Por Katniss
Nos dias que se seguem, eu e Peeta nos reencontramos inúmeras vezes para que ele escolha cada tópico da cerimônia e da festa.
Já definimos o bufê, a gráfica para os convites e a lista de presentes. Também visitamos Portia, a estilista para o traje do noivo.
Confesso que foi difícil segurar os suspiros ao vê-lo em tantas variedades de roupas perfeitamente ajustadas e, ainda por cima, sendo obrigada a reparar em todos os detalhes para decidir qual o modelo e o corte que melhor se encaixam nele.
Além de me conter nesses momentos críticos, estou tendo o cuidado de me policiar para tratá-lo como um cliente como os demais.
A única distinção que faço são algumas mudanças no roteiro de sempre, para que a nossa peregrinação por locações e prestadores de serviço fuja do lugar-comum.
E acho que consigo fazer com que, apesar de cansativas, nossas andanças não sejam nada chatas, como ele mesmo adjetivou as etapas para a organização da festa, naquela nossa primeira reunião.
Hoje, em vez de levá-lo a uma floricultura normal, opto por um passeio pelo PikePlace Market, o mercadão de Seattle.
Nós nos encontramos perto da famosa Starbucks original, que deu início à cadeia de cafeterias. Após, nós nos encaminhamos para a entrada principal. Saímos para a superfície de paralelepípedos, examinando as mercadorias sob as barracas brancas espalhadas ao redor.
O local está cheio de pessoas e sons. Há alguns vendedores que gritam para atrair a atenção dos transeuntes, enquanto outros negociam com os clientes. Também compõe a sonoridade do ambiente animado o bate-papo geral dos compradores, aproveitando a exibição colorida do mercado neste dia ensolarado.
Cruzamos a rua em frente ao icônico letreiro de luzes neon justamente na hora em que os funcionários da conhecida peixaria Pike Place Fish lançam peixes uns para os outros, uma atração sempre muito aguardada pelos turistas.
Peeta retira alguns trocados do bolso e retrocede um pouco para um gesto tradicional do local: acariciar o nariz da porquinha símbolo do mercado – Rachel, the Piggy Bank –, dizendo que é para ter boa sorte, mas sua intenção, na verdade, é doar alguns dólares para os serviços sociais do local.
No galpão repleto de barracas descoladas, com todo o tipo de coisas, encontramos lindas flores, coloridas e perfumadas.
Depois de percorrermos as surpreendentes bancas de floricultura, com uma grande variedade de arranjos de tonalidades diversas e preços razoáveis, nossos passos seguem adiante até o mercado de artesanato.
— Então, o que mais precisamos encontrar hoje? – pergunta Peeta, com sua simpatia característica, que aos poucos retornou e foi se evidenciando mais e mais com nossa convivência.
— Bem, sua missão aqui já foi cumprida, mas... – inicio a resposta, enquanto entrego a ele o pequeno ramo com uma amostra das flores eleitas para a decoração, que ele logo me devolve, encaixando o caule entre meus cabelos.
O gesto inesperado me faz titubear.
— Mas... – Peeta gesticula, incentivando-me a prosseguir. — Você não me trouxe até aqui para me dispensar tão cedo. Vim preparado para aproveitar o passeio a pé pelo mercado!
— Isso é ótimo! – exclamo, sem conter minha animação.
— Eu adoro esse lugar. Meu pai costumava me trazer aqui para comprar materiais para a padaria e negociar com os produtores locais – declara ele com ar saudosista e agora eu confirmo o motivo pelo qual o sobrenome Mellark não me é estranho. É o nome da conhecida padaria, que fica a alguns bairros daqui. — Então, qual é a sua próxima missão?
— A Effie me pediu para tentar encontrar uma prateleira de ferro forjado para acomodar alguns vasos, que pretendemos usar em um dos próximos casamentos. A prateleira precisa ter níveis diferentes, como uma escada, mas meio arredondada... – Percebo tarde demais que estou me estendendo na descrição do objeto e paro de falar. — Ah, desculpa! Effie é sempre muito específica. E essas coisas chatas não interessam nem um pouco a você.
— Acho que vi algo parecido em uma loja de antiguidades no andar de baixo. Cheguei um pouco mais cedo e, antes de encontrar você, explorei um pouco do local.
Ele aponta para a direção da rampa que nos leva para os níveis mais baixos do mercado, onde há três andares de pequenas lojas especializadas em itens colecionáveis, histórias em quadrinhos, joias, livros, arte original, truques de mágica e muito mais.
Peeta me oferece seu braço e eu enlaço minha mão nele, em busca das inúmeras lojas que exibem todos os tipos de objetos antigos.
Ele me guia até o local onde se concentram as antiguidades, contrariando as minhas palavras de que não estaria interessado em procurar tais coisas comigo.
Eu me espanto ao constatar que ele não estava apenas sendo simpático ao dizer que havia visto algo como o que eu estava descrevendo.
Num grande estande, que lembra um antiquário, em meio a algumas quinquilharias empoeiradas, lá está uma prateleira de ferro, feita para comportar vasos dispostos em degraus, com a base circular.
— Estou achando que é perfeita, mas, por via das dúvidas, vou mandar uma foto para a Effie, para confirmar se essa prateleira vai servir – informo, ao sacar meu celular e registrar uma imagem do achado de Peeta.
Envio a mensagem para a minha sócia e checo o relógio.
— E, então, ela respondeu? – indaga ele.
— Pela hora, Effie não vai ver essa mensagem nem tão cedo.
— Será que ela ainda está dormindo? – Peeta ergue os ombros, incrédulo.
— Não. Esse é o horário da meditação transcendental dela.
— Ah! Está explicada toda a sensação de calma, paz e equilíbrio que Effie transmite a você! – Peeta faz graça com o comentário que Effie fez pra ele a meu respeito. — Vamos dar uma volta, enquanto ela não responde?
— Tudo bem... E esse aqui será o nosso ponto de encontro, caso a gente se perca um do outro. Pode ser?
— Você é tão arisca assim?
— Apenas precavida.
— E atenciosa.
Ah, realmente! É difícil não ser atenciosa com ele.
Apenas sorrio em resposta e lidero a caminhada pelo mar de gente, que justifica minha preocupação de nos separarmos um do outro durante nossa exploração pelo lugar.
Preciosidades estranhas e maravilhosas se escondem nesse labirinto de velharias de todas as eras. Passamos por uma loja gigante, completamente coberta de bugigangas, porcelanas, vasos, pratos e, para meu maior desgosto, até mesmo um velho penico lascado.
— Sem dúvida, foi algo da época da nobreza, dada a elegância evidente – deduz Peeta, de modo pomposo.
— Ainda assim, é um penico usado! Eca! – Faço uma careta de aversão e ele cai na risada.
Apesar de nos depararmos com essas raridades desagradáveis, quanto mais andamos, mais estou magnetizada pela atmosfera nostálgica e ao mesmo tempo revigorante do mercado.
Minha preocupação quanto à possibilidade de Peeta não estar se divertindo começa a se diluir, pois ele também parece interessado em percorrer mais e mais o espaço. Isso me deixa mais tranquila e livre para apreciar a diversidade de ofertas de todo o tipo de utensílios.
Eu sou atraída por um estande aberto, onde um artista exibe esboços feitos de carvão. As figuras me transportam para uma Paris boêmia e retratam também algumas paisagens bucólicas. Passo algum tempo folheando-as, fantasiando a história secreta por trás dos desenhos e rindo com os relatos inventados por Peeta para cada um.
O vendedor é também cartunista e faz questão de nos mostrar suas histórias em quadrinhos.
Peeta lê algumas em voz alta para um grupo de crianças que se reúne ao nosso redor para ouvi-las. Ele faz umas vozes engraçadas e a narrativa é eletrizante e envolvente.
O desenhista fica feliz com a atuação do meu acompanhante, pois os pequenos ouvintes logo manifestam aos seus pais o desejo de adquirir algumas das telas.
Depois disso, voltamos a percorrer os arredores. É divertido zombar entre cochichos a vasta seleção de personagens infantis moldados em gesso, que parecem ter sido feitos mais para assustar as crianças do que para qualquer outra função.
Lembramos do nosso tempo de infância, quando topamos com velhos brinquedos e vários apetrechos desgastados pelo uso, que não devem mais servir para muita coisa, a não ser para trazer boas recordações.
Durante nossa perambulação, Effie me manda uma mensagem de texto, dizendo para eu reservar depressa a prateleira, porque ela a considera o adereço ideal para o projeto de decoração que ela está desenvolvendo.
— Pronto! Nossa segunda missão já foi cumprida. Effie aprovou a prateleira – aviso a Peeta.
De modo relutante, ele faz a volta em direção ao estabelecimento onde o objeto está à venda, porém parece ter uma ideia de súbito.
— Vamos ver o mar antes de ir até lá? Há tanta coisa legal por ali pela orla...
Concordo prontamente e partimos em busca de um novo corredor de lojas. No extremo sul dos níveis mais baixos, encontramos as escadas externas, que oferecem acesso até o cais.
Atravessamos o quarteirão com passadas vagarosas e seguimos para o Marketfront, uma dinâmica praça pública com vista para o mar.
Foi mesmo uma boa ideia passear pelo pavilhão ao ar livre, sob o sol da manhã, para ver as balsas partindo e os navios de cruzeiro que estão ancorados.
No entanto, logo resolvemos sair dali, pois o lugar está muito mais cheio de gente agora. Enquanto andamos, um movimento da multidão me separa de Peeta, empurrando-me contra uma barraca de artesanato.
Já ele é levado em direção a uma larga pilastra, que funciona como palco para alguns jovens músicos.
Acabo parando em frente ao menor estande de todos. Uma senhora muito idosa está sentada atrás dele em uma cadeira de balanço.
Há dois painéis verticais, um em cada lado da barraca. Pendurados neles, está a coleção mais incrível de objetos bizarros.
A superfície horizontal da banca é coberta por uma grande variedade de caixinhas fofas e porta-joias. Um deles me chama a atenção e eu o pego para dar uma olhada melhor.
É feito de algum tipo de metal e é realmente bonito, todo esculpido com pequenas pedras multicoloridas e com a figura saliente de um tordo no topo.
Toco o pássaro, delineado com pedras delicadamente incrustadas no tampo.
— Eu vejo que gosta de tordos! – A senhora diz do nada, com uma voz estridente e rouca, apontando para o pingente em meu colar, que também tem o formato de um tordo.
O modo repentino como ela fala me assusta tanto que quase deixo cair o pequeno estojo.
Ela sorri pra mim mesmo assim. O rosto dela é um cruzamento de rugas profundas que lhe dão um ar de fragilidade e me fazem sentir empatia por ela de imediato.
Sempre que vejo uma pessoa mais velha e ativa, desejo logo congratulá-la pela longevidade e sinto vontade de perguntar a ela o segredo da sobrevivência.
— Ah, eu gosto mesmo de tordos! – confirmo o que ela disse.
— Parece que eu sabia que viria até aqui. Eu a estava observando de longe... Você é uma jovem de muita sorte, minha querida – continua ela, aproximando-se. — Ainda me emociono ao ver um casal apaixonado.
Olho ao redor e, felizmente, Peeta não está por perto.
— Hmm, sim. Desculpe-me, eu estava apenas olhando – digo, sem mencionar nada sobre seu comentário, para não incentivá-la a prosseguir no assunto.
No entanto, ela parece completamente inconsciente da minha recente angústia de que ela continue falando e de que Peeta ouça.
— Já estou velha demais, mas sei admirar um belo rapaz. E ele também não disfarça que está encantado por você.
Se eu não sair daqui antes de Peeta me encontrar, essa velhinha vai me colocar numa enrascada.
— O que foi que eu perdi? – Peeta se materializa ao meu lado, de repente.
— Você não perdeu nada! – brada a senhora. — Na verdade, você encontrou! Aliás, vocês encontraram...
— Bem, na verdade, eu... Eu estava apenas bisbilhotando – interrompo a senhorinha a tempo. — E não encontrei nada. – Reposiciono o porta-joias no espaço onde o peguei, encarando a mulher e implorando com o olhar para que ela não insista em conjecturar sobre o que ela acredita que está acontecendo entre mim e Peeta.
— Bobagem, bobagem, minha querida. – Ela sacode a cabeça vigorosamente, enquanto recupera a caixinha e a oferece para mim novamente, esticando os braços na minha frente com uma expressão suplicante. — Eu vi o quanto você gosta dele!
Agora eu não sei se ela está falando do porta-joias ou de Peeta. Começo a pensar que seria mais fácil comprar a bendita mercadoria e acabar logo com isso.
— É magnífico. – Peeta toma delicadamente em suas mãos uma réplica, um pouco menor, do porta-joias que estou segurando.
— Como eu ia dizendo, vocês dois encontraram um tesouro.
— Parece bem valioso mesmo – avalia Peeta, sem se dar conta da mirada expressiva da velhinha em minha direção.
A senhorinha é muito perspicaz e sabe lançar perfeitamente as indiretas, ou ela tem a melhor estratégia de vendas que eu já vi. Estou prestes a perguntar-lhe quanto é, quando ela diz:
— Não estou falando disso... – Ela realmente demonstra estar mais interessada em me colocar numa saia justa do que em vender qualquer coisa. — O tesouro a que me referia é o amor da sua vida!
— Como? – indaga Peeta e eu logo emendo:
— Ah, sim! Eu estava a ponto de dizer a essa simpática vendedora que você vai se casar em breve, Peeta... E que eu sou a organizadora do casamento – enfatizo as palavras para que ela compreenda cada sílaba e o significado delas.
O desconcerto da senhora é evidente. Ela franze o cenho para Peeta, o que aprofunda ainda mais as marcas do tempo em seu rosto.
Ela toma o objeto das mãos dele de modo brusco e aponta o dedo em riste:
— Mas não é possível que você não veja a besteira que está fazendo!
— A senhora me perdoe, mas acho que não estraguei o porta-joias... Ele está inteiro, pode checar.
— Você está estragando coisa muito mais importante. Está estragando a sua vida!
— Calma. É melhor não se alterar desse jeito – argumenta ele, meio perdido, tentando tranquilizá-la, mas sem saber o motivo da irritação dela. — Eu vou buscar um copo d'água e a Katniss fica com a senhora, está bem?
Peeta se afasta e a artilharia verbal da senhorinha se volta contra mim.
— E não estou falando apenas com ele. Você sabe muito bem o que encontrou nesse rapaz! – zanga-se ela.
— Eu... Eu sei?
— Há muitas pessoas que não têm tanta certeza! – persiste a idosa.
— Eu sei. – Meus ombros caem em desânimo com a constatação.
Suas feições se suavizam e ela segura uma de minhas mãos, com a palma virada para cima, observando atentamente as linhas ali desenhadas.
— Eu posso ler em você...
Guardo minha mão delicadamente.
— Não quero parecer rude, mas não acredito em clarividência, em leitura de mãos, essas coisas...
— Que coincidência! Eu também não. Não estou lendo suas mãos. Estou lendo tudo isso em seus olhos.
Cubro meu rosto com as mãos e abaixo a cabeça.
— Eu queria poder disfarçar, mas, pelo visto, não estou tendo muito sucesso – lamento.
— Não mesmo. E ele também não.
— Eu já o vi lidando com outras pessoas em seu ambiente de trabalho. Ele é apenas solícito e amável com todos... E também comigo, principalmente agora que resolvemos nossas diferenças.
— Não adianta tentar se enganar.
— A senhora precisa entender... Eu não seria capaz de mudar muita coisa. Há alguns anos, fui abandonada às vésperas do meu casamento. Por mais que eu tenha realmente encontrado um tesouro, como a senhora disse, eu jamais contribuiria para alguém passar também por uma experiência dessas.
Mesmo que esse alguém seja a Johanna, a noiva mais desinteressada no próprio casamento que eu já vi na vida.
— É mesmo uma pena. Eu conheço esses olhares entre vocês, porque convivi com uma pessoa que me olhava assim, por mais de cinquenta anos.
Ela volta a pegar em minha mão no instante em que Peeta retorna com o copo d'água prometido. Ele o oferece à vendedora com todo o cuidado. Ela aceita, porém ainda estreita os olhos para o loiro.
— Você deve pensar que estou caducando, meu rapaz.
— Longe de mim pensar isso da senhora! Na verdade, eu adoraria ouvir todos os aconselhamentos que tem para me dar – revela Peeta, acariciando os cabelos brancos dela com tanta paciência e ternura, que é praticamente impossível não admirar a cena com ar contemplativo.
Devo mesmo dar muita bandeira da minha fascinação total por Peeta para merecer a cotovelada discreta que a vendedora aplica em meu braço.
— Você continua não disfarçando – sussurra a idosa, ao se aproximar de mim, mas depois volta a falar alto, com sua voz aguda. — Agora vão passear. Já perderam muito tempo com uma vovozinha cheia de opiniões.
— Mas eu queria... – Peeta tenta falar, porém ela não permite que continue.
— Não, não. Vão cuidar de suas vidas.
— A senhora me conquistou com toda a sua simpatia e agora vai partir meu coração desse jeito? – graceja Peeta, usando todo o seu charme.
— Mas se é você que anda partindo corações por aí! – resmunga ela e Peeta dá um beijo estalado em seu rosto. — Que ousadia! – grita ela e nos enxota de lá, sorrindo e achando graça.
Quando já estamos longe o suficiente para que ela não o escute, Peeta diz:
— Levei uma bronca e ainda não sei o motivo. – Ele esbarra no meu ombro propositalmente.
— Você não foi o único que ouviu um sermão dela. – Eu colido meu ombro no dele de volta.
Uma banda ao vivo de jazz está tocando no meio da multidão, adicionando mais entusiasmo ao ambiente já cheio de energia.
Inesperadamente, um mímico com o rosto pintado de branco e os traços marcados de preto se coloca à minha frente, impedindo minha passagem.
Ele faz um coração com as mãos e aponta de mim para Peeta. Eu e Peeta sinalizamos que não. O homem esfrega as duas mãos nos olhos, fingindo chorar, mas depois seu rosto se ilumina e ele ergue o dedo indicador, como se tivesse tido uma grande ideia. Em seguida, ele imita a posição de um par de dançarinos, convidando-me para dançar com ele.
Faço menção de rejeitar o convite, porém Peeta retira a minha bolsa da minha mão, como um incentivo.
— Ela é a dançarina mais talentosa que conheço – afirma ele.
O artista de rua me guia, então, ao som do jazz tradicional. As pessoas abrem um círculo, dando espaço para as piruetas divertidas do palhaço. Enquanto giro em seus braços, meu olhar se cruza algumas vezes com o de Peeta, até que eu o perco de vista.
O mímico percebe minha súbita tensão e, com um último rodopio, cessa a coreografia, segurando minha mão apenas para respondermos com uma reverência às palmas da plateia que se formou em nosso entorno.
Ele retira o seu chapéu para um cumprimento.
— Estou sem minha bolsa. Infelizmente, não posso oferecer uma gorjeta! – digo, realmente sentida por não poder colaborar.
O palhaço gesticula em negativa e sinaliza que, para ele, basta um sorriso meu. É o que faço. Para sua satisfação, outras pessoas lançam moedas e notas em seu chapéu.
Empurro-me para fora da multidão ou, pelo menos, tento. Quando finalmente consigo me desvencilhar das espirais de pessoas, não vejo Peeta em parte alguma.
Minha bolsa está com ele, o que significa que estou sem documentos, sem telefone e sem a chave do carro. No entanto, não me apavoro tanto assim, já que deixamos previamente combinado um ponto de reencontro.
Como não há mais nada a fazer do que ir até a loja onde achamos a prateleira para Effie, lentamente encontro meu caminho de volta à parte coberta do mercado e vagueio pelos corredores até me deparar com o dono do estabelecimento sozinho lá dentro.
A demora de Peeta começa a me preocupar cada vez mais. Vou até o lado de fora e olho para todos os lados. Quando estou prestes a desistir, duas mãos fortes, vindas por trás de mim, cobrem meus ombros.
Passado o susto inicial, eu sorrio. É quase inacreditável que eu já conheça a textura e o cheiro de sua pele.
— Peço desculpas se assustei você quando sumi. Foi por uma boa causa.
A risada dele contra meu ouvido me provoca um leve arrepio. Eu me viro para Peeta, quando ele puxa suas mãos para baixo.
— E qual foi o motivo do sumiço?
Ele exibe uma sacola pendurada em seu antebraço, ao lado da minha bolsa.
— O motivo foi o doce regalo do Pike Place Market... Comprei mini-donuts pra gente! E você tem que comer, pelo menos, meia dúzia deles.
— É garantido que vou ser tudo menos mini depois de comer tudo isso.
— Ora, vamos... Estou proporcionando a experiência completa aqui no mercado. Eles estão fresquinhos. Acabaram de sair da fritadeira.
— Assim, eu não resisto.
Estendo a mão para receber o pacote ainda quente. Os mini-donuts vendidos aqui são maravilhosos a qualquer momento, mas frescos e crocantes, esses pequenos mimos vão para um nível totalmente novo de gostosura!
— Eu sou, oficialmente, seu fornecedor de calorias extras.
Enquanto mastigo preguiçosamente, saboreando cada pedacinho da minha porção da deliciosa mistura de massa, fritura e açúcar, minhas reações são atentamente observadas por Peeta.
O vendedor começa a testar um fonógrafo bem conservado no interior da loja. A música antiga vinda dele se dispersa pelo ar e o ambiente parece infundido com uma atmosfera mística e... romântica.
Peeta mantém seu olhar curioso e gentil sobre mim. Tão ou mais doce quanto esses donuts.
Por mais que eu tente evitar o pensamento a todo custo, é difícil não considerar que eu poderia muito bem viver sob a mira deste olhar por mais de cinquenta anos.
Indiscutivelmente. Definitivamente. Pelo resto da minha vida.
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