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História Anne with an e- continuação da série - Além da terra - História escrita por roalves - Spirit Fanfics e Histórias
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História Anne with an e- continuação da série - Além da terra


Escrita por: roalves

Notas do Autor


Olá, queridos leitores. Estou postando mais um capítulo, e espero sinceramente que gostem. Por favor comentem e me digam o que acharam, pois como já disse anteriormente, eu realmente avalio a qualidade dos capítulos pelos comenta´rios de vocês, então, isso é realmente essencial para que eu me sinta motivada. Obrigada por tudo e desculpem pelos erros ortográficos. Sem necessidade de dizer que ficou enorme de novo. Beijos.

Capítulo 85 - Além da terra


Fanfic / Fanfiction Anne with an e- continuação da série - Além da terra

 

ANNE

Anne caminhava pelo longo corredor da Faculdade de Nova Iorque, e observava tudo ao seu redor como se fosse a primeira vez que se encontrava ali. Como nunca percebera o quanto aquele lugar era enorme? Ela sentiu um certo desassossego tomar conta dela, enquanto mantinha uma das mãos dentro do bolso de seu casaco, e a outra se agarrava a de Gilbert que caminhava lado a lado com ela. Às vezes, ele a olhava e sorria como se quisesse encorajá-la, e ela retribuiu, tentando não deixar transparecer seus receios nas linhas de seu rosto, mas por dentro ela estava encolhida de medo como uma garotinha em seu primeiro dia escolar.

Anne se sentia como na primeira vez que atravessara os portões da escola de Avonlea totalmente sozinha e sem amigos, os olhares atravessado que recebeu da maioria dos alunos, os cochichos e comentários mesquinhos que ouvira no caminho do pátio até a sala de aula, a maneira como era encarada com estranheza por causa de sua pele clara e seu cabelo ruivo incomum.

 Ela chegara na porta da sala onde estudaria, sem coragem de entrar, observando a grande quantidade de alunos que se aglomeravam por ali, e sua timidez se tornou maior ao perceber que ninguém ali estava disposto a lhe dar boas-vindas, e muito menos lhe ceder um lugar para se sentar. Fora naquele momento que seu olhar cruzara com o de Diana Barry, e o olhar franco da menina em sua direção foi a injeção de ânimo que precisara para caminhar em direção à ela e se sentar ao seu lado. Então, Diana lhe sorrira, e foi naquele instante que Anne percebera que ficaria tudo bem.

Apesar de não ser mais aquela menina que tinha medo de tudo, e se escondia embaixo da cama quando ouvia uma trovoada mais forte, Anne sentia aquela mesma apreensão de enfrentar o novo, de se arriscar em uma aventura sem saber para que direção aquilo iria dar. Era caminhar sobre brasas quentes, correr quilômetros embaixo da chuva, nadar em um rio cuja correnteza poderia facilmente fazê-la se afogar, e o segredo de tudo isso, era manter a cabeça na superfície, e se apoiar na rocha mais sólida que pudesse lhe dar segurança para nadar até o outro lado e encontrar o seu abrigo permanente.

Ela olhou para Gilbert novamente, que lhe sorriu mais uma vez, e ela pensou que ali estava seu apoio e abrigo particular. Anne apertou a mão dele um pouco mais forte, enquanto o salto de sua botinha batia no chão de linóleo cujo som parecia alto demais e fazia a garota ruiva se sentir constrangida, pois tinha a impressão que chamava a atenção demais e isso não a deixava nem um pouco confortável em sua primeira vez como estudante dentro daquela instituição de ensino superior. Era como se não tivesse direito de estar ali, e a sua figura de garota do orfanato que estava enterrada dentro dela, viesse à tona deixando que todos vissem sua insignificância e pretensão de pertencer a um lugar ao qual não tinha direito algum.

Subitamente, ela percebeu que seus pensamentos depreciativos acerca de si mesma que pensava terem sido eliminados em suas sessões de terapia, estavam de volta e faziam um bom trabalho em atacar seu estado de ânimo que estava começando a decair para uma leve depressão.  Ela balançou a cabeça como se assim pudesse fazer com que seu cérebro voltasse ao seu lugar, e as vibrações negativas abandonassem seus pensamentos. Em seguida, levantou a cabeça e continuou a caminhar com Gilbert ao seu lado, que naquele momento deu um passo para mais perto e colocou um dos braços em volta de sua cintura. Ela se aconchegou mais a ele pensando que ela fizera um teste e passara, e tinha o mesmo direito de estar ali que os outros alunos. Ela o conseguira por seu próprio esforço, por isso, não iria deixar que sua tendência em melodramatizar tudo destruísse o seu esforço em se ver como uma pessoa que não devia nada a ninguém, e que estava ali por seu mérito próprio.

Naquela manhã, ela acordara bastante animada, e se arrumara com mais capricho que o normal, o que lhe rendeu um elogio de Gilbert que ao vê-la sair do quarto vestindo uma saia comprida que lhe chegava aos tornozelos preta, uma blusa azul Royal de lã com detalhes bordados nas golas e nos punhos, e um casaco de lã branco que a cobria como um sobretudo, e uma boina preta entre seus fios ruivos, ele dissera:

- Se eu não fosse apaixonado por você, eu juro que me apaixonaria nesse instante. - ela dera uma boa gargalhada antes de responder, enquanto acrescentava leite em seu cereal:-

- Acha que tem chance de isso acontecer um dia? Acha que seria capaz de deixar de amar? - ele a encarou com aqueles olhos que sempre a emocionavam e respondeu com sinceridade.

- Seria mais fácil arrancar meu coração sem anestesia, do que eu deixar de amar você.

- Você me deixa sem palavras, Gilbert. Quando foi que a alma do médico deu lugar ao homem romântico até os ossos que por acaso é meu noivo? -   Ela perguntou sorrindo de orelha a orelha.

- Foi no dia em que te conheci. Conquistar você nunca foi fácil, Anne. Eu tive momentos terríveis de ansiedade, tentando encontrar um jeito de chegar até você, e fazê-la aceitar o meu amor. Você é dura na queda, Sra. Blythe. - o coração dela deu um pulo ao ouvi-lo chamá-la pelo sobrenome dele como se já fossem oficialmente casados. Gilbert a vinha chamando assim a algumas semanas, mas ela ainda não se acostumara, e por isso, sempre sentia aquele friozinho bom em seu estômago quando ele falava daquela maneira.

- Quer dizer que te dei trabalho? Acho que estava mal acostumado demais em ter garotas ao seu redor babando por você o tempo todo. - Anne disse zombando dele.

- Eu não estava acostumado a garotas autênticas com o você. - ele respondeu, olhando-a apaixonadamente e depois continuou. - Você ê uma pessoa rara Anne Shirley Cuthbert Blythe, e que foi feita especialmente para ser amada por mim. - Anne o olhou admirada. Gilbert também tinha mudado nos últimos tempos. Ele falava mais abertamente sobre seus sentimentos, detalhe raro nele em outros tempos, o que acabava gerando interpretações equivocadas por parte dela.

Ela sempre fora boa em decifrar as expressões das pessoas, ler em. seus rostos as mais variadas emoções, mas, Gilbert nunca lhe dera tanto espaço assim no passado. Ele dissera que ela fora difícil de conquistar, mas ele não fazia ideia do quanto fora duro para Anne entendê-lo, e tivera que passar por vários testes de fogo para conseguir adentrar a alma complexa e tumultuada de seu noivo.

A pessoa que ele era agora não se assemelhava nem de longe ao rapaz reservado que ele fora. De certa forma, Gilbert também tivera uma parte de sua alma sombria, principalmente quando se culpava pela morte da mãe. Mas depois de tantos naufrágios, ele encontrara seu caminho de volta e andara diretamente para os braços dela.

- Você realmente tem jeito com as palavras, meu amor.

- Eu sofri influência de uma certa ruiva que roubou meu coração, quando acertou uma lousa em minha cabeça.

- Você sempre faz questão de se lembrar desde episódio infeliz. Você não sabe o quanto me arrependo disso. Eu era totalmente inconsequente, e não sabia muito bem como agir como uma garota normal da minha idade. Anos aprendendo a me defender dentro daquele orfanato não contribuíram em nada para me ensinar bons modos. Quando fui viver em Green Gables, não foi nada fácil me adaptar à regras rígidas de etiqueta. Marília teve um trabalhão para me ensinar a me comportar como uma dama da sociedade, e sabe, todas as vezes que aquelas mulheres me olhavam eu sentia como se ela esperassem que eu fracassasse apenas para me apontar um dedo e dizer: Você não passa de uma órfã sem berço, não existe lugar em Avonlea para você. Volte para onde veio, e nos livre de sua presença patética. - Anne baixou a cabeça, pois sua garganta se apertou um pouco nessa parte da narrativa. Ela não sentia mais vergonha de ser órfã, especialmente depois que descobrira quem foram seus pais, mas o preconceito e o desprezo uma vez sentidos na pele, dificilmente eram esquecidos. Eles criavam uma ferida que mesmo depois de estar cicatrizada por anos, ela não deixava de doer. Era como um lembrete do que a crueldade humana era capaz de fazer simplesmente por alguém ser julgado como diferente. Cole saberia do que ela estava falando, porque ele também carregava as suas cicatrizes bem escondidas dentro dos eu coração, e fingia que elas não mais existiam, mas, no fundo, elas ainda estavam lá e magoavam com a mesma intensidade de antes.

Gilbert se aproximou dela, e levantou com o polegar o queixo que ela mantinha para baixo, assim como seu olhar e disse;

- Essas pessoas nunca te conheceram de verdade, Anne. E sequer fizeram um esforço para isso, porque são pessoas vazias, envenenadas pelo orgulho, inveja e preconceito. Eu sinto tanta pena delas por terem perdido a oportunidade de ter conhecido o ser humano maravilhosos que você é, e acredite, elas teriam aprendido muito a respeito de como serem pessoas mais dignas, se tivessem te observado com mais atenção todos esses anos. Você não sabe o quanto sou grato por ter você em minha vida, pois a cada dia despertando a seu lado, eu descubro novas maneiras de ser uma pessoa melhor, porque você me faz alguém melhor, Anne. - ele a abraçou, prendendo o olhar dela no seu, e Anne quase pôde enxergar sua alma dentro deles. - Eu sei que devo ter te dito isso um milhão de vezes e milhões de maneiras diferentes, mas, eu não me importo de repetir se isso te fizer enxergar o quanto você é essencial em minha vida. Eu sei quem você é, e não preciso que ninguém me diga que a mulher que eu tenho em meus braços é única no mundo, e é por isso, que eu te amo a cada dia mais. - Como ele podia emocioná-la daquele jeito? Como ele conseguia tocá-la de uma maneira que ninguém mais conseguia? Será que ele sabia o quanto significava para ela ouvir tudo aquilo dele? Nenhuma tristeza poderia durar dentro dela quando Gilbert falava de seus sentimentos verdadeiros, e compreender a dimensão do que ele sentia por ela, era fazer Anne renascer todo dia uma nova mulher, confiante e com coragem, para enfrentar o mundo inteiro apenas para que pudesse eternizar aquele sentimento dentro de si, e fosse possível revivê-los um dia, se pudesse viver muitas vidas ao lado daquele rapaz que era o seu escudo contra as dores do mundo.

Anne levantou a mão e tocou o rosto dele, sentindo a maciez da pele morena em contraste com a sua tão alva. Ela não sabia o que dizer, e nem tentaria, pois por mais absurdo que aquilo pudesse ser para alguém que sempre usava a palavras ao seu favor, ela não encontrava nenhuma que pudesse descrever com exatidão como se sentia por dentro aquele instante. Ela apenas o beijou, da forma como sabia fazer, envolvendo-o em seu calor apaixonado, e deixando que ele percebesse por meio daquele gesto que toda a sua alma e seu ser lhe pertenciam. Eles se separaram depois do que parecia ter sido um minuto dolorosamente curto, e Anne disse a Gilbert o que se passava em sua mente naquele momento:

- Você sabe por que te amor, futuro Dr. Blythe? Porque somente você consegue entender o que se passa aqui dentro do meu ser, e somente você consegue me fazer sentir que sou capaz de ir além do que sonhei para mim. Você me salvou de todas as maneiras possíveis, e se estou aqui hoje, é porque me deu uma razão maravilhosa para olhar para nós dois, e descobrir que nosso amor pode tudo, que nós dois podemos tudo quando estamos juntos como agora. – Gilbert continuou abraçando-a e tocando seus cabelos. Seu toque era tão carinhoso que Anne fechou os olhos sentindo o bálsamo daquela caricia se derramar por todo o seu ser, e de repente, tudo brilhava novamente, como na noite passada quando adormeceram com a luz da lua iluminando a janela do quarto deles.

- Nós fomos feitos para ficarmos juntos, Anne. Você é minha alma gêmea. - o olhar que Gilbert lhe lançava era de pura elevação, e se ela pudesse escrever um poema naquele instante, ela descreveria quanta beleza havia naqueles olhos castanhos que ela amava, e que eram como o reflexo de sua própria alma. Mas, de repente, seu olhar se fixou no relógio em cima do criado mudo, e ela percebeu com pesar que estava na hora de irem.

- Amor, temos que ir ou vou chegar atrasada no primeiro dia de aula. - ela disse quase se lamentando.

- Então, acho melhor sairmos agora. Não quero que minha garota perca um só minuto desse dia importante. – Anne pegou seu material que deixara sobre a mesa da sala de estar, colocou seu braço direito em volta da cintura de Gilbert enquanto ele a abraçava pelo ombro, e saíram juntos para aquela segunda-feira que prometia ser diferente de todas as outras que Anne havia vivido até então naquela cidade.

A ruivinha voltou ao presente, e se deu conta que haviam chegado à Faculdade a mais de trinta minutos, e ambos continuavam andando naqueles longos corredores que pareciam não ter fim, pois Gilbert insistira em lhe mostrar tudo para que ela se sentisse mais à vontade e ambientada em seu primeiro dia ali, mas, mesmo assim aquela ansiedade não ia embora, e pequenos calafrios se instalavam na linha de sua coluna. Anne lançou um olhar para Gilbert, e se sentiu extremamente grata por ele estar ali com ela e não largar sua mão nenhum segundo. Ela tinha consciência de que parecia uma adolescente boba, agarrada assim a Gilbert como se algo terrível fosse acontecer para estragar sua alegria de estar de novo dentro de um Campus Universitário, porém, não conseguia reprimir seu subconsciente que lhe trazia a todo instante lembranças desagradáveis de um passado longínquo que ria dela com ironia. Finalmente, eles estavam em frente à sala onde Anne iniciaria seus estudos, e ela sentiu seu temor aumentar.

Quando Gilbert foi se despedir dela, Anne simplesmente se agarrou ao pescoço dele como se não fosse mais largá-lo. Gilbert por sua vez, pareceu não entender aquela sua reação súbita, e a afastou o suficiente para olhá-la nos olhos, segurar seu rosto com ambas as mãos e perguntar:

-  O que foi, meu amor? Está tremendo.

- Eu queria que você pudesse ficar aqui comigo. - ela respondeu piscando para afastar as lágrimas, e se sentindo ridícula por quase se debulhar em lágrimas na frente dele.

- Querida, sei que está insegura, mas, vai dar tudo certo. Eu tenho certeza de que você é a aluna mais inteligente desta sala, e vai se sair maravilhosamente bem. E tem mais uma coisa. Pense no quanto será incrível nos encontrarmos na hora do intervalo para namorar como nos velhos tempos em Avonlea. E tem outra coisa que não te disse; - Gilbert falou em tom de conspiração. - Você está fantástica vestida desse jeito, completamente perfeita. E vou contar cada segundo no relógio para te ver novamente. - assim, ele desceu seus lábios sobre os dela dando-lhe um beijo curto, mas cheio de todos aqueles sentimentos que ele lhe confessara de manhã, e Anne se viu rindo sem perceber. Gilbert tinha o dom de fazê-la se sentir melhor em seus piores momentos, não era à toa que estava tão apaixonada por ele.

- Promete que vai ficar bem? –ele lhe perguntou com as mãos ainda em sua cintura.

- Prometo. Desculpe-me por me comportar feito uma criança carente. - Anne disse, e Gilbert beijou-a na testa dizendo:

- Não se preocupe.com isso. Agora, preciso ir. Te encontro no intervalo da terceira aula no refeitório.

- Está bem. - Anne respondeu, vendo-o se afastar e se juntar a um grupo de estudantes de medicina da qual Dora fazia parte. Anne viu quando ela sorriu para Gilbert, e o tocou no braço, ao mesmo tempo que uma fisgada familiar mexia com seus nervos, mas, tratou de ignorá-la, pois tinha que se concentrar em algo mais importante agora do que seu ciúmes de Dora.

Ela se virou e entrou na sala, ficando parada na entrada por alguns segundos, enquanto tentava encontrar um lugar confortável para se sentar, de preferência em um canto onde não chamasse tanto a atenção para si, mas, logo percebeu que seria impossível, pois ela era a única garota de cabelo ruivo ali, enquanto todas as outras tinham cabelos escuros ou loiros.  Desgostosa, Anne percebeu que mais uma vez seu cabelo a colocaria em ponto de destaque em uma sala de aula. Seria aquilo um mau sinal? Ela riu de si mesma, ao perceber quantos pensamentos ridículos já tivera em questão de um dia. Nova Iorque não era Avonlea, e ruivas eram mais comuns ali do que se podia observar, portanto, ela não seria nenhuma raridade naquele ambiente onde havia milhares de rostos anônimos, onde com certeza ela também se tornaria mais um.

Desta forma, Anne tratou de encontrar um lugar para se sentar, ignorando os olhares curiosos que a observaram enquanto ela caminhava para dentro da sala em busca de uma carteira que estivesse vaga. Ela acabou encontrando uma no meio da sala, mas, quando ia se acomodar nela, ela sentiu que alguém puxava a ponta de seu casaco, e ao se virar constatou que era a mesma garota que vira no dia em que fizera o teste, e que parecia tão nervosa quanto ela naquela ocasião.

- Olá, se lembra de mim?

- Claro que sim. Parece que vamos ser colegas de sala. - Anne disse sorrindo.

- Sim. Não gostaria de se sentar ao meu lado? Estou me sentindo um peixe fora d’água nesse lugar. - a garota disse sorrindo, enquanto Anne olhava para ela e dizia:

- Está bem. Me sinto assim também. – Anne respondeu ao se acomodar do lado da garota. - Me chamo Anne, e você?

- Eu sou Sharon. – a menina disse apertando a mão que Anne amistosamente lhe estendia.

- Parece que nossa primeira aula será sobre autores ingleses do romantismo. - Anne disse olhando o cronograma daquele dia.

- Sim, eu gosto muito dos clássicos. - Sharon comentou.

- Eu também. São os melhores. - Anne disse concordando

Ela e Sharon ficaram conversando por alguns minutos sobre suas preferências literárias, quando Anne sem querer olhou para o fundo da sala, e seu coração congelou ao se deparar com um par de olhos castanhos escuros que a olharam com desdém. Não era possível, ela pensou. Que falta de sorte era aquela? Como veio parar na mesma sala que Roy Gardner?  E o que ele estava fazendo ali se no pouco tempo que se conheceram, ela nunca soubera que ele fazia faculdade ou que pretendia cursar uma. Seu suspiro profundo de desagrado chamou a atenção de Sharon, que olhou para o mesmo lugar que Anne tinha seus olhos fixos naquele momento,

- Parece que já conhece Roy? - Sharon perguntou curiosa.

- Infelizmente sim. - Anne disse com desprezo, o que fez Sharon comentar.

- É a primeira vez que vejo uma garota falar de modo tão desinteressado de Roy. A maioria se derrete por ele.

- Pois, que façam bom proveito, o que compete a mim, ele poderia viver do outro lado do planeta, assim eu nunca mais teria que olhar para sua cara hipócrita.

- Nossa, o que foi que ele te fez para deixá-la tão zangada? - Sharon perguntou olhando para o rosto zangado de Anne.

- Digamos que não combinamos. - Anne disse encerrando o assunto.

Naquele momento, o primeiro professor do período entrou na sala e se apresentou para a turma.

- Olá, pessoal. Sou o Sr. Morgan e serei seu professor de Literatura do período do Romantismo. Vamos iniciar a aula falando de Lord Byron.

Deste modo, a aula começou, e Anne ainda sentia aquela sensação desagradável que sentira ao encara Roy na mesma sala que ela, mas, logo a boa didática do professor de envolver os alunos em sua narrativa a fez prestar atenção em cada palavra que ele dizia, e Anne quase se esqueceu da presença desagradável de Roy bem atrás dela.

 

 

GILBERT

 

Gilbert caminhava para sua classe com seus pensamentos em Anne. Ele deu uma olhada para trás, e a última visão que teve foi vê-la entrando na sala de aula com a linha dos ombros tensos, e ele sentiu uma imensa vontade de voltar até lá e abraçá-la até que ela começasse a relaxar novamente, mas, logo afastou esse pensamento, sabendo que aquilo não era saudável.

Sua tendência em protegê-la ainda surgia em momentos inesperados, e Gilbert precisava se policiar para não deixar que isso o levasse a cometer os erros do passado. Ele não queria sufocá-la como antes, já fizera isso demais antes e também tinha que se lembrar a todo momento que ela era adulta, e tinha um espírito forte, pois fora moldada assim pela vida, e ele não precisava tratá-la como se Anne fosse feita de cristal e se quebraria na primeira queda. Ela já lhe dera provas suficientes de que podia enfrentar os infortúnios da vida sem se curvar demais ou se quebrar. Anne tinha uma força de vontade admirável que a levaria ao sucesso em tudo que se propusesse a fazer, ainda assim, Gilbert não conseguia parar de pensar em como queria ter entrado com ela naquele sala somente para se certificar de que ela estava mesmo bem.

A conversa que tiveram de manhã lhe dera muitos motivos para pensar e mais uma vez de se admirar como ela conseguira chegar até a vida adulta sem se tornar uma pessoa de difícil convivência e infeliz.

Durante todo o tempo de namoro e noivado, Anne pouco falar de sua vida no orfanato que na opinião de Gilbert poucos prazeres lhe deram. Porém, ele percebera nos últimos tempos que ela vinha se abrindo um pouco mais sobre isso, e assim, ia lhe contando fatos aleatórios que lhe davam uma visão clara do que tinha sido sua vida dentro daquelas paredes duras e insensíveis. Seu coração doía ao pensar nos tipos de sofrimento e humilhações aos quais Anne fora exposta durante toda sua infância e início de adolescência, e ele apenas desejava poder apagar da mente dela todas as coisas ruins que flagelaram seu espírito a um ponto de fazê-la duvidar de si mesma.

Pessoas podiam ser ruins quando dominadas pelo ódio em seu coração, e essa era a sua avaliação sobre tudo o que acontecera com ela ao longo de sua curta existência, e pela primeira vez Gilbert sentiu que sua fé no ser humano diminuía um pouco. Ele sempre tivera consciência da maldade, da cobiça e da fogueira das vaidades que podiam corromper facilmente o ser humano, ele mesmo convivera com algumas delas pelo mundo afora, mas isso nunca fora colocado diante de seus olhos. Havia sempre sutileza nas palavras, nos jeitos e olhares, mas Anne sentir aquilo na pele, e Gilbert ficava imaginando como ela sobrevivera naquele ninho de cobras cuja única intenção era aniquilar alguém com seu veneno e ódio.

Contudo, ele podia compreender porque Anne, entre tantas crianças fora escolhida como um alvo fácil. Ela tinha a alma pura, e seu coração não conhecia a maldade, sua beleza não estava somente no rosto ou nos olhos azuis que se pareciam com cristais transparentes e raros. A beleza de Anne estava na maneira dela ser, em seus gestos delicados, no seu fino trato com as pessoas não importando sua origem, sexo ou religião. A beleza dela estava no seu jeito de encarar a vida, naquele sorriso que continha tantas verdades que tocava fundo quem olhasse para ela, e no jeito em que ela colocava seu coração em tudo que fazia. Ela era tão iluminada que era impossível não se aquecer com o calor de suas palavras, e estar com ela era saber que ali havia alguém cujo valor nunca poderia ser medido com exatidão, pois transcendia qualquer raciocínio humano.

O pensamento de Gilbert foi interrompido por um toque em seu braço, e ele se virou encarando Dora a seu lado.

- Até que enfim nos encontramos. Depois daquele dia no hospital, você desapareceu.  Por onde esteve? - Gilbert observou Dora com atenção. Ela parecia mais bonita e mais arrumada do que de costume, e parecia ter desistido dos óculos de graus que usava e colocara lentes de contato que destacavam bem mais seus olhos verdes. Ela sempre fora uma mulher atraente, mas Gilbert nunca olhara para ela desse jeito. Dora era uma amiga que ele apreciava muito e jamais tivera com ela qualquer pretensão romântica.  Mesmo porque, estar apaixonado por Anne tão profundamente como estava deixava pouco ou quase nada de espaço para que ele reparasse em outra mulher que não fosse sua noiva.

- Eu andei me escondendo um pouco.  Precisava resolver algumas coisas em minha cabeça, e compreender o que realmente quero para minha vida. - Dora disse enquanto andava ao lado de Gilbert no corredor.

- E agora você sabe o que quer?

-  Completamente. - Dora respondeu olhando para ele de um jeito que o incomodou. Era impressão sua, ou Dora estava flertando com ele? Não, não podia ser, estava enxergando coisas demais. Dora também nunca o olhara como homem. Eram amigos demais para isso, e ela sabia o quanto ele amava Anne, e não havia lugar em seu coração para ninguém mais.

Ele empurrou aquela sensação desagradável para o fundo de sua mente, e continuou a conversar com Dora sobre outros assuntos que não envolvia sentimentos. Entraram na sala de aula, assim que chegaram na porta, cada um se sentou em seus respectivos lugares. A primeira aula seria de Metodologia Científica, e embora fosse uma matéria extremamente importante, pois envolvia métodos de pesquisa, Gilbert não conseguia pensar em outra coisa que não fosse Anne a poucos metros de sua sala. Ela estava incrivelmente linda aquela manhã, e ele não parara de olhá-la enquanto caminhavam naqueles corredores compridos da Faculdade. Ele pudera sentir a insegurança dela na ponta de seus dedos, enquanto ela segurava em sua mão com tanta força que os nós dos dedos chegavam a ficar brancos. Gilbert entendia que deveria ser difícil para ela estar de novo dentro de uma Faculdade. Os sentimentos deveriam estar confusos influenciados pelas lembranças que não eram poucas de outros tempos, mas ele queria que ela soubesse que ele estava ali com ela e por ela, e que não havia nada a temer. Anne lhe sorria em alguns momentos, mas Gilbert sentia que era um sorriso gerado pelo medo interno que a estava acometendo naquele momento

Como ele aprendera a conhecê-la tão rápido! Podia decifrar cada pensamento dela sem nenhum esforço.  Era uma conexão que tornava o relacionamento de ambos tão forte que dificilmente seria abalado por qualquer coisa que surgisse pelo caminho.

Depois das inúmeras tormentas que os deixaram arrasados no passado, eles aprenderam que se estivessem unidos e confiassem um no outro, nenhum espinho, nenhuma mágoa, nenhuma ferida seria maior que o amor deles. Poderiam se sentir fragilizados em algum momento, afinal eram feitos de matéria humana, e portanto, estavam sujeitos a arranhões e alguns tombos pelo caminho, mas nunca mais se perderiam um do outro, nunca mais nenhuma memória seria esquecida, nunca mais nenhuma dor seria capaz de estilhaçar seus corações, porque agora havia sobre eles uma capa protetora de confiança, companheirismo e um amor do tamanho do mundo.

Não haveria atalhos daquela vez, e nenhuma contramão entre seus destinos. Ele queria continuar segurando a mão dela daquela maneira pela vida, sempre que alguma coisa a incomodasse ou a fizesse se sentir triste, era essa sua maior missão naquela jornada que cumpria ao lado  dela, aquela era uma viagem da qual ele nunca retornaria.

Ele se ajeitou melhor na cadeira, e tentou prestar atenção no que o professor dizia, mas, sua mente o arrastava de encontro a outra sala onde Anne deveria estar estudando Literatura naquele momento, ele se sentiu aflito ao se lembrar de como ela se agarrara ao pescoço dele como.se não quisesse que ele fosse embora.  Ela estava tão tensa, ele sentira os músculos das costas dela rígidos quando a abraçara, e isso o deixou sinceramente preocupado.

Anne vinha se saindo bem na terapia. Sua autoconfiança aumentara de maneira impressionante, e até sua forma de agir dentro do relacionamento dos dois tinha mudado bastante. Anne estava mais madura e focada para que realmente dessem certo na vida que escolheram partilhar, assim como ele a   sentia mais mulher e ainda mais sua quando estavam se amando daquele jeito todo especial que abalava toda a estrutura de Gilbert.  Mas, naquele instante ela parecia fragilizada, e em uma súbita inspiração ele dissera:

- Querida, sei que está insegura, mas, vai dar tudo certo. Eu tenho certeza de que você é a aluna mais inteligente desta sala, e vai se sair maravilhosamente bem. E tem mais uma coisa. Pense no quanto será incrível nos encontrarmos na hora do intervalo para namorar como nos velhos tempos em Avonlea. E tem outra coisa que não te disse. - ele fizera uma pausa e depois continuou: - Você está fantástica vestida desse jeito, completamente perfeita, e vou contar cada segundo no relógio para te ver novamente. - E foi com grande alívio que ele a ouvira responder que ficaria bem.

Talvez ela não estivesse sendo de toda sincera, mas já valia pela tentativa e por ter conseguido arrancar um sorriso dos lábios dela. Mas ainda assim, ele continuava preocupado, e embora realmente acreditasse nas palavras que dissera a ela momentos atrás, Gilbert esperava que ela não tivesse nenhuma experiência negativa em seu primeiro dia que pudesse criar uma barreira entre ela e a faculdade novamente.

- Ei, Blythe! Estou falando com você. - a voz de Dora um tanto alterada tirou Gilbert de seus devaneios.

- Desculpe. Estava distraído. – Ele respondeu com um sorriso, mas Dora não retribuiu. Ela parecia zangada e Gilbert não conseguia encontrar um motivo para a garota olhar para ele com cara de poucos amigos.

- Eu sei bem por onde anda seus pensamentos.

- O que disse? - Gilbert perguntou espantado pelo tom seco de Dora. Ela nunca falara com ele daquele maneira.

- Eu disse que sei bem por onde andam seus pensamentos. Estava pensando em Anne, não é? - os olhos esmeraldas dela faiscavam, e Gilbert se perguntou o que estaria acontecendo com sua amiga.

- Sim, eu estava. E que importância isso tem? - ele a olhou com um desafio claro no olhar.

- A questão Blythe é que você é meu parceiro de pesquisa. E eu preciso de você concentrado cem por cento nessa aula, se quisermos ter nota máxima em nosso próximo trabalho de pesquisa.

  - O que está querendo dizer com isso? Que não dou cem por cento de mim em nossos trabalhos? - Gilbert perguntou sentindo uma centelha de raiva começar a queimar dentro dele. Ele nunca tinha discutido com Dora, mas, parecia que era por isso que ela estava procurando, provocando-o daquela maneira.

- Não foi isso que quis dizer. É que você fica muito diferente quando a Anne está por perto. Age feito um…– ela disse e não terminou, pois Gilbert fez isso por ela.

- Um homem apaixonado? Sim, é Isso que sou, um homem apaixonado. Eu amo Anne, e você sempre soube disso, por que parece que isso a está aborrecendo? - Gilbert perguntou olhando para ela cada vez mais irritado.

- Não me aborrece, Gilbert. Que bobagem é essa que está dizendo? Eu só quero meu parceiro de pesquisa de volta.

- Sinta-se livre para trocar de parceiro quando quiser. - Gilbert respondeu ríspido, passando por cima de sua normal conduta polida. Dora já atingira seu limite de bom senso, e esperava que ela percebesse isso logo antes que acabassem discutindo de verdade.

- Gilbert eu nem pensaria nisso. Desculpe se te ofendi – Dora disse meio sem jeito.

- Desculpas aceitas, mas por favor, deixe minha vida pessoal fora de nossa parceria de pesquisa. Quando e onde penso em minha mulher só diz respeito à mim. - Dora apenas assentiu, enquanto duas manchas vermelhas de embaraço surgiam em seu rosto.

Subitamente, Gilbert se sentiu arrependido de ter deixado sua irritação falar por ele. Ele e Dora nunca tinham tido nenhum tipo de desentendimento desde que se conheceram, e aquela era a primeira vez que isso acontecia. Não conseguia entender porque Dora estava agindo assim. Talvez apenas estivesse tendo  um mau dia.

Jonas que observava a discussão com interesse cochichou no ouvido de Gilbert;

- O que foi? Parece que Dora acordou com o pé esquerdo hoje.

- Pois é.  Eu não entendo esse comportamento dela. Sempre nos demos tão bem. - Gilbert respondeu coçando a nuca confuso.

- Isso está esclarecendo algo tão óbvio. – Jonas disse com o semblante sério.

- E o que seria? - Gilbert perguntou olhando para o amigo.

  - Blythe você consegue ser ainda mais ingênuo do que pensei. - Jonas disse balançando a cabeça.

- Quer me explicar melhor? - Gilbert olhou para Jonas intrigado.

- Comece a prestar mais atenção nas coisas ao seu redor, e entenderá o que está acontecendo rapidinho. - Jonas respondeu encerrando a conversa. Por que todo mundo resolveu conversar com ele em código aquele dia? Por quer não diziam logo o que queriam dizer? Gilbert pensou. Jonas podia pensar que ele era um idiota ou simplório, mas, entendera perfeitamente sua insinuação. Contudo, ele sabia que não dava para confiar no julgamento de Jonas, uma vez, que podia muito bem estar agindo por ciúme e enxergando algo que não existia.

Ele e Dora sempre foram amigos, e ela nunca dera-lhe nenhum indício de que estivesse interessada nele. Ele se lembrou de todas as vezes em que ela o tinha ajudado com os problemas entre ele e Anne, e não podia acreditar que ela fizera aquilo com intenções escusas.  Gilbert tirou sua boina vermelha, e afundou as mãos em seus cachos escuros jogando-os para trás. Aquilo tudo era ridículo, ele continuava se dizendo. Não ia perder mais um minuto pensando naquilo.

Um clique nos ponteiros do relógio de parede da sala de aula, o fez olhar para ele ansioso. Logo, o horário de intervalo chegaria, e ele não via a hora de falar com Anne e saber como tinha sido suas primeiras horas na aula de Literatura. Ele estava ansioso e não podia negar, por isso se concentrou na aula em uma tentativa de que os minutos voassem e diminuíssem drasticamente o tempo que faltava para ele se encontrar com seu amor.

 

GILBERT E ANNE

 

O professor de literatura do período do Romantismo terminara de falar, e Anne percebeu espantada que era hora do intervalo. Uma alegria repentina tomou conta dela ao pensar que em poucos minutos estaria com Gilbert, e aquele era um prazer do qual nunca iria se privar.

Ela fechou seu caderno de anotações, e pegou seu casaco deixando suas coisas em seu armário pessoal. De repente, sentiu um arrepio na nuca ao perceber que Roy passava bem atrás dela, e respirou aliviada quando notou que ele a estava evitando. Talvez ele tivesse entendido o seu recado da última vez e a deixasse em paz finalmente. Não queria ter que envolver Gilbert naquela história, pois não se sentia confortável com isso. Ela sabia muito bem se defender sozinha, e só falaria com Gilbert em último caso se aquela situação chegasse ao ponto de se tornar intolerável. Ela até tinha pensado em sair do emprego, porque assim diminuiria as chances de se encontrar com aquela criatura desagradável. Contudo, não achava justo deixar algo que lhe dava tanto prazer por causa daquele imbecil. Felizmente, ele não tentara nenhuma aproximação aquele dia, e esperava que continuasse assim.

- Ei, Anne. Vamos almoçar juntas? - Sharon perguntou sorridente. Aquele garota era um doce, e Anne descobriu que já gostava muito dela. Ela era morena, e tinha os cabelos longos cacheados que lhe davam um ar sapeca, e como Anne, ela tinha várias sardas pelo rosto. Os olhos eram negros, e a pele mais morena do que a de Gilbert, seu sorriso largo dava uma sensação de calor humano, e observando-a em silêncio, Anne teve certeza que seriam boas amigas.

- Eu gostaria muito, Sharon, mas, eu vou encontrar o meu noivo. - Anne disse alegremente.

- Você tem um noivo? Não é muito jovem para isso? - Sharon perguntou espantada.

- Não quando tenho um Gilbert Blythe na minha vida. - os olhos dela brilhavam tanto que Sharon teve que comentar:

- Gilbert Blythe? Que nome bonito. Os dois combinam perfeitamente.

- Um nome bonito para um homem mais lindo ainda. Quando conhecê-lo vais entender do que eu estou falando. - Anne disse trancando o armário e guardando a chave na bolsa.

- Você parece bastante apaixonada. - Sharon falou sorrindo.

- Sim. Sou muito apaixonada por meu noivo. Ele é o príncipe encantado de minha vida. - Anne respondeu com um sorriso maior ainda.

- Quem dera eu encontrasse um príncipe como o seu. Mas, desde que me conheço por gente tudo o que encontrei pelo caminho foram sapos. - Sharon fez uma cara tão dramática que Anne teve que rir.

- Não desanime, querida. Seu príncipe vai aparecer quando você menos esperar. - Anne disse tentando animá-la enquanto deixavam a sala de aula e iam em direção ao refeitório. - depois em um tom mais sério, ela perguntou. - Sharon, me diga uma coisa, Roy Gardner é aluno fixo nessa turma em que estamos?

- Não, na verdade ele está no segundo período e participa apenas de algumas aulas para complementar sua carga horária das matérias que não fez no semestre passado.

- Ah, que bom. - Anne disse aliviada. Pelo menos não teria que encontrá-lo todos os dias, ela pensou.

Quando chegaram no refeitório, Anne disse:

- Vou procurar meu noivo. Não quer vir comigo para conhecê-lo?

- Vou deixar para outro dia. Minha amiga Sally está me esperando para almoçarmos juntas.

-Está bem. Nos encontramos mais tarde. Tenha um bom almoço. - Anne disse enquanto seu olhar varria todo o refeitório a procura de Gilbert.

- Você também. - Sharon disse alegremente e em seguida sumiu entre as inúmeras mesas que existiam por ali.

Anne ainda andou por alguns minutos pelo recinto tentando encontrar seu noivo, e então o viu. Ele estava sentado em uma mesa a alguns metros de onde Anne se encontrava, e obviamente Dora o acompanhava. Anne estreitou o olhar ao ver a garota sorrir para Gilbert, e a pontada do ciúme começou a incomodá-la, porém, ela se controlou ao máximo. Ela não era mais aquela garota que perdia as estribeiras quando via qualquer garota olhando para seu noivo com o interesse explicito em seu rosto. Anne compreendia que aquilo acabava causando muita tensão entre ela e Gilbert, o que sempre culminava em uma briga depois. E aquilo em nada combinava com a confiança que ela tinha nele, e por mais que lhe estressasse o fato de que Gilbert sempre causaria aquele tipo de efeito nas garotas, ele a amava e era isso o que tinha que manter em mente.

Ela se aproximou devagar, pois não queria que ele a visse, porém, Dora logo a notou e o sorriso que tinha nos lábios se congelou dando a Anne a certeza absoluta de que ela não tinha gostado nem um pouco de sua chegada. Anne ficou bem atrás da cadeira de Gilbert, e tapou seus olhos com as mãos. Ele naturalmente soube que era ela, pois seu perfume de rosas a denunciara, e assim, Gilbert a puxou para ele, se esquecendo momentaneamente dos seus amigos que estavam ali com ele no instante em que seus olhos cruzaram com o de Anne.

- Você demorou. Onde estava? - Gilbert disse beijando-lhe os dedos da mão dela que segurava entre as suas.

- Eu me atrasei procurando por você, mas, aqui estou. - ela disse tocando o rosto dele com as mãos. Deus! Como ele era lindo! Não conseguia deixar de se surpreender toda vez que ele sorria. Gilbert tinha o sorriso mais incrível do mundo.

- Então, você é a Anne? Prazer em conhecê-la, senhorita. Agora entendi porque o Blythe parecia tão distraído na aula hoje. - Patrick disse com malícia, e Gilbert ficou vermelho, parecendo ainda mais encantador do que já era.

- Nunca tinha visto o Gilbert corar desse jeito. Deve ser o efeito Anne sobre ele. - Carlos, seu outro amigo continuou zombando dele.

- Parem com isso, pessoal. Já me constrangeram o bastante. Esta é a minha noiva Anne. - Gilbert disse, e enquanto cumprimentava todo mundo foi que Anne se virou para Dora e disse:

- Como vai, Dora? - a garota lhe lançou um olhar ressentido antes de dizer:

- Muito bem, e pelo que vejo você está ótima. - ela tentou ser simpática, mas, Anne sabia muito bem ler nas entrelinha do rosto dela que Dora não estava satisfeita com sua presença, e no mesmo instante soube porquê. Aquele momento era o único que ela ilusoriamente podia ter Gilbert para si, e agora, com Anne estudando na mesma faculdade, ela acabara de perder esse seu único prazer.

- Estou muito bem sim, Obrigada. - Anne respondeu educadamente, contudo sua voz era uma pedra de gelo.

- Com todo o respeito, Blythe, mas, não posso deixar de dizer. Sua noiva é uma beleza. - Gilbert revirou os olhos ante ao atrevimento de Patrick, e todos riram de sua carranca fingida, menos Dora que passara a prestar mais atenção no copo de suco que tinha nas mãos.

- Quer dar uma volta? - Gilbert perguntou.

- Sim, mas, antes vou comprar o meu almoço. - Anne respondeu.

- Eu vou com você. - e assim abraçados, eles foram até a cantina e compraram um sanduíche natural para Anne e um suco de abacaxi. Eles se sentaram em um banco que estava vazio no pátio, e Gilbert esperou pacientemente que Anne terminasse de comer seu lanche. Depois, ele a puxou pela mão e a levou até uma parte do Campus onde havia algumas árvores e um gramado. Assim, que chegaram lá, ele a empurrou para o tronco da árvore, que os mantinha escondidos de olhares curiosos, e disse:

- Não via a hora de te beijar. - e sem esperar pela resposta de Anne, ele colou seus corpos e a envolveu em um beijo ansioso e cheio de calor. Anne sequer teve tempo de pensar ou esboçar qualquer reação, pois no momento em que sentiu os lábios de Gilbert se movimentando sobre os seus, ela não tinha mais condições de dizer nada. Era incrível a capacidade que seu noivo tinha de tirá-la de seu normal, e transformá-la em um corpo trêmulo e de pernas bambas. Gilbert era irresistível, ela não podia negar, como também não podia deixar de admitir para si mesma que seu corpo era completamente obcecado pelo dele.

Quando ele finalmente a libertou de seu lábios, ele se sentou no chão encostado no tronco da árvore, e a fez sentar-se em meio às suas pernas, com a costas coladas no peito dele.

- Como foi suas primeiras horas na aula de Literatura? - ele perguntou, mantendo seu queixo apoiado no ombro dela.

- No início foi estranho, mas depois que relaxei, as coisas começaram a melhorar. Eu até fiz uma amiga nova. - Anne disse entrelaçando seus dedos nos dele. As mãos de Gilbert eram tão maiores que as dela, e seus dedos quase sumiam quando ele os  envolvia em sua palma.

- Fico feliz com isso. Estava preocupado com você. - ele disse dando-lhe um beijo no pescoço.

- Não precisava se preocupar. Eu te disse que ficaria bem. - ela disse, relaxando seu corpo totalmente sobre o dele que a mantinha presa pela cintura.

- Eu sei disso, porém, me preocupar com você é uma coisa que nunca deixarei de fazer. - ele admitiu sinceramente, e depois disse com um sorriso nos lábios. – Esse momento não te lembra quando namorávamos na escola de Avonlea?

- Sim, porém havia algumas coisas que eram diferentes. - Anne disse marota, e Gilbert a olhou curioso.

- O que, por exemplo? - ela se virou de frente para ele e respondeu:

- Eu não podia te beijar assim.- ela enlaçou-o pelo pescoço, sua boca passeando pela dele até que suas línguas se encontraram e se tocaram quentes e alucinadas. Gilbert, por sua vez, prolongou o beijo o quanto pôde, seus dedos seguravam a cintura de Anne com força, e apertava contra si querendo absorver mais o calor que vinha dela, e Anne o acompanhou naquele beijo intenso até que tiveram que se separar, porque não havia mais um milímetro de ar entre eles.

- Por Deus, Anne, vou pensar nisso até o fim do dia. - Gilbert disse controlando sua respiração que tinha perdido seu rumo à muito tempo.

- Eu mexo com seus sentidos tanto assim, Dr. Blythe? - Anne perguntou provocante enquanto acariciava o maxilar dele.

- Você não tem ideia do que faz comigo. - ele respondeu olhando para ela ardentemente.

- É bom saber que estou em seus pensamento assim como você está nos meus. - Anne distribuiu milhares de beijos por todo o rosto dele, e Gilbert fechou os olhos adorando aquele momento com ela, enquanto respondia com sua resistência por um fio.

 - Não é apenas em meus pensamentos que você está, Anne, e sim em todas as partes de mim. - eles se beijaram de novo, e dessa vez foi um beijo calmo, pois eles sabiam que logo teriam que voltar para a sala de aula, e era melhor que mantivessem seus desejo um pelo outro totalmente controlado.

- É melhor voltarmos, Gilbert. O intervalo está no fim. - Anne avisou-o, Ela se levantou de onde estava, e Gilbert a seguiu colocando os braços em seu ombro, e ambos se encaminharam para a sala de aula. Gilbert fez questão de levar Anne até a porta de sua classe,

- Não precisa, Gilbert. Eu posso ir sozinha. - Anne protestou.

- E você acha que vou correr o risco de te deixar solta por ai? Você ouviu o que Patrick disse? - Gilbert disse se fingindo de sério, mas, Anne percebeu que ele estava brincando, então, não disse mais nada.

- Aqui está. Entregue sã e salva. - Gilbert disse, beijando-a na testa.

- Obrigada. - Anne respondeu ajeitando a gola da camisa dele.

- Desculpe se pareço grudento. Daqui a pouco você vai querer que eu fique bem longe de você. - Gilbert comentou com humor.

- Adoro quando é grudento, e quanto a querer que fique longe, isso não tem chance nenhuma de acontecer, portanto, seus pontos comigo estão em alta.

- Você tirou um peso do meu coração. - Gilbert disse se despedindo, e indo em direção à própria sala de aula.

Assim que Anne se sentou em sua carteira, ela olhou ao seu redor e viu que Roy não estava por ali, e por esta razão, ficou completamente relaxada, e se sentiu mais segura para participar da aula como gostava. Quando seu dia na faculdade finalmente chegou ao fim, ela se despediu de Sharon, pegando seu casaco e seu material, e ia se encaminhar para seu armário pessoal quando seu professor a chamou:

- Srta Cuthbert, poderia esperar um minuto.

- Claro, professor. - Anne disse se aproximando devagar um tanto apreensiva. Será que tinha feito algo de errado e ganhara a antipatia de seu professor logo no primeiro dia de aula?

- Gostei muito de sua participação durante as aulas, e pude comprovar pelo seu boletim da outra Faculdade que era a primeira de sua turma, o que comprova o seu ótimo desempenho nessa matéria. Ainda é um pouco precoce eu fazer este convite para a senhorita, mas, irei me arriscar assim mesmo, pois algo me diz que não estou errado. Gostaria de trabalhar na monitoria dessa matéria? Muitos alunos têm grande dificuldade em Literatura, uns por que não se dedicam e outros porque realmente falta-lhes a aptidão necessária. Contudo, tenho certeza que com uma monitora tão apaixonada pela matéria como a senhorita, eles aprenderiam com mais facilidade. É claro que seria um trabalho remunerado. Gostaria de tentar? - o professor lhe disse sorrindo. Anne mal podia acreditar. Trabalhar de novo na faculdade como monitora? É logico que aceitaria, pois adorava ensinar aquela matéria e estava sentindo falta daquela interação com outras pessoas. Ela teria que desistir de seu trabalho na livraria pela impossibilidade de conciliar os dois empregos, porém, não podia perder aquela oportunidade.

- Seria uma honra, professor. Já trabalhei como monitora e minha última Faculdade, e é realmente uma atividade que realizo com prazer.

- Então, vamos combinar desta maneira. Vou esperar um mês do início das aulas para fazer o convite oficial, pois é o tempo que a faculdade demanda para que eu encontre alguém que seja meu monitor supervisionado. Em seguida, a senhorita começa no cargo.

- Muito obrigada, professor. Prometo que não irá se arrepender.

- Eu tenho certeza disso. Quem dera todos os alunos fossem apaixonados como você por minha matéria. – ele disse sorrindo.

Anne saiu da sala se sentindo tão animada. Seu primeiro dia na Faculdade que ela tanto temera ser um fracasso acabara se tornando melhor do que esperava. Ela estava ansiosa para encontrar Gilbert e contar-lhe a novidade. Foi então que o viu vindo e sua direção, andando a passos largos como se estivesse tão ansioso quanto ela para estarem juntos.  Assim, que ele se aproximou dela, Anne se atirou em seus braços e o beijou. Em seguida continuaram juntos até a saída da Faculdade e enquanto iam para casa almoçar. Anne lhe contou as boas novas daquele dia surpreendente.

   Assim, os dias foram passando, e Gilbert e Anne viveram uma verdadeira maratona naquela semana entre a faculdade, trabalho e casa, enquanto a ruivinha se desdobrava para tomar conta de tudo, Gilbert tentava ajudá-la da melhor forma possível. Além de todas as responsabilidades diárias, Anne ainda tinha que se preocupar com Milk, que para sua sorte, Cole se oferecera para cuidar dele durante o tempo que ela estivesse na faculdade e no trabalho, e ela acabava por vê-lo somente à noite quando ia buscá-lo no apartamento do amigo.

Apesar de  já te se afeiçoado a Cole, Milk não gostara nem um pouco daquela mudança de rotina de sua dona, e Anne sentia seu coração doer toda vez que deixava o seu amiguinho peludo nos braços do rapaz e ele gania se parar no momento em que a via partir, assim como a enchia de lambidas enquanto ela acariciava sua cabecinha adorável quando o pegava de volta, e assim a vida ia fluindo no ritmo louco de Nova Iorque com suas luzes coloridas, e seus moradores viciados em trabalho e cheios de adrenalina.

 Subitamente já era sábado, e Anne se surpreendeu como seus últimos dias tinham se evaporado como fumaça pelo ar, Naquela noite, ela e Gilbert teriam uma festa no apartamento de Jonas para ir, e embora ela preferisse ficar em casa e descansar, Anne não quis acabar com a animação de seu noivo que queria levá-la para se divertir junto ao seus amigos.

Ela se arrumou com cuidado, e escolheu um vestido que em sua opinião combinaria muito com a ocasião que prometia ser descontraída e bastante divertida ao julgar pelo caráter do dono da festa que estava sempre com seu humor em alta. No momento em que ficou pronta, e foi se juntar a Gilbert que estava na sala à sua espera, ele a olhou com seus olhos cheios de admiração, e dissera:

- Isso tudo é para me tirar o fôlego? - ele apontou para o vestido vermelho justo até a cintura que deixava bem marcada, e depois caía em uma saía de pregas até o joelhos. As mangas eram compridas até o punho e o decote redondo dava destaque ao seu colo alvo.  Ela puxou uma mecha de cabelo de cada lado e as prendeu atrás da cabeça com uma presilha dourada. Nos pés, ela calçava sapatos de salto médio pretos e colocara brincos de argola dourados para complementar o conjunto elegante.

- Você também está de arrasar, meu amor. Será que terei que me grudar a noite toda em você para afastar os olhares atrevido das garotas? - Anne disse com humor, ao observar Gilbert de calça jeans desbotada, camisa cinza e sapato social, e para deixá-lo ainda mais lindo, ele colocara sua jaqueta de couro marrom.

- Nenhuma garota se compara a você. Eu já te disse isso um milhão de vezes, e quer saber? Pouco me importa quem estiver olhando, pois a sua atenção é a única que desejo esta noite. - Anne sentiu seu coração palpitar. Pelo jeito seu noivo vinha se aprimorando na arte de sedução, porque somente com aquelas palavras, ele já ganhara toda atenção dela pela noite toda. Seria impossível olhar para outra pessoa ou qualquer outra coisa que não fosse aquele rosto maravilhoso e seus cachos bagunçados que eram sua paixão desde sempre.

Anne apenas sorriu em resposta ao que ele dissera, e então, Gilbert a ajudou a vestir seu sobretudo de lã, e eles saíram para o ar gelado de Nova Iorque que prometia ter mais uma de suas nevascas de madrugada. Todos os amigos de Gilbert estavam presentes na festa quando ambos finalmente chegaram lá, e mais uma vez, Anne notou o olhar ressentido de Dora sobre ela e Gilbert, o que deixou Anne extremamente irritada. Aquela garota estava perdendo seu tempo, se achava que Anne permitiria que ela chegasse perto de Gilbert. Ela podia ser uma excelente amiga para ele, mas isso não impediria que Anne afastasse os dois se ela achasse que lhe fosse conveniente. Sinceramente, não queria fazer isso, mas ela defenderia o que era seu da maneira que achasse melhor, e estava pouco ligando se Dora fosse magoada, Anne estava cansada de pensar nos sentimentos dos outros quando as outras pessoas não ligavam nem um pouco em vê-la sangrar. Fora assim com Ruby, com Sabrina, mas com certeza não seria assim com Dora. A ruivinha aprendera bem sua lição, e quanto mais cedo Dora compreendesse que Gilbert era o seu homem, melhor e menos sofrido seria para ela.

Todos pareciam estar se divertindo inclusive Anne, que ria a valer com as histórias contadas por Patrick.  Ela e Gilbert não ficaram todo o tempo juntos, porém discretamente, Anne não o perdia de vista. Isso não era por desconfiança, mas sim por uma necessidade absurda de ter Gilbert sempre em seu campo de visão. Fora um hábito que desenvolvera depois que ele recuperara sua memória e vieram viver em Nova Iorque, porque se sentia mais confiante e menos ansiosa quando sentia que Gilbert estava por perto, e isso também acontecia com ele, pois a todo momento Anne o pegava olhando para ela, mesmo quando parecia estar envolvido em uma conversa que prendia sua atenção.

Em um momento de distração em que Anne não estava olhando, Dora que se mantivera noite toda afastada dele, se aproximou de Gilbert e os dois começaram a conversar. Quando Anne percebeu lá estava a garota tentando manipular Gilbert todo para si.

Aquele sentimento insano que sempre a deixava fora de si de ciúmes começara a surgir, e se fosse em outros tempos, Anne já teria estapeado aquela garota ali mesmo, arrancado aquele sorriso vulgar de seu rosto e acabando com sua pretensão ridícula de atrair o noivo de Anne que até aquele instante não tinha percebido suas intenções, ou fingia não perceber.

Mas, aquilo tudo não combinava mais com a mulher que ela era agora totalmente confiante nos sentimentos que Gilbert tinha por ela, por isso, ao invés de se sentir atingida pela maneira como Dora flertava com seu noivo, Anne resolveu tentar uma coisa que não estragaria em nada sua noite, e seria bastante divertido ver a reação de Gilbert quando ela fizesse o que tinha em mente.

Ela passou perto dos dois, fingindo não perceber os olhares insinuantes de Dora sobre Gilbert e foi direto para a mesa de refrigerantes pegar uma coca cola, onde ela sabia que Gilbert poderia facilmente ver o que ela estava fazendo. Ao invés de fazer o caminho de volta, ela se virou e começou a conversar com Carlos, o amigo galanteador de Gilbert. Em poucos segundos, ela sentiu os braços de Gilbert em sua cintura, e olhou para Dora que a fuzilava com o olhar. Anne congratulou a si mesma por ter agido como uma mulher adulta e atraído a atenção de seu noivo para si sem ter perdido a cabeça nenhuma vez. De maneira elegante ela provara a Dora que seu jogo de sedução não funcionara nenhum pouco, pois bastou Gilbert sentir que Anne estava bastante entretida com a conversa de outro homem para se esquecer completamente de sua suposta amiga.

- Estava tentando me deixar com ciúmes? - Gilbert perguntou baixinho em seu ouvido.

- Talvez. Você está com ciúmes? - Anne perguntou de volta no ouvido dele.

- O que você acha? – Ele sussurrou bem perto dela, e quando seus olhos encontraram o dele, ela percebeu aquele brilho possessivo que a excitava, pois deixava todo aquele jogo mais estimulante entre eles.

- Quer dançar? - ela perguntou

- Não. – a ruivinha arqueou a sobrancelha com   a recusa dele e perguntou;

- Por que não? – Ele se aproximou novamente de seu ouvido, e disse com seu hálito quente provocando certos arrepios que ela tentava ignorar por causa do lugar onde estavam.

- Eu não sou mais aquele adolescente que precisa de uma dança como desculpa para ter a mulher que deseja em seus braços.

- E o que quer fazer então? - Anne perguntou desejando que ele a beijasse.

- Vamos para casa. - naquela voz havia mais fogo.do que ela pensara provocar, e ao olhar para Gilbert percebeu que seus sentimentos estavam em sintonia. Ela concordou com seu olhar azul incendiando o dele como um dia de verão, e assim se despediram dos amigos e foram caminhando para casa naquele clima onde o desejo era o ingrediente principal.

A porta foi aberta às pressas, enquanto mãos deslizavam pela pele de seda que implorava para ser tocada, e lábios beijavam músculos que se ondulavam de prazer ao sentir a carícia da boca feminina que desvendava cada um dos seus desejos. Quando Gilbert carregou Anne para o quarto, ambos já estavam despidos enquanto suas roupas jaziam esquecidas em um canto qualquer da sala. O cômodo em que estavam era pouco para aquela paixão desmedida que como labaredas incontroláveis incendiavam corpos que eram incapazes de resistir aquela sensação inebriante que crescia a cada segundo. Anne se sentia embriagada pelos beijos de Gilbert como se tivesse bebido doses e mais doses do melhor vinho do mundo. Cada vez que o amor acontecia entre eles, era sempre diferente e ainda melhor que a última vez, assim, como a próxima seria outra experiência ainda mais marcante, pois nada entre eles tinha gosto de passado, ou algo que poderia ser saciado tudo de uma vez. Havia sempre uma descoberta nova, como naquele momento em que as mãos e os beijos de Gilbert levavam Anne até o ponto em que amor e desejo se encontravam em uma parceria perfeita, fazendo com que seus sentidos fossem testados além dos limites entre terra e céu, mar e   ondas em uma combinação que fazia seu corpo se perder, se encontrar, ferver e esfriar em questão de segundos.

Gilbert também se sentia tomado por aquele feitiço dos olhos azuis que não.se desprendiam dos seus. O mel dos lábios que o seduziam, o corpo perfeito que se entregava ao seu em uma dança tão antiga, e nem por isso menos poderosa, tudo aquilo era um afrodisíaco para que seu desejo aumentasse cada vez mais. De repente, de dois, eles eram um, e de homem e mulher se tornaram fogo e calor, e enquanto lá fora a neve cobria a cidade com seu manto gelado, naquele quarto tudo era ardentemente acolhedor. Quando Anne abriu os olhos, ela estava deitada sobre o corpo de Gilbert, e as mãos dele estavam perdidas em seu cabelos, suas testas unidas e suadas, enquanto esperavam que suas respirações se tornassem regulares novamente.

- Por que estava falando com Carlos, Anne? - ele perguntou ainda mantendo-a sobre ele. Gilbert adorava esse contato entre eles, pois era assim que ele sentia que Anne era completamente dele.

- Por que estávamos em uma festa e é educado conversar com outras pessoas. - ela disse de maneira displicente, acariciando o ombro dele

- Você sabe que ele é paquerador, e você mesma me disse uma vez que não se simpatizava com ele.

- Talvez eu quisesse chamar a atenção de um futuro médico que estava me ignorando. - Ela disse beijando o queixo de Gilbert e evitando os lábios dele deliberadamente.

- Eu não estava te ignorando.   Gilbert disse em protesto.

- Estava sim. A conversa com a Dora parecia tão divertida que não quis impor minha presença entre vocês dois. - era mentira, mas não ia deixar o Gilbert saber que Anne manipulara sua atenção para tirá-lo de perto dela.

- E quem disse que estava divertida? - ele disse com a testa franzida.

- Pareceu para mim. Vocês não paravam de rir.

- Então, você não prestou atenção direito. Eu não tirava os olhos de você. - Gilbert confessou enquanto tocava os lábios dela com os dedos. Sua mulher era linda de qualquer jeito, ainda mais despida e corada daquele jeito, deitada sobre ele enquanto suas peles se colavam pelo suor e a paixão que partilharam ainda a pouco. Como ela podia achar que ainda tinha concorrência?

- Acho que preciso muitos beijos para me convencer disso

- É só disso que precisa? De alguns beijos? - Gilbert perguntou com certa malícia

- Está bom para começar. - ela disse no mesmo tom.

É claro que não ficaram apenas nos beijos, e enquanto a neve continuava a cair, Anne e Gilbert se amavam daquela forma tão doce e tão intensa ao mesmo que os levava para longe e muito longe, para um paraíso além da terra.

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Notas Finais


Boa leitura. beijos.


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