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História Antes Maegor do que Aenys- OC Targaryen - Heirs of The Dragon: Lady in Red - História escrita por Eos-phros - Spirit Fanfics e Histórias
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História Antes Maegor do que Aenys- OC Targaryen - Heirs of The Dragon: Lady in Red


Escrita por: Eos-phros

Notas do Autor


Mds, quase sete mil palavras. Que emoção.

Capítulo 4 - Heirs of The Dragon: Lady in Red


Fanfic / Fanfiction Antes Maegor do que Aenys- OC Targaryen - Heirs of The Dragon: Lady in Red

Os ruídos desestimulantes das vozes altas e alegres dos nobres em puro júbilo pareciam ecoar pela cidade pestilenta de Porto Real. Talvez não em sua totalidade, mas no interior imponente da Fortaleza Vermelha, o sentimento era quase o mesmo de estar lá fora, no meio do povo. Para Naerys, tais ruídos eram sufocantes, deixando-a com a sensação de que não estava realmente conseguindo respirar desde que despertara. Para seu desespero, já havia acordado há muito tempo, tempo suficiente para testemunhar o tumulto no aposento da rainha quando as parteiras foram chamadas às pressas. Os passos daquelas mulheres, sem dúvida, não eram mais rápidos do que as palpitações ansiosas do coração pesado de Nys. O trabalho de parto de Aemma a enchia de pânico, transformando seu mundo num assustador vazio branco, no qual a única outra cor presente era o vermelho do sangue que ela não apenas imaginava, mas via e sentia escorrendo entre as pernas de Aemma, podendo significar sua morte iminente, assim como aconteceu com sua mãe e a mãe dela. Os perigos do parto estavam impressos na mente da princesa, como as runas de proteção nas armaduras de ferro ou bronze, normalmente utilizadas pelos Royce.


No entanto, a princesa carecia da coragem necessária para mover uma única perna em direção aos aposentos da Rainha. Seus sentidos estavam nublados, como se uma névoa densa tivesse se apossado deles. Ela prendeu a respiração por um tempo que parecia infinito, impressionada por suportar tanto tempo sem expirar. Era como se curandeiras misteriosas estivessem entrando e saindo, todas compartilhando um evidente receio por Aemma - o que era compreensível, considerando todos os abortos espontâneos e natimortos pelos quais a rainha havia passado. Este bebê, que Viserys afirmava e profetizava ser um menino destinado a ser o herdeiro do rei, era o único raio de esperança. Porém, Naerys sabia que isso só seria verdade se o bebê nascesse com vida.


Aos ouvidos de Nys, apenas chegavam murmúrios trocados por entre as parteiras e as servas, e então entre as próprias servas. Ela apertou as mãos uma contra a outra, sentindo o frio gélido do suor escorrendo entre seus dedos. Subitamente, suas mãos foram tomadas por outras mãos, uma invasão que despertou um pânico cego dentro de Naerys.


- Ñāmar (tia)? - A voz trêmula e ansiosa da jovem Rhaenyra, sobrinha de Nys, ecoou no ar, invadindo a mente de Naerys, que estava imersa em seus próprios pensamentos.


- Hura? - A princesa soltou um engasgo, surpresa com a interrupção abrupta. Seus olhos, cheios de perplexidade, se fixaram na sobrinha, cuja expressão refletia o mesmo temor que transparecia em Nys. As mãos das duas se encontraram num toque frio e trêmulo, que, por um instante, se tornou quente e terno, até que Rhaenyra desviou o olhar envergonhada, sentindo um rubor de calor se espalhar por suas bochechas. Sutilmente, a tia não percebeu essa reação, sua atenção voltada exclusivamente para Aemma.


Porém, Naerys não pôde deixar de notar que Rhaenyra estava vestida de forma simples, com um vestido de tons terrosos, cujo corpete perolado exibia fios de ouro entrelaçados formando padrões de asas de dragão abertas. O tecido, inconfundivelmente myriano, era evidente pelo toque de Nys em sua cintura, um gesto quase instintivo, como se buscasse protegê-la do medo que a assolava.


Naerys limpou a garganta, retomando a consciência do momento presente.


- Por que está trajada com vestes tão comuns? - indagou, sondando a sobrinha com um olhar atento. A impressão era que o olhar lilás da tia a recebia com familiaridade e calor. Entretanto, o azul cristalino, quase fantasmagórico, era frio, indiferente e parecia ser aquele que julgaria sua alma.


Rhaenyra tentou aliviar a tensão no ar com uma resposta descontraída.


- E por que você está de camisola, Ñāmar? - A jovem soltou uma risadinha, tirando um riso igualmente discreto da princesa mais velha. No momento em que Rhaenyra direcionou sua devida atenção ao rosto da outra, notou como as bochechas de Nys coraram. A tia beliscou delicadamente o tecido branco da camisola sem mangas, levemente transparante, delineado sua figura esguia e com botões desfeitos, o que forçava um decote sugestivo.

- O que te aflinge, Nys?


A respiração de Nys acelerou novamente e, por um momento, pensou em negar o que lhe pesava no coração. Mas a sincera preocupação estampada no rosto da sobrinha fez com que ela sucumbisse à necessidade de compartilhar suas angústias de confortar um outro coração desamparado, este tão novo e inocente de seu modo.


- É Aemma... Ela está em seus aposentos, as dores do parto começaram. Eu... Eu temo por ela, Rhaenyra. - Nys soltou um suspiro trêmulo, suas mãos entrelaçadas em um gesto de nervosismo. - Sinto muito, hura, sei que você devia ouvir palavras de consolo, afinal, é a sua mãe gritando naquele quarto, é o seu irmão nascendo. Mas é a minha prima e cunhada também. 


A expressão de Rhaenyra se transmutou em uma mistura de compaixão e determinação, grata por saber que não estava sozinha nesse mar de temores. Ela segurou firmemente as mãos de Nys, transmitindo-lhe força através do contato, embora soubesse que ela quem precisava de forças, mas, ainda mais, sua mãe. A jovem princesa respirou fundo, baixando o olhar para as mãos da tia, agarradas às suas e aos anéis variados que usava.


- Munã é uma mulher forte. Muitas vezes ela enfrentou o parto com coragem de uma guerreira, como a sua, Ñāmar. - Rhaenyra proferiu essas palavras com seriedade, completamente certa do que falava. É claro, ela ainda temia pela mãe, mais do que tudo, mais do que podia admitir. - Estava indo visitá-la, imagino que você iria fazer o mesmo.


Não, eu não quero, Naerys sentia uma voz ecoar em sua mente.


- Sim.- Ela respondeu após um tempo para pensar. 


Nyra sentiu um sorrisinho se formar em seus lábios, enquanto a convidava para segurar seu braço esticado.

As duas mulheres seguiram apressadamente pelos corredores do castelo, guiadas pelo som dos gemidos de Aemma. Chegaram ao quarto da rainha, onde encontraram os demais membros da Guarda Real em seus lugares na entrada, parados como as figuras esculpidas em pedra dos Antigos reis de Westeros, espalhadas pela sala do trono, e das parteiras já dentro do quarto, ansiosas e angustiadas pela chegada do herdeiro tão aguardado.


Naerys entrou na atmosfera envolta por uma intensidade quase palpável. O suor escorria pelo rosto de Aemma enquanto ela se contorcia de dor na cama manchada de sangue. Todos os presentes tinham os olhos fixos nela, aguardando o momento crucial do nascimento, este não parecia estar sendo o mais rápido. 


No turbilhão que os envolvia, Naerys agiu impulsivamente, puxando a mão trêmula de sua sobrinha e levando-a para o lado da cama. Com habilidade terna, segurou a mão da rainha com suavidade e aconchego, ao mesmo tempo em que procedia a limpar-lhe o rosto com um lenço, cuidando para absorver a umidade que aflorava de sua testa.


Ao lado delas, Rhaenyra acomodou-se na cama, enquanto Naerys se ajoelhava ao chão, unindo as mãos delas e transmitindo uma força compartilhada, apesar de nenhuma delas possuir, no momento, força suficiente para lidar com a situação.


- Você está‐-Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, a voz da Targaryen mais velha foi silenciada por um gemido lancinante de Aemma. Ela entendeu perfeitamente bem o recado. "É óbvio que ela não está bem, bendita seja", lançou o pensamento censurador em sua mente, reformulando suas palavras com uma pitada de humor irônico e ao mesmo tempo um flerte descarado: -Você consegue ser bela mesmo desgrenhada, se me permite dizer, minha linda Aemma.


A rainha sorriu, embora lágrimas finas aflorassem de seus olhos. 

-E você parece bem até mesmo nessa camisola-, observou em resposta.


-Qual é o problema de vocês duas com a minha camisola?-, indagou Naerys com humor descrente, arrancando risos de mãe e filha.


-Ela é transparente!-, responderam ambas num uníssono.


-É para apreciação!- corrigiu, com um tom de brincadeira, erguendo um dedo indicador como se a explicação fosse de fato verídica.


A resposta de Naerys despertou mais risos de Nyra e Aemma. Contar piadas para trazer algum alívio em situações tensas sempre foi uma característica muito peculiar de sua personalidade, um talento, ou uma maldição. Às vezes funcionava com suas duas meninas e Daemon, e até mesmo Viserys. Contudo, o restante não parecia apreciar o seu senso de humor sarcástico. Embora passasse mais tempo trocando piadas obscenas com o irmão e seu grande e estimado amigo, Jaemie. Tempos atrás, o grande apreciador de seu humor havia sido Baelon. Este, sempre em companhia da filha, não pôde deixar de rir de cada frase que exibia a real personalidade de Nys. A verdade era que, mesmo que inconscientemente, ela gostava de arrancar risos dos outros, mesmo diante de situações que pareciam desprovidas de qualquer motivo para sorrir. Até mesmo tirara sarro da mãe em ocasiões anteriores. No entanto, nunca o fizera com Baelon, pois não suportava tirar proveito de uma perda tão dolorosa. Talvez devesse tentar melhorar isso.


-Eu gosto, ñāmar-, Rhaenyra admitiu com um sorrisinho que quase,hipoteticamente, Naerys pensou ser malicioso para uma donzela de quatorze anos. -Acho ousado.


-Obrigada, princesa-, Naerys piscou para a sobrinha, mas pôde sentir olhares de julgamento advindos do sisudo e de longas e caídas narinas, Meistre Mellos. Este, com a boca murcha e as sobrancelhas grisalhas franzidas.


"Por pouco não comparo a postura deste velho com a de meu irmão. Mas Daemon é corcunda para frente. Será que ele tem problema de estômago alto? Não, ele é apenas um gancho invertido. Pobre, pobre Daemon", Naerys debatia em silêncio, direcionando seu olhar para as mãos de Rhaenyra, com anéis adornando seus dedos finos e delicados, pequenos em comparação com a tia. A pele leitosa dela possuía um tom mais escuro que o do de Nys, que tinha uma pele com veias azuladas e arroxeadas, aparentes por toda extensão de seus braços e pulsos, até os pés.


Suas divagações foram interrompidas quando ouviu risadas gentis e divertidas enquanto se levantava e acomodava na cama, ao lado de Aemma. Naquele momento, seus joelhos vermelhos e a pele marcada pelo tempo pressionada contra o chão mostraram-se momentânea e facilmente quando ela ajustou a camisola nas pernas, caindo sobre as canelas.


-Sim?-, Naerys perguntou, um tanto atordoada, apenas sabendo que foi Rhaenyra quem falara devido à expressão impaciente, mas divertida, no rosto da menina.


-Perguntei que cor de vestido você usará no torneio, ñāmar.


-Vermelho-, retorquiu Naerys com óbvia simplicidade, como quem descreveria o próprio ato de respirar.


-E eu também-, Nyra respondeu, vangloriando-se com um sorriso orgulhoso. Era inquestionável o orgulho de Rhaenyra em sua realeza e linhagem como princesa membro da poderosa família Targaryen, com raízes ancestrais da Velha Valíria e heranças mágicas. De modo previsível, ela sempre optava pelo ousado tom de vermelho sangue, com fios de ouro adornando seus vestidos nos quais dragões cuspindo fogo ornamenteavam sua cintura. Transparecia que a jovem princesa possuía outros vestidos em tons e estilos diversos, para ocasiões mais simples e cotidianas, onde desfrutava momentos de lazer nos jardins com seus tios, enquanto brindavam e riam, e com Nys a auxiliar na captura de coelhos, enquanto ao fundo, Daemon incentivava as duas donzelas entre risadas.


Desde a infância, Rhaenyra inconscientemente escolhera Naerys Targaryen, sua tia, como modelo a ser seguido. "Ñāmar" era a palavra que repetia pelos corredores do castelo quando aprendeu a falar e andar, balançando as mãozinhas e abrindo e fechando os punhos rechonchudos, com bochechas prontas para estourar de tanto rir quando sua Nys a carregava pelos corredores do castelo, conversando despreocupadamente com a bebê Nyra.


Sua Nyra, sempre em busca de se assemelhar a ela. Sempre recorrendo aos seus braços.


-Vocês vão se atrasar para o Torneio por estarem aqui, por minha causa-, suspirou Aemma, com um sorriso, porém, com preocupação em seu tom de voz. Ela se curvou na cama quando uma nova onda de dor aguda a atingiu, fazendo as duas princesas se afastarem abruptamente. -Eu ficarei bem.


Naerys sabia que era uma mentira, uma grande e tola mentira. Contudo, ela nunca dissera "não" a Aemma. Batendo as mãos nos joelhos, lançou um último olhar preocupado, garantindo a Rhaenyra, então se levantou, dando-lhe um tapinha no ombro. Nys deu um passo para trás e virou-se para a prima, com os lábios contraídos e os dedos inquietos e suados, antes de quase se atirar sobre o colchão, plantando um beijo terno na testa suada de Aemma e sussurrando algo que fez a rainha sorrir entre as lágrimas. Rhaenyra não ouviu, mas contemplou-as com compaixão, seguindo com os olhos o percurso que a tia fez até a porta do quarto, partindo sem olhar para trás.


'


Daemon teve seus olhos imediatamente atraídos para a figura que se destacava na multidão, uma mulher totalmente vestida de vermelho, brilhando como uma deusa valiriana que acabara de deixar o templo das Catorze Chamas. Sua presença exalava uma energia avermelhada, como se estivesse imbuida do próprio poder do fogo, e Daemon sentiu um arrepio percorrer sua espinha ao fixar o olhar em seus olhos ardentes. Ela era como uma manifestação viva do sangue e da paixão, uma visão que podia incendiar até o mais frio dos corações.


- Naerys! Meu encantador e adorável amuleto de boa sorte.- O príncipe comentou com um tom irônico ao perceber a carranca no rosto pálido de sua irmã. Seus lábios carnudos e avermelhados estavam comprimidos, apresentando marcas de pressão dos próprios dentes. Seus olhos lilases vagavam pelo vazio, parecendo cavernas de ametista, e suas sobrancelhas franzidas adicionavam um ar de aura sombria. Naerys era, como Daemon sempre pensava, uma visão de beleza esbelta e tentadora, sua fraqueza, mas definitivamente não desfrutando de sorrisos. Não havia como desviar a atenção da intensidade de sua expressão.


O lindo traje com os tecidos mais luxuosos e nobres, advindos de Lys e Myr, confeccionado em veludo vermelho escarlate, proporcionando uma aparência rica e radiante, um contraste com a carranca em seu rosto. O corpete justo, acentuando elegantemente a cintura da princesa, com um decote adornado com um caminho em linha reta de rubis, onde os olhos de Daemon mais permanceram, nos seios esmagados e mais elevados, dando destaque para o príncipe reparar em como erma maiores do que na adolescência da princesa. Então ele, com luta, moveu o olhar para as mangas compridas e largas, com fendas nos ombros de onde seus braços se viam livres, dando mais uma impressão de uma capa vermelha às mangas, decoradas com bordados em fios dourados e pedras preciosas, adicionando um toque de brilho extraordinário a cada movimento da princesa, como se fossem feitas de fogo, um fogo que ganhava vida conforme ela se destacava na multidão, principalmente entre os cavaleiros ao passar elegantemente pelas tendas e parar logo na entrada da que o príncipe Targaryen se encontrava. 

A saia do vestido parecia ampla e volumosa, ainda mais pela imagem cheia de luz que os raios de sol projetavam ao redor dela, composta por camadas de tecido esvoaçante e forrada com um tecido acetinado vermelho mais escuro. A cauda do vestido era longa e majestosa, arrastando-se pelo chão com graciosidade e imponência.

Naerys usava uma coroa de ouro, cravejada de rubis, enfeitando os cabelos curtos e prateados da princesa, com pérolas presas em algumas mechas, que se moviam contra o vento conforme se aproximava dele.


"A princesa naquele dia e em outros, passados e futuros, pareceu estar evocando a riqueza e a nobreza da casa Targaryen. Uma variada seleção de gemas vermelhas presente ao longo de toda a peça, incluindo rubis e granadas, que sempre eram vistas como complemento em suas roupas."


- Venha aqui.- Ele não deu tempo para a irmã mais nova falar antes de simplesmente puxá-la para dentro da tenda, arrastando-a como se tivessem sido engolidos por um redemoinho para dentro daquelas lonas avermelhadas com babados negros ao redor do topo, como se adentrassem um ventre monstruoso. Daemon deu um beijo na testa morna da irmã, aquecida pelo sol escaldante, e segurou suas bochechas macias e pálidas como o leite fresco. -Pensei que você não fosse real quando te olhei de relance.


- Poderia ser assim.- Comentou Nys, melancólica, alisando o corpete para deixar o decote mais baixo.


Daemon franziu o cenho, mas um sorriso brotou-lhe nos lábios finos com a visão lasciva da irmã. Ele caminhou com andar decidido, certo e seguro de si até ela e moveu os dedos para dentro do decote dela, o indicador se espremendo ali, na linha, agora estreita e apertada, de seus seios, parecia um pouco molhada de suor, mas o vento refrescante de Porto-Real resolveria isso.


O príncipe voltou sua atenção para o rosto da irmã enquanto isso:

- O que você quer insinuar? Não está se deleitando em uma comemoração tão esplêndida quanto este torneio?- Ele zombou.


- Claro. A melhor forma de marcar o nascimento do herdeiro de nosso irmão é assistir homens se matando no barro como animais.


- Pobre criança - Daemon comentou desinteressado a tudo que dizia respeito àquele bebê que estava prestes à deixar o ventre de Aemma. - Se fosse a nossa seria diferente. Eu estaria lá com você e fazendo você rir para se distrair da dor.


- Prefiro não me imaginar parindo, obrigada. - comentou em tom ainda baixo, quase um murmúrio. 


- Bom, é só uma idéia.- Ele deu de ombros. Daemon se perdeu no rosto da irmã, como um imbecil apaixonado. Se Naerys voltasse o olhar para ele, notaria o sorrisinho tremendo em seus lábios. - Se fez tão linda para me incentivar a vencer, não é?


- Parece que eu incentivei a coisa errada. - o comentário fez Daemon rir de nervoso.


'


- Ñāmar, como você conseguiu a proeza de chegar mais atrasada do que eu?- A jovem princesa perguntou, risonha, notando a tia tomar o assento ao seu lado, antes de trombar em Sor Harrold e parecer surda aos elogios e cumprimentos.


- Eu só- Naerys se viu salva pelo ressoar das trombetas. Sendo assim, lhe foi permitido tomar nota do local que já vira dezenas de vezes, na vasta área aberta cercada por enormes muralhas. Estava de frente para a arena principal, juntamente de sua família e mais chegados, com uma visão privilegiada do torneio no camarote, um grande espaço entre as arquibancadas, feito de pedra, decorado com luxuosos dosséis, cadeiras ornamentadas e tecidos nas cores vermelho sangue e o preto da casa Targaryen.


À sua frente, uma superfície plana e ampla, coberta com uma fina camada de terra para diminuir o impacto das quedas dos cavaleiros. De nada adiantava, todos saíam quebrados. Haviam as arquibancadas monumentais feitas de pedra esculpida, onde centenas de espectadores, convidados a dedo, estavam sentados inicialmente, acompanhando de perto o espetáculo de matança, divididos em diferentes setores, reservadas para diferentes casas nobres e famílias importantes, com estandartes e bandeiras coloridas, representando cada uma das casas presentes.

Mais ao longe, fora da área de combate, havia tendas e barracas que abrigavam os participantes, como Naerys já bem visitara e saira de joelhos trêmulos; um lugar para descansar e se preparar para as competições, onde os escudeiros vestiam seus senhores com reluzentes armaduras de placas, os enchendo de elogios e lambendo suas botas de cano longo, como os bons cachorrinhos treinados que eram.


Floreiras e canteiros de flores faziam parte da decoração de entrada, proporcionando uma pitoresca combinação de cores e aromas para os espectadores enquanto se aproximam do local. Naerys espirrou como louca quando passou por elas. 

Haviam músicos talentosos tocando músicas animadas nas arquibancadas, adicionando entusiasmo e energia ao evento. Mercadores espalhando suas barracas por toda a área, vendendo todo tipo de comida e bebida, desde churrasco de carne, boi, ovelha, ganso, pato, peixe, porco, todos cheios de gordura e temperados com cebolas, até deliciosos pratos típicos da região. O cheiro de comida deliciosa e o som das gargalhadas dos espectadores que ofereciam atmosfera festiva do torneio se cessaram quando a primeira trombeta soou. Naerys torceu a cara, abafando o som enlouquecedor com a palma das mãos cobrindo os ouvidos. 


Como Nys chegara pouco antes da derrota que levantou gritos de emoção da plateia, ela torceu o rosto, sentindo seu ouvido latejar com o estrondo das vozes exaltadas da torcida, misturadas com escárnio e berros ásperos. A tensão em seu semblante desvaneceu conforme ela finalmente pousou seu olhar na sobrinha, cuja expressão concentrada, boquiaberta, e com os olhos violeta profundamente focados, despertou um sorriso genuíno em Nys. Ela recordava claramente o brilho naquela expressão, geralmente dirigida a ela.


Quando a tia escondeu o rosto com as mãos, os olhos da pequena Nyra se arregalaram, e, ao revelar novamente o rosto, Nys fez um biquinho que fez a princesinha rir e imitar. A repetição desse gesto levou Nyra a bater palminhas com suas mãos pequeninas, Naerys desejar espremê-las de tão adoráveis. A pequena continuou gargalhando e logo após, parando quando sua tia fez novamente a ação.


— Oh, Deuses, onde está a Nys?— dramatizou um jovem Daemon, levando as mãos ao rosto com falso espanto.


E então Naerys revelou o rosto mais uma vez. E Rhaenyra riu novamente. Mas, quando a tia tentou se esconder atrás das próprias mãos uma nova vez, Rhaenyra alcançou os dedos dela e segurou três deles com a tremenda força de bebê, impedindo a tia de 'desaparecer' como antes.


— 'cho!— exclamou a pequena, enquanto escorria baba de sua boca até o queixo, tentando pronunciar "Achou" do seu jeitinho.


A sobrinha entrelaçou os dedos nos da tia por cima do braço da cadeira em que estava apoiado, fazendo Nys reparar na ligeira diferença de tamanho entre suas mãos e concluiu, com um sorriso: ainda pequenos.


— Está incrível, Ñāmar. — Disse a jovem princesa, curvando os lábios num sorrisinho ao apertar a mão de Nys, fazendo os anéis de ambas tilintarem. 


Nys não pôde evitar sorrir. Nem tampouco evitar a cor vermelha que se espalhou por suas bochechas, fazendo-a parecer que havia decidido vir com o rosto combinando com seu vestido.


— Obrigada, qēlossā.— Naerys respondeu, tentando ignorar a própria pulsação, com o sangue correndo em seus ouvidos, piscando de brincadeira para a sobrinha e fazendo-a rir, antes que ela olhasse para seus próprios joelhos e, depois, para Lady Alicent em seu delicado vestido azul céu e cascatas ruivas na cabeça, sentada ao lado, e que ocasionalmente lançava olhares furtivos para a cena entre tia e sobrinha. 


— Você fica linda de vermelho. — Nys cochichou em seguida, retomando a atenção da mais jovem. 


Rhaenyra cerrou os olhos, com um sorriso malicioso nos lábios ao se apoiar no braço da cadeira com o cotovelo:


— Sabe como você ficaria deslumbrante, Ñāmar? - sussurrou, mantendo o mistério.


Pronta para responder à própria pergunta com ousadia: sem seu vestido, Rhaenyra foi interrompida bruscamente pelos gritos furiosos da plateia, que voltavam toda a sua atenção para o terreno das justas. Um cavaleiro em uma armadura de placas de aço, simples e desprovida de adornos, começava a exibir-se diante da fervorosa multidão, comemorando sua recente vitória. Montando um robusto cavalo branco, de crina cinzenta, ele usava um capacete cônico e carregava apenas um escudo com o brasão de sua casa, desconhecida até então: dez círculos pretos empilhados sobre um fundo avermelhado.


Enquanto o suspense pairava no ar, a expectativa de Nys crescia, mas sua sobrinha Rhaenyra parecia estupefata, quase em êxtase diante do cavaleiro agora. Esse sentimento fez com que Nys desejasse tomar toda a atenção da princesa para si novamente. No entanto, ela optou por ficar quieta, ouvindo a conversa que se seguia entre as demais.


— Um cavaleiro misterioso? — perguntou Nyra com fingida indiferença, embora sua curiosidade fosse evidente.


— Um Cole. — Respondeu Alicent formalmente, inclinando-se sobre os joelhos para visualizar a saída do cavaleiro do campo de terra. — Da Casa Cole, das Stormlands.


— Nunca ouvi falar da casa Cole. — Disse Rhaenyra com um bico nos lábios, tentando recordar qualquer menção a essa casa, sem sucesso.


O foco de Nys mudou para um cavaleiro mais velho, que, em sua opinião, estava já avançado demais para os torneios. Ele vestia uma armadura bem polida, porém fosca e escura, com detalhes intrincados no peito e nos ombros. Seu elmo estava bem preso ao pescoço, com a viseira aberta para que seu rosto fosse reconhecido, e exibia algumas bolsas sob os olhos e marcas de expressão que o tornavam mais firme. Apesar disso, sua atitude confiante e orgulhosa contrastava com a sensação de que ele era o mais fraco ali. A casa Baratheon estava representada em seu escudo, com um veado no centro em fundo amarelado.


— Eu, humildemente, peço uma prenda à Rainha que Nunca Foi. — Disse com um sorrisinho áspero, com a lança de torneio apontada em direção à princesa Rhaenys Targaryen, quem se levantara em seu vestido azul celeste e cabelos prateados com incríveis mechas negras caindo do penteado, o qual usava frequentemente. 


Todos os olhares se voltaram para a filha do falecido príncipe Aemon, antes herdeiro do trono que Viserys agora ocupava. Sem vergonha de seu título, a princesa escoltou sua prenda, uma coroa de flores azuladas, até o limite da área, onde a jogou na lança, para Baratheon que a aguardava esperançoso e de convicção inabalável. 


— Boa sorte para você, primo. — Desejou Rhaenys, educadamente, ainda apoiada sobre a cerca.


— Eu aceitaria de bom grado, se achasse que precisasse. — O cavaleiro rebateu com confiança, ignorante de sua inferioridade perante os concorrentes do torneio, adotando uma postura de gigante invencível.


Enquanto burburinhos e intrigas se desenrolavam ao redor, com Naerys ouvindo atentamente a senhorita Alicent especular assuntos com a princesa Rhaenyra, o cavaleiro foi derrubado logo na primeira rodada, retirado do campo às pressas enquanto era vaiado pela torcida. O acontecimento trouxe um alívio no ambiente até o próximo embate.


— Sor Harrold! — Chamou Nyra, procurando com o olhar o cavaleiro de manto branco, que se ajoelhava ao lado da menina, atrás de Naerys, apoiando o braço no próprio joelho dobrado, com o elmo em mãos. — O que sabe sobre esse tal Sor Criston Cole, Sor Harrold?


— Me informaram que Sor Criston nasceu plebeu, filho do intendente do lorde Dondareon. Mas além do fato dele ter derrubado ambos os Baratheon, eu não sei mais nada. — Respondera o cavaleiro com polidez, se levantando novamente e voltando ao seu posto, próximo às princesas. 


Nys não reagiu de imediato, nem com palavras nem com olhares, mas um leve sorriso aflorou em seus lábios ao escutar a voz familiar. Em seus pensamentos, ela revisitou o passado com um toque de nostalgia, recordando-se das vezes em que, junto com seus irmãos, escapuliam pelas sombras da madrugada sob a proteção atenta de Sor Harrold.


Uma lembrança marcante surgiu em sua mente. Aos dezessete anos, ela havia retornado ao castelo em estado lastimável, encharcada de bebida e acompanhada por um Daemon manco, com a blusa manchada de vômito e um odor pungente. Foi o cavaleiro de manto branco que os amparou, conduzindo-os para os aposentos enquanto instruía as servas a cuidarem especialmente de Nys, para que nem o príncipe Baelon, nem o Rei Jaehaerys vissem a jovem em tão vergonhoso estado. Esta recordação trouxe à mente mais do que um constrangimento passageiro, mas também a pulsante dor de cabeça que se seguiu, levando-a a considerar, inúmeras vezes ao longo daquele dia, a possibilidade de esmagar sua própria cabeça contra a parede de pedras vermelhas de seu quarto.


Enquanto as memórias se embolavam em sua mente, o som dos tambores ressoou no ar, ecoando como um anúncio tétrico de iminente perigo. Um gesto solene revelou a bandeira ostentando o brasão da casa Targaryen, enquanto uma fileira de nobres cavaleiros, de casas renomadas como Lannister, Hightower, Arryn, Tully e Stark, entre outras, assumiram seus lugares alinhados, montados em cavalos com pelagem branca e crinas acinzentadas, ecoando a majestade de suas linhagens.


— O príncipe Daemon da casa Targaryen, Príncipe da cidade, escolherá agora o seu primeiro oponente!


Com o anúncio, o Príncipe Daemon entrou em campo em um corcel negro, que parecia ter sido revestido em uma armadura justamente para se assemelhar ao dragão do príncipe, Caraxes, e armadura igualmente sombria, entrou em cena. Sua armadura de placas negra, adornada com detalhes em vermelho, absorvia a luz ao seu redor. Uma peça impressionante, trabalhada com mestria e minúcia, trazia intrincados dragões cravejados nas placas do peitoral e das ombreiras, o símbolo inconfundível e orgulhoso da casa Targaryen. A armadura fora concebida para combinar elegância e resistência, oferecendo proteção ao príncipe em campo de batalha, mas beleza em justas. Sua lança de torneio repousava em uma das mãos, enquanto a outra empunhava um escudo gravado com o emblema Targaryen. Seu elmo, uma réplica feroz de uma cabeça de dragão, com um focinho que servia de viseira e as asas envolvendo suas bochechas, completava o conjunto, coroado por uma pluma vermelha exagerada no topo.


Com trotes seguros e determinados em seu corcel, o Príncipe Daemon fez sua montaria trotar enquanto inspecionava cada cavaleiro com olhos julgadores, como um caçador escolhendo sua presa. Por fim, deteve-se diante de Sor Gwayne Hightower, girando em uma volta elegante antes de selecioná-lo como seu oponente, marcando o início do desafio.


Naerys não pôde deixar de notar o nervosismo da senhorita Alicent, contemplando também sua sobrinha se encolher em temor pela amiga sofrendo em silêncio e apertando a saia do vestido com firmeza, temerosa pelo irmão. A princesa, assim como Sor Otto, o Rei Viserys, Rhaenyra e talvez até mesmo todos naquele lugar, sabia que Daemon escolhera Sor Gwayne por capricho. Para provocar Otto. 


Sor Gwayne Hightower aceitou o desafio com uma reverência solene, erguendo-se imponente em sua montaria enquanto preparava sua lança de torneio para o combate que se aproximava. A multidão que se aglomerava ao redor do campo de justa vibrava com expectativa.

As trombetas soaram, ecoando pela paisagem, dando a intensidade da competição que se desenrolava diante de seus olhos. O Príncipe Daemon e Sor Gwayne Hightower partiram em disparada, cavalgando com determinação e fúria que apenas cavaleiros de destaque poderiam demonstrar.

O ruído das lanças colidindo,se chocando e o pandemônio dos cascos e relinchos dos cavalos ecoavam pelo campo, enquanto os espectadores prendiam a respiração e os bardos entoavam canções antigas para eternizar o duelo. Por um instante, o tempo pareceu congelar. Sor Gwayne atingira Daemon no peito, o fazendo cambalear em cima da montaria, o que garantiu um gosto doce de orgulho na boca de Otto Hightower, mas amergo no de Alicent, quem tinha a mão segurada pela princesa Rhaenyra, lhe passando consolo. 


Naerys até se sentiu culpada quando se viu desejando que Daemon derrubasse o filho do Mão de seu corcel e o fizesse voar até os pés do pai. Ela continuou assistindo em silêncio, quase na ponta da cadeira em expectativa, quando a segunda rodada se iniciou. Desta vez, as lanças não se colidiram. Daemon se esquivou com os galopes velozes de sua alta e imponente montaria de pelagem negra e crina esvoaçante como a pluma que o príncipe usava no elmo, atingido as patas dianteiras do cavalo de pelo castanho do adversário, fazendo com que ambos caíssem com violência. Gwayne caiu por cima do cavalo, largando o escudo com a queda, o elmo voou alguns centímetros a frente, então seu rosto se esfolou contra o chão. 


Alicent parecia a ponto de chorar com a cena do rosto ensanguentado do irmão, com folhas secas e terra disfarçando o sangue, grudadas na pele esfolada. O cavaleiro fora retirado, carregando pelos braços e pernas, para longe da arena. 


Daemon veio à galopes até a arquibancada central, onde sua família — e indesejados — se encontravam. As primeiras as se levantar, para o júbilo do príncipe e sua visão, foram Nyra e Nys, em seus vestidos vermelhos e rubis, cabelos prateados e expressões distintas. Rhaenyra parecia querer disfarçar a preocupação com Alicent, Naerys parecia indiferente, sorrindo levemente com a vitória que o irmão conseguira.


— Muito bem, tio— Elogiou a princesa mais jovem, se inclinando sobre a cerca delimitante, agora com um tom de admiração quase se fazendo presente.


— Obrigado, princesa. 


Nys se contentou em deixar o sorriso transparecer mais quando Daemon, em todo seu ar pomposo, largou um sorrisinho direcionado a irmã. Então ambas as mulheres Targaryen se fizeram conscientes de Alicent ali, assim como o príncipe o fizera, movendo o olhar delas para a Hightower.


— Eu estou bastante seguro de que posso ganhar estes jogos, lady Alicent. — Disse em suave tom de provocação dificilmente confundida com cavalheirismo, movendo a ponta da lança para a jovem donzela com ar pedinte. — Com a sua prenda eu teria mais certeza.


Naerys e Rhaenyra não deixaram transparecer a incredulidade, nem Rhaenyra o ciúmes e nem Naerys o desdém, e assim, acompanharam metade do processo de Alicent se afastar timidamente, recatada como sempre fora, retornando com um simples arco de folhas verdes, com uma pluma rosada embutida, deixando que deslizasse próximo a empunhadura da lança. 


— Boa sorte, meu príncipe. — Desejou com voz contida, quase que como seu bom desejo fosse um segredo entre os quatro ali presentes.


Naerys se voltou a tempo o suficiente para notar a presença de um dos meistres, ajudantes de Mellos, tocando o ombro de Sor Otto, com preocupação nos olhos. A princesa gelou, sentindo sua garganta fechar.  Lhe irritara como seu irmão nem parecia se preocupar em estar a par da conversa e dos segredos trocados entre os outros dois homens. Ela foi se sentar, trêmula, assistindo ao meistre sair às pressas e Otto, possivelmente, repassar as notícias para o rei. Graças aos deuses as duas mais jovens enrolaram lá na frente, animadas e entretidas com o público nas arquibancadas e os bardos tocando alegremente. 


Mas, quando retornaram, ainda inconsistentes de qualquer acontecimento, assim como Naerys de certa forma, a Targaryen não pôde deixar de baixar o olhar e segurar com força as mãos da sobrinha. Provavelmente a única lembrança que Aemma a deixaria.


Não! Por que pensava como se Aemma estivesse morta ou prestes a morrer? , Nys chacoalhou a cabeça, afastando qualquer pensando incerto e qualquer teoria macabra que sua cabeça criava, aproveitando para negar as perguntas preocupadas e olhares curiosos de sua sobrinha.


— Há algo de errado tia? Está bem? Você está com as mãos suadas. — as perguntas de Rhaenyra a estavam deixando mais insana a cada momento.


— Estou bem.— Que mentira. Naerys apontou para a arena, engolindo em seco e respirando fundo. — Vamos ver outro idiota ter a cara esfolada.


Oh, porra. Falei isso alto, perto de Alicent...


Foda-se. 


Naerys conseguiu controlar o tremor em suas mãos, embora ainda estivessem úmidas e inquietas. Ela ousou encarar a sobrinha, forçando um sorriso trêmulo e sem vida em seus lábios. Recitou palavras vazias de conforto, tentando acalmar as preocupações que sentia. Mas em seu íntimo, ela sabia que algo terrível estava para acontecer.


Naerys encarou o campo de torneio, enquanto tudo parecia desacelerar ao seu redor. As risadas e canções dos espectadores se tornavam um murmúrio distante, a visão de Daemon a desafiar e provocar seus oponentes se tornavam um borrão. Tudo o que ela conseguia ver eram os olhos azuis e a pele pálida de Aemma, tão frágeis e vulneráveis. Ela viu seu rosto se contorcer de dor e medo, viu o sangue escorrendo de suas mãos. 


Não adiantava mentir para si mesma. Se consolar para poder consolar a sobrinha. Aemma vai morrer. Sua cabeça parecia um quarto vazio e sem portas, o qual a mesma frase ecoava. Aemma vai morrer. Sua visão escureceu, como se sua mente tivesse deixado o torneio e ido até o quarto vazio. Vazio e escuro. Então se fez um corte na escuridão, profundo, de onde sangue jorrou, então ela pulou em seu assento, comprimindo os olhos e cerrando os punhos, ouvindo a reclamação de Nyra ao ter os dedos esmagados.


Torneio, foque no torneio. Ela repetiu para si mesma. Aemma está bem. Aemma está bem. Aemma está...


Nys se virou bruscamente, mal se importando se alguém fosse reparar em sua palidez exagerada ou não, mas algo que vira fez seu coração afundar.

Viserys não estava mais lá. Sabia que o bebê não havia nascido ainda, se não, seu irmão já teria se levantado, dando cambalhotas até a arena, fazendo acrobacias que suas costas jamais o deixariam e gritaria com a voz de um deus: meu herdeiro chegou ao mundo!


Mas não. Ele simplesmente deixou o local. Aemma vai morrer.


Os cavaleiros sendo estraçalhados em alto e bom som e visão privilegiada não a entretiam mais. Essa criança quem vai rasgar a Aemma. Vai matá-la. Preciso ir até ela.


Mas não foi. Não podia deixar Rhaenyra. 


Ela ficou para ver seu irmão empinar o corcel contra o cavalo branco, quase celestial, de Sor Criston Cole. 

Tentou manter sua mente ali. Daemon investiu, fazendo a montaria relinchar e avançar bruscamente sobre o cavaleiro mais jovem, este defendeu-se do primeiro golpe, descartou a lança antiga e um escudeiro lhe ofereceu uma nova, assim como fora feito com Daemon. 


Um novo grito ecoou pela mente de Naerys. Um novo chacoalhar de cabeça. Uma nova rodada. Um novo empate.


Um grito.

Uma rodada.

Um ataque.

Uma defesa.


Nyra até pareceu sorrir, pensando que a tia estava ansiosa para ver como as justas iriam se desenrolar, visto que Naerys se encontrava quase fora da cadeira, no chão.


Um grito.

Uma rodada.

Um ataque.

Uma surpresa. 


Seu coração batia como um tambor ensurdecedor em seu peito, os pulmões imploravam por ar. Por um momento, ela se sentiu sufocada, cercada por um vácuo que ameaçava engoli-la por completo. Mas então, um olhar de desespero atravessou seus olhos e ela sabia que precisava agir. Respirando fundo, ela se obrigou a desviar o olhar, a focar apenas no torneio diante de si.


Sor Criston fez o príncipe Daemon perder o equilíbrio, fazendo com que suas costas batessem violentamente na madeira da cerca durante a metade do percurso. Sua armadura foi arrastada contra a cerca até o final da corrida, enquanto o cavalo galopava desesperadamente, como se estivesse tentando escapar para salvar sua própria vida, carregando o príncipe quase pendurado em suas costas, até que as pernas de Daemon soltaram-se da sela.


Enquanto a multidão rugia em aplausos e gritos de euforia, Naerys sentiu um frio gélido percorrer sua espinha. A realidade parecia distante e embaçada, como se estivesse prestes a desmoronar a qualquer momento. E no fundo de sua mente, a mesma frase persistia em sua cabeça: "Aemma vai morrer". A sensação de angústia e desespero era quase insuportável.


Daemon fora arremessado no chão, rolando algumas vezes até se levantar bruscamente, dando um empurrão furioso no pobre escudeiro que se ofereceu humildemente para auxiliar o príncipe. 


— Espada! — Exigiu, furioso. O guerreiro Targaryen tomou a arma em mãos com tamanha violência que o jovem que lhe oferecera a Irmã Sombria, mesmo ainda amedrontado com o humor de Daemon, cambaleou para trás.


A mente de Naerys gritou novamente quando viu o irmão caminhando apressado até Sor Criston Cole, a lâmina de aço valiriano apontada ameaçadoramente para o cavaleiro mais jovem, este com uma maça como arma de escolha. Um novo duelo foi travado. Naerys ficou impressionada: ela nunca tinha visto Daemon apanhar e bater tanto. A cada golpe que Daemon acertava, ele era atingido em dobro, mas quando acertava, fazia com precisão. Era satisfatório assistir a Criston cambalear a cada chute que o Targaryen lhe desferia.


No entanto, o jogo virou. Não estava certo.


Daemon estava no chão novamente, a Irmã Sombria jogada alguns centímetros longe, enquanto ele tentava alcançar um escudo para se defender dos golpes cada vez mais certeiros do adversário. Em vão. Quando se pôs de joelhos e ergueu o escudo na altura do rosto, Sor Criston o derrubou violentamente de volta.


Nyra, ignorante do crescente perigo, parecia animada e inocentemente feliz com aquele jovem que desafiava seu tio diante do público e dos deuses. Se não fosse pelo iminente perigo de morte de sua prima, Nys estaria provavelmente regozijando-se, rindo até chorar. Porém, a adorada Aemma, sua doce Aemma, estava prestes a abandoná-la.


Daemon se rendeu.


Foi derrotado.


O grito cessou.


A dor e desespero se entrelaçaram na mente de Nys, criando uma tempestade de emoções incontidas. A tristeza agarrava sua alma, como um inverno implacável que não tinha fim. O peso da derrota e a iminência da perda apertavam o coração dela como garras afiadas.


Ela cerrava os punhos com tanta força que as unhas pareciam penetrar a própria pele. Sua mente rodava em um turbilhão de pensamentos e imagens perturbadoras.

A cada momento que passava, a sensação de prenúncio de tragédia se intensificava. Ela podia sentir isso no ar, como uma tempestade iminente que pairava sobre eles. E enquanto os jogos de torneio prosseguiam, Naerys estava perdida em um mar de aflição e desespero, sem saber o que o destino ainda reservava para ela e sua família.


Ela voltou o olhar para Rhaenyra, e tudo o que viu foram os rubis bordados em suas vestes. O rubro intenso e profundo, como uma ferida aberta que acabara de se tornar em seu mundo. Sua expressão, antes tão impenetrável, se partiu em uma máscara de dor e desespero. Cada fio prateado de seu cabelo parecia desbotar diante do peso avassalador do que acabara de acontecer. A tragédia velada refletia nos olhos da princesa, como estrelas que perderam todo o seu brilho. O eco da dor reverberava entre elas, como um luto compartilhado que nunca seria esquecido. 


Mesmo que Rhaenyra não tivesse consciência disso ainda.


                                  '


" — Vamos voar juntas uma última vez, Aemma!— insistira um jovem Naerys, agarrada às mãos da prima.


— Naquela coisa outra vez?— A Rainha fez uma expressão engraçada de descrença, o olhar de terror aoenas de pensar em Eospheros voando com ela em suas costas.


— Precisamos! Não pode morrer sem que eu te leve para voar uma última vez!— a princesa bateu o pé. A menininha mimada de Baelon. A prima querida de Aemma. — E não chame minha dragão de 'coisa', ela é sentimental. 


   


Não houve segunda vez"


— Fogo e Sangue.





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