizou as mãos pelo peito dele, fazendo Gilbert se arrepiar:

- Então prove. – ele disse com a voz rouca.

- Seu pedido é uma ordem, meu amor. Mas antes quero saber quando vai me levar para conhecer Nova Iorque?

- Mais tarde. Agora tudo o que quero é matar toda a saudade que estou sentindo de você e espero que você também esteja sentindo a minha falta da mesma maneira, pois pretendo passar a noite inteira fazendo amor com você,

- Não estou com tanta saudade assim. – ela disse sorrindo, deixando Gilbert provar o quanto ela estava mentindo.

 

 

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Notas Finais


Tenham uma boa leitura. Espero pelos comentários.
Beijos.


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