Claryssa
Malas no carro e coração na mão tudo pode ter um fim em poucas horas e eu não sei se estou sabendo lidar com isso. Ir de encontro direto com uma facção criminosa nunca fez parte dos meus planos de vida. Não contei nada sobre a viagem suicida para o Will, ele faria de tudo para me impedir talvez até me amarrasse no apartamento. Com certeza o Allan não iria impedir já que ele está louco para me ver fora dessa mas eu não vou desistir agora, não vou deixar que o Allan se machuque só por achar que vai proteger alguém. Ele se culpa demais, se martiriza demais. Se eu deixar que ele vá só, é capaz dele se dar como moeda de troca só para que a tal Camille liberte o Taylor. Isso é bonito na teoria se sacrificar por quem ama, mas na prática isso é totalmente loucura, eu tenho certeza que ele serve muito mais vivo do que morto. Se o Allan fizer o que essa mulher quer, quem é que vai cuidar do Taylor ou… ficar comigo?
-Clary?- Allan me tira dos meus pensamentos- Ainda dá tempo de desistir dessa loucura.
-Eu vou- disse com voz firme.
-Eu sabia que isso iria acontecer então chamei uma pessoa para tentar conversar com você- ele diz baixo.
-Quem?- pergunto confusa.
Will aparece no estacionamento com um olhar furioso caminhando a passos largos, ele agarra meu braço, sai me arrastando até o elevador e aperta o botão do meu andar.
-Will eu…
-Cala boca Claryssa! Lá em cima vamos conversar sério, bem sério.
A porta se abriu e entramos ele me faz sentar no sofá e puxa uma cadeira para ficar frente a frente comigo. Seu olhar está repleto de raiva e eu nunca vi meu amigo assim antes.
-O que deu na sua cabeça?- sua voz é baixa mas firme.
-Eu só estava tentando ajudar- disse baixo.
-Ajudar o Allan e se matar também?
-Will você não entende.
-Realmente eu não entendo Claryssa, eu não entendo mais nada- ele joga as mãos pelo cabelo.- Onde está a minha amiga pé no chão, aquela que tomava as decisões certas, que sabia o que era melhor e fazia de tudo para não se meter em confusões?
-Ela está aqui- olho para ele desesperada- Sempre esteve.
-Não é o que parece-ele me olha bravo- Você ia em uma viagem, colocar sua vida em risco por assuntos que nem sequer envolvem você.
-Eu gosto dele- disse a beira das lágrimas.
-Eu sei e ele também parece gostar muito de você, por isso me ligou. Até ele que é um criminoso irresponsável sabe que você está fora de si.
-Eu estou bem Will eu só tenho medo de perder ele.
-É mesmo?- ele me olhou nos olhos- E você pensou em como ele ficaria se te perdesse, como seus pais ficariam, seus irmãos… você pensou em algum momento em mim, Claryssa?
Começo a chorar como uma criança perdida. O que está acontecendo comigo? Eu perdi a cabeça por um homem. Estou deixando a minha vida de lado para viver a dele, eu estou perdendo o meu melhor amigo por ele, e o pior de tudo é que ele nunca me pediu nada disso, a única coisa que o Allan me pediu mesmo que indiretamente, foi a minha atenção e companhia. Eu pirei e só agora estou me dando conta disso.
-Me perdoe- soluço- Eu te amo, eu sinto muito.
-Eu te perdoo se você me prometer que não vai se meter nisso- Will enxuga minhas lágrimas.
-Eu prometi que ficaria ao lado dele, não posso deixar ele ir só, ele vai acabar morto.- digo desesperada.
-Se ele quisesse que você fosse, não me ligaria as duas da manhã atrapalhando minha transa para pedir que eu viesse te impedir.
-Ele te ligou as duas da manhã?- perguntei assustada.
-Ligou- Will revira os olhos- Ele se importa com você Clary, Allan me contou que o garoto que mora com ele está em apuros e só ele pode cuidar disso. Você não acha que seria demais para ele ter que se preocupar com a segurança de vocês dois?.
É, ele tem razão. Eu estou sendo egoísta me metendo na vida dele sem nem ao menos dar ao Allan a chance de opinar. O Will está certo eu sou mais útil ficando longe de toda essa bagunça.
-Você está certo- disse baixinho- Eu vou ficar.
Will se ajoelhou colocando as mãos para o céu e aquele gesto me fez rir.
Odeio admitir que estou errada, odeio dar o braço a torcer mas com tantos fatos jogados na minha cara é necessário baixar um pouco da minha bola e voltar a pensar direito.
-Obrigado senhor, muito obrigado.- diz Will com os olhos fechados.
-Idiota- o derrubei no chão- Posso pelo menos me despedir dele?
-Pode mas eu vou junto caso você surte e entre na mala do carro- ele se levanta e ajeita as roupas.
-A mala do carro é muito pequena para mim.
Wil me olha de cima a baixo e solta uma risadinha irônica.
-Claryssa você cabe dentro de uma mala.
-Eu te odeio- bati em seu braço.
-Tapa de amor não dói querida, agora vamos nos despedir do seu don Juan.
Allan está encostado no carro de cabeça baixa totalmente distraído.
-Allan.
Ele se vira na minha direção com os olhos tristes e cansados. Já tem três dias que ele não dorme direito, ele nem sequer sorri e isso me parte o coração.
-Você conseguiu- sorri triste- Eu vou ficar.
-Graças a Deus- ele suspirou fundo.- Não é que eu não queria você do meu lado é que…
-É que é muito perigoso e você me quer a salvo, eu já entendi.- dei um sorriso amarelo.
-Sério mesmo, você entendeu?
-Sim, eu sou mais útil viva.-revirei os olhos.
Ele me agarra me dando um abraço apertado, eu o aperto mais desejando nunca soltar, desejando que ele nunca se vá.
-Tenta ficar vivo, por favor- sussurrei em seu ouvido.
-Eu prometo voltar, prometo voltar para você meu pequeno anjo.
Meu coração começou a bater forte e algo parecia estar entalado na minha garganta e precisava sair, eu não sei o que era mas a cada vez que eu olhava em seus olhos a vontade crescia.
-Se cuida- digo baixinho desejando dizer outra coisa.
-Vou sim, e quando eu voltar eu cuido de você.- ele coloca as duas mãos na minha bunda e aperta com força.
Allan me encosta no carro e me beijando com intensidade, me deixando sem ar.
-Vocês podem por favor parar com a baixaria?- Will se pronuncia fazendo Allan me soltar- Meu deus, parece que vocês vivem no cio. Dói muito pedir para que eu saia?
-Foi mal cara- Allan diz rindo- É difícil resistir a essa loira.- ele me olha com ternura.
-Tá eu sei, agora vá embora antes que ela surte e não te deixe ir- Will me pega pelo braço e me coloca atrás de si.
-William, obrigado te devo uma- Allan diz com sinceridade.
-Eu gosto de Jack Daniels- Will deu de ombros
-Quando eu voltar te trago um contêiner cheio dele.- Allan entra no carro sorrindo.
-Se não me colocar na cadeia, vou aceitar de bom grado.
Allan dá a partida e vejo ir embora do meu prédio, meu coração se aperta e eu abraço Will como se fosse uma súplica para que tudo corresse bem.
Vendo ele se afastar a única frase que vem na minha cabeça é “eu te amo”. Só posso estar maluca mesmo.
Tira isso da cabeça Clary, tira isso da cabeça.
***
O sócio do William pegou um de seus funcionários roubando nas câmeras e ele teve que ir lá às pressas me deixando só. Eu até pediria para que ele ficasse mas o trabalho dele também é importante então resolvi fazer o meu. Já tem alguns dias que preciso ler um novo livro para ver se ele tem capacidade de ser lançado pela nossa editora. O título parece bom se chama“devil's eyes”. Pego o livro e me perco na leitura, ele fala sobre uma mulher que se encantou com um homem misterioso que apareceu em seus sonhos; toda noite ele ia em seu quarto e realizava todas as fantasias e desejos sexuais que ela pudesse ter mas no dia seguinte ela acordava cansada, feliz e sem se lembrar muito do homem. A única coisa que não saia de sua mente, eram seus incríveis e demoníacos olhos verdes hipnotizantes. O livro é bom, quente, bem escrito e com uma narração de dar inveja a qualquer um. Como eu fui capaz de ficar longe dessa obra prima? A é, eu estava muito encantada e ocupada me entregando ao meu demônio de olhos azuis brilhantes.
A campainha toca me tirando daquela leitura mágica, mas quem poderia ser?
Vou até a porta, olho no olho mágico e vejo um homem de boné preto segurando uma caixa.
-Senhorita Novak, entrega para senhora- o homem diz calmamente.
-Eu não pedi nada- me afasto da porta.
-É uma entrega especial.
-Deixe na portaria- passo a corrente na porta.
-Preciso que a senhora assine.
-Não vou abrir, vá embora ou eu chamo a polícia.
Então tudo ficou quieto, fui novamente no olho mágico e não havia mais ninguém, respirei fundo e fui para o meu quarto. Isso não está me cheirando a coisa boa.
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